Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dunga e a imprensa zangada

A reação da impressa diante da ‘blindagem’ feita por Dunga e companhia em relação à seleção brasileira passa do ridículo. Poucas vezes – e olha que o esforço tem sido grande – a imaturidade dos jornalistas ficou tão evidente. A mesma imprensa que sempre busca explicações para o imponderável – figurinha marcada no futebol – e que culpou o excesso de liberdade da era Parreira pelo fracasso em 2006, agora faz birra diante da tentativa da comissão técnica em preservar os jogadores do Brasil.

De seu lado, a imprensa argumenta que Dunga está violando o direito inalienável de manter a população informada, como se o futebol fosse mesmo um assunto primordial para o país. Na verdade ele é, mas apenas do ponto de vista comercial, e seria mais digno se a imprensa admitisse isso e não tratasse Dunga como um reacionário por não dedicar atenção total aos jornalistas. Afinal, comandar treino fechado – algo comum entre nossos ‘professores’ – passa longe de ser um atentado contra a liberdade de imprensa.

Semana passada, a rixa entre Dunga e jornalistas chegou ao ápice quando ele proferiu alguns adjetivos não muito positivos ao repórter Alex Escobar – que, ao me ver, parece a posta restante de sanidade, no meio da mídia melindrosa. Bastou isso, para que o homem que é chamado de burro todos os dias fosse lançado à fogueira por ter finalmente respondido às ofensas recorrentes que sofre.

Retrógrado e populista

Dunga sabe que para o seu trabalho ser bem feito a imprensa tem que ficar em segundo plano. Mesmo sendo esse idiota que a mídia insiste em dizer que ele é, ele percebeu que o compromisso da imprensa com a informação não passa de conversa para boi dormir. Ele sabe que essa entidade protetora dos cidadãos de bem quer mais o espetáculo para alimentar suas pautas e, consequentemente, seus interesses comerciais.

Até daria para Dunga quebrar esse galho para os coleguinhas. Mas ele sabe que, caso o Brasil não seja campeão, a culpa cairá toda sobre ele. Independentemente, de ele ter sido solícito ou não com os jornalistas durante a Copa.

Na verdade, Dunga quer salvar a pele dele, enquanto a impressa quer salvar a sua. O problema – ou a solução, vá saber – é que nessa história o público no fundo quer muito mais ver Dunga feliz do que a imprensa. Acho difícil um brasileiro, em sã consciência, trocar um título de Copa do Mundo por uma matéria com os jogadores da seleção falando sobre qual deveria ser o final da novela das oito para o Vídeo Show.

Fico imaginando o dia em que um vencedor do Big Brother simplesmente resolver não mais falar com a imprensa – sei que relações contratuais impedem isso. Aí, então – homem, ou mulher –, Fulano pousaria pelado e venderia milhões de revistas, mas não daria uma entrevista sequer. Muito provavelmente não tardaria a ser chamado de retrógrado e populista pelos jornalistas. Afinal, o que vale é manter a população informada.

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ