Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Conceitos sociais invertidos

Entre as maleficências causadas pela gripe suína, pelo desastre do vôo 447 e pela crise financeira mundial, eis o surgimento de um assunto do mais renomado prestígio para a nação brasileira, ávida há muito por acontecimentos de notório cunho moral e cívico (termos estes, na verdade, nem mais empregados pelas escolas modernas), isto é, condizentes à cultura edificada pelos antepassados tupiniquins que vislumbravam o futuro da pátria.

Semana retrasada, a cidade de Barra de Bugres, situada no Mato Grosso, deu um passo importantíssimo em prol do resgate das obrigações acima apresentadas (moral e cívica) com a formação por uma de suas universidades de um integrante da tribo Carajá para o exercício do magistério superior, o qual irá ministrar aulas na área da Sociologia, segundo o curso por ele adotado.

Entretanto, observando não apenas pelo prisma social, mas constituindo um olhar crítico acerca do demonstrado, faz-se mister asseverar que o tempo concedido a essa notícia em um telejornal de grande disseminação de informações no horário nobre da televisão brasileira não consumiu nem um minuto, dado a velocidade da veiculação desse episódio. Em outros também com igual prestígio, sequer houve a divulgação.

Um privilégio brasileiro

A preferência, diga-se de passagem, foi, mais uma vez, por assuntos exaustivamente dotados da fórmula da alienação, isto é, como um jogador de futebol se comportou na cerimônia de recepção de seu novo clube esportivo no exterior e da lamentável situação em que o vice-presidente José Alencar se encontrava, sendo este com entradas ao vivo no início e ao final da edição.

Todos sabem que questões dessa monta, como a do índio Carajá, demandam uma substancial atenção no que concernem aos tão relegados sentimentos de patriotismo. Seria bem mais proveitoso se, ao invés de acolher com louvores todo e qualquer conceito originado no estrangeiro (mídia especializada, notoriamente) fosse adotado o caminho inverso, ou seja, ‘exportando’ o orgulho de pertencer a um país como o Brasil, ainda que possuidor de inúmeros problemas sociais e políticos. Talvez seja meio difícil realizar uma afirmação dessa magnitude, mas a verdade é que não só os Estados Unidos, mas também boa parte dos países ao redor do mundo imitam consideravelmente muitas peculiaridades de nossa região (o samba, o futebol, as mulheres que só o Brasil tem!), além de pesquisas promovidas em solo nacional tal como a do biodiesel.

Portanto, antes que o estrangeirismo tome conta plenamente de nossa vida, alguns de nossos jornalistas menos atentos bem que poderiam refletir um pouco mais sobre suas incoerências a respeito de um país único em relação ao restante do globo. Certamente, muitos gostariam de estar aqui, neste exato momento, aproveitando a vida com tudo de bom que ela oferece. E isto, frise-se, é um privilégio que só o bom cidadão brasileiro tem.

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Administrador de empresas, João Pessoa, PB