Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

MGM sai da concordata com menos glamour

Até quatro meses atrás, o estúdio de cinema Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc. ocupava 11 andares em um reluzente prédio de escritórios, com a familiar logomarca do leão rugindo no topo do edifício. Agora, está instalado em seis andares com carpetes cinzas em outro prédio comercial, que passa despercebido numa área de comércio de Beverly Hills. O novo endereço da MGM é emblemático do esforço da empresa para se reinventar, depois do drástico declínio de um dos mais históricos estúdios de Hollywood para uma empresa endividada, incapacitada e forçada a pedir concordata em novembro de 2010.

Desde que saiu da concordata há um ano, a MGM tem pouca semelhança com a entidade dos anos de glória ou com o que foi em sua fase mais crítica, quando as dívidas de US$ 5 bilhões só permitiam que fizesse alguns filmes de baixo custo. Agora, o estúdio que ficou famoso por clássicos como E o Vento Levou e O Mágico de Oz se transformou em uma empresa global de direitos de TV. A MGM abandou sua operação de distribuição de filmes para cinemas americanos e passou a acumular uma coleção de acordos de cofinanciamento para produção de filmes. O cofinanciamento permite que o estúdio reduza seu risco financeiro – mas também limita as recompensas potenciais.

“Esta é a nova MGM”, disse o diretor-presidente Gary Barber, que divide o cargo com Roger Birnbaum e assumiu a administração do estúdio há um ano, durante a reestruturação. Os dois homens, que também dividem a presidência do conselho, tinham anteriormente fundado a Spyglass Entertainment, a empresa de produção atrás de Seabiscuit – Alma de Herói e o Star Trek – Jornada nas Estrelas, de 2009.

Conceitos originais

A filosofia do estúdio que existe há 87 anos – no que se refere a quase tudo, desde redundâncias no quadro de pessoal até o lerdo processo de produção – tinha que mudar, acreditavam Barber e Birnbaum. “A cultura, do nosso ponto de vista, estava muito fora de esquadro”, disse Birnbaum. “Em todas as áreas desta empresa, nós vamos administrar as coisas de um jeito diferente agora.” No último ano, Barber e Birnbaum reduziram o quadro de funcionários de cerca de 450 para menos de 300. Eles cortaram o time jurídico do estúdio, de 20, para três pessoas. “Havia um engarrafamento de advogados”, explicou Barber.

Com o quadro de funcionários enxuto, a direção decidiu abandonar o que Birnbaum chamou de escritórios “ridículos” do estúdio que, além de serem caros, promoviam uma cultura corporativa que a nova direção considerava estar fora de sintonia com a visão dela para a empresa. “O outro prédio era muito elitista”, disse Birnbaum. “No 14º ou 15º andar, os escritórios eram bonitos e opulentos”, disse ele, descrevendo os andares inferiores como o extremo oposto.

Ao mesmo tempo, a TV, em vez da tela de cinema, passou a ser o foco principal. A divisão de televisão da empresa, sob a direção da recém-instalada Roma Khanna, recrutada da NBCUniversal, do grupo Comcast Corp., espera desenvolver de duas a três novas séries por ano. A MGM está desenvolvendo conceitos originais e buscando fontes de material dentro da sua biblioteca de mais de 4.000 títulos de filmes e 10.500 episódios de televisão.

US$ 5 bilhões em dívidas

Atualmente, está criando séries baseadas na personagem Clarice Starling, a estagiária do FBI do filme Silêncio dos Inocentes, interpretada por Jodie Foster, e na comédia de humor negro dos irmãos Coen Fargo. Seus filmes, agora, estão sendo produzidos em acordos de cofinanciamento, que passam para outros estúdios o árduo trabalho de distribuição para cinemas. As coproduções também representaram uma alternativa para dar o pontapé inicial nas operações cinematográficas, que foram paralisadas antes do pedido de concordata.

Entre os acordo da MGM está um com a New Line Cinema, da Time Warner Inc., para cofinanciar dois filmes O Hobbit, dirigidos por Peter Jackson. Um acordo de cinco anos com a Sony Pictures Entertainment, da Sony Corp., exige que a Sony ofereça à MGM a oportunidade de cofinanciar vários de seus filmes todos os anos (a MGM se recusou a informar quantos) e dá à Sony o direito de ser o primeiro a ser consultado sobre filmes para os quais a MGM está buscando um parceiro de cofinanciamento. O primeiro resultado do acordo com a Sony, A Garota com Tatuagem de Dragão, que entrou em cartaz nos EUA no dia 21 de dezembro, foi lançado com a expectativa de que seria uma das maiores bilheterias da temporada de fim de ano, mas atingiu uma receita decepcionante de US$ 12,8 milhões no primeiro fim de semana.

A MGM tinha mudado de mãos em 2005, por meio de uma venda alavancada, e seus novos donos – um grupo de empresas de private equity, a Sony e a Comcast – a carregaram de dívidas. Logo depois do negócio, a receita proveniente de sua biblioteca começou a despencar, por conta de uma queda generalizada das vendas de DVDs, tirando dos donos a receita necessária para pagar a aquisição. A MGM parou de pagar juros no fim de 2009, na tentativa de conservar dinheiro em caixa.

Fundos de hedge, então, começaram a comprar a dívida da MGM com grandes descontos, o que acabou levando os credores a assumir o estúdio depois de perdoarem uma dívida de cerca de US$ 5 bilhões. A direção do estúdio foi entregue a Barber e Birnbaum. O estúdio entrou com pedido de concordata em novembro de 2010, em Nova York. Um mês depois, a MGM saiu da concordata, informando que planejava levantar cerca de US$ 500 milhões em empréstimos para financiar filmes e programas de televisão novos.

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[Erica Orden é do Wall Street Journal]