Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pew divulga nona edição do estudo

O Projeto pela Excelência no Jornalismo, do Centro de Pesquisas Pew, nos EUA, divulgou na segunda-feira (19/3) a edição de 2012 de seu relatório anual “The State of the News Media”, sobre o estado do jornalismo americano. Esta é a nona edição do estudo, bastante voltada para o impacto das novas tecnologias na mídia – as pesquisas apresentadas examinam, entre outros fatores, como os consumidores de notícias usam as mídias sociais e que mudanças os aparelhos móveis podem provocar na indústria jornalística.

O Centro de Pesquisas Pew é um instituto de pesquisa independente e não partidário financiado pelo Pew Charitable Trusts, fundação que recebe doações de indivíduos e organizações públicas e privadas com o objetivo de trazer melhorias à sociedade. O grupo trabalha a partir de três pilares: descobrir soluções para melhorar as políticas públicas; informar o público (aí entra o Centro de Pesquisas); e estimular a participação cívica.

Nova era digital

O estudo deste ano ressalta que, em 2011, a revolução digital entrou em uma nova era. Vivemos a era da mobilidade, em que as pessoas se conectam à internet de qualquer lugar. Segundo o Projeto, hoje, mais de quatro em 10 adultos americanos possuem um smartphone, e um em cinco tem um tablet. Carros já são fabricados com acesso direto à web. O aumento desta mobilidade provoca uma imersão maior na vida social online.

Esta mobilidade também tem um impacto direto em como se consome notícias. Algumas das pesquisas da edição deste ano mostram que os aparelhos móveis não substituem os outros meios, mas somam-se a eles. Oito em cada 10 pessoas que costumam receber notícias por smartphones e tablets continuam a consumir notícias também em computadores convencionais.

Mídia vs. tecnologia

Outro fator apontado pelo estudo já na edição passada e que se intensificou nesta é como os intermediários tecnológicos passaram a ter controle sobre o futuro das notícias. As tendências indicam que a lacuna entre o jornalismo e indústria tecnológica está aumentando. De início, a bem sucedida entrada das novas plataformas móveis na vida das pessoas já significa que as organizações de notícias agora têm que se manter no mesmo ritmo. Os usuários de tablets e smartphones estão fortalecendo sua relação com as organizações de notícias por meio da internet e de aplicativos – 81% dos usuários de aplicativos são consumidores diários.

As gigantes de tecnologia vêm ampliando suas atividades. Google, Amazon e Apple, por exemplo, passaram a atuar nas diferentes partes do processo de comunicação: produzem o hardware, os sistemas operacionais, os browsers de navegação, os serviços de e-mail pelos quais as pessoas se comunicam, as redes sociais onde compartilham suas vidas, e as plataformas onde fazem compras ou jogam. Esta ampliação dos negócios dá a estas empresas um grande trunfo competitivo: elas coletam cada vez mais informações sobre seus consumidores. E é aí que está o desafio para as empresas de mídia: elas têm que começar a descobrir como atuar de maneira bem sucedida neste cenário.

Tendências

Entre as tendências da indústria de mídia encontradas pelo estudo estão:

** A experiência do consumidor com as notícias nos aparelhos móveis parece ser mais profunda do que nos desktops e laptops

Os consumidores de notícias nos aparelhos móveis (27% nos EUA) tendem a buscar informações diretamente nos sites e aplicativos das organizações de notícias, em vez de depender de indicações de agregadores, o que fortalece a relação com as marcas tradicionais.

** As mídias sociais ainda não são forças determinantes na disseminação das notícias

Cerca de 133 milhões de americanos são usuários do Facebook, onde passam em média sete horas por mês – isto representa 14 vezes o tempo gasto normalmente em sites de notícias. O número de usuários do Twitter cresceu 32% no ano passado, chegando a 24 milhões nos EUA. Ainda assim, a noção de que os internautas americanos recebem suas notícias a partir de indicações de amigos nas redes sociais não é verdadeira: pouco menos de 10% dos consumidores de notícias seguem recomendações via Facebook ou Twitter com frequência.

** A audiência televisiva cresceu de maneira inesperada

Nas três principais redes americanas, a audiência dos programas de notícias cresceu 4,5%. Os canais locais também apresentaram aumento de público, principalmente nos períodos da manhã e do fim da noite. A audiência também cresceu nos canais de notícias a cabo, em 1% no total. CNN, que vinha sofrendo com os rivais nos últimos anos, teve o maior aumento: 16% no horário nobre. A Fox News, por outro lado, apresentou queda pelo segundo ano seguido.

** Mais veículos de notícias adotarão assinaturas digitais em 2012, como meio de sobrevivência

Pelo menos mais 100 jornais devem se juntar, nos próximos meses, às 150 publicações que já adotaram algum modelo de acesso pago ao contéudo na internet. Muitos jornais vêm perdendo, há anos, sua receita publicitária, e chegaram a um ponto em que precisam de uma nova fonte para continuar a operar. O New York Times serve como exemplo bem sucedido: seu modelo de assinatura já conta com 390 mil assinantes e teve pouquíssima perda no tráfego online.

** A privacidade se torna uma questão cada vez mais preocupante, e seu impacto na mídia é incerto

Há uma tensão entre os serviços que as empresas de tecnologia prestam e o uso que fazem das informações que armazenam dos clientes. Hoje, os internautas se tornaram mais conscientes do que compartilham em seus perfis digitais – se incomodam mais com publicidade direcionada com base no conteúdo de suas pesquisas e mensagens de e-mail, por exemplo. Por outro lado, eles estão mais dependentes dos serviços eficientes e gratuitos oferecidos por estas empresas. Neste ambiente conflitante, a indústria de notícias deve descobrir como tornar sua publicidade digital mais eficiente e lucrativa, ao mesmo tempo em que respeita a confiança de seu público.

O estudo completo pode ser lido aqui (em inglês).