Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dúvidas dissipadas, apesar da manipulação

A grande mídia e as agências de notícias internacionais e, por tabela, a maior parte da grande mídia brasileira, continuam mentindo e manipulando informações sobre a invasão de Israel ao sul do Líbano, à Faixa de Gaza e à Cisjordânia. Continuam classificando os combatentes do Hezbollah libanês e do Hamas, em Gaza, como terroristas. Continuam veiculando a falsa informação de que os ataques, tanto a Gaza quanto ao sul do Líbano, pelas forças armadas israelenses, dderam-se em função do seqüestro de soldados de Israel pelo Hamas e o Hezbollah. Na Faixa de Gaza, depois de inúmeros ataques de soldados, aviões e helicópteros israelenses, combatentes do Hamas, num confronto com soldados de Israel, aprisionou um deles. A partir daí, sob a justificativa de resgatar o soldado ‘seqüestrado’, as forças armadas atacaram e invadiram a Faixa de Gaza, matando inúmeros civis. E continuam matando…

No sul do Líbano, um grupo de soldados israelenses atacou combatentes do Hezbollah e fez alguns prisioneiros. No dia seguinte, um grupo do Hezbollah atacou soldados de Israel, matou alguns e fez dois prisioneiros. Imediatamente, sob a justificativa de reaver os dois soldados ‘seqüestrados’, Israel inicia um violento ataque contra o Líbano com tudo o que acha ter direito e mais alguma coisa, destruindo vilas, cidades e parte da capital, Beirute, matando centenas de civis. De nada adiantaram, até o momento, as várias reportagens, textos, entrevistas, vídeos de jornalistas, analistas, intelectuais, autoridades de várias partes do mundo, desmentindo as versões do governo de Israel. Como o Estado israelense tem total suporte dos EUA e da Comunidade Européia, essas duas operações de guerra e de ocupação, já planejadas de antemão, continuam a todo vapor. E a matança, também…

Tudo faz sentido

Em Gaza e na Cisjordânia, o objetivo era o de prender ou matar as lideranças do Hamas, depois que esta organização político-militar palestina venceu as últimas eleições na região. No sul do Líbano, onde o Hezbollah domina e tem grande hegemonia política e representatividade no cenário político libanês, o objetivo era desmantelar o grupo e assim manter um controle maior sobre a região, visto que parte dela sempre esteve em disputa com o Hezbollah e com a Síria – as Colinas de Golan são reivindicadas pelo governo sírio. O dado novo, talvez, esteja sendo a forte resistência militar dos combatentes do Hezbollah. Mesmo com a superioridade de armamentos e de um maior número de soldados, foguetes do grupo libanês continuam caindo nas cidades próximas ao Líbano, causando estragos, ferindo e matando civis israelenses. Claro que, face ao poderio militar israelense, o número de vítimas civis no Líbano é muito maior. Até porque Israel tem usado armamentos proibidos pela Convenção de Genebra, como bombas de fragmentação e fósforo, todas elas fornecidas pelos EUA. Israel tem usado ‘o estado da arte’ no que se refere a armamentos, quase tudo fornecido pelos EUA.

E nem assim a grande mídia internacional e brasileira deixa de bater na tecla do combate ao terrorismo, no direito de defesa de Israel face ao ‘ataque’ do Hezbollah. De concreto, como mostra o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, no texto ‘Carta a Frank‘, vimos que

(…) As dúvidas estão agora dissipadas depois dos mais recentes ataques na faixa de Gaza e da invasão do Líbano. E agora tudo faz sentido. A invasão e destruição do Líbano em 1982 ocorreram no momento em que Arafat dava sinais de querer iniciar negociações, tal como a de agora ocorre pouco depois do Hamas e da Fatah terem acordado em propor negociações. Tal como naquela época, foram forjados os pretextos para a guerra. Para além de haver milhares de palestinianos raptados por Israel (incluindo ministros de um governo democraticamente eleito), quantas vezes no passado se negociou a troca de prisioneiros? Meu Caro Frank, o teu país não quer a paz, quer a guerra porque não quer dois Estados. Quer a destruição do povo palestino ou, o que é o mesmo, quer reduzi-lo a grupos dispersos de servos politicamente desarticulados, vagueando como apátridas desenraizados em quadrículos de terreno bem vigiados. Para isso dá-se ao luxo de destruir, pela segunda vez, um país inteiro e cometer impunemente crimes de guerra contra populações civis. Depois do Líbano, seguir-se-á a Síria e o Irã. E depois, fatalmente, virar-se-á o feitiço contra o feiticeiro e será a vez do teu Israel.

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Jornalista