Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Emissoras de TV faturam apesar da crise

Os números do faturamento das emissoras de televisão com publicidade, divulgados nesta semana por colunistas especializados, vão na contramão do noticiário intenso e às vezes dramático sobre a crise financeira internacional. Surpreendentemente, para quem leva muito a sério o noticiário da crise, as emissoras brasileiras fecham as contas de janeiro com receitas até 30% superiores às do mesmo mês do ano passado.


A liderança continua, de longe, com a Rede Globo, que chega a faturar cinco vezes mais do que a Record com todas as suas afiliadas.


Nem todos os balanços estão finalizados, mas os levantamentos preliminares indicam que, apesar de o último trimestre de 2008 ter sido dominado pelo noticiário sobre a crise e pelo pessimismo, todas as emissoras apresentaram ganhos expressivos no ano passado.


O SBT, que vem perdendo espaço nos últimos anos, celebrou um crescimento de 14%, com fartura de anúncios do setor automobilístico e do varejo em 2008, comparado a 2007. Somente na emissora principal, o grupo Silvio Santos arrecadou 700 milhões de reais em publicidade.


A Rede Record, que vem ganhando destaque na competição por audiência, vai registrar um faturamento de quase R$ 1,8 bilhão. Ja a Rede Globo, com cinco emissoras próprias, vai comemorar um faturamento total de R$ 9,5 bilhões.


Champanhe na geladeira


Para se ter uma idéia da pujança do setor no Brasil, toda a indústria jornalística dos Estados Unidos representa um faturamento anual de 55 bilhões de dólares.


O futuro da televisão é considerado sob risco em todo o mundo por causa do crescimento das mídias digitais que nascem da convergência da internet com os aparelhos móveis de comunicação. Além disso, muitos estudiosos do tema consideram insustentável o modelo de negócio da televisão, que produz altos custos e mobiliza grandes somas, o que restringe o universo de anunciantes a grandes empresas e ao setor público.


Alguns analistas comerciais da mídia vinculam o surpreendente desempenho do setor de televisão no Brasil ao crescimento da chamada nova classe média, surgida dos programas sociais e da estabilidade econômica dos últimos anos. Mas, apesar de manterem o noticiário pessimista, os responsáveis pelas emissoras já colocam o champanhe para esfriar.


***


Consumidores ajuizados


Nas edições de sexta-feira (13/2), os jornais parecem exorcizar as bruxas e apontam alguns sinais de que a crise econômica – cujo tamanho ninguém sabe medir – está produzindo, afinal, alguns resultados positivos no Brasil. A notícia que melhor representa esse sortilégio dá conta de que, ao contrário do que esperavam os especialistas e adivinhadores consultados pela imprensa, a inadimplência não aumentou.


Dois levantamentos, um feito pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo e outro pela empresa irlandesa Serasa Experian revelam que os paulistanos não apenas estão reduzindo o endividamento como apresentam uma taxa menor de inadimplência.


Outra notícia revela que uma grande e variada quantidade de empresas brasileiras está atuando na contramão da crise, aumentando investimentos e lançando novos produtos. Podem ser alinhados nesse movimento fabricantes de refrigerantes e refrescos, confecções, determinados equipamentos, o setor de extração de petróleo e até mesmo a indústria automobilística.


Nada mau, para um mês que costuma ser apagado das estatísticas econômicas, por causa do carnaval.


Boas notícias


Em janeiro, segundo a Fecomércio, 45% dos habitantes de São Paulo tinham alguma dívida. Em fevereiro, esse índice caiu para 38%. Outro elemento interessante é que apenas 28% dos consumidores com rendimento de até três salários mínimos declaram alguma dívida, o que revela que, na faixa de renda mais ampla, beneficiada pela política econômica dos últimos anos, o comportamento diante da questão financeira se revela mais responsável.


Por outro lado, o levantamento sobre indicadores de inadimplência revela que muitos cidadãos aproveitaram o 13º salário para acertar dívidas entre dezembro e janeiro. Na maior parte dos casos, os cidadãos têm dificuldades com os bancos, cartões de crédito e financeiras. O estudo mostra que muitos paulistanos deixaram de recorrer a essas fontes perigosas de financiamento.


Nada como uma crise para ensinar o consumidor a ter mais juízo. Nada mau em termos de boas notícias, para um dia – sexta-feira, 13 – considerado de mau agouro pelos mais crédulos.