Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A curintialização global

Um fenômeno se instalou no Brasil. O “Vai Curíntia” virou febre no país do futebol. Porém, esse “fenômeno” começou há alguns anos e não precisamente no jogo contra o Boca. E, longe de ser um anti-corintiano, como os seus torcedores proclamam os seres desprovidos da fé deles, fiquei feliz em ver os jogadores argentinos saírem cabisbaixos com a medalha de prata. Mas, se como torcedor, fiquei feliz com a conquista brasileira, como profissional de marketing ando meio preocupado com algumas coisas.

Desde que o time paulista subiu da Série B, ainda no governo do corintiano Lula, o futebol brasileiro foi invadido por ele. Com a queda de Dunga, a Rede Globo de Comunicação começou uma fortíssima campanha para “escalar” o novo técnico. Como Muricy Ramalho recusou, a segunda opção foi Mano Menezes, coincidentemente, técnico do Corinthians.

Vieram as obras da Copa do Mundo e o Morumbi, principal estádio de São Paulo a concorrer para sediar a abertura da Copa, começou a ser cortado da disputa. O governo paulista afirmou que não tinha como investir mais de 100 milhões na reforma e o time do São Paulo, dono do estádio, acabou tendo de retirar a sua candidatura para sediar o evento. Eis que surge a segunda opção. Adivinha: a criação do estádio do Corinthians. E o governo municipal, que não podia investir cerca de 100 milhões no Morumbi, vai colocar 420 milhões em incentivos fiscais no Fielzão. Além disso, mais 400 milhões serão emprestados pelo BNDES. Ou seja, mais dinheiro público. E ainda faltam 180 milhões que sabe Deus de onde sairão.

O maior do mundo até 2015

E qual o motivo de tudo isso? Simples, o São Paulo apoiou Fabio Koff para presidência do Clube dos 13 e o Corinthians ficou do lado de Ricardo Teixeira. Ou seria somente coincidência? Como prêmio pelo apoio a Teixeira, Andrés Sanches, então presidente do Corinthians, assume uma diretoria na CBF. Agora temos o técnico da Seleção brasileira e o diretor de seleções da CBF vindos do Timão, além, é claro, do estádio nos padrões Fifa para sediar a abertura. Curioso é que esse mesmo Andrés Sanches é acusado de ser “laranja” de Kia Joorabchian, numa parceria MSI/Corinthians que trouxe grandes jogadores e inúmeros problemas judiciais para o time paulista. Mas nada disso importa. Afinal, ele mesmo já afirmou: “Sou amigo do Ricardo Teixeira. Sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster.” Isso lembra o ditado: diga-me com quem andas e te direi quem és.

E a amizade com a Globo fica evidente. Nem quando o Internacional de Porto Alegre foi campeão mundial se viu tanta festa na emissora, como aconteceu na Libertadores do Timão. Do Globo Rural ao Programa do Jô, só se falava nisso. O jogo visto pelo Louro José, por todos os repórteres, a tristeza do Boca, as expressões de Tite, a torcida de Anderson Silva, a festa nas ruas de São Paulo, artistas corintianos, os batimentos cardíacos de um torcedor qualquer, a provocação de Sheik ao argentino… Só faltou mostrar o sentimento da bola ao entrar, pela segunda vez, nas redes argentinas. Enfim, um show de cobertura pra ninguém botar defeito e o Corinthians é o Brasil na Libertadores. É fantástico…

Na era do rádio, nas décadas de 1930, 40 e 50, só se transmitiam jogos do Campeonato Carioca para o Brasil. Afinal, as principais emissoras eram do Rio de Janeiro e a falta de recursos técnicos dificultava a transmissão de jogos fora da então capital do país. Por isso existem tantos flamenguistas e botafoguenses espalhados pelo país. Com o tempo, as rádios paulistanas passaram a transmitir seus jogos e com isso os times paulistas começaram a disputar torcedores com os times cariocas. De acordo com a pesquisa Lance!-Ibope, o time do Bahia assumiu a liderança das torcidas no seu estado em 2010, o Flamengo-RJ ocupa a segunda posição e o Vitória ainda figura na terceira posição, 5% atrás do time carioca. Um fenômeno comum em outros estados do Norte-Nordeste, mas que com o aprimoramento local dos meios de comunicação, vem aos poucos sendo alterado. Agora, a Globo entra na briga para “curintializar” o país. As próximas gerações que se preparem, pois o diretor da CBF Andrés Sanchez já afirmou: o Corinthians será o maior time do mundo até 2015. Alguém tem dúvidas?

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[Erick da Silva Cerqueira é publicitário e colunista da TipoRevista.com.br, Salvador, BA]