Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Especulação imobiliária e manipulação da mídia carioca

O Globo publicou em 13/12/2011, no caderno de economia, um anormal informe publicitário com quatro folhas e matérias que não tem sustentação, que, ao receberem respaldo da mídia, soam como uma tentativa de empulhar investidores e cidadãos que estão assistindo movimentos especulativos imobiliários desmedidos, na carona dos eventos mundiais que, originalmente, deveriam alavancar uma economia que ruiu após mais de meio século de administrações calamitosas.

Nele é informado aos incautos que “a revolução começou”! Diz: “O maior projeto de reurbanização do país e um dos maiores do mundo está mudando o eixo demográfico da cidade do Rio de Janeiro na direção do chamado novo centro”. Para ilustrar, exibe, ironicamente, uma foto montagem de como ficará a Francisco Bicalho após a transformação. Pode-se observar que num dos lugares mais congestionados do Rio, no eixo da ponte Rio-Niterói, que deveria ter sido duplicada há muito tempo, com a Av. Brasil e seu trânsito ininterrupto e caótico, será colocado um universo de torres com até 50 andares de altura contrastando com o casario antigo da área, que brevemente tenderá a desaparecer. Se hoje o engarrafamento já é colossal, como é que esta situação ficará com tal incremento de escritórios e moradias? Informa-se uma expectativa de 100 mil novos moradores formais nas cercanias, sem contar o incremento nas favelas circunvizinhas, sem contar que esses números serão multiplicados pelos trabalhadores não especificados nos escritórios, que por sua vez atenderão uma enorme população flutuante. Será o caos que lá se instalará, porque a foto não mostra nenhuma alteração na malha viária existente.

Especulador denunciou o absurdo

Claro que nenhum estudo sério novo foi apresentado e o que serviu de base para a revitalização da área portuária já foi motivo de um artigo anterior, quando seus números foram completamente ridicularizados, sendo que o diretor do Detran, em 24/5/2010, ao descobrir o impacto do número de carros emplacados anualmente, pediu uma reunião para denunciar o caos que se avizinha; entrementes, foi demovido desta ideia, não nos pergunte com quais argumentos, porque não há nenhuma obra de infraestrutura sendo planejada e também não há verba para tal. Com isso, todos já estão sentindo na carne a perda de tempo demandada diariamente em qualquer deslocamento. E como este aumento da ordem de mais de 40 mil automóveis é anual, imagine como será a situação em 2016 com o incremento de cerca de 200 mil carros, sem contar outros veículos e o aumento da população desta megalópole. Para se ter uma ideia, no final do século 19, 70% dos americanos morava no campo e hoje este total não chega a 3%. Com a mecanização da lavoura no Brasil está havendo um êxodo rural e como o Rio está “na moda” novamente, imagine o tamanho da migração de pessoas em busca de oportunidade de trabalho.

É incrível não haver planejamento para que dois dos pilares de qualquer megalópole, a construção civil e a indústria imobiliária, possam se desenvolver com propriedade trazendo conforto e qualidade de vida a seus moradores para que a partir dessa premissa se promova um desenvolvimento sustentável em todos os sentidos. Se hoje a violência é um fato perturbador, imagine o quadro futuro se a situação desandar numa cidade em que as áreas ricas são cercadas por favelas miseráveis. Como a situação está claramente fugindo do controle, será que não está na hora de a sociedade acordar para este problema que afligirá a todos em breve e voltar a tomar parte efetivamente na construção do nosso futuro?

Incrivelmente, há um planejamento imobiliário altamente lucrativo neste tal de “novo centro” sem a menor preocupação em saber quais serão os seus efeitos sobre a cidade, que convive com uma previsão também sem plano de crescimento na Barra e adjacências, os tais “30 anos em 5”. O projeto pomposamente compara-se com os aplicados em Berlim e Barcelona, pois, segundo a matéria, obedece a um modelo de intervenção urbana bem sucedido e de estrutura internacional. Chega a ser ridícula tal comparação em função de uma crise sem precedentes em todo o mundo causada exatamente por uma especulação imobiliária como esta que está se desenhando aqui, com preços tão inflados que o maior especulador do mundo, Sam Zell, ao ver o rumo da coisa, imediatamente denunciou o absurdo, vendeu toda a sua participação e partiu.

Desenvolvimento sustentável

Para se ter uma ideia do buraco, a estimativa é de que existam, só na cidade de São Paulo, imóveis em estoque que juntos valem R$ 4 bilhões, com o detalhe de que são imóveis novos encalhados (andares baixos ou que não recebem luz do sol adequada) e estão sendo oferecidos em sites criados especialmente para isso com até 30% de desconto. Sem falar que não dá para comparar em hipótese nenhuma nossa economia com a dos locais citados, que mesmo com toda a crise tem uma qualidade de vida e uma renda per capita infinitamente superior a da daqui. Ou seja, se a economia lá estagnar para sempre e a nossa crescer 3% anualmente sem parar, serão necessários minimamente uns trinta anos para chegar ao mesmo patamar!

Para começar, toda a operação do Porto Maravilha foi montada a partir do modelo de Águas Espraiadas, que tantos problemas está criando em SP, justamente por causa da elevada densidade populacional instalada e os problemas que isso acarreta em todos os sentidos. Foi dali que foi retirada a ideia da tal outorga generosa que permite a construção de prédios com até 50 andares e que irá financiar a troca do seis pelo meia dúzia ao custo de mais de oito bilhões de reais sem fiscalização do TCU, ou seja, a demolição do elevado da Perimetral para se fazer uma via perigosamente subterrânea (em uma cidade que convive com chuvas de verão caudalosas) e com a mesma vazão atual que, por acaso, já não dá conta de atender ao fluxo de hoje. Sem falar que quando essas obras começarem o nó no transito será espetacular, só um desvio deu tanto problema que as obras foram suspensas e só começarão se o prefeito for reeleito.

Na época conversei com os idealizadores desta operação consorciada e mostrei a eles que seria muito mais interessante utilizar outro modelo que permitisse um planejamento de curto, médio e longo prazos que levasse desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, promovendo um crescimento planificado e integrado. Reconheceram que esta proposta seria muito melhor, inclusive por apresentar um desenvolvimento sustentável, ou seja, suas empreiteiras terminariam uma obra e entrariam imediatamente em outra através de um plano diretor, coisa que não é sequer cogitado atualmente, mas…

Por que não há investidores num negócio bilionário?

Infelizmente, o que importa hoje é fazer. Mesmo que seja de qualquer maneira, porque se o caos acontecer terão que ser feitas obras emergenciais, e, como estamos vendo, estas dispensam licitações e são entregues aos patrocinadores de campanha. O Rio precisa acordar e sua sociedade tem que voltar a participar ativamente de suas políticas públicas porque as atuais são altamente predatórias e buscam o lucro fácil de alguns e não o benefício de todos para que o desenvolvimento possa superar as atuais mazelas administrativas que levaram o Rio ao fundo do poço.

A tal tese de “Ciclo Virtuoso” que o Rio estaria entrando já foi descartada e seu idealizador voltou para o seu habitat imobiliário, porém, todos os lugares que revitalizaram suas áreas portuárias, hoje são vanguardas em seus países. E nós, vamos perder esta chance? Por que não fazemos pequenas alterações, para apresentarmos um projeto crível, que sustente um verdadeiro ciclo virtuoso que possa ser demonstrado e que atraia investidores de todo o mundo, ainda mais na atual situação onde não se sabe onde investir?

Segundo a matéria, que cita palavras do Eduardo Paes, “a reinvenção do centro é um dos três eixos da reordenação da cidade, ao lado da remodelação do sistema de transporte e da adoção de práticas sustentáveis”. Como este prefeito considerou um sucesso o leilão das Cepacs, numa operação para lá de suspeita, já que teve que ser refeita inúmeras vezes para atender às exigências de um único interessado, a Caixa Econômica Federal, fica difícil acreditar numa remodelação de transportes. Ora, se em todo o mundo o preço do metro quadrado das áreas portuárias revitalizadas passou a ser um dos mais caros ou mesmo o mais caro dessas cidades, por que aqui não há investidores para este negócio bilionário? Porque até agora uma oportunidade de negócios deste nível ainda não emplacou, pois deveríamos estar sofrendo assédio internacional de investidores, que ao perceberem que o Rio efetivamente irá decolar estariam aqui comprando em massa, como acontece em Cingapura, onde os lançamentos são internacionais, até porque, com a crise mundial, existem raríssimas oportunidades de ganho como esta que está sendo anunciada.

Por que não colocar a mão na massa?

Deve ter alguma coisa errada porque o movimento que estamos assistindo, definitivamente, não condiz com esse sucesso alardeado. Por que ninguém se manifesta publicamente, já que internamente o comentário é unânime que o pós-2016 será de amargar? O que aconteceu com o carioca e a nossa imprensa que sempre foram tão corajosos e formuladores de ideias de sucesso em todos os setores?

Sobre as tais práticas sustentáveis que compõem os três eixos da reordenação da Cidade, mistério total. Quando poderíamos estar aproveitando a Rio + 20 em 2012 para a partir da revitalização da área portuária apresentar um modelo de cidade sustentável de verdade, voltada para um turismo de qualidade dentro de um cenário único no mundo. Se em todo o planeta os eventos mundiais agendados foram aproveitados para desenvolver a indústria do turismo, por que aqui, que tem o maior potencial reconhecido, nada está sendo feito? Por que passar vergonha se podemos ser a vanguarda mundial do setor, apresentando um conceito revolucionário, sonho da Organização Mundial do Turismo (OMT), no qual o visitante fará exatamente o que seu perfil pede, entre milhares de opções ofertadas, aproveitando para se enriquecer culturalmente? Segundo pesquisa, 100% dos turistas querem isso.

Pense no que a cidade oferece hoje e no que, com esta mudança de perspectiva, passaria a oferecer, envolvendo centenas de milhares de novos empregos, dentro de uma indústria que é considerada a maior do mundo exatamente por envolver todos os segmentos da sociedade simultaneamente. Não podemos desperdiçar uma chance única de reinventar o Rio, com ética e qualidade de vida, unindo a todos em prol de diminuir este ameaçador abismo social. Por que não colocamos a mão na massa, logo? Estamos perdendo um tempo precioso em que outras cidades do mundo estão passando a nossa frente, porque a competição não para. E não para porque o turismo dá a essas cidades uma qualidade de vida disputada a tapa em todo o mundo. E nós, vamos acordar para essa realidade?

Sem perspectivas de retorno

Em 15/12/2011, O Globo publicou um outro informe publicitário sobre o turismo médico e o potencial do Rio, numa indústria que movimenta U$ 60 bilhões/ano. Aborda que as feiras médicas em SP cresceram tanto que começam num lugar e terminam em outro. Por que não desenvolvemos aqui um planejamento dentro de um conceito que levará e manterá o Rio na vanguarda em todos os setores existentes? Imagine o crescimento socioeconômico que isso proporcionará em todas as áreas. Lembre-se de que o Rio sempre foi o principal portão de entrada do país e deteve por décadas a liderança do turismo de negócios. Com planejamento e conceito, retomamos esta liderança em no máximo dois anos, para não perdermos nunca mais, eternizando uma qualidade de vida única.

É incrível que o modelo de transporte que esteja sendo implantado aqui seja o mesmo que funciona há décadas em Curitiba, que, curiosamente, embora seja uma cidade com um número muito menor de habitantes (1.746.896), está abandonando-o por não atender mais a demanda. Para que lá seja instalado um metrô, que aqui, pasmem, foi descartado. Claro que os especialistas estão condenando isso de forma unânime e explicando que ao ser inaugurado, já estará completamente defasado, dado ao aumento da demanda, mesmo raciocínio aplicado às novas composições do metrô que irão chegar da China a conta gotas, com certeza para martirizar ainda mais uma população em que até um mísero serviço de barcas é um suplício sem fim. O absurdo é tamanho que o vale transporte único, que inicialmente valeria por duas horas, teve que ser estendido porque não atendia a expectativa dos usuários que gastavam muito mais tempo no seu deslocamento.

Isto é um desrespeito total ao cidadão, que acaba perdendo cerca de cinco horas diárias em locomoção se vendo obrigado a residir em bibocas nas mais de mil favelas existentes, próximas da área onde há empregos, numa situação precaríssima, sujeito a todos os tipos de vicissitudes. O percentual deste pessoal ultrapassa a faixa de 50% dos habitantes do Rio e sustenta um sistema político de clientelismo ou mesmo de submissão a traficantes e milícias, perpetuando esta elite política que aí está e que não pode ser incomodada. A situação começa a feder quando uma simples notícia sobre os nobres vereadores, para ser dada, tem que ser distorcida para reduzir seu impacto, como, por exemplo, a que a Assembleia Legislativa do Rio é a mais cara do Brasil. Não, a notícia teve que ser dada assim: a Assembleia Legislativa do Rio será no ano que vem a segunda mais cara do Brasil, graças a um programa de redução dos custos. Que tal? Com o detalhe que a prefeitura investirá bilhões em projetos sociais nestas favelas, sem perspectivas de retorno deste capital em obras sem fiscalização. Tem que ser muito maquiavélico para traçar um cenário destes para lucrar. Podendo ganhar muito mais, honestamente, além de poder usufruir deste ganho com tranquilidade, coisa que hoje não é possível.

A mídia “chapa branca”

O informe prossegue, afirmando que numa área de mais de 5 milhões de m², que se propõem a ser o novo eldorado carioca, já tem 24 projetos aprovados, inteirinhos! Não é bem pouco? Outra vertente sustenta que pelo menos 3 grandes empresas desistiram de se instalar lá. A cara-de-pau do articulista é tamanha que sustenta que tal demanda é motivada pelo desenvolvimento econômico do estado. Pode? (mas o estado não quebra se perder os royalties do petróleo, numa situação que o ICMS de 95 foi maior do que o de 2010?) Em que se destacam a indústria do petróleo, a siderurgia (mas toda a produção da nova siderúrgica é voltada para a exportação e os negócios periféricos são informais lavagens de roupas e alimentação para os funcionários ao invés de gerar um ciclo industrial e ainda é isenta de impostos e aumentou a poluição no Rio em 50%, fora que até altos fornos estão sendo desligados por causa da queda da demanda mundial) e o segmento aéreo portuário? (mas não perdemos a manutenção da Azul para Ribeirão Preto?), assim como pela realização da Copa de 2014 e a da Olimpíada de 2016.

Para finalizar este informe solta-se uma notícia em primeira mão, que dificilmente será confirmada: em 2011, segundo o informe, 50 mil novas empresas se instalaram no Rio. Aonde? Como se publica algo deste porte sem fonte? Se isso fosse verdade, seria matéria de capa da propaganda municipal, contudo, nunca se ouviu falar disso… Mesmo levando em conta que antes de 2009, segundo pesquisa, só 5% dos negócios do Rio eram formais e que com a nota eletrônica e as poucas favelas pacificadas, onde houve um choque de formalidade, de onde saíram tais números? Só no complexo do Alemão desapareceram mais de mil e quinhentas indústrias ao longo das décadas e a Av. Brasil dá até dó de ver tantos galpões abandonados com placas de alugo ou vendo. Como tantas empresas novas chegarão se nas comunidades, por falta de opção empregatícia, os jovens fazem cursos de manicure e cabeleireiros?

As poucas notícias que temos dão conta de vultosos empréstimos que são obtidos para pagarmos outros empréstimos, pois assim conseguiremos juros menores para desta forma sobrar alguma verba para investimentos. Como atrair empresas, fábricas ou indústrias se nossos impostos são os mais caros do mundo e a qualidade de vida a pior possível, com greves intermináveis de professores, bombeiros, entre outras categorias, porque pagamos os piores salários do Brasil, sem perspectivas de que essa situação mude? Há uma tremenda distorção entre o que a mídia “chapa branca” divulga e a real realidade da cidade. Até quando esses absurdos serão rotina?

Mudanças no porto

O secretário estadual de Transportes, desaparecido após o triste escândalo do bondinho de Santa Tereza, reaparece com direito a foto sorridente, dizendo que o Rio está fazendo uma revolução metroferroviária, acenando até com um trem bala que nem consegue ser licitado. O negócio é vender ilusão e vale tudo, até desviar o assunto e anunciar uma pintura nanotérmica que absorverá menos calor, aplicadas em edificações sustentáveis. Claro que a opinião dele é completamente diferente da das associações de moradores que estão brigando por uma linha 4 que atenda aos interesses da população e não aos “Olímpicos”, já que os especialistas informam que, ao ser inaugurado, da forma que foi apresentado, não atenderá à demanda dos passageiros intermediários que encontrarão as composições lotadas. Sem contar que, com essa confusão, claro que as obras já começaram e ainda não se tem o traçado, mas o contrato obviamente está assinado, só esperando para ser devidamente aditivado. Qual é a novidade em se tratando de administração pública no Rio de Janeiro?

Julio Lopes se perde ao dizer que, com a linha 4, o Rio terá uma malha ferroviária comparável a qualquer outra do mundo. Ou o secretário de Transportes não conhece o mundo ou ele está debochando do cidadão carioca ao falar uma temeridade dessas. Como se publica isso sem rebater tamanha falácia?

O secretário municipal de Urbanismo também aparece falando que “há 30 anos, deseja-se mudanças no Porto do Rio, seguindo tendência mundial de revitalização de Zonas Portuárias”. Sergio Dias complementa: “Ali está o núcleo financeiro, do judiciário, do poder municipal etc. Não tem lógica bairros como Botafogo, Barra e Ipanema virarem centros comerciais”. Para complementar informa que “a revitalização do novo centro ainda terá o mérito de reduzir deslocamentos e consequentemente a diminuição da emissão de CO² que provocam o efeito estufa”. Acredite quem quiser porque com os atuais engarrafamentos essa emissão disparou e alguns locais do Rio estão entre os mais poluídos do Brasil.

Projeto imobiliário

Quando ele se refere que há 30 anos esperamos pela revitalização portuária, com certeza ele alude a um planejamento que recuperasse também a economia, com o poder público orientando um desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental que beneficie toda a sociedade, coisa que não está sendo feita. Uma cidade ao crescer em função do porto sofre junto quando ele perde sua importância e sua economia acompanha esse processo.

Quando ele fala em lógica, ele quer dizer que onde foi feito revitalização portuária apresentou-se, prioritariamente, um projeto executivo de curto, médio e longo prazos, que beneficiasse a economia como um todo, para atrair os investidores, sendo que os lugares onde se obtiveram os melhores resultados foram direcionados para a indústria do turismo. No caso do Rio, além de não haver um projeto minucioso (veja que não falo sequer em projeto executivo), não há uma âncora clara que defina e sustente os rumos da economia. Por outro lado, há uma cidade que tem sérios problemas socioeconômicos e ambientais nas favelas (que produzem até cachoeiras de esgoto sobre quem mora morro abaixo), nos subúrbios e na periferia, com um parque industrial em escombros e onde não existe uma solução definida. Em minha opinião, não se pode fazer a revitalização da zona portuária carioca e se esquecer que existe uma cidade ao redor dela, beneficiando somente alguns empresários e condenando o resto da população a uma situação de guerrilha urbana eterna, tamanho o abismo socioeconômico existente, que a cada dia se acentua cada vez mais, provocando revolta.

É acintoso ao carioca acenarem que o legado olímpico será um centro de convenções internacional, quando seu próprio idealizador, o Sr. Sergio Magalhães, presidente do IAB, confessa que foi mal informado e reconhece que apresentou um projeto fadado ao fracasso, quando podemos, com pequenas modificações, implantar outro que levará o Rio à vanguarda mundial, unindo toda a sociedade, ao criar um ambiente de negócios propício à proliferação de centenas de milhares de micro e pequenas empresas, gerando inicialmente dois milhões de novos empregos ao aumentar a arrecadação em bilhões de dólares e permitindo um planejamento em curto, médio e longo prazos que levará desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental a todo o Rio, incluindo favelas, subúrbios, periferia e interior do estado, demonstrando de uma forma clara que através da nossa vocação natural, permitiremos que todos tenham aumento tanto em renda per capita, quanto em qualidade de vida em todos os setores. Com uma visão de futuro como esta, atrairemos investidores de todo o mundo e o setor de serviços internacional, eternizando nossa beleza natural e empregos.

Para encerrar, toda a reportagem do informe publicitário era, apenas, para tentar vender um projeto imobiliário em São Cristovão. Durma com um barulho desses.

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[José Paulo Grasso é engenheiro e coordenador do Acorda Rio]