Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Crise nos jornais vira rotina nos EUA

Nas últimas semanas, o jornal San Diego Union-Tribune cortou mais de 100 cargos, o equivalente a 1/10 de sua força de trabalho. O Chicago Sun-Times mudou de formato no começo do ano, deu início a uma rodada de demissões na redação e depois colocou-se à venda. Em Minneapolis e na Filadélfia, a situação econômica não é das melhores e espera-se cortes em jornais das duas cidades. Há alguns anos, notícias como estas despertavam repercussão maior; hoje, cortes de recursos humanos e financeiros tornaram-se rotina na indústria jornalística. Desde a metade de 2007, grandes jornais dos EUA, como o San Francisco Chronicle, Seattle Times, San Jose Mercury News e USA Today, vêm reduzindo suas equipes.

As demissões nas redações não são um fenômeno novo, mas a situação enfrentada pela indústria jornalística americana é mais séria do que as vividas em outras gerações, opina Richard Pérez-Pena em artigo no New York Times [7/2/08]. O ano passado começou mal e terminou ainda pior para as organizações de mídia, com queda nos lucros e nos valores das ações; 2008 não promete ser melhor. ‘Sou um otimista, mas é muito difícil ser positivo sobre o que está acontecendo’, afirma Brian P. Tierney, publisher do Philadelphia Inquirer e do Philadelphia Daily News. ‘Os próximos anos serão de transição e acho que alguns jornais conseguirão dar a volta por cima’, completa o otimista.

Nas últimas semanas, diversas empresas jornalísticas divulgaram resultados negativos colhidos em dezembro e alertaram que janeiro apresentaria uma situação semelhante. Executivos e analistas acreditam que pode levar até 10 anos para que a indústria se estabilize. Enquanto isso, a previsão é de que muitos jornais reduzam o tamanho de suas redações para sobreviver.

Queda vertiginosa

A publicidade, que representa mais de 80% da receita dos jornais, tradicionalmente tem seus altos e baixos. Mas, no último ano, não houve momentos de alta e executivos especulam que a situação não irá se reverter brevemente. Em 2007, os lucros publicitários dos jornais americanos, impresso e online combinados, apresentaram queda média de 7%. Nas últimas seis décadas, apenas o ano de 2001 – quando houve uma recessão – apresentou um declínio tão acentuado, segundo a Associação de Jornais da América. Os números ruins se aplicam também à circulação, que vem caindo desde 2003: o número de cópias vendidas dos jornais americanos diminuiu em média 2% ao ano. Alguns dos diários de maior porte – incluindo o San Francisco Chronicle, Boston Globe e Los Angeles Times – perderam de 20 a 30% de suas tiragens nos últimos anos.

Ainda no ano passado, a migração dos anúncios para a internet, principalmente os classificados de imóveis, empregos e automóveis, foi acelerada – o que afetou os jornais de maneira drástica, em especial na Califórnia e na Flórida, onde jornais locais perderam mais de 20% de anúncios deste tipo. ‘A publicidade local caiu, mas a nacional mantém-se forte’, avalia Alexia Quadrani, analista do banco de investimentos Bear Stearns & Company. ‘Os anunciantes locais foram engolidos. A farmácia local foi substituída pela [rede nacional] CVS e a loja de materiais de construção pelo [grupo varejista] Home Depot’.

Para alguns críticos, os jornais não têm feito um bom trabalho para se adaptar à internet e não estão agindo agressivamente para vender anúncios. Os lucros dos jornais ainda mantêm-se positivos, mas estão caindo drasticamente. O valor das ações também vem caindo. Isto levou alguns investidores a comprar jornais em 2006 e no começo de 2007 [a McClatchy comprou a cadeia de jornais Knight Ridder e a News Corporations comprou a Dow Jones & Company], mas agora a indústria jornalística não está mais tão atraente nem para investidores.