Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Há motivo para uma corrida antecipada?

A imprensa brasileira noticia amplamente o descontentamento de Marina Silva e Aécio Neves com a presidente Dilma Rousseff quanto à postura da mesma em relação à criação de novos partidos políticos. Marina lidera no momento um movimento nacional, suprapartidário, contra o projeto que limita o tempo na TV e repasse de verba, originada do fundo partidário, para novos partidos. Segundo noticiou O Globo, “a ex-senadora Marina Silva intensificou os ataques à presidente Dilma Rousseff e à operação que, declarou, claramente está sendo articulada pelo Palácio do Planalto para sufocar a criação de seu partido, o Rede Sustentabilidade”.

O mesmo jornal cita reunião, realizada dia 23/04, no gabinete do senador Pedro Simon (PMDB-RS), da qual participaram lideranças do PSB, PSDB, PDT, PSOL e o pré-candidato tucano Aécio Neves (MG). No encontro disseram que o movimento vai reagir ao que chamaram de “pacote de Abril moderno”, comparando com o Pacote de Abril de 1977. O jornal carioca também diz que Marina “não entende o medo de Dilma e essa articulação para sufocar a criação de outros partidos. Por que esse medo? Ela não precisa disso! Tem todos os partidos grandes ao seu lado, uma popularidade alta, 39 ministérios, o Bolsa Família, o PAC, o Renan, o Sarney. Por que o medo de 35 segundos de um partido recém-criado na TV? Mas talvez eles saibam de alguma coisa que não sabemos. Vou repetir uma frase do Victor Hugo: nada mais potente do que uma ideia cujo tempo chegou. Se tentam represá-la, vira pororoca”.

Nota-se claramente que a campanha ao Palácio do Planalto começou de maneira precoce, mais de um ano antes do pleito. Já existe até uma pesquisa de intenção de voto, do Ibope, na qual a atual presidente lidera com larga vantagem sobre os demais pré-candidatos.

Trem da alegria

Não posso deixar de concordar com a movimentação iniciada no Senado para brecar a máquina do governo. Dilma já transforma inauguração de obras e discursos em comícios e, sendo conhecida das massas, se aproveita da popularidade que o cargo lhe confere. Queimar a largada parece ser estratégia da candidata à reeleição para manter, e fazer crescer, sua popularidade junto ao eleitorado. Entretanto, vejo aí campanha antecipada. O Planalto está claramente preocupado com a movimentação de Marina Silva.

Enquanto o resultado do julgamento do “mensalão”, no STF, se encaminha para pizza servida quente no balcão, a Região Nordeste enfrenta novamente a seca, Renan Calheiros volta ao Senado com carga total, a inflação ameaça a economia e acaba na geladeira o trem da alegria para posse do papa Francisco, Dilma tira o foco da imprensa sobre as questões que podem lhe ferir a popularidade e começa sua campanha à reeleição.

O ex-presidente Lula, que agora será colunista mensal do jornal norte-americano New York Times, condenou o também ex-presidente FHC por viver viajando e agradece ao Grupo Odebrecht por financiar suas viagens ao exterior. O trem da alegria só cresce enquanto o país vê a corrupção acelerando e graves problemas deixados em segundo plano.

Quatro dedos por trás do cenário

Penso ser uma afronta ao eleitor, que em sua grande maioria é deveras mal informado, haver uma série de problemas no país e tudo ser varrido para baixo do tapete por uma corrida presidencial precoce, por uma Copa Mundial de futebol que vai acontecer antes das eleições de 2014, e a imprensa dando tanta ênfase à pré-candidatura de Dilma bem como ao descontentamento de Marina, Aécio e demais pré-candidatos.

Marina e Aécio estão cobertos de razão em questionar o uso da máquina pública contra a criação de novos partidos e atentar a população ao chamado “pacote de Abril moderno”. Também creio que Marina Silva acerta em cheio quando diz que o governo federal está com medo, mesmo tendo grandes partidos políticos ao seu lado e uma pesquisa que mostra Dilma com larga vantagem em relação a seus concorrentes.

Olhando para o cenário apresentado e analisando a manobra apressada, não vejo um, mas sim quatro dedos manipulando as marionetes por trás do cenário. Se o ditado popular diz quando desconfiamos de alguma coisa que “há coelho nesse mato”, desconfio que por trás do matagal planaltino há um homem que diz que “nunca sabe de nada e nunca viu nada”.

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Ronald Sanson Stresser Junior é arquiteto da informação, Curitiba, PR