Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Centenária, ABI enfrenta crise política

No momento em que completa 105 anos de fundação, data que coincide com o Dia do Jornalista (comemorado no domingo, 7/4), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entidade com três mil associados, atravessa um momento de séria crise política e financeira. Está marcada para o próximo dia 26 a eleição para presidência, diretoria e conselhos da instituição, que pode ser anulada pela Justiça. Isso porque, o atual presidente da ABI, Maurício Azêdo, que encabeça chapa para um novo mandato de três anos, está em guerra com a chapa de oposição, liderada pelo jornalista Domingos Meirelles, atual diretor financeiro da entidade e rompido com Azêdo (que está na terceira gestão).

A oposição acusa o presidente de manobras irregulares para impedir o registro da chapa adversária, batizada de “Vladimir Herzog”. Azêdo, por sua vez, diz que alguns membros da chapa estão inadimplentes (o que impede o registro), além do fato de que outros integrantes não são filiados à ABI. Paulo Jerônimo, o Pajê, que integra a oposição, denuncia que Azêdo deu férias ao tesoureiro para não permitir que os associados quitassem os valores em atraso. Mas, em contrapartida, o presidente da ABI, ainda de acordo com a oposição, teria concedido anistia de mensalidades em atraso para alguns membros da chapa da situação (batizada de Prudente de Morais Neto) e pago do próprio bolso uma parte dos valores atrasados. Os opositores entraram na Justiça pleiteando a anulação das eleições.

– É uma total falta de ética. Por meio de manobras, o presidente impede que as pessoas quitem os valores em atraso. Disse que receberiam os boletos em casa para que pagassem no banco. Claro, os boletos não chegaram. Portanto, só nos resta pedir a anulação – diz Pajê.

Dívidas ocultas

Azêdo nega e contra-ataca:

– Não há o que discutir. O estatuto da ABI não permite o registro de uma chapa com membros inadimplentes. Eles recorrem à Justiça para violar o estatuto. Querem entrar arrombando as portas da ABI.

A chapa adversária, que inclui três atuais diretores da entidade, denuncia que, por motivos de saúde, Azedo vem repassando informalmente à mulher, Maria Ilka, que não é jornalista, tarefas administrativas e financeiras da entidade. Além disso, um laudo elaborado ano passado sobre as condições estruturais do prédio da ABI, de 13 andares, apontam graves problemas, incluindo os sistemas hidráulico e elétrico e de elevadores, o que comprovaria a má administração. Do outro lado do front, Azêdo se diz magoado e traído por Meirelles, a quem chama de vaidoso. Meirelles não quis comentar as críticas “em nome da grande amizade” que já existiu entre os dois.

Em meio a artilharia de farpas está a grave crise financeira da ABI, que culminou com a penhora de duas lojas e dos 2º, 11º e 13º andares do prédio, no Centro do Rio. Tudo por conta de uma dívida de R$ 3,238 milhões de contribuição previdenciária, pois, em 2003, a ABI perdeu o status de entidade de assistência social, o que garantia a isenção do tributo. Azêdo garante que os advogados da ABI conseguiram provar que os valores estão incorretos e baixaram a dívida para R$ 1,606 milhão. Segundo ele, os bens penhorados estão muito acima do valor da dívida. A oposição diz que há outras dívidas ocultadas pelo presidente. Ele nega.

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Laura Antunes, do Globo