Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comentário racista faz sucesso

Na edição de 24/10/2012, no encerramento do Jornal da Band, o jornalista Boris Casoy expressou um comentário racista e preconceituoso sobre os japoneses.

Boris Casoy:

“(…) Leiloar a virgindade na internet. O leilão, que faz parte de um programa de TV australiano, começou no mês passado e terminou hoje. O vencedor da disputa para tirar a virgindade de Catarina Migliorini foi um japonês. A primeira vez da estudante brasileira de vinte anos será durante um voo entre a Austrália e os Estados Unidos, no dia 3 de novembro. Sorte dessa moça, um japonês. E o Jornal da Band termina aqui.”

Patrícia Maldonado:

“[risos] Outras notícias logo mais no Jornal da Noite

[Aqui, o link para o vídeo.]

Por que racista? Racista porque faz menção e reforça estereótipos e preconceitos sobre a sexualidade dos japoneses e dos nikkeis, recorrentes no Brasil nas piadas, nos filmes e nos programas humorísticos da televisão. O historiador Jeffrey Lesser (2008), por exemplo, identificou a recorrência de estereótipos relacionados à sexualidade dos nikkeis (nipo-brasileiros) em filmes brasileiros dos anos 1960 e 1970: os homens nikkeis eram mostrados como assexuados ou com falta de masculinidade e as mulheres, como dotadas de uma sexualidade exótica e subserviente (a gueixa). Piadas relacionadas ao tamanho do pênis do japonês (entenda-se nipo-brasileiro) proliferam na internet e nos programas humorísticos da TV.

Há precedentes

O que choca é ouvir esse tipo de comentário da boca de um apresentador/comentarista de um telejornal de uma emissora aberta de televisão (e o riso cúmplice da colega jornalista). Algumas horas mais tarde, na versão online do jornal Meia Hora de Notícias, um post com o título de “Japa vai tirar selinho – Galera não vai parar de zuar o cara” noticiava o sucesso do comentário de Boris Casoy entre os internautas: “O comentário do jornalista Boris Casoy, durante o Jornal da Band, após dar a notícia, fez sucesso entre os internautas, que não pouparam o japa, e foi comentado nas redes sociais. ‘Sorte dessa moça. Um japonês’, disse o apresentador, no fim do programa. Sua companheira de bancada, Patrícia Maldonado, não aguentou e caiu na gargalhada” [ver aqui].

Ironicamente, meses atrás, em 18/6/2012, por ocasião do Dia da Imigração Japonesa no Brasil, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, o Bunkyo, homenageou o jornalista Boris Casoy, “em referência ao seu papel de incentivo às atividades esportivas da comunidade nipo-brasileira, que iniciou sua vida profissional em 1956 trabalhando como narrador esportivo de beisebol” [ver aqui]. Não é a primeira vez que este jornalista deixa escapar um comentário discriminatório e preconceituoso. O caso anterior envolveu um comentário ridicularizando os garis que ele fez em off, vazou e pegou tão mal que ele teve que se retratar em menos de 24 horas.

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[Alexandre Kishimoto é antropólogo]