Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Educação e o olhar sobre o Brasil

Minha professora pediu para ir. Ela, que ensina sobre Políticas Públicas Educacionais, disse que nós tínhamos que ir para tentar enxergar aquilo que não se vê. Fui e tentei ver mais sobre um tempo que tanto contribuiu para aquilo que hoje sou, aos 41 anos de idade. Gostei do que objetivamente vi, mas não gostei do que conclui. Por isso compartilho com vocês minha opinião.

O Brasil da década de 1970 viveu momentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que o cotidiano brasileiro foi impregnado pelos olhares sisudos e vigilantes do poder militar, os sentimentos de patriotismo foram exacerbados pelo frenesi da conquista dos atletas do tricampeonato do nosso futebol-arte, heróis coroados pelo povo e convenientes garotos-propaganda para a consolidação subliminar de uma hegemonia política ditatorial.

O mundo estava dividido em duas partes não tão iguais, mas ideologicamente poderosas e preconcebidas pelo olhar da contraposição. Aqui, na nação verde-amarela, éramos ’90 milhões em ação’ e também muitos milhares vivendo sob as condições de um regime subjugador que nos impunha o desânimo, o medo e a repressão. Isso, quando não éramos milhões quase sem reação, tentando subsistir à miséria e à opressão social.

Vitória da censura

Dentre tantos fatos ocorridos no mundo nas manchetes selecionadas para a exposição comemorativa dos 80 anos do jornal O Globo, se destacam as genialidades do nosso personagem Pelé e as alegrias do tão comemorado tricampeonato; as vitórias de Emerson Fittipaldi, prelúdio da futura paixão esportiva de muitos brasileiros; os conflitos e as imagens da guerra do Vietnã, com suas novas bombas de destruição em massa; a inauguração da apoteótica ponte Rio-Niterói; a entrada triunfal da primeira mulher, Rachel de Queiroz, no reduto conservador da Academia Brasileira de Letras – além, é claro, do nascimento de um novo mito nacional, o metalúrgico Lula, que liderou uma histórica greve no ABC paulista, sinal dos novos ares políticos que sopravam no final da década.

Contudo, pouco se vê (ou melhor, nada se vê) sobre um dos pilares de uma sociedade moderna: a educação. Não há destaque para ela. Ficou reprimida também como a própria imprensa e atitude da época. Muito embora naqueles anos se estivesse vivenciando no campo educacional a implementação da reforma universitária de 1968, que resultou numa estrutura mais engessada e menos autônoma dos produtores do conhecimento intelectual – e se discutindo sobre a reformulação do novo modelo para a educação primária e média, base da formação acadêmica do indivíduo – fica a impressão de que também neste quesito venceu a censura; e que, como a própria memória e história nos lembra, não tinha a menor intenção de promover a crítica e o despertar da consciência nacional.

Viva os 80 anos do jornal O Globo!

Viva o Brasil que ainda pouco se vê nas páginas e na memória da imprensa brasileira!

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Professora, graduada em Comunicação Social pela FACHA, especialista em Marketing pela ESPM e mestranda em Educação pela UCP