Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

E a mídia criou a mulher

Basta mencionar a palavra mulher para que os homens transportem seu pensamento para as curvas das ‘gostosas’ da Playboy. A mídia, principalmente as revistas segmentadas, como Playboy e Sex, decifraram, há muito tempo, a fórmula do sucesso: remeter pensamentos, desejos e fantasias masculinas às suas marcas. Melhor do que conquistar fama e credibilidade é, sem dúvida, aumentar mensalmente sua conta bancárias.

As revistas, ao contrário dos homens, agem racionalmente. As consagradas marcas buscaram na psicanálise e nos adventos da tecnologia o incremento nas cifras das organizações. Em um mundo governado pelo desequilíbrio sexual, o homem, sempre ativo, é condicionado a obter prazer a todo o momento, inclusive, através de seu olhar. Já a mulher, passiva, sempre forçada, simultaneamente, a ser olhada, exposta e exibida.

Neste jogo denominado ‘instinto escopofílico’ (prazer em olhar para outra pessoa como objeto erótico), no qual o sexo masculino deseja, pelo olhar, o feminino, as revistas masculinas traçam seu plano estratégico meticulosamente tendo como ponto central a escopofilia. Elas escolhem uma atriz ou modelo, posta em voga pelas insistentes aparições na televisão, para, além de a despirem, alcançarem uma vendagem exorbitante de exemplares.

Em um piscar de olhos

Essas atrizes, que por altos cachês e participação nos lucros sobre as vendas tiram a roupa sem o menor constrangimento, não se sentem nem um pouco envergonhadas. Mas não pense, inocentemente, que suas formas expostas nas páginas centrais da revista são naturais. Celulites, estrias, gordurinhas localizadas, marcas de espinhas, pintas, enfim, todas as imperfeições corporais que todas as mulheres possuem, são excluídas por alguns simples toques no teclado do computador, cedendo assim lugar à perfeição.

O tão desejado bumbum, as torneadas coxas e os lábios carnudos, tudo é retocado via manipulação de imagens. O objetivo com estes retoques, proporcionados por softwares de última tecnologia, é o de obter a fórmula perfeita, ou melhor, a mulher perfeita. As formas mágicas e envolventes são compostas, na verdade, por códigos binários materializando as preferências masculinas nacionais.

As belas e desejadas formas desnudas das celebridades, que os homens se deleitam a observar, nascem da ambição desenfreada da indústria cultural (termo técnico utilizado pela Teoria da Comunicação que explica que bens culturais, antes rotulados pela característica da unificidade, passam a ser comercializados para a massa, assim como bens de consumo não-duráveis, gerando assim alta lucratividade para as indústrias que se predispõem a investir neste segmento), que estudou detalhadamente a escopofilia, o instinto masculino, as preferências nacionais e associou estes resultados à tecnologia de ponta com o objetivo de engordar sua receita com milhões de dólares. Dinheiro conquistado, literalmente, em um piscar de olhos.

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Jornalista, blogueira, assessora de comunicação freelance e colunista do jornal Aqui, Pedro Leopoldo, MG