Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um olhar estreito sobre “algumas éticas”

Na quinta-feira (22/03) me permiti ser levada por uma súbita curiosidade de entrar em um desses sites famosos por “espremer e sair sangue”, não porque isso me atraia, mas por querer entender por uma fração de segundos o que uma empobrecida mente ociosa venha a ser atraída pela então “magia” do sensacionalismo. Peguei-me na tentativa de compreender porque esses “criadores e inventores de notícias” que se dizem jornalistas prezam tanto essa política dominadora de mentes, de fatos comuns transformados em um turbilhão de emoções sem sentido.

Gostar de ver defunto rasgado, picotado, vítima de uma violência que adentra nos lares, nas ruas, nas estradas? Ora será que isso é realmente o significado do nosso verdadeiro jornalismo? É instigando e fatigando a concepção de cada um que se faz esse tipo de jornalismo ser um bom jornalismo? E os princípios éticos e morais que devemos ter como meros divulgadores de informações, não de qualquer informação, mas sim, daquela que parte do principio de investigação, apuração, relevância, e outras inúmeras características que todos jornalistas deveriam saber?

Caros amigos, entender o que se passa na cabeça do público consumidor às vezes chega a se explicar perante esse bombardeio incontrolável de informações que surge por aí. Sites celebram a mulher de biquíni, adoram as intimidades dos artistas, prezam o mundinho medíocre do BBB, do trenzinho do funk, o que dizer de um veículo que mostra gente morta e sangrando? O que é isso, afinal? Pois eu digo: é meio de vender notícia, mal redigida e de caráter duvidoso, à espera de gente como eu e você possamos ir ali e desfrutar desse meio patético e irrelevante. E a culpa é do jornalista! É assim que a crítica vê os fatos.

Conteúdo e cultura pragmática

É isso mesmo que vem acontecendo todos os dias, esse tipo de jornalismo que vem adentrando as faculdades, os meios de comunicação, o trabalho, ludibriando e duvidando da nossa capacidade de interpretação e absorção de informações íntegras e de qualidade. Digo mais claro, talvez até meio equivocada ou paranoica, mas vejo uma afronta à mente humana, um desrespeito para com o cidadão, um “estupro” bombardeado de informações chulas e fúteis nos colocando em tese cara-a-cara com a desvalorização daquilo um dia já foi notícia, a boa notícia, aquela que nos faz perpetuar os pensamentos, as ideias, as indagações, os princípios e consequentemente as raízes éticas e de conteúdo.

Estamos cercados de mecanismos que invadem nossas mentes em busca de atrativos que nos façam apenas por instantes encenarmos nesse mundinho de más informações, impossibilitando-nos de aprofundarmos em seu contexto por tratar-se apenas de um aparato visual recheado de sensações momentâneas, classificando o nosso jornalismo em periódico e esporádico. Certa vez li em um site um comentário que expressa na íntegra o que eu quero dizer sobre esse tipo de mídia: ojornalismo sensacionalista “joga” particularmente com os sentimentos. Exagera os fatos, deturpando a realidade. Muitas vezes acaba mesmo por enganar o espectador a que se dirige, através da forma de apresentação dos fatos.

Mas nem tudo está perdido, ainda há o bom jornalista, a boa informação, o bom conteúdo e milhares de pessoas que buscam além do senso comum refletir esse antigo modo de manipular a notícia; os tempos estão em constante mudança, as pessoas estão ficando fartas de tanta manipulação e enganação e felizmente a educação permite que se façam seres mais reflexivos e de opinião. Uma hora essa conspiração entra em xeque com nossos valores e cabe aos princípios éticos e morais assumir seu papel de arrancar das entranhas dessa corrupção noticiosa, algo a ser refletido, a ser comentando, praticado e mais adiante, que argumente na mente de seres pensantes e reflexivos o valor do nosso jornalismo íntegro, para que assim possa atingir literalmente gerações de conteúdo e cultura pragmática.

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[Renata Bastos Rocha é estudante de Jornalismo, Anicuns, GO]