Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Imprensa e a Polícia Militar

Desde quando comecei na profissão, como repórter policial do Diário do Paraná, de Curitiba, me surpreendi com a relação promíscua entre a Polícia Militar e os jornalistas. Lá, os policiais nos chamavam carrapichos – um mato que só incomoda – e um coleguinha chegou a participar de uma surra em um preso, até hoje não sei com que propósito. A violência e criminalidade em Brasília aumentaram superlativamente e jornalistas tarimbados da área já cansaram de alertar contra a podridão geral do sistema carcerário sem que os jornais dessem continuidade ou o governo tomasse qualquer providência. Ao mesmo tempo, cresceu uma campanha geral e violenta, principalmente na rádio e TV, pela pena de morte e criminalização de menores. Agora, voltaram os esquadrões da morte dentro da polícia e desmandos de toda natureza da Polícia Militar em todo o país – o filósofo Vladimir Safatle ousou retomar a discussão da desmilitarização da PM apenas para apanhar mais do que tamborim de escola de samba. Pelo menos, na mesma Folha de S.Paulo, houve reportagem sobre os salários astronômicos dos coronéis da PM paulista, que já nos legaram entre outros o saudoso governador Fleury. O vespeiro é grande. Ninguém quer por a mão, como se vê nas explosões sem fim das PMs do Rio e da Bahia. E a grande imprensa, tão pugnaz contra a corrupção, não se dá conta dos milhares de mortes no país de um lado e de outro porque elas acontecem fora dos portões de suas ultraprotegidas redações (Zulcy Borges de Souza, jornalista, Itajubá, MG)

 

Jornalismo corporativo

O Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá e região está formando seus próprios jornalistas em cursos e seminários internos, seguindo orientação nacional do Comitê Nacional de Lutas (Comlutas) – braço sindical do Partido Socialista dos Trabalhadores Unidos – PSTU. Foi o que descobri ao apresentar uma proposta de assessoria de imprensa aos líderes locais. Quer dizer, o meritíssimo juiz Gilmar Mendes não só conseguiu acabar com o mercado de trabalho formal dos universitários de Comunicação Social, como implementou também uma imprensa proletária nunca imaginada, nem por Stalin. Para quem não se lembra, Gilmar comparou jornalistas a padeiros, cozinheiros, ou coisa que o valha – ao dizer, no palco do Supremo Tribunal Federal. que a profissão não precisa de diploma. Isto sobre aplausos gerais de nossa grande imprensa – incluindo abertura de William Waak no tele Jornal da Globo. O fim da exigência do diploma para o exercício de jornalismo no Brasil está simplesmente extinguindo sua formação profissional. E o próximo passo poderá ser a invasão das redações por empresários e políticos (Zulcy Borges de Souza, jornalista, Itajubá, MG)

 

Depois do primeiro dia da defesa do “mensalão”…

O que esse julgamento está provando de fato até agora é que as empresas de comunicação social – jornais, revistas, TVs etc. – têm um grande poder em mãos mas não o têm usado de forma a contribuir para a sociedade brasileira. As peças, as inúmeras reportagens do tipo “Leia aqui tudo o que você precisa saber sobre o mensalão”, acabam tendo o mesmo valor jurídico que a peça de acusação: omitindo-se um fato aqui, exagerando ali, distorcendo acolá, eis uma versão dos fatos que simplesmente não passa nem pelo mais frágil pedido de provas. Mas o que fazer nesse caso? Censura? Do meu ponto de vista, nem pensar. Cabe, sim, a nós, cidadãos comuns e que temos vontade de saber dos fatos e de participar da vida pública do nosso país, aprendermos que reportagem é uma coisa; justiça, outra. Como se já não bastassem episódios como o do dono de creche particular que, acusado de pedofilia por uma mãe e crucificado pela imprensa, teve sua escola depredada por populares para, no final das contas, ter sua inocência não só provada pela Justiça como reconhecida pela própria mãe que havia denunciado a escola. O Estado, se bem me lembro, ofereceu alguma compensação. Mas claro que a imprensa nem pensou em ressarcir a escola pelos danos, preferindo sair de fininho, “nem era com ela”. Irresponsavelmente. De qualquer forma, esse episódio do mensalão não terá sido em vão se pelo menos um de nós, leitores leigos em Direito e pessoas comuns, da próxima vez que recebermos algo vindo da mídia… ou melhor, da próxima vez em que, tendo ido à procura de notícia, seja por meio do que é escrito, falado ou apresentado num vídeo, ao depararmos com a “informação”, levemos em consideração que não é só porque está escrito que é verdade. E terá sido menos em vão ainda se depois a própria mídia se der ao trabalho de rever suas posturas. Apesar de serem empresas privadas, os meios de comunicação não precisam criar escândalos para vender. E não só não precisam como, assumindo antes sua vocação de informar do que sua vocação ao lucro e à fama, não devem. Pois se são empresas, são também um tipo muito especial de empresa, são empresas de comunicação social. Não é que vendem bugigangas ao lado de camelôs nas praças populares, vendem algo muito mais precioso e que demanda muito mais responsabilidade, a saber, a formação do nosso povo. Bem aproveitada a lição desse episódio, então saímos lucrando nós, aprendendo a criterizar, e a livre iniciativa de comunicação, mais responsável e criteriosa. (…) Reconstituindo o episódio todo, fico mesmo com a impressão de que Roberto Jeferson acabou explicando, hoje, o que realmente aconteceu: a questão dele era pessoal, contra o José Dirceu. Talvez por ter se dado mal na CPMI dos Correios, atacar um então poderoso Dirceu foi a saída para tentar manter-se no noticiário, pelo menos no marrom. E a mídia, irresponsável quanto a fatos e da mesma forma tentando a fama através do ataque ao poder, fomentou, criou o circo tão ao gosto popular no Coliseu romano, em priscas eras. Mas de lá pra cá, se nós, pessoas comuns, populares, já evoluímos e se já não mais nos satisfaz esse circo, muito mais podemos evoluir com a mídia se prestando à informação. Tomara. Por fim cito um dos advogados de defesa, não me lembro qual que citou Paulo Brossard. Apesar de Brossard ser contra um Estado religioso, preferindo assim um Estado laico, diz ele que crê que na parede do STF deve ser mantido o crucifixo que já está ali, não por motivos religiosos, e sim, para que os ministros se lembrem sempre do que pode decorrer de um julgamento mal feito e sem provas.(Renato Lazzari, analista de sistemas, São Paulo, SP)

 

Indignação

Há meses, sinto-me desconfortável, e acredito que outros brasileiros, em face de um aspecto que reputo importante nos noticiários de TV e na mídia impressa. Por que a mídia brasileira escrita e falada tem uma péssima mania, péssima mesmo, de pronunciar no diminutivo o nome de bandidos? Exemplo: Carlos Cachoeira, “Carlinhos” Cachoeira. Isto é repetido duzentas vezes ao dia em cada jornal que você lê ou ouve. Raras as mídias que pronunciam o nome desse bandido sem ser de forma “carinhosa”. O mesmo ocorre com “Fernandinho” Beira-Mar. Por que? Carlinhos, Fernandinho são nossos filhos, sobrinhos, pessoas honestas, que a gente ama, que protegemos, a quem queremos bem. É um absurdo que a mídia em sua quase totalidade assim se comporte. Chego a desligar a televisão ou fechar o jornal impresso ou o site quando leio tamanha aberração. Outro fato que gostaria de colocar é por que a mídia brasileira tem uma mania incrível de cobrar do Brasil, dos governos, que suas ações se assemelhem aos países desenvolvidos, quando ao mesmo tempo nos acham “tupiniquins”, atrasados, analfabetos etc.? Quantas vezes comparam nossos resultados e nos criticam quando em algum assunto ou aspecto chegamos ao patamar dos EUA, da França, da Alemanha etc.? Ao mesmo tempo, sabem que somos ainda “emergentes”. Todas as pesquisas quando saem na mídia, logo algum crítico, ou “entendido” no assunto diz, mas ao contrário: “Na Europa, por exemplo… Aqui no Brasil é…, mas nos Estados Unidos é assim…” Ora, se não somos a potência que os EUA são e nem somos uma Alemanha (apesar de que acho que somos bem melhores), como nos comparar a eles se ainda não somos uma grande potência? Acho essas comparações tão idiotas, tão contraditórias. Veja agora nas Olimpíadas. “O Brasil está muito atrasado, não dá incentivo ao esporte, daí que os resultados não são favoráveis etc…” Só que para uma China ter tantas medalhas de ouro, não investigaram nossos amados comentaristas, jornalistas, o que que a China faz com os seus atletas para que eles alcancem tantas vitórias. Realmente ou eles desconhecem, ou omitem a que são submetidas essas “máquinas” de ganhar ouros (Maria de Fátima Souza, empresária, Jaboatão dos Guararapes, PE)

 

O nível de informação dos jornalistas

Acompanhando a CPI da Ação Penal 470, vejo que muita desinformação orienta as acusações. Uma delas me fez lembrar a participação do presidente na Petrobras no Roda Viva. Assisti, chocada, a um verdadeiro festival de desatualização que agora se repete na CPI. Por mais que o presidente da Petrobras explicasse ser ela gerida por um colegiado, os jornalistas insistiam em atribuir atos a um ou outro membro isolado. Ignorando seus esclarecimentos, resistiam em aceitar os fatos. Resistiram a abrir-se à compreensão do complexo funcionamento de uma empresa atual desse porte, assim como hoje, na CPI, pela mesma ignorância, se insiste em responsabilizar alguém pela liberação de empréstimos, apesar dos esclarecimentos de que se trata de um órgão colegiado, cujas decisões exigem aprovação de muitas pessoas, em vários níveis. Não é tão difícil assim entender que essas grandes corporações, mormente as públicas, tenham administração complexa e compartilhada. Também é preciso maior respeito ao discernimento entre o que é público e privado, por parte dos que lidam com informação (Nilce Marcondes, microempresária, São Paulo, SP)

 

Jornalismo irresponsável

Gostaria que fosse lida a coluna “Marajá”, do pretenso “jornalista” Cacau Menezes, em seu blog. Cacau simplesmente publica informação remetida por leitor sem ao menos conferir a veracidade ou checar se a informação é mesmo o que está publicando, pois, no caso, distorce a verdade. O cidadão chamado de “marajá” no texto é funcionário que recebeu atrasados referentes a incorporações não pagas – por isso, o salário de 37 mil reais, neste mês. Mas, claro, Cacau não foi atrás disso e simplesmente divulgou o nome do cidadão, com a errônea informação de que o mesmo recebe vencimento líquido naquele valor, sem informar que este não é o vencimento e, portanto não é mensal. O vencimento é muito, mas muito abaixo disso. É uma pena que existam pessoas que sujem tanto por tão pouco o jornalismo no Brasil (Marco Vicente Dotto Kohler, servidor público estadual, Lauro Müller, SC)