Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

É preciso derrotar os aliados

De coadjuvante a ator principal! O resultado das urnas na capital paulista transformou o prefeito reeleito Gilberto Kassab, do DEM – ex-PFL –, em ator do primeiro time do cenário político nacional . Caso raro de construção de novas lideranças de direita que se deu da noite para o dia. Pelo menos é o que se conclui quando se lê a cobertura feita pela Folha de S.Paulo dos resultados das eleições nas capitais brasileiras onde ocorreu segundo turno.

Kassab agora foi promovido a posto de grande padrinho da causa paulista de fazer de Serra o próximo presidente do país. A manchete do jornal na edição da última segunda-feira (27/10) não deixou um centímetro sequer de dúvida: ‘Vitória de Kassab fortalece Serra’. Mas será que isso realmente é verdade? A vitória eleitoral de um candidato teria influência sobre a avaliação que o povo tem sobre a atuação dele? Para a Folha, parece que sim.

Trocando em miúdos, os 61% dos votos válidos conquistados por Kassab no segundo turno das eleições se transformariam agora em patrimônio político e eleitoral do Serra. Assim, espera-se que nas próximas pesquisas de avaliação de governos estaduais, Serra saia do patamar em que se encontrava até o final de agosto, quando teve sua gestão avaliada pelo instituto Datafolha e que lhe deu uma aprovação de apenas 39% entre os paulistanos.

O entusiasmo da Folha

Outro aspecto importante, além da transformação dos votos dados a Kassab em cacife eleitoral, é de aprovação popular, Serra deverá enfrentar aquilo que também o enfraquece neste momento pós- eleição: a derrota do PSDB paulista. Serra ganhou derrotando e dividindo o seu próprio partido no Estado. E mais, ganhou com o que há de pior na política brasileira, resgatando biografias das mais manchadas e repudiadas pelos próprios paulistas, como a do ex-governador Orestes Quércia e do ex-prefeito Celso Pitta, entre outros. Mostrou mais uma vez que é movido única e exclusivamente pelo seu próprio projeto pessoal. Por ele, atropela os aliados e dorme com o inimigo. Roseane Sarney que o diga.

Esta é uma vitória alicerçada no retrocesso político, que herdará um alto custo negativo. Vitória que não soma. Não agrega nada de novo. Pelo contrário, desconstrói.

Estas críticas, por certo, não vão ocupar as páginas da Folha de S.Paulo, não serão temas de notas ou observações do valoroso ombudsman daquele jornal. Os setores da oposição que acusam Aécio de ser bem tratado pela imprensa mineira, também ficam calados, em silêncio diante da blindagem da Folha em torno de Serra. Se a imprensa de Minas tratasse Aécio com a metade do entusiasmo que a Folha trata Serra, onde estaria Aécio?

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Professor de matemática, Belo Horizonte, MG