Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Daniel Castro

‘Contratado para adaptar textos de novelas mexicanas, escrever minisséries e preparar novos roteiristas, o autor Doc Comparato foi demitido pelo SBT por ‘justa causa’ na tarde de sexta-feira.

Comparato foi ‘escoltado’ por seguranças até a portaria da emissora. ‘Nuca fui tão humilhado, ofendido e repudiado. Tenho prêmios internacionais’, disse.

O autor, que na Globo assinou minisséries como ‘O Tempo e o Vento’ (1985), foi chamado ao departamento jurídico e recebeu uma carta de rescisão por ‘descumprimento contratual’. O documento o acusa de se recusar a ‘promover a adaptação de novela’ (‘Os Ricos Também Choram’) e de provocar ‘dificuldades e conflitos de relacionamentos’ com ‘discussões verbais’ de ‘conteúdo ofensivo’.

A carta também afirma que de Comparato será cobrada multa por rescisão contratual.

A demissão revela uma crise no departamento de teledramaturgia que tinha causado o cancelamento de uma entrevista à imprensa na última quarta, na qual seria apresentada a nova versão de ‘Os Ricos Também Choram’.

A entrevista foi cancelada na véspera sob o argumento oficial de que o diretor do núcleo de dramaturgia, David Grimberg, tivera problemas de saúde.

Comparato nega que tenha se recusado a adaptar ‘Os Ricos’. ‘É mentira, já entreguei dois capítulos’, afirma.

Segundo Comparato, a crise foi causada pela falta de roteiristas. Ele diz que o SBT perdeu para a Record os roteiristas que ele formou na emissora. E que o SBT contratou para ajudá-lo na novela Marcos Lazzarini (ex-Record), que não foi de seu ‘gosto’.

Comparato reclama da falta de infra-estrutura na emissora e diz que irá à Justiça. Afirma que o SBT não poderá usar a versão que elaborou para ‘Os Ricos Também Choram’, ambientada em São Paulo nos anos 20, nem a sinopse da minissérie ‘O Palácio’, porque são ‘direitos autorais’ dele.

Roteirista de fama internacional, Comparato foi contratado pelo SBT em junho de 2004. Em fevereiro, renovou contrato por mais um ano. Lazzarini deve assumir a adaptação de ‘Os Ricos’.

OUTRO CANAL

Mancada 1 A Prefeitura de São Paulo negou pedido da Globo para alugar o Teatro Municipal para gravações de ‘Alma Gêmea’, próxima novela das seis.

Mancada 2 A prefeitura se arrependeu e tentou voltar atrás. Mas já era tarde. A Globo já arrumou outra locação, o Teatro Municipal de Niterói.

A favor Na contramão dos defensores de animais, o Comitê Paraolímpico Brasileiro enviou carta à Globo a parabenizando pela abordagem dos problemas dos deficientes visuais em ‘América’.’

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‘Silvio Santos cria ‘conselho’ e apavora SBT’, copyright Folha de S. Paulo, 18/03/05

‘Ex-superintendente de produção e programação do SBT, o advogado Jean Teppet negocia com Silvio Santos sua volta à emissora. Teppet, que era corretor de imóveis quando conheceu Silvio Santos, tem fama de ‘cortador’. Atribui-se a ele a demissão de mil funcionários entre 2002 e 2004.

A informação vem causando muita apreensão nos bastidores da emissora. Funcionários temem novas demissões e um inevitável choque entre Teppet e o mexicano Eugenio Lopez, que assumiu o dia-a-dia do SBT há um ano e adotou uma linha de racionalização de custos, mas menos radical, com perspectiva de retomada de investimentos em produção.

Teppet deverá liderar um ‘conselho’ a ser criado por Silvio Santos. Mas não seria um conselho como os das grandes empresas. Do ‘órgão’, fariam parte apenas Teppet e dois assessores dele. Sua função seria a de aconselhar Silvio Santos, que é quem realmente manda na emissora.

Teppet, que já discute cláusulas de seu novo contrato, deverá ser ‘chefe’ de Lopez, ex-executivo da Televisa. Isso deverá gerar atritos e desestabilizar a estrutura atual.

O advogado, que deixou o SBT há pouco menos de um ano, se reaproximou de Silvio Santos por intermédio do influente cabeleireiro Jassa. Em novembro passado, mesmo afastado da emissora, apresentou a Silvio Santos um plano que teria resultado em uma economia de R$ 15 milhões.

OUTRO CANAL

Metamorfoses 1 Depois de estrear com 56 pontos (o melhor primeiro capítulo desde ‘Renascer’, de 1993, que marcou 59), ‘América’ despencou para 43 pontos anteontem. Ou seja, entre segunda e quarta, a novela deixou de ser sintonizada em 644 mil domicílios na Grande São Paulo.

Metamorfoses 2 A audiência não é anormal para uma quarta-feira, dia em que os capítulos são menores por causa do futebol. Mas evidencia que o recorde da estréia pode ter sido rescaldo de ‘Senhora do Destino’, que vinha acima dos 55 pontos, e que parte dos telespectadores agora se sente ‘viúva’ da novela anterior.

Contra-ataque O SBT começa a exibir no dia 28, às 21h15, a novela ‘Xica da Silva’, da extinta TV Manchete. Com ela, pretende consolidar a vice-liderança no horário, ameaçada pela Record.

Branco 1 A Globo convocou todo o seu elenco para gravar domingo, em estúdio no Rio, o jingle dos 40 anos da emissora. Pede traje branco informal, ‘roupas que você usa numa manhã de sol’.

Branco 2 Eis o início do jingle: ‘Todo dia a cada manhã/ É o futuro chegando/ Para nos despertar/ Vem trazendo um novo amanhã/ Mais uma chance de recomeçar/ E o sol que vem iluminar/ É a Globo que vem convidar/ Diga bom-dia’.’



AMÉRICA
Bia Abramo

‘‘América’ prenuncia tempos esquisitos’, copyright Folha de S. Paulo, 20/03/05

‘No cinema americano, quando o céu se tinge de vermelho, é sinal de que alguma força sobrenatural está se movendo. Na novela brasileira, não se sabe ainda o que é, exceto que no segundo capítulo de ‘América’ apareceu sobre São Paulo, precedendo o encontro da quase-mocinha Sol com o bandido Alex. Mas não deixa de ser um indício do ar carregado que vai tomar conta do imaginário nacional dos próximos meses.

Tempos de Gloria Perez e Jayme Monjardim na novela. Tempos de padecimentos inenarráveis -e, de fato, nesse tipo de telenovela a narrativa já quase desapareceu-, de história que anda em círculos e, como já apontou Esther Hamburger em sua crítica ao capítulo de estréia (Ilustrada da última quarta), de paisagens desfilando na tela.

Com quatro capítulos decorridos no momento em que se escreve esta coluna, já dá para ter uma idéia do volume assustador de sofrimento que vem por aí. Mesmo com o cipoal de nomes -são 60 personagens-, quem sofre e como está bem delineado: o amor predestinado submetido a revezes infinitos, a moça rica e rebelde que vai ter um comportamento autodestrutivo, a infelicidade da mulher burguesa, mães dolorosas e por aí vai.

O que permanece uma incógnita sempre que Perez assina uma novela é que tipo de ginástica será necessária para garantir por oito ou dez meses o ritmo -e a audiência, claro, que começou impressionante com média de 54, mas no terceiro capítulo já caiu para 42 pontos no Ibope – dessa encenação reiterativa de emoções. Vale tudo, mas vale tudo mesmo. Lembrem-se de ‘O Clone’ e suas dobras espaço-temporais, seus cavalos brancos e sua estética esotérica.

E há as questões -do tratamento justo ou injusto com os animais, da deficiência visual, do homossexualismo, da imigração ilegal e sabe-se lá mais do quê. Aliás, que questões são essas, afinal? Antes, ainda: de onde tiraram essa idéia que uma novela tem que abordar quaisquer questões, ‘mostrar’ alguma coisa? Que pauta, que agenda é essa que a TV vem escolhendo para ser discutida pela sociedade e que acaba sendo, de fato, dado que alimenta matérias jornalísticas diversas, chega às capas das revistas semanais etc.?

Parece desinformada da história da TV e, ingênua a pergunta, mas será que mesmo assim ela não é necessária? Sobretudo, porque um sinal parece ter se invertido: se nos anos 70/80, a novela conseguia trazer para a ficção mudanças de comportamento e de mentalidade que estavam sendo gestadas na vida social, hoje a TV tem um papel muito mais propositivo nesse sentido e a ficção passou a ser substituída por esse cardápio mais ou menos aleatório de ‘questões’.

Não se quer afirmar que elas não existam na sociedade, mas que sua relevância, sua dimensão, seus significados e, sobretudo, sua abrangência estão sendo formatados antes pela novela. Que tempos esquisitos, credo!’



Marcelo Camacho

‘Questão de fórmula. Perdão, estilo’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 18/03/05

‘O último capítulo de ‘Senhora do Destino’ marcou 63 pontos de média na audiência. Apenas mais um dos recordes históricos alcançados pela trama de Aguinaldo Silva. Segunda-feira passada, entrou no ar ‘América’, a nova novela das nove da Rede Globo, escrita por Glória Perez. Já chegou também batendo um recorde: 56 pontos em seu primeiro dia de exibição, o melhor índice dos últimos dez anos. ‘América’ vai fazer sucesso? Vai. Porém, com uma diferença marcante em relação à sua antecessora. Quando resolveu escrever ‘Senhora do Destino’, o autor Aguinaldo Silva se propôs a criar um enredo totalmente diferente de tudo o que já havia feito até então. Tirou de cena a cidadezinha do Nordeste onde suas histórias eram normalmente ambientadas, largou mão do realismo mágico, abandonou o humor absurdo de alguns personagens, enfim, deixou para trás tudo aquilo que pudesse ser identificado como um estilo seu. Aguinaldo não reinventou a novela, mas reinventou sua própria maneira de trabalhar. Foi um risco que decidiu correr. E deu na apoteose que deu.

Glória Perez, em contrapartida, não parece ser o tipo de autora que goste de correr riscos. Em ‘América’, pelo que se viu até agora, ela resolveu, mais uma vez, escrever a sua mesma novela de sempre – uma trama previsível que consiste basicamente de um amor impossível cercado por temas polêmicos. Muda-se uma coisa ou outra aqui e ali, e, pronto, a novela está garantida. Preguiça? Não. Afinal, fazer novela dá muito trabalho. Comodidade? Talvez. Como se costuma dizer, em time que está ganhando não se mexe. Uma questão de estilo? Certamente. Glória Perez tem um estilo que quem acompanha suas histórias conhece bem. Trata-se de um estilo cafona, é bem verdade, se é que ‘estilo’ e ‘cafona’ são duas palavras que podem andar juntas. Mas é um estilo, definitivamente.

Basta lembrar as outras tramas da novelista para constatar essa cafonice – em tudo o que ela tem de bom e de ruim. Diversos trabalhos de Glória Perez são de fazer inveja a qualquer novela mexicana do SBT, já que é tudo muito exagerado, tudo muito fora da realidade cotidiana de brasileiros ricos ou pobres. Curiosamente, quase tudo cai no gosto do público. Miniflashback. Em ‘Barriga de Aluguel’, de 1990, Cláudia Abreu alugava sua barriga para o embrião de um filho que Cássia Kiss não podia gerar no próprio ventre. Céus! Em ‘De Corpo e Alma’, de 1992, o coração de Bruna Lombardi, morta num acidente de carro, era transplantado para Cristiana Oliveira, doente cardíaca. O personagem de Tarcísio Meira, antes apaixonado por Bruna, caía de amores também por Cristiana. Dá para acreditar? Em ‘Explode Coração’, de 1995, Tereza Seiblitz era a cigana Dara, que se apaixonava via Internet por um empresário vivido por Edson Celulari. Isso numa época em que a Internet mal engatinhava no país. Por fim, em ‘O Clone’, de 2001, bem, o título já diz tudo, havia um clone humano em cena…

Glória Perez deve ter um caderninho de notas, onde, com o passar dos anos, vai escrevendo tudo o que pode render uma boa polêmica numa novela futura. Além dos temas citados acima, já falou de crianças desaparecidas, consumo de drogas e strip-tease masculino, entre outras ‘causas’. Vem aí, em ‘América’, uma nova leva: a personagem de Cristiane Torloni é cleptomaníaca, o Jatobá de Marcos Frota é cego, e Sol, a protagonista de Deborah Secco, é uma imigrante ilegal tentando entrar nos Estados Unidos, via fronteira mexicana. Pelo que andou saindo na imprensa, um clima qualquer de vidas passadas também deve entrar cena. Tudo milimetricamente estudado, é só tirar da cartola. Ou do caderninho. É sempre a mesma fórmula. Perdão, estilo.

O mesmo acontece quando Glória Perez resolve mostrar o cotidiano de alguma comunidade que não ocupa espaço de destaque na vida da maioria dos brasileiros. Em ‘Explode Coração’ foram os ciganos, em ‘O Clone’, muçulmanos marroquinos. Em ‘América’, é a vez dos peões de rodeio de Barretos, cidade do interior de São Paulo, onde, a julgar pelo que se viu na novela até aqui, todo mundo usa chapéu de caubói e dança música country, o tempo todo, no meio da rua. Isso sem falar no núcleo de chicanos de Little Havana, bairro de Miami ‘reproduzido’ no Projac… Sai um grupo étnico e entra outro. Mais uma vez, nenhuma novidade.

O que esperar, então, de ‘América’? A mesma coisa que se espera de qualquer outra novela: que chegue logo ao fim do jeito que o público espera que aconteça. No primeiro capítulo, Sol conheceu Tião (Murilo Benício fazendo as mesmas caras do Lucas de ‘O Clone’), um peão valente que adora seu pedacinho de terra no interior de São Paulo. Logo de saída se apaixonaram. Não fazia nem um dia que os dois se conheciam e eles já diziam ‘Eu te amo’. E combinaram de se casar! Assim, num ritmo bem fora da vida real, mas que cabe muito bem numa novela de Glória Perez. Só que Sol quer muito ir tentar a vida nos Estados Unidos. E vai atrás de sua obsessão, deixando Tião de coração partido. Alguma dúvida de que eles vão ficar juntos no final, fazendo o amor triunfar sobre todas as dificuldades? Se até na abertura da novela eles já aparecem agarradinhos, tomando banho de rio, numa das muitas alusões que o diretor Jayme Monjardim fez à sua inesquecível ‘Pantanal’… É uma questão de tempo. E também de fórmula. Perdão, estilo.

P.S. 1 – Na certa, algum leitor fã de novelas deve estar se perguntando: ‘Mas aquela história do bebê seqüestrado mostrada em ‘Senhora do Destino’ também não era cafona?’ Sim, muito, muito cafona.

P.S. 2 – Alguma coisa deve ter saído errado lá na Globo. A música incidental de ‘América’ parece ser a mesma usada em ‘O Clone’. Era bom ver isso, gente!

P.S. 3 – Os personagens de Rodrigo Faro e Simone Spoladore vão passar um ano em Miami, com um filho pequeno, e tudo o que eles levam de bagagem são aquelas três malas de mão, estilo aeromoça?

P.S. 4 – Por que nas novelas de Glória Perez tem sempre um papel para Raul Gazzola, Guilherme Karam e Eri Johnson? Que mistério é esse?

P.S. 5 – Que dia a personagem de Betty Faria entra no ar? Aí, sim, a novela vai começar.’



Carlos Chaparro

‘América, o novo Destino’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 11/03/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Senhora do Destino sai do ar, para dar lugar a América. E o negócio continua. Porque telenovela é uma forma de ganhar dinheiro, muito dinheiro, com a manipulação de gostos, idéias, sonhos e vontades, em escala de multidões. Mas essa é apenas uma forma de olhar as coisas, um lado da verdade. Outra forma será a de perceber que o produto cultural telenovela também é arte, e se constitui importante meio de instigação à discussão pública, em torno de temas, costumes e fatos ligados à realidade e aos valores da sociedade.

1. Novo destino

Eis que chega América, com ganas e porte de grande telenovela, para as glórias do horário mais caro da televisão brasileira. E porque América chega, a vitoriosa Senhora do Destino lá se vai. Com funeral de enormes exaltações, é certo, mas funeral. E para que nenhum suspiro lacrimoso reste no inconsciente coletivo, tão fortemente sacudido pelas ousadias de Aguinaldo Silva, a Globo oferece agora América aos sonhos femininos e masculinos do povão brasileiro. No elenco, gente tão bonita e sedutora quanto a da telenovela anterior; na história, uma nova roda viva de aventuras, amores e ódios, em tramas e cenas de empáticas emoções.

Entretanto, a saga da nordestina Maria do Carmo Ferreira da Silva continuará a render dinheiro à Globo, agora no mercado internacional. Para correr mundo, a obra ganhará reedições cuidadosas, que a deixarão mais enxuta, sem merchandising. E sem os excessos de alongamento que o marketing impõe a autores, diretores e atores, quando o sucesso no mercado interno aumenta o potencial publicitário.

No Brasil, porém, Senhora do Destino será devidamente arquivada. Quando muito, servirá para eventuais evocações.

Telenovela é isso mesmo: um produto com tempo marcado para consumir, regulado pelas ferozes leis da concorrência do sistema, aquelas que determinam sucessos e fracassos, nas disputas por audiências e ganhos. E porque há montanhas de dinheiro em jogo, o poder do marketing se manifesta, na decisão e nos cuidados de enterrar uma telenovela, para que outra surja e vingue, sem sombras do passado.

2. Negócio bem cuidado

Pelos parâmetros da Globo, o sucesso comercial da novela das oito exige audiências mínimas acima dos 45 pontos, nas medições do Ibope. Para que isso aconteça, não basta arte e qualidade técnica na confecção da obra.

Públicos fiéis de 50 ou 60 milhões de pessoas, com interesses e impulsos durante meses afinados na mesma sintonia, só se conquistam com táticas mercadológicas estrategicamente gerenciadas. E para a transição bem sucedida entre uma novela e outra, a tática desdobra-se em operações combinadas, ora de sustentação do ápice final da novela ainda no ar, ora de revelação, em crescendo, de intensidades dramáticas prometidas pelo novo produto. Assim se consegue que as emoções convirjam, sem fugas, para os capítulos finais da novela que se despede e que as expectativas se transfiram, intactas, para o capítulo de estréia da telenovela que chega.

A Globo faz isso de forma competente. De um lado, entra em ação o eficaz serviço de assessoria de imprensa, que disponibiliza materiais (textos e fotos) para rechear páginas e programas de variedades e fofocas do Brasil inteiro. De outro lado, além do espalhamento de chamadas por todos os horários, entra em operação um azeitado esquema de Cross-Mídia, na exploração das muitas possibilidades de divulgação que a programação da própria rede oferece.

Cross-Mídia é o neologismo global que identifica o uso articulado dos programas com apresentadores(as) famosos(as). Nessa operação, os principais nomes dos elencos são submetidos a maratonas de entrevistas, passando pelas perguntas de Jô Soares, Ana Maria Braga, Faustão, Luciano Huck e outros. Para a conquista de espaço em telejornais e no Fantástico, criam-se pautas especiais, apoiadas em fatos e temas que permitam a exploração das notoriedades da telenovela em promoção.

É a máquina do negócio em movimento.

3. O lado da arte

Mas telenovela não é só negócio, nem resulta apenas do marketing esperto. Telenovela é também produto cultural, espaço de criação artística, capaz de atingir e influenciar milhões de pessoas. Simultaneamente.

Como produto cultural e artístico, a telenovela agrega o trabalho criativo de uma gama enorme de profissionais. Podemos calcular, por exemplo, que Senhora do Destino reuniu em seu elenco pelo menos setenta atores e atrizes, boa parte deles artistas de primeira linha, como José Wilker, Glória Menezes, Raul Cortez, Suzana Vieira, Renata Sorrat, Ioná Magalhães e José Mayer – gente que deu o melhor do seu talento e da sua competência, para que ao público fosse oferecida uma emocionante representação de entes humanos em conflito, na recriação de uma realidade próxima dos telespectadores.

Para substituir essa turma de estrelas, América entra em campo com um time de pesos pesados que em nada fica a dever ao elenco anterior.

Além da arte de atores e atrizes, ao público chega a inventividade e as habilidades de autores e diretores, desafiados, sob pressões gigantescas, a contar uma história que agrade a milhões de pessoas, e que se mantenha em patamares de sucesso durante seis meses. Há também a contribuição criativa de cenógrafos, operadores de câmeras, figurinistas, iluminadores, fotógrafos, cabeleireiros, maquiadores, diretores musicais, coreógrafos, técnicos de efeitos especiais e especialistas de vários outros ofícios, para cuidar das mil e uma coisas da produção.

4. Discussão e lazer

Os preconceituosos dirão que toda essa gente está a serviço dos lucros da indústria cultural, a tal que, em escala de multidões, ganha dinheiro com a manipulação de gostos, idéias, sonhos e vontades de multidões.

É uma forma de olhar as coisas, um lado da verdade. Outra forma será a de perceber que o produto cultural telenovela se constitui importante meio de instigação à discussão pública, em torno de temas, costumes e fatos ligados aos valores da sociedade. Produz e socializa, de alguma forma, uma certa crítica da realidade e das idéias.

Dois exemplos, entre muitos acumulados na história da teledramaturgia brasileira: 1) na televisão, a revelação pública da tortura, no regime militar, foi feita pela primeira vez na telenovela Roda de Fogo, de Lauro César Muniz, por meio da personagem interpretada por Eva Vilma; 2) Roque Santeiro, de Dias Gomes, expôs com vigor contagiante algumas das mais asquerosas hipocrisias da sociedade brasileira – e o fez com a arte da diversão, usando o bom ferramental da tragicomédia .

Sem o talento, o requinte literário e a lucidez ideológica de Dias Gomes, e com exageros realísticos, Aguinaldo Silva trilhou caminhos semelhantes em Senhora do Destino, tratando de coisas como corrupção e homossexualismo.

Outra variável social e cultural da telenovela está no fato de ser a melhor possibilidade de diversão para uma quantidade enorme de famílias pobres.

Aqueles, os do preconceito, que enxergam na telenovela apenas o lixo do capitalismo, vão ao cinema, freqüentam teatros, divertem-se em shows, e ainda sobra dinheiro para almoçar de vez em quando em bons restaurantes. Os pobres têm apenas a televisão para se divertir.. E a telenovela é o momento das melhores compensações, principalmente para as mulheres de vida miserável, milhões delas, submetidas à punição da jornada tripla, e em boa parte dos casos tendo ainda que aturar maridos bêbados, porcos, machistas e violentos. No sagrado horário da telenovela, seduzidas pela beleza e pela arte de grandes atores e atrizes, e interagindo com os artistas, nas subjetividades emotivas da mente, elas podem, enfim, soltar suas fantasias. Inclusive as sexuais.’



Etienne Jacintho

‘Paisagens quebram ritmo de ‘América’’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/03/05

‘Os primeiros minutos de América trouxeram ao público um momento de déjà vu. O céu colorido, as sombras, a lavagem de roupa às margens do rio e a boiada lembravam Pantanal, novela da Manchete também dirigida por Jayme Monjardim. Não que o primeiro segmento da novela de Glória Perez não tenha sido primoroso, mas foi um balde de água fria na cabeça do telespectador que acompanhou o ritmo frenético das últimas semanas de Senhora do Destino.

O primeiro capítulo da nova novela deixou o enredo um pouco de lado e deu prioridade à fotografia – não que esse não seja um belo ingrediente, mas o recurso em América não foi tão surpreendente quanto em Renascer, dirigida por Luiz Fernando Carvalho.

A trama de Glória Perez estreou anteontem com 56 pontos de média, audiência maior do que suas antecessoras. Senhora do Destino, por exemplo, alcançou prévia de 52 pontos de média em seu primeiro episódio. Porém, América cansou o público com o ritmo quebrado pela quantidade exagerada de paisagens do Pantanal, do Rio, de São Paulo e, principalmente, de Barretos – os rituais de um rodeio podiam ter sido explorados mais tarde. E a seqüência em que Paulo Goulart (Mariano) reluta em derrubar a casa de Sol foi comprida demais.

A dupla Glória Perez e Jayme Monjardim, entretanto, acertou ao mostrar paralelamente a infância sofrida dos protagonistas – Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício) -, fator que sensibilizou e deixou a audiência com vontade de acompanhar a trajetória do casal que teve seu encontro logo no primeiro capítulo – mais um trunfo de América, que parecia outra novela depois da passagem de tempo. O elenco envelheceu, o ritmo acelerou. Somente Nívea Maria (Maria José) permaneceu exatamente igual. Mas esse detalhe não apaga bons momentos na novela como a apresentação dos personagens e os perrengues – o ônibus lotado, a violência urbana -, que os levam a partir em busca de uma América perfeita retratada em fotos completamente kitsch de Drica (Cris Viana) posando ao lado de um carrão e de Rita (Arlete Salles) em sua casa que possui até piscina. Essa é a única referência que os personagens e o público têm de Miami e do sonho americano, que certamente vai cair no gosto do público. Glória Perez tem esse dom.’



Daniel Castro

‘Defensor de bichos vai à rua contra novela’, copyright Folha de S. Paulo, 20/03/05

‘Entidades defensoras de animais de todo o país estão se mobilizando para fazer um protesto nacional contra a novela ‘América’, da Globo, no próximo dia 7.

Até quinta, já estavam confirmadas manifestações em oito capitais: São Paulo (no vão livre do Masp), Rio (Candelária), Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Curitiba e Florianópolis.

As entidades que pregam o boicote a ‘América’ são lideradas pela WSPA (World Society for the Protection of Animals), com sede em Londres, e pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.

Os protestos serão contra o que chamam de ‘glamourização’ dos rodeios em ‘América’. Os defensores argumentam que os animais são torturados nos rodeios e que a novela não mostra isso. Na manifestação de São Paulo, deverá haver um telão com imagens de torturas de animais nessas festas.

‘Mostraram a abertura de um rodeio como se fosse Olimpíada’, diz Angela Karuso, do fórum. ‘Vendem uma imagem errada do rodeio, a de que se pode usar animal como entretenimento. Queremos mostrar à Globo que somos um movimento’, afirma Elizabeth MacGregor, da WSPA.

A Globo refuta as acusações. Diz que os rodeios ‘nem são tema central’ e informa que fechou ‘acordo para que o Conselho Regional de Veterinária dê assessoria para garantir que nos rodeios em que captar cenas nenhum animal sofrerá maus-tratos’.

OUTRO CANAL

Tamanho GG O SBT já está reforçando o mobiliário do estúdio que chama de Casa dos Artistas, onde foi gravado o programa homônimo. É que, a partir de 24 de abril, o lugar abrigará o ‘reality show’ ‘O Maior Perdedor’, que reunirá 12 gordinhos. Sofás e cadeiras são mais resistentes, e as camas têm oito pés. Haverá também uma academia e ‘geladeiras da tentação’.

Seleção Amanhã, o SBT despacha produtores para suas afiliadas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador para selecionar os participantes de ‘O Maior Perdedor’.

Ego gigante Xuxa Meneghel já tinha concordado com a direção da Globo que seu novo programa, que estréia dia 4, se chamaria ‘Estação X’. Mas seus assessores fizeram sua cabeça, e ela impôs à Globo que a atração tivesse seu nome. O pedido foi atendido, e o programa se chamará ‘TV Xuxa’.

Casal 20 Presidente da Rede TV!, Amilcare Dallevo Jr. confirma as negociações com Álvaro Garnero e Caroline Bittencourt para um programa que será exibido nas madrugadas de domingo.

Casal 21 Bittencourt, que virou celebridade após ser expulsa do casamento de Ronaldo com Daniella Cicarelli, deverá ser assistente do namorado e, às vezes, repórter. ‘Será um programa para o público jovem, que mostrará as baladas’, diz Dallevo.’

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‘Globo transforma ‘América’ em shopping’, copyright Folha de S. Paulo, 17/03/05

‘A Globo quer bater o recorde de merchandisings de ‘Senhora do Destino’ (107 no total) e faturar pelo menos R$ 64 milhões com ‘América’ transformando a novela em um shopping center.

As primeiras ações de merchandising costumam aparecer após o 40º capítulo. Em ‘América’, isso será antecipado. A novela, em suas primeiras cenas, já vem atiçando anunciantes, mostrando gratuitamente marca de cerveja.

Em ‘América’, a Globo quer vender de vestuário a trator, goiabada e leite condensado. De jipões a encomendas expressas, remédio para cavalo, destinos turísticos (‘o que o Brasil tem de bom’), temperos e tinturas para cabelo.

Do plano comercial que a Globo distribuiu às agências, a ‘oportunidade’ mais esdrúxula é a que a emissora coloca à venda passagens de tempo e espaço (o corte de uma cena do interior para uma urbana, por exemplo). ‘No Rio e em Miami, poderão ser inseridas por computação gráfica marcas de bancos, telefonia e postos de gasolina’, sugere a Globo.

A Globo não poupa nem a queima do alho, o preparo das refeições dos peões. ‘Caldo de carne, galinha, costela e outros temperos serão bem-vindos’. A emissora também oferece espaço nas camisas dos peões, no relógio da arena e até nas locuções de rodeio.

Cada merchandising custa R$ 600 mil, sem contar cachês. Desde 2003, esse tipo de propaganda paga o custo da novela (R$ 44 mi).

OUTRO CANAL

Novos tempos A Câmara Municipal de São Carlos aprovou anteontem moção de protesto à Globo por só retratar políticos corruptos em suas novelas. O pedido partiu de vereadora do PT, partido que até hoje festeja a minissérie ‘Anos Rebeldes’, que, em 1992, inspirou manifestações contra Fernando Collor.

Sobremesa Executivos da Rede TV! acreditam que nos próximos meses a emissora no mínimo empatará com a Band no quarto lugar no Ibope. Em fevereiro, a distância foi de apenas 0,2 ponto entre as duas (1,7 para Rede TV!, e 1,9 para a Band) na média diária (7h/0h).

Mad madruga Escondida, a minissérie ‘Mad Maria’ definha. Anteontem, chegou a ficar a apenas quatro pontos do ‘Show do Tom’. Às 23h59, marcava 17 pontos, contra 13 da Record.

Tesoura O canal pago Multishow não poupou nem o episódio de estréia da oitava temporada da série de animação ‘South Park’, no último sábado. Como sempre faz quando termina ‘Big Brother Brasil’, interrompeu sua programação para transmitir o ‘reality show’. Os fãs do seriado detestaram.

Saga Pelo terceiro ano consecutivo, a MTV exibirá a série ‘Família MTV’, inspirada na americana ‘The Osbournes’, em que acompanha a rotina de artistas pop. Os eleitos de 2005 são o cantor Felipe Dylon e a banda CPM 22. No ar a partir de maio.’