Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mendes, Jobim, Lula e a especulação

No dia 26 de abril, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes encontrou-se com o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim e o ex-presidente Lula e iniciou uma novela que se arrastou por mais de um mês em toda a grande imprensa brasileira.

Tendo como carro-chefe a revista Veja, famosa por disseminar acusações travestidas de jornalismo, a grande mídia conduziu mais um escândalo, dos quais ela necessita para sobreviver e costurar seus interesses com grupos políticos conservadores, com muito pouco de investigação e muito de manipulação. A história da famosa reunião – da qual pouco sabemos realmente até agora, um mês depois – é a seguinte: Lula pediu a Nelson Jobim um encontro, na sala deste, a portas fechadas, e disse que gostaria também de ver o ministro Mendes. O motivo: agradecer-lhe pelo apoio durante seu período na presidência. Isso é o que se sabe de concreto. O encontro aconteceu e foi, no mínimo, suspeito – afinal, Lula poderia ter agradecido ao ministro do STF publicamente. Mas, não, preferiu fazê-lo a sete chaves.

Temos, então, um problema logo à primeira vista, que deve merecer, logicamente, um tratamento da imprensa. Lula é um homem político, foi presidente e continua exercendo grande influência em seu partido e nos rumos políticos do país. Gilmas Mendes é ministro da maior instância judicial do Brasil. Há nesta mistura algo, no mínimo, estranho. Um mês após este encontro, em maio, Gilmar Mendes soltou à revista Veja – com dita “exclusividade”, pelo que se sabe – que o verdadeiro foco do encontro de Lula era pedir adiamento do julgamento do “mensalão” em troca de blindagem na CPMI do Cachoeira – Mendes tem, supostamente, ligação com o bicheiro. Lula negou tudo. Jobim, também.

Especulação e fofoca de corredor

Diante das negativas, o mais esperado era, para a imprensa, investigar o caso e levar em consideração que esta conversa foi, antes de tudo, um bate-papo entre suspeitos de corrupção. Todos têm seus nomes ligados a curiosos episódios criminosos: Mendes, pela ligação que teria com Cachoeira; Lula, pelo mensalão petista; Jobim, por último e não menos importante, por ter adulterado – silenciosa e magistralmente – o texto da Constituição de 1988 antes da aprovação do documento.

Fica difícil não classificar como antiética, jornalística e humanamente falando, a cobertura da grande imprensa deste caso. As “denúncias” de Veja, assim como do resto dos veículos de comunicação, basearam-se apenas no que disse Gilmar Mendes. As negativas dos outros dois personagens, principalmente a de Lula, vieram para completar o “balaio de gato” que a imprensa formou para seus inimigos políticos. A fama do homem que “não sabe de nada” continua e é bom que todos ainda pensem assim do “sapo barbudo”.

Um dos maiores interessados em afastar o julgamento da CPMI do Cachoeira e da Comissão da Verdade é a própria imprensa. Estes dois julgamentos atingiriam muitos políticos do DEM e do PSDB, tradicionalmente aliados da grande mídia. Este item ficou fora de toda discussão, pois a mídia é um poder que nunca se autoinvestiga – e, o que é pior, nunca permitiu que outros o fizessem.

Não há certos e errados no caso, há somente um jogo de interesses. E a imprensa deve atuar e criar interesse para esclarecer histórias como essa, mas não de forma política. Houve um encontro muito suspeito, do qual pouco sabemos, em que pode ter ocorrido mesmo um pedido de Lula. Porém, pode ser que Lula tenha sido vítima de uma armadilha política da imprensa, da oposição e de um de seus antigos aliados (Gilmar Mendes), que quebrou o acordo e vazou as informações, se este for o caso, para prejudicar o ex-presidente. No fim, a poeira abaixou e sobrou para o brasileiro o que a grande imprensa sabe plantar com primazia: especulação, fofoca de corredor.

***

[Willian Casagrande é estudante de Jornalismo, Londrina, PR]]