Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Empréstimos secretos nos EUA

Na segunda-feira (28/11), a imprensa noticiou um fato realmente assustador. Durante a crise, o Fed (Banco Central dos EUA) fez empréstimos secretos bilionários aos maiores bancos norte-americanos (ver aqui).

O culto ao “segredo de Estado” era uma característica marcante e distintiva dos três grandes totalitarismos estudados por Hannah Arendt. Só agora ficamos sabendo que a autointitulada “democracia ocidental”, “a cidade iluminada na montanha”, “o líder do mundo livre”, o “pináculo da civilização” também o pratica e à larga. Portanto, no futuro teremos que acrescentar ao nazismo, ao fascismo e ao comunismo um quarto tipo de totalitarismo, o “americanismo”. Este último “ismo” é sem dúvida bem mais perigoso do que os três totalitarismos estudados por Hannah Arendt. Primeiro porque ainda está vivo (nazismo e fascismo foram destruídos ao fim da II Guerra Mundial e o comunismo morreu de esclerose durante e depois da Queda do Muro de Berlim). E, ao contrário dos três totalitarismos tradicionais, o “americanismo” tem um alcance global.

O apetite dos EUA para incluir cultural e militarmente extensas regiões do globo (e no limite o globo todo) ao american way of life é realmente assustador. Em guerra no Iraque e no Afeganistão, os norte-americanos ainda encontram fôlego para ameaçar o Irã, a Rússia, a China e a Coreia do Norte. Os totalitarismos tradicionais eram racistas, auto-referentes e excludentes. O “americanismo” não chega a ser racismo, mas certamente é auto-referente e excludente.

Quem vai civilizar o novo totalitarismo?

Ao advogar o fim da história, os norte-americanos se recusam a admitir que cometeram erros no passado e que têm que suportar as consequências destes no presente e no futuro. Este é, por exemplo, o caso do Irã. Não é segredo para ninguém que os norte-americanos são odiados pelos iranianos porque derrubaram Mossadegh e apoiaram o regime tirânico de Reza Pahlavi. Mesmo assim, a maioria dos norte-americanos insiste na tese de que os iranianos é que são os bad guys, como se Mossadegh tivesse fomentado e financiado um golpe de Estado nos EUA no passado.

O poder militar e de projeção bélica dos EUA é hoje muitas vezes maior do que jamais foi o da Itália fascista e da Alemanha nazista. Quando a URSS desmanchou, a Casa Branca já tinha vencido a corrida armamentista com o Kremlin há quase uma década. Quem vai civilizar ou moderar o poder deste novo totalitarismo global? Esta, meus caros, é a verdadeira questão.

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[Fábio de Oliveira Ribeiro é advogado, Osasco, SP]