A coluna de domingo [16/12/07] do ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, teve como tema a revista de moda do diário, a T. A publicação vai na contramão da crise mundial da indústria jornalística, que registra lucros estagnados e demissões, revelando-se um grande sucesso. Ela é publicada 15 vezes ao ano e a edição mais recente apresentou entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões em lucros publicitários. Segundo o analista de mídia Edward Atorino, T é uma ‘idéia brilhante’.
A revista tem padrões editoriais diferentes do restante do jornal, situando-se em uma linha tênue entre assuntos editoriais e publicidade, que não é comum a outras seções do diário. O tema central é a indústria da moda, com foco nas novidades do setor. O leitor não irá encontrar reportagens sobre anorexia, por exemplo.
Polêmica
Na última edição do ano, distribuída no dia 2/12, uma seção trouxe fotos consideradas de mau gosto por muitos leitores. Uma das fotografias, de autoria de Paolo Roversi, mostrava a modelo de 17 anos Ali Michael posando seminua com um casaco de tafetá azul de John Galliano, no valor de US$ 3.890, enrolado na cintura. Na imagem, a modelo está de costas para o fotógrafo, e não é fácil perceber que sua vestimenta é um casaco. Em outra foto, Ali aparece de perfil, com os seios nus, fora de foco. Muitos leitores consideraram que as fotografias constituíam pornografia infantil.
Jim Schachter, responsável pela T, conta que a mãe da modelo estava presente na sessão de fotos em Paris. Procurada pelo ombudsman, a mãe afirmou ter considerado as imagens de muito bom gosto e disse que Ali ficou muito confortável ao fazê-las. Cada um pode apresentar um ponto de vista diferente – como o pai da modelo, que não viu com bons olhos as imagens da filha seminua.
Para Hoyt, o que conta não é o mérito artístico das fotos, mas sim se é apropriado para um jornal como o NYTimes mostrar uma adolescente seminua, ao estilo ‘Lolita’. Schachter diz não ver problemas nas imagens. ‘A T é uma revista bonita e atraente, que não é ofensiva, porém provocativa – e isto gera polêmica’, defende.
Ousadia
O ombudsman conferiu as edições de dezembro das revistas Elle, W e Vogue e não encontrou um ensaio tão ousado. Ele lembra que a T é entregue junto com a edição dominical do NYTimes em milhões de lares, com os leitores não tendo escolha se querem recebê-la ou não. ‘O mundo da moda é cheio de controvérsias e polêmicas. Mas isto não significa que o NYTimes tem que ser assim’, conclui Hoyt.
O editor-executivo Bill Keller diz que aprovou a edição da T antes de sua publicação, mas não lembra de ninguém ter mencionado ou lhe mostrado as fotos em questão. Ainda assim, ele não acha que elas sejam inapropriadas para uma revista de moda publicada pelo NYTimes. Já Craig Whitney, editor encarregado de manter os padrões de qualidade do diário, alega que, se tivesse visto as imagens, teria pedido que elas não fossem publicadas.