Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sob pressão, dono da News Corp. lança novo tabloide

O magnata da mídia Rupert Murdoch prometeu ontem lançar uma edição dominical do seu jornal The Sun, atingido por escândalos, na tentativa de conquistar o apoio de funcionários que, furiosos, lhe impuseram um dos maiores desafios enfrentados nos seus mais de 40 anos como dono de jornal em Londres.

Murdoch estava em Londres para tranquilizar os funcionários depois que a empresa deu à polícia informações que levaram à prisão de alguns dos jornalistas mais importantes da publicação, numa investigação envolvendo pagamentos ilegais feitos a funcionários públicos. Numa jogada tipicamente otimista, o empresário de 80 anos disse que a News Corp., sua empresa, iria lançar em breve o jornal Sun on Sunday para substituir o News of the World, fechado de forma abrupta no ano passado depois de uma investigação envolvendo escutas ilegais usadas para obter informações para as reportagens da publicação. “Trabalhei com vocês ao longo de 43 anos para fazer do Sun um dos melhores jornais do mundo”, disse o australiano Murdoch em um e-mail para os funcionários. “Meu contínuo respeito torna essa situação uma fonte de grande dor para mim, sentimento que imagino compartilhar com cada um de vocês.”

Posteriormente, Murdoch visitou a redação do Sun na companhia do filho mais velho, Lachlan, levando a especulações a respeito do significado disto para seu filho James, que era visto como provável herdeiro da News Corp. até a descoberta do escândalo das escutas. Uma fonte informada a respeito dos detalhes da situação disse que a aparição do filho mais velho não teve tanta importância, dizendo que James estava ocupado e que Murdoch quis a presença de Lachlan numa reunião que prometia ser difícil.

“Guerra civil” na empresa

As prisões provocaram a disputa mais amarga vista dentro do ramo britânico de jornais da News Corp. desde os anos 80, quando uma reforma radical dos sindicatos dos gráficos resultou em confrontos violentos. A última contenda, surgida após o fechamento do tabloide News of the World após 168 anos de funcionamento, levou muitas pessoas a pensarem que Murdoch poderia desistir da mídia britânica. “Estarei com todos vocês, em Londres, nas próximas semanas, para lhes estender meu apoio firme”, disse Murdoch. “Estou confiante de que sairemos juntos dessa situação.” Murdoch comprou o Sun em 1969 e rapidamente o transformou em um jornal sensacionalista conhecido por sua influência política, suas campanhas, matérias de entretenimento, escândalos sexuais, manchetes chocantes e por publicar fotos de modelos seminuas na página 3.

Mas executivos na sede da empresa, em Nova York, que acompanharam pasmos o desenrolar do escândalo das escutas telefônicas no ano passado – arruinando a reputação e o preço das ações da News Corp. – não compartilham do amor que Murdoch sente pelos jornais. Uma Comissão de Gestão e Conduta (MSC, em inglês) criada por Murdoch entregou informações à polícia depois de analisar cerca de 300 milhões de e-mails, recibos de despesas, anotações e computadores na busca por indícios de crimes. Murdoch disse que a comissão iria continuar trabalhando com a polícia e que a atividade ilegal não seria tolerada. Mas disse também que os jornalistas que foram presos terão suas suspensões revogadas e poderão voltar ao trabalho.

“Finalmente uma boa notícia”, disse um funcionário. Outro descreveu o fato de que os empregados detidos do Sun possam voltar ao trabalho como “reconfortante”. Muitos funcionários têm a sensação de que foram sacrificados depois de anos lutando com a concorrência para dar furos e manter o Sun na frente dos rivais. “Éramos submetidos a uma pressão incrível para publicar matérias exclusivas”, disse à Reuters um ex-jornalista do Sun, pedindo que sua identidade não fosse revelada. “Íamos dormir pensando: qual é a pauta que poderei sugerir amanhã? Os editores estavam sempre berrando ao telefone.”

Na semana passada os funcionários do Sun falaram na eclosão de uma “guerra civil” dentro da empresa, e muitos deles consultaram advogados. “Vamos obedecer à lei”, disse Murdoch. “Atividades ilegais não podem ser toleradas e não o serão – em nenhuma de nossas publicações. Entregaremos às autoridades todas as provas que encontrarmos – não apenas porque somos obrigados a fazê-lo, mas também porque esta é a coisa certa a fazer.”