Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Diário americano volta atrás em denúncia

O USA Today se retratou por parte de um artigo no qual havia afirmado que as empresas telefônicas BellSouth e Verizon tinham feito contratos para fornecer registros de bilhões de telefonemas domésticos para a Agência de Segurança Nacional (NSA, sigla em inglês) americana. Em 11/5, o jornal publicou texto no qual afirmava que a NSA, em conjunto com empresas de telecomunicações dos EUA, havia reunido secretamente um banco de dados de registros telefônicos para analisar os padrões das chamadas, em um esforço para monitorar atividades terroristas.


Dias depois da publicação da matéria original, a BellSouth e a Verizon negaram estar entre as empresas que fizeram contratos com a NSA para fornecer os tais registros. Segundo Jeff Battcher, porta-voz da BellSouth, um inquérito interno concluiu que a companhia não fez contratos com a NSA ou entregou registros de telefonemas à agência, e por isso pediria uma retratação ao jornal.


Surpresa


A atitude da BellSouth, segundo o USA Today, foi uma surpresa. Em sua retratação, o diário informou que havia conversado com representantes da companhia e da Verizon por diversas semanas sobre o conteúdo da matéria antes de sua publicação. No dia anterior à publicação, o repórter leu as partes do texto que se referiam às duas empresas para representantes das mesmas e perguntou se eles gostariam de refutar aquela versão. Na ocasião, a BellSouth não negou participação no programa, mas emitiu uma declaração afirmando que a empresa ‘não fornece nenhuma informação confidencial do cliente para a NSA ou qualquer outra agência do governo sem autoridade legal’. A Verizon afirmou que não comentaria assuntos de segurança nacional e que age ‘em conformidade com a lei’ e com respeito à privacidade dos clientes.


Em busca da verdade


O USA Today continuou a procurar detalhes sobre o banco de dados, falando com dezenas de fontes no setor de telecomunicações, agências de inteligência e legisladores. Na retratação, o jornal revela que cinco membros dos comitês de inteligência do Congresso afirmaram que foram informados, em depoimentos secretos, que a BellSouth não entregou registros de telefonemas à ANS; três legisladores disseram ter ficado sabendo que a Verizon não participou do banco de dados da agência; e quatro afirmaram que a MCI, subsidiária da Verizon, teria entregue os registros. Em meados de maio, a Verizon emitiu uma nota declarando que não entregou nenhum registro desde o atentado do 11/9 até a data em que comprou a MCI, no início do ano, mas deixou em aberto a possibilidade sobre a participação da subsidiária.


O USA Today também falou novamente com as fontes que haviam originalmente fornecido a informação sobre o banco de dados de registros de telefonemas domésticos. Todos confirmaram que a matéria publicada refletia o que eles sabiam sobre o programa da NSA, mas nenhum pôde documentar uma relação contratual entre a BellSouth ou a Verizon com a NSA, ou provar que as empresas entregaram registros de telefonemas à agência.


Assim, o USA Today concluiu, em nota publicada em 30/6, que a NSA reuniu um massivo arquivo de registros de telefonemas com o auxílio de empresas de telecomunicações, mas não pôde comprovar que a BellSouth e a Verizon tenham participado de algum contrato com a agência para fornecer dados para este banco de dados. ‘O USA Today vai continuar a divulgar conteúdo sobre o banco de dados como parte de sua cobertura de segurança nacional e vigilância doméstica’, afirmava o texto.


Invasão de privacidade


O New York Times foi o primeiro veículo a noticiar o programa de espionagem telefônica da NSA, em dezembro do ano passado. O artigo publicado em maio pelo USA Today intensificou o debate sobre como a batalha contra o terrorismo está comprometendo liberdades individuais e noções de privacidade – pois revelou que o programa secreto seria muito mais amplo e abrangente do que se pensava inicialmente. A lei de telecomunicações americana determina que é preciso haver uma ordem judicial para a obtenção do registro de telefonemas, mas não fica claro como podem haver exceções em relação a assuntos de segurança nacional. Depois do artigo do USA Today, o NYTimes divulgou que os esforços para coletar informações pareciam envolver não empresas de telefonemas locais, mas as de longa distância, como a AT&T.


Fontes confidenciais


A matéria do USA Today teve como base entrevistas com pessoas não-identificadas que afirmaram ter conhecimento do acordo do governo com as empresas telefônicas. O porta-voz Steven Anderson afirmou que o jornal tem uma das mais severas normas da indústria para o uso de fontes confidenciais, e que não tem planos de mudar tais normas. ‘O cerne do nosso artigo está no fato de a NSA coletar registro de telefonemas de americanos, invadindo nossas casas e negócios, e não houve negativas de que este banco de dados exista’, ressaltou. Com informações de Matt Richel [The New York Times, 30/6/06].