Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Futebol potiguar perde de goleada na mídia nacional

Desde sempre, o futebol do Rio Grande do Norte não goza de simpatia por parte da imprensa nacional. As constantes reclamações do torcedor potiguar, que ganharam volume atualmente com as redes sociais, são as mesmas de 20 anos atrás. Mas, então, por que a “grande mídia” não tem o menor interesse em divulgar, pelo menos, os gols do Campeonato potiguar? A resposta passa pela história, geografia, economia e deságua no próprio futebol. Historicamente, o futebol da terra do sal, do petróleo e do turismo nunca fez frente ao futebol do eixo Rio-São Paulo, por exemplo. Uma vitória ali, um empate acolá, e só.

Diferentemente do que acontece – e aí vai outro exemplo – com pernambucanos e baianos, que sempre estão na “elite” nacional, rivalizando com times do “Sul Maravilha”. Não custa lembrar que Náutico e Sport já disputaram até Libertadores. Assim como o Paysandu/PA e outros aventureiros, como Bangu, Guarani, Paulista, Santo André, Criciúma etc. Os clubes do RN sequer sonham com a possibilidade, muito distante da realidade potiguariana. O futebol potiguar, no máximo, chegou a uma oitava de final de Copa do Brasil com Baraúnas e ABC. É bem verdade que o América já disputou um torneio internacional, a Copa Conmebol, que contava com os campeões regionais, isso no final do século passado. Mas esta competição não gozava de muita simpatia da mídia, tanto que nem existe mais.

Ou seja, o futebol potiguar, apesar dos acessos recentes do América à Série A do Brasileirão, precisa aparecer mais para o Brasil, precisa rivalizar com os grandes clubes do sul e fincar a bandeira do Rio Grande do Norte no topo da montanha, onde está o ninho do canarinho. Se os clubes de Pernambuco e Bahia, que já venceram Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, sofrem preconceito, imagina os do pequeno RN. Para a “grande mídia”, ABC x América, com todo respeito aos demais estados, é comparado a clássicos tradicionais de menor expressão ainda no futebol nacional, como Confiança x Sergipe, Treze x Campinense, CSA x CRB…

Até as “sobras” botam banca

Geográfica e economicamente, o RN também sofre certo preconceito. Isso porque desde sempre, Recife, Salvador e Fortaleza são consideradas as metrópoles, principais cidades do Nordeste. Assim como Belém/PA para o Norte. Não é por acaso que a Globo só mostra os gols dos estaduais baiano, pernambucano, cearense e paraense. Estes estados e suas capitais, histórica e tradicionalmente, são mais ricos e mais fortes do que o Rio Grande do Norte.

Por fim, ainda dentro do contexto econômico, os clubes do futebol potiguar não conseguem mais formar times com nível técnico apurado, qualificado, como acontecia, por exemplo, nas décadas de 1960, 1970 e 1980, quando ABC, América e até Alecrim formaram verdadeiros “esquadrões” para os padrões locais. O que se vê hoje em dia é um futebol pobre e medíocre. A Federação Norte-rio-grandense de Futebol até tentou e tenta fortalecer a marca do Potiguarzão com ações de marketing interessantes. Mas ainda não é o suficiente.

Os clubes não têm mais condições financeiras de contratar jogadores de nível médio do futebol nacional. Com a globalização, para o Nordeste, em particular, só vem a “sobra”, ou seja, jogadores que não encontraram espaço no exterior (Europa, principalmente) ou nos grandes clubes do país. Tanto que para vir jogar por essas bandas, até as “sobras”, segundo os próprios cartolas, botam toda banca do mundo. Quando se contrata um jogador conhecido, de três, uma: ou ele está em fase final de carreira, ou está machucado e vem se recuperar aqui, ou está em baixa, em má fase, como se diz, e vem tentar a recuperação de sua imagem.

Os torcedores “mistos”

Tudo isso jogado num liquidificador explica a falta de interesse da mídia nacional com o futebol potiguar. Os canais PPV, da TV por assinatura, transmitem quais campeonatos, além de Rio e São Paulo? Gaúcho, mineiro, catarinense, paranaense, baiano e pernambucano. São os que dão lucro para o Globo Esporte por questões históricas, geográficas e econômicas.

Então, é para dar com os ombros para o futebol potiguar? Não. De jeito nenhum. Federação, clubes, imprensa e torcida precisam se unir ainda mais para construírem uma base sólida. Aí, sim, com mais recursos, conquistando torneios nacionais, como a Copa do Brasil, já conquistada pelo Criciúma de Felipão, rivalizando com os clubes do eixo Rio-São Paulo, talvez a Globo resolva começar a passar os gols do Campeonato potiguar no Fantástico.

E, quem sabe, depois da Copa do Mundo, com a Arena das Dunas e toda visibilidade de Natal, o Potiguarzão 2015, ano do centenário de ABC, América e Alecrim, não consiga uma vaguinha nos canais pagos (PFC) da TV por assinatura!? Não custa nada sonhar…

E antes que alguém levante a mão e afirme, com toda razão do mundo, que os chamados torcedores “mistos” – outra questão histórica e até cultural –, aqueles que torcem por um clube da terra e outro do eixo RJ-SP, também têm culpa no cartório… Eu discordo em parte, mas isso é um tema polêmico para outra reflexão, discussão, debate…

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[George Fernandes é jornalista e correspondente no RN do Portal Copa 2014]