Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O segredo de Thalía e as Marias

Falta de opção na concorrência? Bom enredo? Protagonista super carismática? Qual a razão para uma mesma história contada tantas vezes ainda dar audiência? Maria do Bairroreestreou no último dia 6 de fevereiro substituindo Marimar e coleciona sua quinta exibição pelo SBT. As outras foram em 1997, 1998, 2004 e 2007. Ainda assim, a história de uma menina pobre que se apaixona por um homem rico segue com uma audiência respeitosa em torno de sete pontos no Ibope em São Paulo, beliscando a Globo, como é de praxe. Vale lembrar que Marimar, sua antecessora no horário, já chegou a derrubar a “toda-poderosa” em algumas ocasiões. E já liderou também na média.

Agora, como será que uma história contada tantas vezes, como as telenovelas de Thalía, ainda consegue despertar o interesse do público? A qualidade técnica é duvidosa, inclusive a de imagem, para os padrões atuais. E esse conto de fadas não estaria mais do que “manjado”? A resposta é não.

Em 1997, quando Thalía esteve no Brasil em função do êxito de Maria do Bairro, perguntada sobre a fórmula do sucesso da trilogia das Marias, respondeu que ele se deve ao fato de ser uma história mágica e que retrata uma Cinderela dos anos 2000. Para a estrela mexicana, em um mundo cada vez mais agressivo, as pessoas tendem a buscar tramas mais ingênuas. Em outra entrevista da época, também no ano de 1997, a dubladora de Thalía no Brasil, Guilene Conte, contou que essas novelas fazem sucesso porque sempre trazem novidades e só têm compromisso com o romantismo e a fantasia.

Promessa de enxaquecas

Noveleira assumida, a estudante Nathalia Andrade dia desses se pegou assistindo Maria do Bairro e disse à irmã que estava preferindo assistir a mexicana à Fina Estampa, da Globo. Ela, no entanto, diz que a novela não é boa e os atores de lá atuam de maneira forçada. Nathalia, contudo, acredita, sim, que a protagonista tenha algo cativante, mas ressalta que tem vergonha de dizer que assiste à novela – diz apenas que “gosta”. Outro aspecto preponderante para que ela assista é a falta de opção em outros canais. “Sinceramente, essa novela passa em um horário em que eu não tenho nada para fazer, assim como outras pessoas, e acabo assistindo por não ter outra coisa melhor”, salientou Nathalia.

Para o professor de jornalismo Igor Siquieri Savenhago, o grande sucesso das novelas mexicanas é por conta do México ser um país muito parecido com o Brasil nos seus aspectos culturais. Além disso, segundo Igor, o México é um país em desenvolvimento, como o nosso, em ascensão social e a busca pelo sucesso são quesitos valorizados em ambos os países.“A linguagem adotada nessas novelas é de fácil acesso (tradução do castelhano para o português) e se aproxima da linguagem popular, falada no dia-a-dia. Thalía, em suas novelas, representa um modelo de superação, de alguém que venceu dificuldades na vida e o herói, mocinho ou mocinha, são tidos como exemplos de sucesso, modelos que devem ser seguidos”, finaliza Igor.

A estudante universitária e fã de novelas mexicanas Laís Lubrani pensa que essa história faz sucesso porque traz a esperança nos telespectadores que aquilo possa acontecer com eles também. Além da alegria com que Thalía encara seus problemas na dramaturgia, para Laís, outro fator predominante para o sucesso é a clássica luta do bem contra o mal.

Para Bruna Magalhães, também estudante universitária, as novelas mexicanas têm uma certa “ingenuidade”. Algumas atrizes cantam e dançam, como é o caso de Thalía, e isso, na visão de Bruna, ajuda. “Sem contar que a maioria das pessoas que assistem essas novelas da tarde são donas de casa e não têm muito o que fazer”, dispara a estudante. A quarta reprise de Maria do Bairro está apenas começando e promete, mais uma vez, fortes enxaquecas à Globo nos próximos meses.

***

[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]