Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quem se sentir caluniado, dane-se

A liberdade de imprensa acima da lei garante a blindagem do diretor da Veja em Brasília, Policarpo Jr, na CPMI do Cachoeira. A utilização de meios sórdidos fornecidos pelo contraventor para produzir capas e notas na revista contra os “inimigos” políticos que continuam no poder é vista como algo natural pela mídia dominante brasileira: a notícia não tem escrúpulos e quem se sentir caluniado, injuriado e difamado, dane-se.

É assim que Veja trata seu inimigo, o PT. Contra o partido e o seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, nenhuma justiça seja feita. Ainda mais depois que caiu no colo o escândalo do mensalão, resultante de uma matéria que revelou um barnabé do PTB recebendo propina de R$ 3 mil nos Correios. O apoio da arapongagem de Cachoeira estava positivo e operante. Acuado e empurrado para fora do governo Lula, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) descortinou o mensalão petista, que estaria comprando voto adoidado de deputados da base aliada.

Uma mancha indelével do PT, por mais que explique que aquilo era caixa 2 para pagar dívidas futuras e pretéritas de campanha de candidatos petistas e de todos os aliados “conservadores” que ajudaram Lula a se eleger em 2002. Um publicitário de nome Marcos Valério, que já havia “trabalhado” para o PSDB em Minas Gerais, mostrou o caminho das pedras: empréstimos facilitados no Banco Rural e desvios dissimulados no Banco Brasil por meio da bandeira de cartão de crédito Visanet.

A “palavra” de Veja contra o desmentido de Valério

Todo mundo foi pego e agora está sendo condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Lula escapou da denúncia e Veja nunca se conformou, principalmente porque o escândalo não foi suficiente para evitar a reeleição em 2006. O chefe não é José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil. O chefe era ele mesmo, dando as ordens lá do Palácio do Planalto. E a grana roubada foi muito mais do que setenta e poucos milhões; foi R$ 350 milhões. É o que diz a revista, de volta ao domínio da situação político-jornalística do país.

O STF favorece o suposto desabafo do condenado Marcos Valério a amigos e parentes. Veja teria encontrado essas fontes de baixo nível de credibilidade e saiu com a capa vermelha “Os segredos de Valério”. Seria depoimento do publicitário: “Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, Delúbio e o Zé não falamos.” Os jornalões Folha, Estadão e O Globo repercutem. Comentaristas políticos analisam o “fato novo” do mensalão. Nas redes sociais, tiroteio entre petistas e tucanos. Veja fermenta a campanha de José Serra a prefeito de São Paulo, que já cobrou investigações: “Agora há mais elementos, elementos que já se anunciavam, elementos novos que devem, sim, ser investigados.” Lula passou o fim de semana na Bahia subindo no palanque de candidatos do PT.

Junto a tudo isso, o advogado do publicitário, Marcelo Leonardo, afirma que o cliente “nega por completo todo o conteúdo da matéria”. É a “palavra” de Veja contra o desmentido de Marcos Valério. A revista está refeita a todo vapor do “escândalo Demóstenes Torres-Policarpo Jr-Carlinhos Cachoeira”.

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[Mauro Sampaio é jornalista, Brasília, DF]