Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

TVs americanas dão notícia errada e enganam até Obama

A corrida para dar a decisão da Suprema Corte sobre a reforma de saúde apresentada pelo presidente Barack Obama, uma das notícias mais importantes do ano para os americanos, levou duas grandes emissoras ao erro. Até o próprio Obama passou alguns minutos acreditando que tinha sofrido uma dura derrota política graças à “barriga”, jargão jornalístico que se refere a inverdades publicadas erroneamente. As redes de TV CNN e Fox News noticiaram, antes do fim da decisão, que o mandato individual, artigo que determinava que todos os cidadãos tivessem seguro de saúde, tinha sido declarado inconstitucional. Na verdade, ele teve sua constitucionalidade afirmada.

Obama, que acompanhava o julgamento pela CNN no Salão Oval da Casa Branca, ficou até calmo com a (falsa) notícia, segundo assessores. Alguns minutos depois, a conselheira da Casa Branca Kathy Ruemmler chegou fazendo o gesto de positivo com os dois polegares para cima. Ela já sabia da informação correta graças a um advogado do governo que estava na Suprema Corte e ao Scotusblog.com, mantido pela Suprema Corte e pela Bloomberg. Obama abraçou Kathy e, aliviado, pediu que um assessor o parabenizasse pela vitória.

A falha das TVs aconteceu porque a decisão estava empatada em 4 a 4 e o voto que decidiria era o do presidente da Suprema Corte, John Roberts. “O artigo da Lei de Reforma da Saúde que exige que certos indivíduos paguem multa por não obter seguro-saúde pode ser caracterizado como um imposto. Como a Constituição permite tal imposto, não é nosso papel proibi-lo ou aprová-lo”, afirmou Roberts, confundindo os mais apresados.

“A Fox reportou os fatos do jeito que eles vieram”

O erro das emissoras repercutiu amplamente na mídia e, claro, nas redes sociais dos Estados Unidos. A tela da CNN exibiu em seu rodapé que o mandato individual tinha sido derrubado e declarado inconstitucional pela Suprema Corte. O âncora Wolf Blitzer e a repórter Kate Bolduan estavam no ar e comentaram sobre como a decisão era um “golpe” para Obama.

E em tempos de imprensa multiplataforma, o erro não ficou restrito à TV: a informação foi replicada em todos os canais da emissora: no site, no Twitter, no aplicativo de celular. A CNN atribuiu o erro a um produtor que estava no tribunal. No Twitter, o post corrigindo a informação demorou 13 minutos para ir ao ar.

A Fox News, embora com o erro menos comentado nos EUA, também chegou a veicular que a lei tinha sido declarada inconstitucional, com Bill Hemmer no ar. O âncora Bret Baier chegou a tuitar a informação. Mas, então, a jornalista Megyn Kelly pediu para os produtores mudarem a frase na tela após ver as notícias que chegavam através do Scotusblog.com. “Damos à nossa audiência a notícia como aconteceu… A Fox reportou os fatos, do jeito que eles vieram”, afirmou Michael Clemente, vice-presidente executivo da Fox para jornalismo.

Obama com iPad exibindo o site da CNN

A CNN também foi obrigada a pedir desculpas. “Em sua fala, o presidente da Suprema Corte (John) Roberts inicialmente disse que o mandato individual não era um exercício válido do poder do Congresso sob a cláusula comercial. A CNN noticiou esse fato, mas então noticiou erroneamente que, portanto, a corte tinha derrubado o mandato como inconstitucional”, afirmou a rede em um comunicado.

“A CNN se arrepende por não ter esperado para noticiar a opinião completa sobre o mandato. Fizemos uma correção após poucos minutos e pedidos desculpas pelo erro”, conclui a nota.

Além do presidente, vários membros do Congresso foram “enganados” pela notícia. Buck McKeon, Dennis Ross, Bob Brady, Virginia Foxx e Tom Rooney, entre outros, chegaram a tuitar sobre a inconstitucionalidade do mandato individual, mas apagaram suas mensagens ao saber da verdade. O site Politwoops, que reúne, tuítes deletados pelos políticos americanos, registrou as gafes.

Não é a primeira vez que uma “barriga” jornalística causa furor nos Estados Unidos. Há 64 anos, o Chicago Tribune publicou em sua manchete que o governador de Nova York, Thomas E. Dewey, tinha vencido as eleições presidenciais, em vez de Harry S. Truman. Fazendo troça, Truman exibiu a edição, dizendo que o erro ia entrar para a História. Agora, em uma montagem que circula pela internet, Obama segura um iPad exibindo o site da CNN com a informação errada.

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[Ana Lucia Valinho, de O Globo]