Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Dilemas do usuário de comunicação

A pura verdade é que a rede de comunicação no Brasil é plenamente dominada pelos ditames do capital e pelos interesses políticos que permeiam a vida de nosso povo. O que vemos é que nossos meios de comunicação estão pouco alinhados com a situação de nosso povo, visto que a maioria deles só faz o que quer no sentido de programação, pauta ou veiculação de propagandas ou programas. A situação da comunicação nos dias de hoje tem como principal processo a negação da interatividade, a geração de factoides de acordo com os interesses dos chamados proprietários de nossas revistas, redes de televisão, emissoras de rádio e outras formas de comunicação. Nesse sentido é que hoje os meios chamados alternativos vêm sofrendo dura perseguição e violência, como acontece com as rádios e televisões comunitárias e os blogs, sites e redes sociais que hoje têm até proposta de cerceamento em alguns países.

Várias são as tentativas de reverter o quadro, porém o poder político de alguns donos da mídia é forte e eficaz e nosso povo infelizmente ainda não aprendeu a se organizar, a pensar coletivamente, a pensar em problemas comuns. No mundo do individualismo não há oportunidade de desafios, de lutas, de questionamentos – o que há é sempre uma situação de alguns abnegados que tentam fazer a diferença. Muitos se aproveitam politicamente da suposta organização dos usuários de comunicação e muitos têm o objetivo apenas de se auto-promover ou criar uma situação de privilégio diante da maioria da população desassistida e desorganizada, o que faz com que tenhamos pouca efetividade dos chamados movimentos da sociedade civil organizada.

Muito ocupadas para pensar

A fraqueza das instituições chega ao usuário da comunicação e provoca lutas estanques e locais sem teoria, sem forma ou força política, o que faz com que todos os movimentos sejam extremamente fortes no início e acabem se esvaindo na rotina de reuniões, ações estanques e completa apatia dos grupos. Essa vivência tem sido característica de grupos como Conselho de Leitores, que hoje existem em alguns jornais do país e não têm poder, nem vez, nem voto diante dos absurdos cometidos pelos editores de jornais que muitas vezes não deixam o povo falar e reservam espaços maiores para os que têm poder e prestígio diante da pequenez do cidadão. Há uma verdadeira enganação nas chamadas redações de emissoras e no tal Fale Conosco que, sinceramente, não é levado em conta nas reportagens e nas situações em que a interatividade seria de bom alvitre.

Uma tarefa de gincana: visite um site de uma grande revista de circulação nacional e tente se comunicar com os nomes do famoso expediente. Certamente não haverá retorno, pois aquilo é um grande teatro, uma farsa completa, uma mera propaganda que não tem sentido algum de efetiva comunicação com o usuário. Quem dita a pauta não é o povo, não é o cidadão; é o dono do jornal, da revista ou da televisão que vai ao gosto da verba publicitária e do interesse do dono. A missão de quem protesta é árdua e não temos a quem apelar. Recentemente, eu mesmo fui vítima de censura do jornal O Povo, em Fortaleza, quando procurei a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a Secretaria dos Direitos Humanos a nível nacional, e sequer tive resposta, pois é claro que estes setores são políticos e jamais queriam comprar briga com um meio de comunicação tão forte e hoje apoiado publicitariamente pela Prefeitura de Fortaleza, que transformou a prefeita em grande articulista do jornal sem oportunidades de contestação. Várias são as medidas deste jornal para cassar o direitos do povo e agora o maior dos absurdos foi a transferência do único espaço de interatividade, denominado “Jornal do Leitor”, teve mudança de dia de veiculação que para nós tem sentido de esvaziamento da seção até a sua completa inviabilidade e inanição.

Não adianta discutir, questionar, pois eles não querem ouvir o seu usuário e a figura do ombudsman funciona como mera terapia. Trago este exemplo apenas para mostrar que nossos meios de comunicação funcionam em grande parte na farsa da interatividade, que nem sempre existe e nem sempre funciona. Nos nossos meios de comunicação indistintamente predomina a completa ditadura do dono e dos guetos ideológicos dos jornalistas que fazem notícia apenas para vender jornal, e não para informar. Nossa mídia é injusta e ditatorial, pois poucos são os canais de contestação que funcionam na base do interesse de quem manda, pode e tem dinheiro. É assim que se faz mídia democrática? Talvez seja por isso que tantos jornalistas hoje tenham medo dos Conselhos de Comunicação… Infelizmente, é assim que funciona e também sei que não adianta falar, pois esse artigo não terá nenhum comentário nem será compartilhado, pois as pessoas estão muito ocupadas para pensar, como diria o grande Raul Seixas… e afinal de contas eu sou um idiota sonhador!

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]