Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se




CRISE DAS CHARGES
Milton Coelho da Graça


Para esquentar o debate e evitar a violência, 9/02/06


‘O primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, deu uma entrevista superponderada à BBC com uma interessante informação sobre o que seu país – um dos mais democráticos da Europa – pensa a respeito da liberdade de expressão: racismo e blasfêmia são exceções a essa liberdade, punidas por lei. Mas ele argumenta com toda a razão que o país, o governo e o povo não podem ser considerados culpados por caricaturas e publicações de mau gosto e que violem a lei. A entrevista pode ser lida no site da BBC.


Também dá uma bela contribuição a este nosso debate o mais importante colunista do Financial Times, Martin Wolf. Sob o título ‘Os limites da liberdade de expressão’ (jornal Valor Econômico desta quarta-feira, 8/2, página A17 – versão online somente para assinantes), Wolf nos aviva a memória sobre pontos que devem ser considerados.


‘Precisamos nos perguntar as questões de peso mais uma vez: Quais são os limites adequados da liberdade de manifestação? Qual deve ser o papel da lei na demarcação dos limites sobre a liberdade de expressão? Como devem viver as pessoas lado a lado com aqueles cujas idéias abominam? Não existem respostas fáceis a essas perguntas.’


E adiante repete o princípio básico do Iluminismo, ‘do qual todas as sociedades ocidentais contemporâneas extraem suas raízes’: IGNORÃNCIA, OBSCURANTISMO E PRECONCEITO NOS ESCRAVIZAM; A VERDADE NOS LIBERTARÁ’.


A preocupação fundamental de Wolf é estabelecer uma diferença clara entre manifestações de opinião ofensivas, grosseiras e até vergonhosamente rudes, com incitações à violência ou ameaças de supressão de opiniões divergentes, porque ‘se um conjunto de opiniões pode suprimir outro pela força ou pelo medo da força, finda a discussão permanente que deve permear qualquer sociedade livre e democrática’. Defende as caricaturas como ‘uma maneira de apresentar um argumento’. Mas pergunta ‘se não seriam elas também, ainda que indiretamente, uma incitação à violência’ e reconhece que ‘sua republicação comprovou-se insensata’.


O Globo leva um furaço carioca. Da Folha


Um jornal carioca por excelência levar ‘furo’ de um jornal paulistano, sobre notícia do maior interesse para a auto-estima do Rio – e, ainda por cima, no alto da primeira página, é de lascar, é ou não é? Lá no alto da primeira página, a Folha conta que, entre todas as escolas de ensino médio das capitais brasileiras, as melhores – tanto entre as públicas como entre as particulares – estão no Rio: a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (pública federal, na Fiocruz) e o venerando Colégio São Bento, dirigido por padres beneditinos.


Sou assinante do Globo, por isso recebo a edição mais ‘fresquinha’, a última a rodar. Ou seja, aquela em que ainda é possível corrigir qualquer mancada, depois de dar uma olhada pelo menos na primeira página dos concorrentes.’


Carlos Chaparro


Notícia vale pelos efeitos que produz, 10/02/06


‘O XIS DA QUESTÃO – Os povos islâmicos fazem com enorme competência o que o desastrado Fleming Rose (o tal jornalista dinamarquês que publicou as charges sobre Maomé) nem imaginou como dever obrigatório do jornalismo atual: prever os efeitos do que se espalha ao mundo pela notícia. Quem age pelo que diz e faz, no espaço e no tempo do jornalismo, busca efeitos convenientes. E os efeitos mais importantes atingem inevitavelmente os outros. Será que repórteres e editores se preocupam com isso?


1. Onda assustadora


O mundo parece ter virado do avesso, com essa história das dez charges com piadas sobre Maomé, publicadas por um jornal dinamarquês sem maior importância, mas consideradas blasfematórias, quando foram descobertas pelo islamismo. Ofendidos, sentindo-se ultrajados, os povos muçulmanos foram bem além da exigência diplomática de pedidos formais de desculpas; com graus variados de violência, foram e continuam indo às ruas, em manifestações gigantescas, sob lideranças que estrategicamente não aparecem nos noticiários, para que tudo pareça espontâneo. Exigem reparações radicais, que incluem leis que proíbam a blasfêmia. Ou seja: querem a abolição das liberdades ocidentais de expressão e de publicação. E assustaram especialmente a Europa, onde hoje vivem (calcula-se) 15 milhões de imigrantes muçulmanos.


O crescendo do protesto muçulmano tem sido tal, que já há quem profetize uma guerra de civilizações, entre as democracias ocidentais, movidas a liberdades protegidas por lei e balizadas por valores seculares, não religiosos, e as sociedades islâmicas fundamentalistas, que aceitam e praticam a subjugação à vontade de Deus, manifestada na doutrina ensinada por Maomé.


E tudo isso por quê?


Como causa próxima, porque um jornalista imprudente resolveu usar a liberdade de expressão e a liberdade de publicar, na plenitude a que tinha direito, despreocupado com os efeitos do que fazia. Fleming Rose, esse jornalista, editor de cultura do Jyllands-Posten, talvez até tenha pensado estar praticando uma boa ação. Quis ajudar um escritor que precisava de desenhos de Maomé, para ilustrar um livro, e que não encontrava desenhistas dispostos a isso. Rose decidiu convidar cartunistas a enviar ao jornal charges sobre Maomé. O que o escritor não conseguiu, o jornalista obteve: doze cartunistas enviaram trabalhos que, publicados, provocaram esta tsunami islâmica que agora assombra o mundo ocidental.


O Jyllands-Postem e o seu imprudente editor de cultura já pediram desculpas pela ‘involuntária’ blasfêmia (‘Não tínhamos compreendido, em nenhum momento, a extrema sensibilidade dos muçulmanos sobre essa questão’, escreveu ele, coitado, na carta em que formalizou o pedido de desculpas). Também o governo dinamarquês pediu desculpas, na tentativa de sair do enrosco em que Rose o colocou. E os 12 cartunistas, surpreendidos e assustados com os efeitos das suas charges, estão agora sob proteção do Sindicato dos Jornalistas da Dinamarca, para não serem expostos ao risco de vingança por parte de fanáticos.


O conflito, porém, está longe de ser resolvido. Porque as verdadeiras e mais complexas causas desse explosivo choque de civilizações são bem anteriores e vão bem além das pobres charges dinamarquesas.


No fundamental, trata-se de um desdobramento radical de confrontos que há séculos crescem de intensidade e complexidade. Confrontos que, historicamente, têm a ver com a gula, tanto americana quanto européia, por hegemonias geopolíticas e controle econômico dos mais fracos. Mais recentemente, nas últimas décadas, a crise histórica teve o caldo engrossado pela maneira desastrosa como alguns dos países europeus mais desenvolvidos vêm lidando com a questão dos imigrantes muçulmanos.


2. A variável dos efeitos


Como o fermento político do gigantesco imbróglio não é a minha praia, escreverei sobre o lado da questão onde posso navegar com alguma segurança: a relação do jornalismo com tudo isso.


Em primeiro lugar, convém relembrar que o jornalismo é, por natureza, uma linguagem performativa, isto é, uma linguagem com capacidade de


produzir ações no mundo e sobre o mundo, com efeitos imediatos – efeitos por vezes incontroláveis, como neste caso. Por isso, e graças às cada vez mais surpreendentes tecnologias de difusão, o jornalismo se transformou no espaço público preferencial dos sujeitos sociais com autonomia discursiva institucionalizada, depois que eles descobriram na notícia a mais eficaz forma de dizer e agir. Os muçulmanos, politicamente cada vez mais organizados, sabem muito bem disso. E sabem melhor ainda como produzir fatos noticiáveis de grande impacto, com os quais pautam a ocupação do espaço jornalístico, internacionalmente.


Os povos islâmicos fazem com enorme competência o que o desastrado Fleming Rose nem imaginou como dever obrigatório do jornalismo atual: prever os efeitos das ações realizadas no espaço da notícia. Falo do jornalismo inserido em tempos da tal instantaneidade, nome dado ao fenômeno do desaparecimento de intervalo entre o fato e a notícia, coisa que os jornalistas de antigamente não viveram. E em tempos, também, do um mundo sem fronteiras e sem distâncias, criado pelas tecnologias de difusão de alcance universal.


Em vez de ajudar o escritor a quem faltavam as ilustrações, o despreocupado Fleming Rose tentou o brilharete de publicar antes as charges conseguidas, sem imaginar o vespeiro em que estava metendo as mãos. Fixando o foco no próprio umbigo, buscou o orgasmo do uso irresponsável da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.


E aqui toco a questão essencial, ética, do uso das liberdades de dizer e divulgar, na linguagem performativa do jornalismo: quem age pela notícia, busca efeitos. A notícia se tornou ferramenta de ação, por parte de quem produz os fatos e conteúdos da atualidade, capacidade que deixou de pertencer às redações. Quem age pelo que diz e faz, no espaço e no tempo do jornalismo, busca transformações convenientes. E os efeitos mais importantes atingem inevitavelmente os outros – (e, já agora, uma perguntinha marginal, entre parêntesis: será que repórteres e editores se preocupam com isso?).


No caso do Fleming Rose, até nisso ele se equivocou: o caminhão dos efeitos desabou sobre ele.


*****


Com a história das charges dinamarquesas, acabei me afastando da promessa feita ao final do texto anterior: escrever sobre a crise do jornalismo.


Mas, pensando melhor, será mesmo que me afastei do assunto?


De qualquer forma, ficou uma porção de coisas por dizer. Retomarei o tema na próxima semana.’


Jô de Carvalho


Maomé e a liberdade de expressão (copyright Direto da Redação – www.diretodaredacao.com – in Comunique-se), 6/02/06


‘A caricatura do profeta Maomé, com uma bomba escondida em seu turbante ou uma outra em que Maomé vai logo avisando os kamikases recém-chegados ao paraíso de que o estoque de virgens está esgotado, são dois dos 12 cartoons publicados, primeiro por um jornal dinamarquês e depois, reproduzidos por vários outros jornais europeus. As publicações provocaram uma crise de dimensões inimagináveis entre a Europa e o mundo arabo-muçulmano. A crise atinge também em cheio, uma vez mais, a liberdade de expressão.


Tudo começou quando o jornal conservador dinamarquês Jyllands-Posten publicou, em setembro do ano passado, uma coleção de caricaturas feitas por 12 cartunistas, encomendadas pelo próprio jornal. O objetivo era responder à queixa do autor de um livro sobre o profeta que dizia não conseguir encontrar nenhum artista disposto a ‘assinar’ a ilustração de sua obra.


Há três semanas, um pequeno jornal evangélico da Noruega, Magazinet, reproduziu a coleção de desenhos. E na última quarta-feira, vários jornais europeus fizeram o mesmo em apoio ao Jyllands-Posten e ao Magazinet e em defesa da liberdade de imprensa.


O jornal francês France Soir, o primeiro no país a publicar os desenhos, tinha como manchete na primeira página ‘Sim, nós temos o direito de caricaturar Deus’. O editor chefe foi sumariamente demitido, provocando uma enorme crise interna na redação.


O alemão Die Welt reproduziu uma das charges na primeira página com os dizeres ‘o direito de blasfemar é uma das liberdades da democracia’. Jornais espanhóis, italianos, holandeses, húngaros e suíços também aderiram à ‘campanha pela liberdade de imprensa’ publicando algumas ou todas as charges.


As publicações provocaram a fúria de vários governos e instituições muçulmanos e a reação deles não se fez esperar. Eles consideraram os desenhos um ultraje inaceitável ao Islã. Não apenas por ridicularizar o profeta, que segundo as leis corânicas, não pode ser representado em imagens, mas também pelo amálgama que estabelece entre islamismo, integrismo e terrorismo.


Em vários países muçulmanos como Líbano, Síria ou Indonésia, as embaixadas da Dinamarca e da Noruega tem sido alvos de ataques e incêncios por parte de grupos de radicais enfurecidos e o pessoal do corpo diplomático tem sido repatriado às pressas.


Em Gaza, um grupo de homens armados do Fatah e do Jihad fechou ‘até segunda ordem’ o local onde funciona a representação da União Européia.


Os radicais avisaram que todos os cidadãos europeus presentes nos territórios palestinos ou no Iraque, originários de países ‘envolvidos’ no ultraje poderiam se tornar ‘alvos’. Os ativistas ameaçaram ainda bombardear a sede a UE, os outros escritórios europeus e as igrejas ‘se as provocações contra o Islã continuarem’.


O secretário geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que ‘se a fatwa de Khomeini contra Salman Rushdie (*) tivesse sido executada, essa gentalha não ousaria insultar o profeta’. Ele lembra que milhões de muçulmanos estão prontos a defender a honra da religião e do profeta deles. Vindo do Hezbollah, não há qualquer dúvida quando ao significado dessa advertência.


Um jornal islâmico do Marrocos exige que a França sancione o jornal France Soir para evitar uma deterioração de suas relações comerciais com os Estados árabes e islâmicos. Sim, porque a crise tem tido conseqüências econômicas também, através de boicotes de produtos vindos dos países que ‘ousaram ofender o profeta’.


O presidente do Egito, Hosni Moubarak, lançou um alerta dizendo que pode ser muito perigoso se outros jornais derem continuidade à ‘campanha de publicação’, pois vai atiçar o ódio e agravar os conflitos com as comunidades muçulmanas na Europa.


Evidentemente, se as charges fizessem referência ao judaísmo ou ao cristianismo, teria havido também violentas reações. Basta ver o apoio manifestado pelas autoridades religiosas integristas, judaicas ou católicas, aos muçulmanos neste momento.


É inaceitável que a liberdade de expressão se torne ‘réfem’ do integrismo. É chocante e gravíssimo que os adeptos de uma religião, seja ela qual for, queiram amordaçar a imprensa, e que tentem impor suas crenças e seus códigos de conduta, ameaçando os que não rezam como eles.


Será perigosíssimo se a liberdade de imprensa acabar ‘sacrificada’ no altar da intolerância religiosa, por medo de represálias, como se estivéssemos na Idade Média.


(*) Escritor indo-britânico, condenado à morte pelo aiatolá Khomeini por seu livro Versos Satânicos, de 1988 – (http://permanent.nouvelobs.com/dossiers/documents/danemark_musulmans.html)


(*) Foi apresentadora nas TVs Bandeirantes e Record. Vive em paris desde 96 onde foi correspondente do SBT e da CBS Telenotícias Brasil. Realiza filmes e documentários para emissoras de TV e produtoras brasileiras.’





VENEZUELA vs. VEJA


Breno Castro Alves e Thais de Menezes


Embaixador venezuelano critica Veja e Abril, 10/02/06


‘No dia 06/02, o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya, enviou uma carta a Roberto Civita, presidente da Editora Abril, na qual critica duramente a postura jornalística adotada pela revista Veja e por sua equipe editorial, chegando a comparar os colunistas da publicação a Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. A carta de Montoya é uma reação à matéria ‘Com dinheiro do povo’, publicada na edição N° 1941 da revista, do dia 01/02/2006.


De autoria da repórter Daniela Pinheiro, a matéria acusa Hugo Chávez, presidente da Venezuela, de, entre outros, utilizar recursos provenientes da estatal petrolífera venezuelana PDVSA para financiar o desfile da escola de samba carioca Unidos de Vila Isabel, cujo tema será ‘Soy Loco por Ti, América’. O texto chega a afirmar que a forma como Chávez utiliza o dinheiro público venezuelano é ‘um crime à espera de castigo’.


A matéria critica ainda o ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, por ter pedido pessoalmente a Lúcio Alcântara, governador do Ceará e amigo do ministro, um financiamento de R$ 500 mil para a escola de samba Mangueira. Este ano, o tema da escola será a transposição do rio São Francisco, uma das bandeiras de Ciro Gomes.


Comunique-se tentou entrar em contato com Roberto Civita por meio da Editora Abril, que informou que ele já havia saído da empresa e que por isso estava inacessível. A editora designou então Eurípedes Alcântara, diretor de redação da Veja, como responsável por responder pela revista. Ao ser procurado para esclarecer a posição da publicação sobre as declarações de Montoya, o diretor se limitou a informar, por sua secretária, que a carta não seria publicada pela revista.


Abaixo, segue a íntegra da carta enviada pelo embaixador.


‘Brasília, 06 de fevereiro de 2006


Sr. Roberto Civita


Editor


Revista VEJA


Senhor Civita, permita-me iniciar esta carta com o reconhecimento à tenacidade com que seus colunistas se dedicam à tarefa de impor a verdade da mídia. Nisto, tenho certeza, seriam a inveja do mesmo Joseph Goebbels. Não obstante, permita-me também lhe aconselhar que diminua o esforço para o bem da saúde mental de seus escreventes, uma vez que o mundo que lê VEJA está convencido de sua ária pureza jornalística, de que vocês, dentro do mais tradicional esquema de jornalismo conservador -tanto na técnica como no conteúdo- se sentem donos da verdade. Já sabemos, senhor Civita, que dentro de VEJA transita o dogma e a fortaleza própria do invulnerável, que qualquer coisa que esteja fora de sua linha ou do seu âmbito ideológico é errada, que vocês estão convencidos -e são capazes de morrer por isso- de que nada diferente do que escrevem pode existir fora de suas linhas.


É óbvio, senhor Civita, que VEJA é mais que uma simples revista. VEJA é um templo sem sacerdotes, ali só há deuses, pois somente os deuses geram verdades inquestionáveis. Esta condição divina é notória, por exemplo, nas fotografias que acompanham as colunas. Veja o senhor, repare bem, na postura esnobe de Tales Alvarenga, ou no olhar onipotente de Diogo Mainardi. Coitado de quem entrar no âmbito de sua ira! Será condenado para sempre ao inferno!


Ou não é verdade que somente eles conhecem aquilo que adoece o mundo e são capazes de condená-lo?


É, senhor Civita, também sabemos. Sabemos que a Veja condena sem julgar, porque a verdade da mídia não requer trâmites desta índole, nem está aí para isso, não é? Digo, para julgar, porque o jornalismo – segundo ensina a filosofia da comunicação e todos os códigos da ética- não está projetado para ser juiz, senão para se dedicar à tarefa de mostrar os diversos ângulos da realidade que é apresentada ao mundo e deixar que sejam outros os que julguem.


Mesmo assim, devo confessar-lhe que também não acredito muito nisto e que estou mais próximo de admirar um jornalismo menos frio e objetivo, a um jornalismo que não transforme os fatos humanos em simples coisas de tipografia, tinta e papel. Devo confessar-lhe que, igualmente a no meu país, prefiro um jornalismo mais combativo, distante dessa ficção que denominam ‘objetividade jornalística’ e próximo àquela pro atividade ética que já indicava John Dos Passos na sua novela Paralelo 42 – que acredito que o senhor tenha lido alguma vez -: ‘o anelo de todo jornalista era desentranhar o significado exato de toda mudança operada na realidade’.


Vê, senhor Civita, Dos Passos escreve ‘o significado exato’, nós nos perguntamos de imediato de que se trata isso? E ficaríamos órfãos de entendimento a respeito se não tivéssemos a capacidade de relacioná-lo com essa maravilhosa palavra que é ‘desentranhar’, que significa, dentre outras cosas, averiguar, penetrar o mais difícil e escondido de uma matéria.


Cobra uma melhor e mais digna dimensão profissional e ética com isto a tarefa jornalística, não é assim, senhor Civita? Veja, o jornalista é uma pessoa que se submerge na realidade dos fatos, esquadrinha as suas entranhas, examina os detalhes, se desliza com sigilo entre as aristas, observa atento seus diversos ângulos e os traz todos até a superfície, para dar a oportunidade de que qualquer um que passe perto de suas bordas possa senti-las e armá-las como uma realidade mais ou menos objetiva, mas principalmente humana.


E eis aqui um dos significados da palavra ‘desentranhar’ de que mais gosto, aquele que a apresenta como um ato voluntário de desapropriação. Nada mais humano do que desapropriar-se de tudo que se tem e se conhece para entregar ao outro com a vontade ética, social e humana que possa ajudá-lo a compreender.


Lástima, senhor Civita, mas não vejo isto no olhar dos seus colunistas, pelo menos nesse que mostram as fotografias que acompanham suas colunas.


O que é bem certo é que VEJA também não crê nem pratica o contra-sentido da objetividade jornalística. O terrível é que também não responde a isto com sentido ético, porque para VEJA o mundo adoece de um mal universal: tudo o que é sensivelmente humano fede.


É por isso que entendemos esse afã por listar nomes que, repito, desde sua ária pureza jornalística, são indesejáveis, imprescindíveis, tolos, tiranos e vagabundos que devem ser exterminados para o bem do mundo que VEJA representa, um mundo uníssono, que avança na direção de um cenário globalizado de conseqüências únicas, perfeitas e sem objeção, onde uma nova religião começa a concretizar-se com rezas e acordos de compra e venda. É por isso que para vocês nosso presidente Hugo Chávez leva uma lista longa de qualificativos indesejáveis, como tirano, ditador, assassino, populista, palhaço, louco, etc, e Bush, George W. Bush, o mesmo da guerra no Iraque, é apenas um homem preocupado pela harmonia e a paz do mundo.


Pois bem, senhor Civita, nesta nova carta que agora lhe envio – e que sei que não será publicada na Veja -, além de expressar-lhe os sentimentos acima descritos quero também aproveitar para fechar com duas coisas importantes.


A primeira é a formulação de uma queixa oficial contra sua empregada Daniela Pinheiro, quem entre a grande quantidade de mentiras que escreve no seu artigo ‘Com dinheiro do povo’, edição N° 1941 de 01 de fevereiro de 2006, assegura que ‘o embaixador da Venezuela admitiu na semana passada que é possível que Chávez assista ao desfile da Marquês de Sapucaí’, quando na realidade o que foi dito foi que era pouco provável que o presidente assistisse -mas é claro, tudo vale quando se trata de jornalistas que não se apegam à objetividade, mas sim à interpretação jornalística pouco desapropriada de interesses… serão econômicos ou ideológicos? – pode o senhor sanar esta dúvida, senhor Civita?


A segunda é uma simples recomendação, e a inicio com uma pergunta: ouviu o senhor alguma vez Alfredo Bryce Echenique quando se refere à posição humana do homem diante da vida e da realidade? Repare, ele disse a respeito, que ‘na vida, a única objetividade possível é a subjetividade bem intencionada’. Nós cremos no mesmo do jornalismo, cremos que este é o sentido exato que deve praticar-se nesta profissão frente a esse contra-sentido da objetividade a secas. Por quê? Simples. Porque o jornalismo não é um templo de deuses, mas uma praça de vizinhança.


Julio García Montoya


Embaixador’’




ECOS DA GUERRA
Cassio Politi


‘Míssil perdido’ chocou Sérgio Dávila no Iraque, 10/02/06


‘Sérgio Dávila acompanhou alguns dos mais importantes acontecimentos mundiais dos últimos anos. Talvez por isso colecione prêmios. Estava em Nova York em 11 de setembro. E estava em Bagdá durante a Guerra do Iraque e conta como foi o dia 28 de março, data das cenas mais marcantes.


A explosão


O barulho de uma explosão já não era novidade. Mas a movimentação de carros de imprensa deu o alerta: alguma coisa mais grave do que o normal tinha acontecido ali perto. Se o Rio de Janeiro vive o drama das balas perdidas, Bagdá vivia um drama proporcionalmente maior no começo da Guerra do Iraque: mísseis perdidos. Um deles atingiu o Mercado Shula. Um lugar movimentado que, dez minutos antes, lembrava o Mercadão da Lapa, em São Paulo. Quando Sérgio Dávila chegou, viu apenas o que sobrou de um círculo com um raio de mais ou menos um quilômetro de destruição. E as piores imagens eram justamente as das margens dessa área.


Dávila constatou que as pessoas que estão a poucos metros do ponto onde as bombas caem morrem instantaneamente. Uma morte menos cruel. ‘A uns 800 metros do ‘epicentro’, voam pedaços de ferro em brasa. Eles cortam membros das pessoas como faca quente na manteiga. Eu vi muitos mortos na cobertura do [atentado de] 11 de setembro, mas as cenas do Mercado Shula eu tento apagar da minha cabeça. Só que não adianta. Vira e mexe, eu me lembro do que vi’, detalha o jornalista. Era dia 28 de março de 2003. A guerra estava começando.


Dia sim, dia não


Os iraquianos mais fortes e saudáveis estavam normalmente na fronteira, defendendo o país. Os civis atingidos eram, na grande maioria, crianças, mulheres e idosos. No mercado, foram 58 mortos. Aos feridos, um atendimento caótico. As ambulâncias e os hospitais já não davam conta de atender tanta gente com ferimentos graves. Outro aspecto particularmente cruel foi o boicote do fornecimento de produtos químicos ao Iraque no longo período de ditadura de Saddan Hussein. O objetivo da ONU (Organização das Nações Unidas) era dificultar a fabricação de armas químicas. Mas os mesmos produtos seriam necessários para fabricar remédios. Se por um lado as forças de coalizão não acharam as tais armas químicas, por outro os pacientes também não puderam esperar receber o atendimento médico adequado.


Dávila e o fotógrafo Juca Varella, ambos da Folha de S.Paulo, eram os únicos brasileiros em solo iraquiano durante a guerra. Ficaram por lá durante 35 dias, período em que, segundo dados extra-oficiais, morreram 15 mil civis. Média de 428 por dia. ‘Dia sim, dia não, eu via gente morta. O pior é ver pedaços de corpos’. Quando chegou a Bagdá, a dupla sabia que a estada podia durar uma semana, duas semanas, um mês ou dois meses. Tudo dependeria dos acontecimentos. Quando a guerra começou, o hotel que os hospedava ficou quase às moscas. Somente o dono e a família continuaram por lá. Os funcionários foram embora.


Um escudo


Nas reportagens enviadas para a Folha, Dávila seguiu a linha editorial. A manchete de 29 de março trazia justamente a notícia de civis mortos no mercado e em outros ataques. No caderno especial sobre a guerra, o abre de página levava o título ‘Ataque a mercado mata 58, diz Iraque’. Os restos mortais, principalmente os das crianças, martelavam na cabeça a cada palavra digitada. Com o passar dos dias, acesso ao telefone, comida, água e tudo o que parecesse civilizado ia desaparecendo. Textos e fotos chegavam à redação da Folha, na Rua Barão de Limeira, no Centro de São Paulo, via satélite.


Vinte e cinco dias mais tarde, Dávila cruzou a fronteira da Jordânia. Estava voltando para o Brasil. Teve, então, um intervalo que as explosões constantes não lhe concederam durante a cobertura. O intervalo permitiu perceber quais são as reações físicas de quem se submete a tanta tensão. ‘Eu não tinha dor de cabeça, náusea, nada disso. A impressão que tenho é de que você cria um escudo para lidar com toda aquela adrenalina. O cérebro te manda um recado avisando que, se você perder o controle emocional, você vai morrer’.


Estatísticas


Sérgio Dávila tinha um certo medo de morrer. Se parasse para fazer contas, teria tido muito mais medo. Os números estão contra os jornalistas. Naqueles 35 dias, morreram 15 mil civis iraquianos. Essa soma de vidas perdidas representa 0,004% do total de 4 milhões de habitantes. Os 150 soldados da coalizão mortos no período representam um percentual ainda menor: 0,001% da tropa. Não, esta coluna não está desprezando números tão macabros, e sim calculando o risco a que Dávila se submeteu. Basta comparar: dos 180 jornalistas que estiveram lá junto com ele, 16 morreram. Ou seja, quase 9%. É arriscado morar numa cidade em guerra. É arriscado lutar numa guerra. É muito arriscado cobrir uma guerra.


Calcula-se que 10 mil ‘viagens’ (termo usado na linguagem militar) de mísseis, bombas de todos os tipos, aviões carregados, porta-aviões e afins tenham sido utilizados pela coalizão no ataque ao Iraque. O alvo de pelo menos 90% dessa artilharia dotada de tecnologia de ponta foi Bagdá. Uma parte das ‘bombas inteligentes’, como apelidaram os especialistas em armamento, tem uma segunda característica: a miopia. Bombas inteligentes, mas míopes. Estima-se que a margem de erro da pontaria dessas armas seja de 10%. Fazendo contas novamente, é fácil concluir que entre 800 e 1.000 bombas programadas para acertar alvos militares caíram, no final das contas, sobre civis. Jornalistas, inclusive.


Que caos?


Quando comecei a entrevista, pedi ao Sérgio que definisse a cena mais marcante daquela cobertura. Poderia pedir para falar sobre toda a cobertura, o que exigiria 35 semanas desta coluna. Pensando bem, ceder tal espaço a uma história tão rica seria um prazer para mim e, principalmente, para os leitores. Mas fico com a opção de recomendar o livro de autoria dos dois personagens da história contada acima: o jornalista e o fotógrafo Juca Varella. ‘Diário de Bagdá: a Guerra do Iraque Segundo os Bombardeados’ é leitura obrigatória para jornalistas.


Sérgio tinha sido correspondente em Nova York. Foi cobrir a guerra e voltou para o Brasil. Nesse período, nos cruzávamos rapidamente pelos corredores do UOL. Ele lá, falando de tudo em sua coluna com Paulo Henrique Amorim: do Oscar a bombardeios no Iraque, de cinema europeu a violência nas escolas dos Estados Unidos. Eu com as minhas reportagens.


Perguntei como reage a cabeça de alguém ao chegar em casa após cobrir uma guerra. ‘Voltei com mudanças para sempre. De forma positiva, comecei a achar São Paulo muito menos caótica e inviável. De forma negativa, fico desconfiado de qualquer notícia que dê conta de confrontos verbais entre chefes de estado’.’




BRASIL NOS EUA


Antonio Brasil


Brasil para iniciantes e americanos!, 6/2/2006


‘Explicar o Brasil não é tarefa fácil. Tom Jobim já dizia que o Brasil ‘não é para iniciantes’. Somos um país complicado. Quase bizantino. Nem mesmo os brasileiros entendem muito bem o que é o Brasil. Mas em meio a tantos escândalos e reviravoltas políticas, tentar explicar o nosso país para os americanos é uma tarefa ainda mais difícil. Quase impossível. Mas como ‘pretensão, água-benta e alguns clichês’ não nos faltam, resolvi tentar.


Esta semana fui convidado pelo Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade de Wisconsin para falar sobre os últimos acontecimentos no Brasil e na América Latina (conversa disponível aqui – User:GDPILOT – password:UWMIWA). A palestra faz parte da série ‘Grandes Decisões’ que existe desde 1962. (Ver aqui). Diante de uma enorme responsabilidade – explicar os recentes escândalos políticos e as eleições no Brasil – estava em boa companhia. No passado, já participaram dessa série personalidades como os vencedores de prêmios Nobel Henry Kissinger e David Trimble e ex-presidentes como Bill Clinton. O público formado por profissionais liberais, professores e estudantes demonstravam grande interesse pelo Brasil e pela América Latina.


Em meio a tantas crises internacionais, muitos americanos também estão preocupados com o futuro do nosso continente. Aquela enorme região abaixo do Rio Grande que costuma ser descrita pela mídia local como ‘America’s own backyard’ ou ‘o quintal dos EUA’. Uma parte meio esquecida e subestimada do ‘grande império americano’ onde nada de muito importante ou ameaçador acontece. Ou, pelo menos, não acontecia.


Mas antes, é lembrar que assim como o Brasil, hoje, os EUA também são um país dividido. Metade da população apóia o governo Bush de maneira religiosa, quase fervorosa. A outra metade, os mais liberais, consideram a atual administração um desastre, uma ameaça à paz mundial. Essas duas metades estão em constante conflito, não confiam uma na outra e, hoje, pouco se falam.


O público que comparece a palestras sobre a América Latina costuma fazer parte desse último grupo. São os ‘liberais’ americanos. Ou seja, falava para ‘convertidos’. Podem não conhecer muito bem o Brasil e tantos outros países latino-americanos estranhos com nomes ‘esquisitos’. Mas não desprezam a importância da região no cenário internacional.


Logo no inicio da palestra, citei alguns dados fundamentais:


‘O Brasil é o quinto maior país do mundo. Representa a metade do continente sul americano. Tem a maior população da América do Sul e é a terceira maior democracia do mundo’. Surpresa geral!


Mais adiante, procurei destacar o potencial político e econômico do Brasil. Citei um estudo recente divulgado pelo próprio Departamento de Defesa americano, ‘Com suas enormes riquezas naturais e com uma enorme e relativamente jovem população, o Brasil tem um grande potencial para se tornar uma verdadeira potencia global’.


Silêncio no auditório. Aproveitei a deixa para me dirigir à platéia com uma declaração ainda mais surpreendente: ‘Vocês podem não saber, mas, nenhum outro país do mundo tem tantas semelhanças históricas, culturais e econômicas com os EUA quanto o Brasil’. Podia perceber os olhares ainda mais surpresos e incrédulos.


Prossigo. ‘Os EUA foram o primeiro país do mundo a reconhecer a nossa independência. Ambos os países possuem territórios de proporções continentais. Somos os dois maiores paises do ocidente, cada um dominando sua metade das Américas. Em uma longa história de expansão territorial, o Brasil e os EUA conseguiram se manter unidos e desfrutam de forte sentimento de nacionalidade, possuem grande diversidade étnica com uma grande população de origem européia e uma cultura africana riquíssima. Ambos os países possuem grandes mercados internos e tendem a privilegiar ciclos históricos de ‘isolacionismo’ seguidos por períodos de ‘expansionismo’ internacional. Somo países com diversidades internas dramáticas que de alguma forma semelhante nos mantém unidos. Os EUA ainda são um grande parceiro econômico do Brasil. Com negócios na ordem de 35 bilhões de dólares anuais, os EUA representam 20.8% das nossas exportações. Hoje, milhões de brasileiros – legais ou ilegais – vivem e convivem com os americanos nos EUA.


No entanto, apesar de tantas semelhanças históricas, sociais e econômicas, as relações entre o Brasil e os EUA também possuem características ‘esquizofrênicas’.


Por um lado, algumas dessas proximidades geram um alto grau de americanismo em diversos segmentos da população que se refletem na cultura popular, musica, cinema, televisão e no alto grau de dependência econômica nas relações comerciais bilaterais.


Por outro lado, também há no Brasil um enorme sentimento de ‘antiamericanismo’. Um misto de suspeitas, inveja, promessas não cumpridas e uma bagagem histórica de ‘intervencionismo’ político e econômico por parte dos americanos.


Ninguém disputa que temos muitos pontos em comum com os EUA. Alguns positivos outros negativos. Nossas relações, de alguma forma, também se assemelham com as típicas atitudes de dois irmãos. Um maior e mais forte. E o outro menor, e não tão forte. Pelo menos, não ainda. O grande problema dessa relação desigual é que o tal irmão maior tende a ignorar a existência, a proximidade e a importância do outro irmão. O conflito de interesses e as rivalidades crescentes se tornam inevitáveis e tendem a aumentar.


Ainda mais agora. Em a um ano de importantes eleições presidenciais que tendem a eleger governos considerados de esquerda em diversos paises importantes na América Latina, eis que também surge um novo e poderoso personagem nessa novela tropical. A China invade a trama e ameaça o tradicional ‘quintal’ (sic) dos EUA. O público presente fica ainda mais surpreso e incomodado.


A verdade é que grande parte dos americanos ignora ou despreza os avanços chineses na América Latina. Por outro lado, o governo Bush, com a sua obsessão com uma guerra contra o terrorismo, ocupação do Iraque e Afeganistão, podem estar cometendo um grande erro estratégico e nos oferecendo uma grande oportunidade. No passado, quando a América Latina ainda era dominada por potencias européias, principalmente, pelo império britânico, uma ascendente e igualmente desprezada nova potencia mundial investia na economia da região. Nos primeiros anos de sua investida na América Latina, os EUA também não se preocupavam em impor ideologias ou influenciar sistemas políticos. Estavam satisfeitos em fazer bons negócios e oferecer uma alternativa um modelo econômico decadente de colonização e dependência. Passo a passo, discretamente, com criatividade e inovações, os EUA substituíram as potencias européias como principal referencia política, econômica e cultural na América Latina.


A História certamente não se repete. Mas desprezar a presença, a milenar sabedoria e paciência chinesas podem custar caro para o império americano. E isso pode ser muito bom e lucrativo para o Brasil e para os paises latino-americanos. O futuro pode nos reservar grandes oportunidades e surpresas.


Enquanto isso a China continua sua trajetória de sucesso econômico. Com taxas de crescimento em quase 10%, as maiores do mundo, nos últimos dias, a China ultrapassou a Grã-Bretanha e já é a quarta maior economia do mundo. Segundo o banco de investimentos Sachs & Goldman, a China deve ultrapassar a Alemanha em 2010, o Japão em 2016 e os EUA em 2040.


Em 2050, somente os EUA e o Japão serão membros do G7, as sete nações mais ricas do mundo.


Um novo bloco de potencias econômicas mundiais, os BRICs, será formado com países como o Brasil, Rússia, Índia e China. Quem viver e sobreviver, certamente verá! O nosso futuro promete. Enquanto isso, os americanos estão cada vez mais ‘preocupados’ com o presente.’




JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu


De derreter os untos, 9/02/06


‘‘A ética desse PT é roubar!’


(Desabafo de Janistraquis contra Paulinho Tadeu, um vizinho aqui do sítio.)


De derreter os untos


O considerado Roldão Simas Filho, diretor da sucursal desta coluna em Brasília, de onde se pode escutar a farra diária dos asseclas de Lula a comemorar antecipadamente a reeleição, pois nosso diretor resolveu botar ordem na correspondência e se refestelou com esta informação que recebeu do amigo Américo Vieira:


Sob o bizarro título 2005 foi o ano mais quente do último século, lia-se neste site português:


O ano de 2005 foi o mais quente na Terra desde finais do século XIX, quando as temperaturas na superfície do planeta começaram a ser registadas cientificamente, revela um estudo da agência espacial norte-americana NASA. ‘Cinco dos cinco anos mais quentes do século passado ocorreram nos últimos oito anos’, afirmou James Hansen, director do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS) da NASA, com sede em Nova Iorque.


A recordar aquele calor de ‘derreter os untos’, referido por nosso Mestre Eça de Queirós, Janistraquis também se divertiu com a notícia, e tanto, que quase lhe chegou o c… ao pé das calças; todavia, conseguiu balbuciar:


‘Pois é, considerado; depois reclamam quando a gente faz piada…’


Em primeira mão


O considerado José Inácio Werneck despachou de Bristol (EUA) a seguinte mensagem ao colunista:


Você me pediu que eu o informasse em primeira mão quando acertasse com a ESPN. Acertei. Porém, só começarei no dia 22 de fevereiro, porque antes vou visitar minha filha mais moça no Arizona.


Basicamente, escreverei uma coluna por semana para o site da ESPN Brasil e participarei, também uma vez por semana, do programa Bate-Bola, no que eles chamam um ‘link’. Quer dizer, eu em Bristol e os outros companheiros em São Paulo.


É claro que a ESPN Brasil, dirigida por José Trajano, companheiro do velho e bom Jornal do Brasil dos anos 60, ganhará mais um toque de inteligência e classe. E Zé Inácio também faz falta como narrador e comentarista.


Porre monumental


Segundo informou o repórter Ricardo Amaral (Reuters), o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, disse em Argel que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ‘é movido pelo rancor e pela inveja’. Como outro ministro, Luiz Fernando Furlan, declarou no mesmo dia e na mesma cidade que o presidente Lula não bebe há 40 dias, Janistraquis juntou as duas notícias e concluiu:


‘Considerado, FHC com inveja de Lula é algo inimaginável. Portanto, se o presidente está abstêmio há 40 dias, quem começou a beber foi Ciro Gomes…’


É bem pensado.


Tanta tormenta…


Saiu na coluna do considerado Ancelmo Gois:


Céu, terra e mar


Deu no DO do Rio. Está em vigor a lei 4.172/06, do deputado Samuel Malafaia (PMDB), que autoriza cultos evangélicos em plataformas de petróleo.


Janistraquis, que tem um sobrinho torto que trabalha na plataforma de Saquarema, condoeu-se:


‘Considerado, temo pela saúde do Fred e seus companheiros de trabalho; sabe lá o que é um vivente malhar horas e horas no fundo do oceano e, quando chega à superfície, dá de cara com um pastor a vociferar seu amor aos pecadores?’


Por fora


Chamadinha na capa do UOL:


MP3


Sai iPod nano de 1 GB; shuffle está mais barato


Janistraquis leu, suspirou e desabafou:


‘Considerado, estar por fora do mundo virtual é ler esta chamadinha e não entender absolutamente nada…’


Poluição


O considerado Willians Rafael despacha do interior de São Paulo:


Veja dois excertos de um textículo cometido no sítio da brava prefeitura de Santana de Parnaíba (www.santanadeparnaiba.sp.gov.br/secretarias/secom), a despeito desta nossa urbe ser valhacouto de vates e seresteiros, no bojo da notícia Ponte no bairro Colinas da Anhangüera já está com trânsito liberado:


‘Nesta época do ano, muitos municípios sofrem com as chuvas de verão e a atuação do poder público tem que ser imediata para minimizar, ao máximo (grifo nosso) os transtornos à população’.


Estamos danados, considerado! A gente não sabe direito se o nosso burgomestre sabe direito o que quer! Mais adiante:


‘A Rua José Aprígio, também utilizada como acesso ao bairro por motoristas e pedestres, também sofrerá melhorias’.


Desgraça pouca é bobagem. A coisa anda tão danada em nossa terra que mesmo quando melhora a gente sofre! É o cão chupando manga ou não é?


Janistraquis, que no início dos anos 70 andou por Santana de Parnaíba, pergunta ao Willians:


‘Por acaso a prefeitura pelo menos limpou o rio onde flutuavam verdadeiros icebergs de espumante poluição?’


Às nossas custas


Ao tentar botar um pouco de ordem no caos de nossos arquivos, encontramos esta mensagem do jornalista mineiro Carlos Henrique Santiago, desaparecida por culpa exclusiva de Janistraquis, que humildemente pede desculpas ao remetente:


Admirador do Febeapá desde os tempos de criança, e também de outros textos jornalísticos, por força da profissão que escolhi na adolescência, não me passou despercebido o seguinte lapso de ortografia da edição eletrônica do jornal Estado de Minas:


‘O prefeito Jair Siqueira (PL), de Pouso Alegre, no Sul de Minas, está sendo acusado de improbridade administrativa pela promotoria de Justiça do município, que entrou com uma ação no último dia dois de agosto, pedindo que seja declarada nula a nomeação de 97 novos servidores de cargos comissionados.’


Considero que tal lapso não se deu por uma falta de atenção do jornalista, mas por excesso de síntese na fomulação da notícia. Na dúvida entre escrever improbidade e ‘impobridade’, acabou criando um neologismo, embora eu acredite, pessoalmente, que o mais correto seria a segunda opção: ‘impobridade’, já que o dito prefeito está enriquecendo, ou fazendo com que deixem de ser pobres 97 pessoas às custas do contribuinte.


Barra pesada


Por um defeito deveras infernal, a televisão que transmitia mais um capítulo da censura islâmica aos jornais europeus estava ligada em som altíssimo, como os alto-falantes dos templos religiosos; então Janistraquis, que lá no banheiro passava um telegrama ao presidente Bush, apareceu na sala depois da postagem, desligou o aparelho e cochichou:


‘Considerado, imaginei que poderíamos emitir severa opinião sobre o profeta Maomé, mas pensei bem e acho melhor botarmos o galho dentro; afinal, nosso endereço é conhecido, tem muito bambu aqui nas redondezas e, se o sítio for invadido por hordas fundamentalistas, é certo que não escaparemos da empalação…’


É de arrepiar!!!


Remediar


A considerada Beth Patrício, de Florianópolis, encontrou esta chamadinha na capa do UOL:


Câncer de mama — Praticar esportes ajuda a previnir doença.


Diante de um verbo que certamente não ajudará na cura dessa ‘insidiosa e pertinaz moléstia’, como antigamente se escrevia em jornal, Beth sugere:


Não é melhor prevenir do que remediar?


Se não é, já foi.


Questão cultural


Titulinho discreto na capa da Folha Online:


Zapping: Record quer lançar novela estilo ‘Malhação’ à tarde.


Janistraquis ficou mais animado do que petista diante das pesquisas do Ibope:


‘Que grande notícia para a juventude brasileira, considerado, que grande notícia! É assim, como quem não quer nada, que as questões culturais ganham mais espaço na televisão, né mesmo?’


É.


Nota dez


O texto eleito por maioria absoluta de votos é da lavra de Luiz Garcia em sua coluna de O Globo:


Burrice


Faz alguns anos, um bispo da Igreja Universal chutou uma imagem da Virgem Maria num programa de televisão. Quase literalmente, caiu-lhe o céu na cabeça. Com boa razão: o insulto à fé religiosa de outros obviamente não tem abrigo na liberdade de expressão.


(Leia a íntegra no Blogstraquis)


Errei, sim!


‘MARAVILHA ELETRÔNICA – Da revista Tendência: ‘(…) Um operário comanda um grupo; a gesticulação é iniciada ao som de uma música que sai dos microfones espalhados por todo local’.


Entusiasmado, Janistraquis comentou: ‘Considerado, o que é a tecnologia! Acabaram com o alto-falante; agora, a gente solfeja ao microfone e o danado já sai cantando a música’. Mandei-o procurar tal preciosidade no Paraguai; vale a pena.’ (agosto de 1990)’




MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro


Múltiplas migrações, 9/02/06


‘Foi acentuada a movimentação profissional nos últimos dias, tanto em redação quanto na área de Comunicação Corporativa. Nesta última, por exemplo, uma mudança de peso foi a saída de Renato Gasparetto Jr da Telefônica, para assumir a Diretoria de Relações Institucionais e Comunicação Corporativa do Grupo Gerdau, trocando ainda São Paulo por Porto Alegre (embora com a perspectiva de continuar viajando muito para a capital paulista, como o cargo requer). Renato deixa um cargo cobiçado para assumir o desafio de cuidar da Comunicação global de uma multinacional brasileira que hoje tem mais unidades na América do Norte do que no Brasil, operando 29 siderúrgicas em oito países. Sua sucessão, na Telefônica, deverá ser decidida nas próximas semanas.


Ficando ainda nesta área, uma outra mudança importante deu-se com um outro Renato, o Acciarto, que deixou a Daimler-Chrysler, onde estava há dez meses, para assumir a Gerência de Imprensa da General Motors do Brasil, respondendo pela área de relacionamento com a imprensa nos segmentos de Economia e Institucional. Renato ocupou a vaga deixada por Nélson Silveira, que foi para a GM, em Portugal.


Tivemos também alterações na revista Época. Deixou a publicação o redator-chefe Delmo Moreira, que já está em negociações com outras empresas, e também o subeditor de Cultura Cléber Eduardo. A vaga de Delmo continua aberta, mas a de Cléber foi ocupada por Marcelo Zorzaneli. Também começou por lá, no cargo de diretor de Arte de Época e das demais publicações da Editora Globo, Silas Ribas, vindo da Playboy, da Abril.


Na editoria de Economia do Estadão, o titular, Ari Schneider, que estava há cinco anos no posto, vai assumir novas funções no Grupo Estado, passando a coordenar uma área de cross-media que até então não havia na empresa, e no lugar dele entra Cida Damasco, com quem dividia até então o comando da editoria. Ari permanecerá ainda por um período na redação e com o mesmo telefone, até a empresa liberar um novo espaço. Mas ele já não está mais participando do dia-a-dia da editoria, responsabilidade assumida integralmente por Cida.


Na Rádio Eldorado, Sérgio Santos, promovido, assumiu o cargo de editor-chefe, ocupando cargo que estava vago desde a saída de Milton Leite, meses atrás. Sérgio, que era chefe de Redação, está em sua segunda passagem pela Eldorado e foi também da rádio e TV Bandeirantes e do Jornal da Record, chefiado por Boris Casoy. O lugar dele, na Chefia de Redação, foi ocupado por Thays Freitas. Deixaram a emissora os chefes de Reportagem Caia Amoroso e Ânderson França, sendo que Ânderson, que cumpria dupla jornada, continua como coordenador de Jornalismo da Rádio Record. Luiz Mota, âncora do Jornal Eldorado 2ª Edição, vai acumular a Chefia de Reportagem junto com Filomena Salemme, que já ocupava essa função.


As mais numerosas mudanças, no entanto, ocorreram na Rede Record. A emissora, em continuidade às mudanças que vem operando no jornalismo, desde a rescisão com Boris Casoy, estreou, nesta 2ª feira (6/2), o Jornal 24 Horas, apresentado por Janine Borba. O novo telejornal substitui o Edição de Notícias e vai ao ar diariamente às 00h15, com os fatos mais importantes do dia e as notícias que deverão ser manchetes na manhã seguinte. Além de produção própria, com os repórteres Reinaldo Gottino, Cristina Scaff e Sílvia Correa, o telejornal contará ainda com matérias especiais dos correspondentes da Record no Exterior e também do Núcleo Especial de Produção, chefiado por Luiz Malavolta.


A emissora fechou, também, três outras contratações para o Jornal da Record: Fátima Souza, que chega para o núcleo de reportagens especiais; Rosana Mamani, para a Pauta; e Flávia Duarte, para a Edição de Internacional. Fátima foi por vários anos da Band e teve uma breve passagem pela imprensa escrita; Rosana passou pela Globo e estava na Chefia de Produção da Rede 21; e Flávia foi da Band e da Rede 21. Três também foi o número de demitidos anunciado pela emissora nesta 2ª feira. Saíram o repórter Joaquim Carvalho, o editor-executivo Wagner Kotsura e a chefe da Coordenação de Rede, Lúcia Costa, todos remanescentes do antigo Jornal da Record.


No Domingo Espetacular, registro para a chegada do editor Sandro Moreira (ex-TV Vanguarda) e da repórter Maria Antonia Demasi, que era do antigo Jornal da Record e estava de férias. O programa, aliás, no último domingo (5/2), bateu pela primeira vez na história o Fantástico, por cerca de 2 minutos, com a matéria que flagrou Suzane von Richthofen (a estudante que planejou o assassinato dos próprios pais, três anos atrás) tomando sol e fazendo compras no litoral de São Paulo. Paulo Nicolau, editor-chefe do Domingo Espetacular, lembra que eles estavam há sete meses atrás de Suzane e finalmente conseguiram filmá-la, em matéria produzida pelo repórter Leandro Sant’Ana. A história completa do furo pode ser conferida em matéria assinada por Gustavo Girotto, no Portal da Revista Imprensa (www.portalimprensa.com.br).


Assentada a poeira e confirmados os desfalques provocados na equipe por iniciativa da Record, a Central Globo de Jornalismo vai, aos poucos, repondo as peças que saíram. Para suceder Luiz Malavolta, como produtor especial de reportagem, chega Alexandre Hisayasu, que foi do Diário de S.Paulo e estava por último na Folha. Ele se apresenta à empresa nesta 4ª.feira (8/2). Também já estão confirmadas as contratações do editor Henri Karan, para o SPTV – 2ª Edição (ele vem do Jornal Comunitário da Record e foi um dos alunos da turma do curso USP/TV Globo, realizado no ano passado), e do repórter César Menezes, para o Bom Dia Brasil. César, que passou uma temporada na Globo de Juiz de Fora e estava, por último, na afiliada de Fortaleza, entra na vaga de Lúcio Sturm. Há, também, em curso, uma série de promoções e remanejamentos, além da decisão estratégica de contratar profissionais que passaram, em 2005, pelo treinamento USP/TV Globo. Um dos profissionais já aproveitados e que deverá ser efetivado nos próximos dias é Guilherme Porta Nova, que foi também da RBS, de Santa Catarina. Ele entrará na vaga de Janaína Lepri, que por sua vez foi promovida para o lugar de Keli Varrasquini, a qual entrou na vaga do repórter Silvestre Serrano, que foi para a Record.


No InvestNews, várias mudanças foram também registradas. O núcleo de negócios online da Gazeta Mercantil acaba de lançar o boletim Opinião & Reflexão, produto que, além de produção própria, passa a abrigar, diariamente, os mais importantes artigos e os editoriais publicados pela Gazeta Mercantil e pelo Jornal do Brasil, numa proporção aproximada de 30% de material exclusivo e 70% fornecido pelos dois jornais da empresa. Outro serviço que a unidade de negócios online da Gazeta Mercantil está incrementando, de olho no crescente mercado, é o das mensagens curtas (SMS) – noticiário especialmente produzido para difusão através da telefonia celular. Além do modelo de remuneração pelo serviço via operadoras, a empresa quer fornecer conteúdo cobrando diretamente do assinante. Por se tratar de um serviço com características editoriais especiais, inclusive no que diz respeito ao texto e ao estilo, a direção do InvestNews começa, inclusive, a criar uma espécie de Manual de Estilo para ser aplicado neste núcleo. Em termos de equipe, as novidades são as seguintes: Fernando Nakagawa, vindo do Valor Online, e Viviane Monteiro, que era da equipe em SP, foram para a sucursal do InvestNews em Brasília, para as vagas de Dimalice Nunes e Silmara Cossolino, que deixaram a empresa. Simone Cavalcanti, repórter, passa a acumular a função de sub de Opinião. E para a equipe paulista foram contratadas as repórteres Liuca Yonaha (Finanças), Paulo da Araújo e Ivonete Dainesi (Energia).


A equipe carioca do Jornal do Brasil também foi reforçada. Marita Boos (ex-O Dia) começou no final de janeiro como editora de Cidade do JB. Entrou no lugar que foi de João Marcelo Erthal, agora dedicado ao seu jornal independente Avenida Central, que circula no Centro da cidade. Marita chamou para a equipe os antigos companheiros Marcelo Gazzaneo, que lá está desde o início deste mês e, a partir desta 4ª feira (8/2), Fabrício Marta, de saída da assessoria Primeira Linha. Também nesta 4ª, chega à Política Alfredo Junqueira, a convite de Leila Youssef, que tem vaga nova em ano eleitoral. Alfredo estava em SP, fazendo um curso.


No campo das agências de Comunicação, também foram anunciadas as conquistas de importantes contas. A Ketchum Estratégia, por exemplo, fechou com o Ibope; a In Press Porter Novelli com a Varig; e a CDN com o Grupo Arcelor, para ficar apenas nos exemplos maiores.


Considerando que ainda não chegamos em março e que esse é um ano de eleições e Copa do Mundo, são muito boas as perspectivas de crescimento do mercado. A conferir!’




ARTE & COMPORTAMENTO


José Paulo Lanyi


Pela neo-renascença das artes brasileiras, 9/02/06


‘A partir de hoje, este será um espaço de conspiração. Será um coreto na praça pública do inconformismo. Será o telefone, será a carta de além-terra, será a fila do cinema e o elevador, será o táxi, será a fila do INSS dos que, um dia, poderão pagar ingresso para morrer em paz. Há tempos se ouvem as mil queixas. Há tempos os corpos se agitam, há tempos nos escondemos por baixo dos calos vocais, há tempos fazemos na alma e, lá fora, sussurramos, como covardes e omissos que somos, no extrato de uma certa brasilidade, aquela que ficou para trás e nos empurra para o nada – antes fosse o precipício, antes fosse o tudo ou nada, tanto melhor do que o recalque disfarçado em prudência.


Sente-se o cheiro da pólvora, aqui em São Paulo, no Rio, em Pernambuco, em Santa Catarina, em Minas, no Rio Grande do Sul… Queremos mais. Jornalistas, artistas e intelectuais, todos os humanistas… Estamos amotinados. Reunimo-nos a cada semana. Não aceitamos mais a polaridade do ‘acaso’ que nos foi imposto. Não aguentamos mais uma vanguarda que, como um bode bobo, insiste em apodrecer na nossa sala. Pois a vanguarda predominante, no papel jornal e nas telas eletrônicas, é uma vanguarda que já morreu. A verdadeira vanguarda ninguém sabe onde está. Talvez, amarrada lá fora, a comer capim, enfeada pelo espelho da impotência.


O teatro…o teatro é um absurdo… É o botox da cara de conteúdo… Quem não gosta dessa vanguarda é burro. Suprema injustiça: alguns burros não escrevem teatro. Companhias agradáveis, portanto. Conclamo todos vocês a atrelar-se à nossa burrice. O campo não cobra entrada. Lá o povo tem vez. Passa pela porteira, cumprimenta a coruja, senta, deita e rola nos micuins que incomodam mas fazem matar de rir.


E não adianta mostrar a bunda no teatro. Agora, se mostrar a bunda, a gente chuta. Defecar no palco, melecar-se na orgia da sacrossantidade alheia? Camisa-de-força nesses… Essa vanguarda está morta. Para alguns, já estava… Que assim seja… Vamos garantir, então… Vimos aqui com a pá e o caixão. Terra nós também temos.


O pós-modernete joga peteca com o popularesco. Os jornais e as revistas vendem ‘programação de fim-de-semana’. Todos vendem e se vendem na ciranda do cifrão. A música da rádio está sob análise, na mesa do pessoal do Nordeste: este, sim, faz um jabá delicioso. O resto é xepa de prisão. Música atonal para passar de ano na USP, música atonal que ganha concurso. E o Mozart, aquele que coraria, quase um ex-indigente, esse é explorado na boca do caixa. Velinhas de 250 anos para ele! Na prática do ano passado e do ano que vem, mais cara de conteúdo nas audições. É a eletroacústica do trrrrim… trrrrim… trrrrim. Pobre Mozart, aquele que tentaram enterrar. Não com as nossas pás. Não, de jeito nenhum.


Sugiro um caminho: um concurso pós-funk alternativo. Não entendeu? Nem eu… O cinema do éramos seis e agora somos cinco. Quanto menos melhor. Para dois ou três. Um e outro ator, um e outro realizador. Queremos telões nos drive-ins. Drive-in a um real. Um festival diário de democracia. O cinema é de todos. O drive-in é erótico, queremos a reprodução, queremos a biodiversidade na tela e no banco do carro. A quem enganará o sucesso de um? Até quando torcer, no campeonato de um só?


E as intervenções urbanas? Polícia, favela, racha na perifa? Não, respeitável público. É a peladona pós-moderna- sim, ela também – a mostrar-nos a bunda embaixo do viaduto. Se ao menos fosse roliça…


Tem gente aí que faz a antiarte ambiental. Come banana a cada dois anos, só para aproveitar a casca. No chão não se anda mais… Nós caímos e eles riem. Somos hospedeiros desses vermes que se instalam no ridículo deste grande faz-de-conta. Eles se fingem de artistas; nós, de público. Os livros se publicam, mas não sabemos disso. O mago das finanças envergonha a Casa de Machado, enquanto muitos outros vicejam, mas só no Google, e olhe lá… Cinco referências a um pobre diabo, doze referências ao ilustre ‘quem’… Quem se importa? Nós nos importamos e queremos a sua companhia.


A juventude pós-ditadura não sabe mais o que fazer. Não tem contra quem, nem contra o quê protestar! Na terra dos Jeffersons, na terra da propaganda da TV, tudo se consome muito rápido. Não há inimigos do povo. Não se sabe o que fazer na sexta à noite. Nada diferente do que se tem feito todas as sextas, todas os dias.


Se depender de nós, nada se perderá. Esta é apenas uma entressafra medíocre. Que lhe salguem a terra, então. Não é possível esperar mais.


Clamamos pelo renascimento das artes no Brasil! Choremos a falsa vanguarda com lágrimas de crocodilo! Louvemos a vanguarda esquecida e nada mais será como antes! Contra a ditadura da forma, o esplendor do conteúdo! Contra o Golias da indústria, uma pedra bem no meio do olho! Esta é uma trincheira de mais de 560 mil pessoas! Não será desperdiçada. Que o jornalismo cumpra a sua obrigação histórica! Aqui na Internet somos todos pioneiros. Que o sejamos, pois, que abracemos os esquecidos, que tragamos de volta os que pereceram pela infâmia da indústria! Que venham aqueles que ainda não existem! Aqui eles existirão!


Não à cara de conteúdo!


Melhor: cara de conteúdo, sim! E saberemos dizer, na fila do teatro: – Esse aí é o cara de conteúdo…


Saibamos respeitá-lo, uma vez identificado. Mas jamais nos venham dizer que é dele que emana o monopólio da sapiência!


Respeito aos clássicos, respeito ao ‘normaizinhos’… Meu cachorro é normal. E eu gosto dele. A crítica e o público haverão de se despir da empáfia. De agora em diante, por tempo indeterminado, vamos discutir, ferrenhamente, todos os nossos anseios artísticos. Trarei aqui os inconformistas. Terão aqui a palavra que lhe é negada pela indústria cult e pela indústria do esculacho geral! São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Pernambuco, Rio Grande, Minas Gerais… É pouco. Queremos mais. O Comunique-se é o terreno antitotem. Sim à autenticidade, não à impostura! E se o autêntico é ruim, que seja enterrado na vala comum do passado que está por vir!


Comecemos pelos comentários, continuemos por e-mail (jplanyi@uol.com.br), pelas entrevistas e pelos artigos que aqui serão publicados. Demorou, é verdade… Mas a fila vai andar.’




TELEVISÃO
Eliakim Araujo


Dimas, Maluf e o novo Jornal da Record, (copyright Direto da Redação – www.diretodaredacao.com – in Comunique-se), 2/02/06


‘ ‘Recebi os 75 mil em meu escritório, das mãos do Dimas Toledo’. A afirmação só podia ser do ex-deputado Roberto Jefferson, o homem que se especializou em tomar o dinheiro do contribuinte através do esquema de Caixa Dois comandado por empresas estatais.


Jefferson voltou à berlinda esta semana com o aparecimento de uma lista com os nomes de 156 políticos, todos da base parlamentar do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que teriam recebido ajuda financeira para suas campanhas eleitorais em 2002. Dimas Toledo era diretor de Furnas no governo anterior e foi mantido no cargo no governo Lula.


A lista suspeita está nas mãos da Polícia Federal que examina sua veracidade. Até agora, de concreto mesmo só existe o depoimento de Bob Jefferson, que além de confirmar o recebimento do dinheiro, colocou mais lenha na fogueira ao informar que, quando o PTB tentou substuituir Dimas por alguém do partido, ele (Jefferson) recebeu ligações de mais de cinquenta por cento do pessoal que estava na lista pedindo para ‘não tirar o Dimas’.


Pode ser que seja mais uma bravata do ex-deputado. Pode ser que não. Afinal, tudo é possível na política brasileira. Os caciques do PSDB rapidamente trataram de desacreditar o documento, que consideram apenas uma vingança do PT. A palavra agora está com a PF e principalmente com o ex-dirigente da estatal. Dimas passa a ser peça fundamental na história. Só ele pode confirmar ou desmentir a existência da caixinha.


Por falar em caixinha, lembrei-me de Paulo Maluf e de uma reportagem que vi segunda-feira na estréia do novo Jornal da Record. Na matéria investigativa, ouve-se a voz de Maluf negociando a entrega do carro importado pelo qual ele já havia pago o preço total. E não foi um carrinho qualquer. Foi um Corvette, avaliado em 200 mil dólares, que o ex-governador comprou em nome do filho para driblar o bloqueio de seus bens decretado pela Justiça. Quem pode, pode. Maluf, pelo visto, continua esperto e fazendo das suas.


Aliás, vai aqui um elogio ao Jornal da Record. Pelo menos em sua edição de estréia, o telejornal mostrou muitas qualidades. As matérias muito bem selecionadas e editadas com agilidade e competência. Os novos âncoras, Celso Freitas e Adriana Araújo, não comprometeram. Para primeiro dia, até que estavam bem à vontade. A resposta do público foi boa. O telejornal alcançou o dobro da audiência do anterior, comandado por Boris Casoy.


Num estranho comportamento, a Folha de SP tenta ridicularizar o novo Jornal da Record, que trata como ‘clone’ do Jornal Nacional, alegando que os apresentadores vieram da Globo e o cenário parece com o do JN. Uma grande bobagem. O fato dos âncoras terem trabalhado anteriormente na Globo não lhes tira o direito de trabalhar em outra emissora.


Quanto ao cenário, apresentadores em primeiro plano com a redação ao fundo, não se trata de invenção brasileira, muito menos da Globo. Os americanos já fazem isso há muito tempo, com a CNN e outras. E aqui no Brasil, a Manchete já o fazia na década de 80.


Se mantiver a qualidade do primeiro dia, o novo Jornal da Record pode ser uma boa opção para o telespectador brasileiro.


(*) Ancorou o primeiro canal internacional de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora do Jornais da Globo, Manchete e SBT e noticiarista da Rádio JB. Tem uma empresa de assessoria em jornalismo e marketing.’




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Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


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