Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Crítica interna

29/11/06

Todos os grandes jornais deram destaque para as prestações de contas à Justiça Eleitoral dos candidatos à Presidência no segundo turno. Os enfoques, no entanto, foram distintos. A Folha e o ‘Valor’ foram direto ao que interessa: a identificação das doações. Manchete da Folha: ‘Bancos lideram doações a Lula’. Chamada no ‘Valor’: ‘Vale foi maior doadora à reeleição’.

‘Estado’ e ‘Globo’ abordaram por um ângulo secundário, o das dívidas, que não resultam em nada – a não ser que se revelem os doadores que ajudarão a quitá-las. No ‘Globo’: ‘Rombo de PT e PSDB é de R$ 30 milhões’. No ‘Estado’: ‘Campanha do PT deixa dívida de R$ 9,8 milhões’. Quanto mais os jornais detalharem as origens das doações (por setores e interesses, por empresas e grupos e por pessoas físicas) mais estarão contribuindo para a compreensão dos futuros embates próprios do jogo democrático.

A manchete do ‘Globo’ anuncia que a economia para o pagamento de juros cairá para 3,75% do PIB num esforço do governo para estimular o crescimento: ‘Governo quer investir mais reduzindo superávit fiscal’. E o ‘Estado’ destacou o resultado do levantamento de salários feitos pelo CNJ nos Estados: ‘Justiça paga supersalários para 2.978 servidores’.

Fez bem a Folha em dar destaque na Primeira Página da Edição SP para as duas chacinas na Grande São Paulo.

‘Brasil’

Como não foi possível, por causa do horário, detalhar as doações feitas por setores, empresas e pessoas físicas a Geraldo Alckmin na Edição Nacional, sugiro que o jornal o faça na edição de amanhã.

Os dados disponíveis no TSE ainda estão subutilizados. O jornal deveria fazer mais cruzamentos para identificar outros grupos de interesse que legalmente contribuíram para as campanhas presidenciais.

O mesmo vale para os senadores e deputados. As informações ainda foram pouco exploradas. A identificação das dezenas de bancadas suprapartidárias que estarão em ação no Congresso é um serviço para os leitores.

O mesmo vale para o Executivo e o Legislativo de São Paulo, onde o jornal tem sede.

E o jornal deve continuar a perseguir os dados referentes às doações que chegaram às campanhas através dos partidos e que ainda não foram identificadas.

Confusão

O jornal ora trata Gedimar Pereira Passos como Gedimar, como no título ‘Antes de depor, Gedimar foi pago pelo PT’ (pág. A8), ora como Passos, como está no corpo da reportagem. Deveria uniformizar o tratamento. Acho que ele já ficou conhecido como Gedimar.

TFP

O anúncio da TFP francesa (Tradição, Família e Propriedade) indica uma grande crise na TFP brasileira que ainda não vi nos jornais.

Judiciário

O ‘Estado’ produziu um infográfico e deu assim mais visibilidade que a Folha para o escândalo dos supersalários no Judiciário. É o tipo de informação que pede tratamento gráfico.

Aviso

Participo amanhã de manhã de seminário na Universidade Gama Filho, no Rio. Por esta razão não haverá a Crítica Interna



28/11/06

A Folha recolheu nos autos de uma ação na Justiça do Grupo Bandeirantes contra a Editora Abril informações para continuar a questionar as relações entre o governo federal e a empresa Gamecorp, que tem um dos filhos do presidente Lula como sócio: ‘Publicidade oficial ajuda a bancar TV de filho de Lula’ é a manchete de hoje. O título é uma referência ao acordo que divide a publicidade veiculada na PlayTV entre a Bandeirantes e a Gamecorp. O texto interno me pareceu bem feito, construído a partir de documentos disponíveis na Justiça, e as versões de todos os lados envolvidos estão contempladas ou pelo menos foram buscadas. A manchete e o título interno, no entanto, se referem à ‘TV de filho de Lula’, o que dá a entender que a Play TV (ex-Rede 21) pertence ao filho do presidente. Um dos pontos controversos na ação é exatamente a natureza do acordo, se foi um arrendamento ou uma compra de conteúdo (como defendem os advogados da Bandeirantes).

O ‘Estado’ dá manchete para as contas do setor público: ‘Estatal poupa menos, mas governo segura superávit’. A Folha registrou, sem tanto destaque: ‘Aperto fiscal até outubro supera meta para todo o ano’. E o ‘Globo’ mira os gastos públicos, mas com outras informações: ‘Prédios do Judiciário têm mais verba que presídios’ (manchete), ‘Governo só liberou 5% para o Pan até agora’ e ‘União gastou R$ 33,7 bilhões com Ongs desde 99’.

‘Brasil’

A reportagem ‘PT considera volta de Berzoini à presidência’ (pág. A10 das duas edições) não informa em que mês será realizado o 3º Congresso Nacional do PT em 2007.

A Folha noticiou primeiro a tensão que está por trás da sucessão na presidência da Radiobrás – ‘Presidente da Radiobrás diz que enfrentou insatisfações’ (dia 15/11). O ‘Estado’ entrou depois, mas deu continuidade ao assunto com reportagens ontem (‘PT abre guerra interna para ‘recuperar’ a Radiobrás’) e hoje (‘Bucci defende blindar Radiobrás contra política’). A discussão sobre comunicação pública é importante e interessa aos leitores. No caso, há aparentemente o embate entre dois modelos antagônicos para a Radiobrás.

‘Cotidiano’

Não dá para entender a nota ‘Mortes ocorridas em maio serão investigadas’, página C3 da Edição Nacional. As 493 mortes não foram investigadas até hoje? Que tipo de investigação de 493 mortes pode ser feita em uma reunião apenas, como a de ontem noticiada pelo jornal? E o que ficou decidido nesta reunião?

O ‘Globo’ tem reportagem que desmistifica a idéia, vendida pelos governos estaduais e secretarias de segurança, de que a maioria das armas chega aos criminosos via contrabando. Segundo a CPI sobre Organizações Criminosas do Tráfico de Armas, ‘86% das armas do crime têm origem legal’ e foram desviadas em território brasileiro.

O ‘Estado’ também publica o resultado do levantamento – ‘Polícia fornece armas ao crime no Rio’ –, divulgado ontem em Brasília



27/11/06

Economia, política e polícia – o foco da Folha, neste final de semana e hoje, é o governo Lula e o PT:

Sábado – ‘Governo prevê PIB menor e corta gasto’, ‘Lula afirma que leis travam crescimento’ e ‘Garcia defende PT no poder por uma geração’.

Domingo – ‘Para PF, Berzoini mandou comprar dossiê’, ‘Pressão para crescimento de 5% ao ano divide governo’ e ‘Em discurso, Lula diz que PT não deve brigar por mais cargos’.

Segunda – ‘PT contraria Lula e quer lançar nome à Câmara’ e ‘PF quer ajuda da CPI nas investigações do dossiegate’.

A reportagem feita sobre o escândalo dos gastos do governo do Rio no Maracanã – ‘Novo Maracanã custa estádio de Copa’, capa do caderno ‘Esporte’ – merecia destaque na Primeira Página da Folha de domingo. Além do volume de dinheiro envolvido nas obras inacabadas (R$ 252 milhões, segundo o texto), há um outro fator que justificaria o destaque: a aproximação dos jogos Pan-Americanos no Rio. A propósito, nota da coluna de Elio Gaspari (‘Gênios do Pan’) indica que o jornal deveria estar dando ainda mais atenção para os aspectos orçamentários e para o cronograma de obras dos jogos.

O ‘Estado’ antecipa, na edição de hoje, algumas conclusões do levantamento de salários de juízes feito pelo Conselho Nacional de Justiça – ‘Lista inédita do CNJ revela super-salários na Justiça’.

‘Cotidiano’

Há um equívoco na crítica que o Secretário de Segurança de Santa Catarina faz à lei federal que pune com prisão e outras alternativas a violência contra as mulheres (‘Lei Maria da Penha é criticada por rigidez’, pág. C9 da Edição de sábado), mas a Folha não soube explorar. O problema do linchamento de um preso em Joinville não é a rigidez da lei, mas a negligência e irresponsabilidade do Estado que não protegeu o preso que estava sob a sua custódia. É até procedente a discussão colocada pelo leitor Marcelo Alexandre dos Santos no ‘Painel do Leitor’ desta segunda-feira (‘Maria da Penha’, pág. A3), mas não é correto o jornal dar aquele título e aquele enfoque (‘Lei Maria da Penha é criticada por rigidez’) para uma reportagem que ouviu apenas uma crítica, e de um delegado que tenta justificar uma falha do Estado na proteção ao preso.

A propósito da responsabilidade das autoridades policiais, são impressionantes as declarações do chefe da Polícia Civil do Rio, na edição de hoje. Ele atribui a responsabilidade pelo assalto de 18 turistas ingleses sábado à noite no Aterro do Flamengo, no Rio, às empresas de turismo que não pedem reforço de segurança para acompanhar a chegada de turistas à cidade e que não escolhem bem seus funcionários.

Informe publicitário

Há um informe publicitário publicado na edição de domingo (A16) que deveria despertar a curiosidade jornalística da Folha para decifrá-lo. Sem assinatura, o informe condena as ‘formas precárias de trabalho’ – como a contratação de cooperados, pessoas jurídicas ou estagiários sem vinculação com complementação de ensino, práticas comuns hoje nas relações trabalhistas – e foi publicado por acordo judicial. Quem foi processado e fez o acordo na Justiça para a publicação no jornal? Alguma empresa? Não vi o informe em outros jornais. A peça estimula a denúncia destas práticas ao Ministério Público e ao Ministério do Trabalho.

Aliás, a contratação de professores por meio de cooperativas é o tema da capa de ‘Cotidiano’ de hoje (‘Em crise, escolas terceirizam professor’).’