Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dez anos acompanhando o mercado

Dez anos atrás, na primavera de 1995, surgia no horizonte dos profissionais do Jornalismo e da Comunicação Corporativa um boletim semanal diferente, despretensioso e relativamente esquisito, inclusive no nome, FaxMoagem.

Nós o passávamos por fax, um a um, pois embora já houvesse naquele tempo os chamados fax modem, que permitiam o envio em série dos faxes através do computador, para nós isso ainda era um bicho de sete cabeças. E também não eram tantos faxes assim – talvez uns 40, quem sabe 50 nos primeiros três ou quatro meses de vida.

Esse FaxMoagem era, na verdade, um filho legítimo do ‘Moagem’, coluna criada pelo José Hamilton Ribeiro para o jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, em março de 1991, a qual assinei desde a primeira vez. Um e outro – FaxMoagem e ‘Moagem’ – nasceram para falar de gente, de jornalistas, de profissionais que atuassem em redações ou em assessorias de imprensa. Queríamos mostrar o vaivém do mercado e acompanhar até onde fosse possível a vida dos profissionais também fora das redações, seja lançando um livro, abrindo um bar, participando de uma maratona etc. E fazer isso de forma absolutamente democrática, sem distinções de cargos, credo, raça ou cor. Um espaço verdadeiramente democrático.

Deu certo. E nos dois casos. No ‘Moagem’, a coluna nasceu acanhada, discreta, com meia página e menos de dois anos depois já contabilizava três páginas e aí ficou não por falta de conteúdo, mas porque a decisão editorial foi represá-la nesse espaço, garantindo as demais páginas do tablóide para os outros assuntos de interesse do sindicato e da categoria. Até hoje a coluna existe e no próximo ano celebrará 15 anos de vida, ainda por mim assinada.

Via eletrônica

No caso do FaxMoagem, que no meio do caminho virou Jornalistas&Cia, ele surgiu a partir de sugestões de colegas de assessorias de imprensa que queriam acompanhar, por força da atividade que exerciam, o vaivém dos profissionais, mas numa velocidade maior do que a existente com a coluna do Unidade, que era mensal. Isso foi quase na mesma época em que a Agência Estado, sob a direção de Fátima Turci, lançou o Faxpaper, um informativo matinal diário com um resumo das principais notícias do país.

Olhando, de um lado, o mercado e a demanda existente, e, de outro, o surgimento de uma tecnologia – o fax – que permitiria produzir e circular um informativo a custos relativamente baixos, concluímos que aquele era o momento de tentar lançar o produto, pois os riscos de um fracasso eram muito pequenos.

Seriam, inicialmente, três edições zero para testar a receptividade e fazer os eventuais ajustes. Seriam! No segundo número zero a repercussão já era tamanha que optamos por abortar o terceiro número zero, substituindo-o pela edição primeira. Das poucas dezenas de leitores das primeiras edições, nossas estimativas são de que ele hoje seja lido regularmente, todas as quartas-feiras, por pelo menos 25 mil profissionais no Brasil e no exterior, sobretudo por circular em locais de grande adensamento profissional, como redações e assessorias de médio e grande porte.

Além das assinaturas, que hoje representam cerca de 15% do faturamento do produto, Jornalistas&Cia tem como principais fontes de receitas os patrocínios (que garantem o envio das chamadas cortesias para as redações) e a publicidade institucional e de oportunidade (lançamento de prêmios, por exemplo).

Temos uma equipe integrada por editor e assistente, em São Paulo, correspondentes no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, produtor gráfico (terceirizado) e diretor de assinaturas e publicidade – ambos também em São Paulo.

Da página inicial que lançamos, hoje são quatro, perfazendo cerca de 80 a 90 notas por edição, grande parte mostrando a movimentação no mercado profissional. Chegamos na semana passada à edição 508, que excepcionalmente circulou com seis páginas, contando também um pouco da história desses dez anos.

Perto de 1.800 profissionais já freqüentaram as manchetes do informativo. E sua circulação hoje se dá predominantemente por via eletrônica, embora o fax ainda circule em alguns locais, mas com tendência a ser efetivamente eliminado dentro de algum tempo.

O que faz a diferença

É interessante e gratificante observar o carinho que o mercado tem pelo produto, a ponto de transformá-lo – em muitos dos ambientes onde circula – num objeto semanal de desejo. ‘Se o J&Cia não deu, ninguém sabe o que aconteceu’, costumam brincar alguns colegas que o lêem todas as semanas, chova ou faça sol, parodiando refrão antigo de um veículo de comunicação.

Acredito que em parte esse carinho se deve ao jeito sereno e elegante com que procuramos, no informativo, abordar todas as questões, inclusive as mais complicadas. Ao adjetivo, preferimos o substantivo. Ao comentário, optamos pela informação. Ao juízo de valor, reproduzimos o fato, deixando para os leitores as eventuais conclusões e interpretações.

É o nosso jeito. Pode não ser o melhor, quem sabe nem o mais correto, mas é o nosso jeito.

Tratamos, por exemplo, jornalistas de jornalistas e não de coleguinhas, como muitos o fazem. E por quê? Porque entendemos que o termo resvala para a ironia e nós não queremos a ironia. Evitamos ao extremo o termo demissão, pois sabemos do estigma que acompanha as pessoas demitidas mercado afora. E sabemos, além disso, o quanto uma palavra mal colocada pode atrapalhar uma pessoa já prejudicada por uma decisão empresarial e de chefia.

Também não costumamos mostrar os bastidores de uma demissão. Embora seja da natureza humana interessar-se pelos detalhes escabrosos de uma briga, de uma discussão, de uma sacanagem qualquer, nós não entramos nesse ambiente porque sabemos que isso nos empurraria quase que compulsoriamente para o sensacionalismo, e não queremos ser sensacionalistas.

Evitamos dar amplificação aos rumores e aos boatos, cientes do prejuízo que uma nota leviana e fora de tempo pode causar num ambiente de trabalho ou mesmo a uma organização. Embora busquemos, como todo e qualquer veículo jornalístico, o furo e o inédito, nossa opção primeira é por divulgar uma informação devidamente apurada. Preferimos perder o furo do que entrar numa furada, apenas pelo desejo de publicar na frente uma determinada notícia.

Costumo dizer que somos do bem e queremos que o Jornalistas&Cia seja percebido desse modo pelo mercado. Além disso, eu nunca me esqueço que estamos lidando com gente, com sentimentos e ressentimentos, com humores e rancores, com egos, com lealdades e traições. Se não buscarmos à exaustão o equilíbrio no modo de dizer e de informar, caindo na esparrela da futrica, do diz-que-diz, talvez o nosso índice de leitura até aumentasse, mas nossa vida útil já estaria com o prazo de validade vencido.

Se o nosso pode ser considerado, digamos assim, um caso bem-sucedido, isso se deve, além do tom e da receita, ao imenso suor que todas as semanas dedicamos às edições.

Esses são talvez os fatores que fazem a diferença e que, em parte, explicam tão eclético público leitor, que agrega diretores e repórteres, patrões e empregados – enfim, todos aqueles que vivem e respiram jornalismo.

******

Jornalista, diretor do Jornalista&Cia