Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pior é ter a sensação de que o problema foi resolvido

Guardo numa das gavetas uma pequena matéria publicada pela revista Época em junho de 2011. Escrita por Walter Nunes, fez um rápido balanço das espalhafatosas operações da Polícia Federal durante todo o governo Lula para concluir que os resultados foram pífios. “Em 2008, um levantamento feito por Época sobre o desfecho de 216 operações realizadas pela Polícia Federal já mostrara que apenas 7% das pessoas presas estavam prestando algum tipo de pena.” A matéria termina com uma alfinetada na Polícia Federal: “É preciso ir muito além do marketing para combater a corrupção e a impunidade”.

Concentrada nas questões de segurança da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016), a Polícia Federal fechou o circo. Como todo espetáculo tem de continuar, a impressão que dá é que foi reaberto agora por iniciativa da TV, tal o estardalhaço que a Globo tem feito em torno de licitações fraudulentas no regime de compras de um hospital público do Rio de Janeiro. Pobre Brasil! Deve conviver com o maior índice de corrupção do mundo e não há quem se ocupe dele com seriedade, nem o governo, muito menos a mídia que, pelo visto, quer mais é espalhar a sensação de que o problema está sendo resolvido.

Sobra das últimas denúncias veiculadas pelo Fantástico uma pergunta inquietante: o que pode ser feito, que mecanismo pode ser inventado para diminuir a corrupção e a fraude nas licitações públicas? Seria, sim, papel da mídia respondê-la, talvez dando consequência prática à sugestão do empresário Jorge Gerdau de que é preciso incrementar “tecnologia de gestão” à administração pública. A mídia não tem interesse em responder a nenhuma pergunta dessa natureza e dá demonstrações de que não tem interesse no combate à corrupção. Ela nunca desce às causas do problema, é apenas reativa/ ela não aprofunda, por investigação própria, nenhum dos assuntos. Como eram bons aqueles tempos em que a Polícia Federal montava o circo e a mídia, sentada nos camarotes, limitava-se a aplaudir.

Mais perguntas do que respostas

A inconsistência da mídia na cobertura dos grandes escândalos que assolam o país é também escandalosa. Movida por algum interesse, geralmente eleitoral, ela entra num caso e sai dele com a pressa de um guepardo. “Caraca! Que dinheiro é esse?” Que leitor poderá se esquecer daquela capa da Veja em ano eleitoral com a denúncia de que funcionários da Casa Civil da Presidência da República haviam recebido comissão na compra de um remédio (servia para combater a gripe suína) chamado Tamiflu? É possível que nem a revista tenha prestado atenção na gravidade da denúncia que ela ameaçou fazer e depois desistiu.

“De onde veio o dinheiro do mensalão?” perguntavam-se, com candura, uma jornalista à outra, no quadro que Jô Soares montou em seu programa, na Globo, em 2010, reunindo assim representantes de diversas mídias importantes. Mantido em 2012, o quadro já é conhecido por “As Meninas do Jô”. Era como se não coubesse a elas, jornalistas, descobrir as origens do dinheiro. De onde veio o dinheiro usado por Antônio Palocci para compra de imóveis em São Paulo?, perguntavam-se todas as mídias, lideradas pelo jornal Folha de S.Paulo, em plena cobertura dos episódios que resultaram na segunda queda do ministro.

Os consumidores de informação, nestes tempos bicudos, têm mais perguntas a responder do que respostas para cruciais indagações. Pior do que conviver com um problema é ter a sensação de que ele foi resolvido.

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[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado, da Gazeta Mercantil e atual consultor em comunicação corporativa]