Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Enchentes e políticos

As cenas se repetem: em 8 de setembro, uma terça-feira, portanto, deu-se uma das maiores enchentes na cidade de São Paulo, com deslizamentos de terra e, com isso, mais mortes. Na ocasião, o prefeito culpou a ex-prefeita Marta Suplicy, na maior cara-de-pau. Já o governador preferiu pôr a culpa na natureza, que nem o blackout que assolou parte do Brasil foi obra dos fenômenos naturais. Acontece que, depende de quem ponha a culpa na natureza, tudo bem, ninguém discorda.


Agora, em nova enchente, de novo numa terça-feira, 8, o prefeito responsabilizou as chuvas. O que me entristece é lembrar quando as enchentes ocorriam no governo Marta [Suplicy] e a população, levada pela intriga de parte da mídia, criticava a prefeita, que de pronto partia para os locais onde ocorriam tragédias e inundações. Ela não fugia da raia, digamos assim.


Hoje mesmo, ouvi no rádio uma autoridade do governo, um sub-prefeito ou alguém da Defesa Civil, não sei quem exatamente, dizer tranquilamente que o que está acontecendo na cidade é uma coisa corriqueira, que ‘acontece’. Acontece, sim. Porém, volto a repetir: quando se trata de governo petista, não é coisa ‘normal’ e, sim, incompetência administrativa.


A população, em ocasiões como essas, deveria colaborar e fazer sua parte: evitar circular em seus veículos de passeio e usar o transporte público. Além, claro, de mostrar civilidade e não usar a rua para lixo, muito menos os rios. A natureza está devolvendo ao ser humano os estragos e o descaso com o meio ambiente. As águas dos rios e das chuvas invadem as pistas, como se fosse uma vingança, dando o troco. Nesses momentos, não tenho dó do ser humano, que nunca aprende lição nenhuma, não pára para uma reflexão. Vai continuar levando cacetada, portanto.


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Quando a Erundina era prefeita de São Paulo, a mídia creditava as inundações à Prefeitura. Naquela época, se bem me lembro, a Prefeita passou a ser chamada de ‘inundina’ por alguns jornalistas. Agora que o prefeito é ‘outro’ e as inundações continuam a ocorrer, a mídia não só não culpa a Prefeitura como aceita a desculpa esfarrapada dada pelo Kassab de que a inundação é culpada pelas tragédias.Mas não foi só o Kassab que fugiu da chuva. O Serra também fez isto. O estado de São Paulo e sua capital sempre têm bilhões para construir pontes, viadutos, avenidas, rodoanéis e túneis para atender às necessidades viárias e empresariais das classes A e B, mas nunca têm alguns tostões para conter as encostas onde vivem as classes C, D e E. O desmoronamento de encostas não é previsível?


Fica parecendo que o problema urbano é estético. Afinal, as obras para conter encostas não irão servir de cenário de fundo para o Bom Dia São Paulo como aquela vistosa ponte construída sobre o Rio Pinheiros. Os jornalistas, especialmente os de TV, parecem não se importar muito com o que ocorre nos bairros pobres, porque os bairros deles estão sempre bem distantes dos alagamentos.


Hoje pela manhã, ao referir-se às famílias que ainda estão nas áreas em que há risco de desbarrancamento em Sampa, a ancora do Bom dia São Paulo afirmou que ‘…elas dizem que não têm para onde ir…’. Curiosa modulação. Fica parecendo que os favelados escolheram morar em areas de risco e só não mudam para os casarões do Morumbi porque não querem. Além disto, até as garrafas PET que boiam no Tietê sabem que a grande maioria dos favelados emigrou do interior ou de regiões ainda mais pobres e não tem parentes em Sampa. O próprio Bom Dia Brasil entrevistou uma vítima que disse que pretendia voltar para o Paraná porque havia perdido tudo.


Curiosa a administração pública paulista e paulistana, não? Mais curioso é o jornalismo tupiniquim, que culpa a natureza ou as pessoas em situação de risco justamente porque não quer correr o risco de arranhar os egos de alguns prefeitos e governadores. (Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado, Osasco, SP)


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Ontem fiquei decepcionado ao assistir ao programa Roda Viva, cujo entrevistado era o ministro das Telecomunicações, dr. Hélio Costa, e não ver entre os debatedores os apresentadores dos programas transmitidos pela TV Brasil, Alberto Dines do Observatório da Imprensa e Lalo Leal do VER TV. Já que estariam no contexto dos temas sabatinados ao ministro, como TV digital, cassação de concessões, emissoras que sublocam a grade de programação, entre outros. Isso enriqueceria o debate, que no meu entender foi frívolo e direcionado para os interesses da pasta. (Ricardo Novaes)


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No último dia 10, o jornal Valor Econômico publicou uma notícia que dizia que o presidente Lula cobraria o presidente da Embraer ‘Mauricio Botelho’ sobre as mais de quatro mil demissões em fevereiro. O atual presidente da Embraer é o sr. Frederico Curado. (Luana Paiva, São José dos Campos, SP)


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Em sessão extraordinária, a Câmara de Vereadores de São Caetano do Sul aprovou uma lei do prefeito José Auriccho Jr. que cria ‘regras’ para existência e circulação de mídia impressa na cidade. Ainda não tenho o artigo complete, pois ainda não teve diário oficial da sessão e nenhum jornal publicou o assunto, sequer o comentou. Peço atenção dos senhores a respeito. (Denise Christino, artistam São Caetano do Sul, SP)


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Se me permitem, gostaria de dividir com todos o dissabor de assistir a um vídeo veiculado no sítio ‘Lancenet’, do ‘Grupo Lance!’, sob o título: ‘Hitler indignado com o hexa do Flamengo‘. http://www.lancenet.com.br/multimidia/?vid=ce3ad4a7-bb68-4e61-87fa-ac9ed01f7a6f O vídeo inventa uma legenda para cenas do filme ‘A queda’, a qual extrapola a boa educação e o bom senso, com palavrões e xingamentos desnecessários. A montagem é mais uma tentativa de mau gosto do diário em reforçar o ‘pseudo hexacampeonato’ do Clube de Regatas Flamengo, já que, oficialmente (é o que prega CBF, FIFA e Justiça Comum), o título do Campeonato Brasileiro de 1987 é pertencente ao Sport Club do Recife. Tal vídeo, na minha concepção, é uma afronta ao bom jornalismo. (João Carrasco, estudante, Londrina, PR)


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Pelo que leio semanalmente neste Observatório, fico pensando até quando os colunistas vão ficar nessa briga de Lula x Imprensa. Vocês não acham que está faltando mais análises, ensaios, resenhas? Porque o que eu vejo ou leio não são pessoas analisando os fatos e suas consequências, e sim uma briga infantil, para saber se Lula é santo ou político, se FHC é liberal ou sem importância. Enfim, o foco dos artigos não teria que ser mais estudado e mais profundo, para que nós, aqui do outro lado, pudessemos ler e chegar a conclusões próprias? Alguns articulistas lembram muito torcedores rivais, um pior do que o outro. Analisar a imprensa é isso? Analisar um país é isso? Analisar a política é isso? Analisar é isso? Estão faltando pessoas no mercado de intelectuais, pessoas com outras ou novas visões sobre os temas? Por que, no Brasil, tudo tem que se nivelar por baixo? (Aecio Castro, professor, São Paulo, SP)


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Causa-me perplexidade a foto da ida do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, na festa dos 40 anos do escritório do ‘superadvogado’ Sergio Bermudes. Se fosse uma festa íntima de família, compadres, tudo bem, mas dos 40 anos do escritório? Ética não possui limites, ou é ou não é. E aí vamos nos acostumando…. (José Hilário Guatimozim Vidigal, administrador, Belo Horizonte, MG)

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São Paulo, SP