Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Fiéis da Universal entopem jornais com processos

Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


RELIGIÃO
Maurício Simionato


D. Cláudio ataca atuação de neopentecostais


‘O prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, cardeal dom Cláudio Hummes, 73, disse em discurso ontem no 12º Encontro Nacional de Presbíteros (padres), em Indaiatuba (SP), que um dos problemas mais graves que desafiam a Igreja Católica no país é o ‘ativismo proselitista das seitas neopentecostais’.


Segundo o cardeal, essas igrejas ‘são agressivamente anticatólicas’. No discurso, feito para cerca de 400 padres de todo o país, o cardeal disse que as ‘chamadas seitas protestantes de perfil neopentecostal crescem extraordinariamente’.


‘Elas são ativistas e proselitistas ao extremo e, por vezes, declaradamente anticatólicas’, disse o cardeal, também arcebispo emérito de São Paulo.


Na missa de abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida (SP), no ano passado, o papa Bento 16 afirmou que ‘a Igreja [Católica] não faz proselitismo’.


Uma das maiores neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus, foi procurada ontem via assessoria de imprensa para comentar as declarações de dom Cláudio, mas até a conclusão desta edição não havia se manifestado.


D. Cláudio foi nomeado em 2006 por Bento 16 para comandar a Congregação para o Clero -um dos cargos mais importantes do catolicismo- e hoje mora no Vaticano. Entre suas atribuições estão a formação e disciplina de padres.


O cardeal destacou em seu discurso que outro problema grave enfrentado pela igreja ‘são os desvios e abusos de conduta moral-sexual’ -apesar de eles serem, segundo d. Cláudio, ‘problemas muito destacados e superdimensionados pela mídia’. ‘O mais grave é, sem dúvida, o da pedofilia, grave principalmente por causa das vítimas, que são crianças cujas vidas ficarão traumatizadas e feridas, quase sempre de modo irreparável’, afirmou. No entanto, d. Cláudio disse que 99% dos sacerdotes da igreja ‘são homens dignos’.


Política


Sobre o posicionamento da igreja diante da proximidade das eleições, d. Cláudio disse que o eleitor não deve escolher o candidato ‘só em troca de certos favores ou agrado’.


‘Tem que ver realmente qual é o programa e qual é a condição que o candidato tem para realizá-lo. Tem que ver se o candidato é sincero ou não, se tem condições, se tem dinheiro e equipe para fazer isso,’ afirmou dom Cláudio.


O cardeal afirmou ainda que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) continuará a cobrar reformas no país.’


 


Fiéis da Universal processam ‘Extra’ e ‘A Tarde’


‘Os jornais ‘Extra’, do Rio de Janeiro, e ‘A Tarde’, da Bahia, e dois profissionais desses veículos foram alvos, até ontem, de 41 ações de indenização por danos morais movidas em nome de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, por terem noticiado ato de vandalismo numa igreja católica em Salvador atribuído a adepto da Iurd.


Os processos repetem o mesmo esquema das 50 ações movidas contra a Folha e a repórter Elvira Lobato, autora de reportagem sobre o patrimônio da Iurd: os pedidos de indenização, com muitos parágrafos idênticos, são apresentados em juizados especiais em vários Estados, dificultando a defesa.


O jornal ‘Extra’ e o seu diretor de Redação, Bruno Thys, estão sendo processados por cinco pastores da Iurd em cidades do interior do Rio de Janeiro: Barra Mansa, Campos, Miracema, Bom Jesus de Itabapoana e Santo Antônio de Pádua.


O jornal relatou caso em que um fiel da igreja, Marcos Vinícius Catarino, danificou imagem de madeira de São Benedito numa igreja de Salvador. Catarino foi detido pela polícia e liberado no mesmo dia.


Os cinco pastores alegaram que se sentiram ofendidos com a divulgação da notícia. Afirmaram no pedido inicial estar ‘correndo o risco diário de sofrer agressões físicas e sofrendo discriminações até por parte de membros da Iurd, uma vez que eles também têm sido alvo de perseguição religiosa’.


‘Cumpri com o meu dever de informar’, afirmou Thys. Como o texto, publicado em 4 de dezembro, não foi assinado, o diretor de Redação pode ser responsabilizado pela publicação.


De acordo com o setor jurídico do jornal, os textos das cinco ações são semelhantes. Processaram o jornal Luciano da Silva Xavier (em Miracema), Osvaldo Pinto Júnior (Bom Jesus de Itabapoana), Flávio Alves de Carvalho (Barra Mansa), Odilon Vidal da Silva (Santo Antônio de Pádua), Luiz Alex Nogueira da Silva (Campos).


Em 3 de dezembro, o jornal ‘A Tarde’ publicou reportagem sobre o mesmo episódio, assinada pelo repórter Valmar Hupsel Filho. Até ontem, haviam sido movidas 36 ações contra a empresa e o jornalista em vários Estados, nenhuma em Salvador, sede do jornal. Uma das ações foi extinta.


‘É uma ação orquestrada para intimidar e cercear a nossa liberdade de expressão’, diz Ranulfo Bocayuva, diretor de jornalismo do grupo ‘A Tarde’.


Três ações contra a Folha foram extintas por ilegitimidade da parte. Um dos autores foi condenado por litigância de má-fé. ‘É incrível que, num país em que o Judiciário sofre com o acúmulo de demandas, e os cidadãos sofrem com a conseqüência desse acúmulo, seja possível a adoção de estratégias pretensamente ‘jurídicas’ que só pioram esse quadro -e inutilmente’, diz Taís Gasparian, advogada da Folha.’


 


ASSESSORIA
Clóvis Rossi


O encontro dos caras-de-pau


‘SÃO PAULO – Quando comecei na Folha, há exatos 28 anos, Adilson Laranjeira era chefe de reportagem. Meu chefe, portanto.


Profissional competente, uma de suas funções era pôr a sua turma a trabalhar em textos de denúncia ou críticos a Paulo Salim Maluf.


Depois, o velho e bom Adilson mudou de lado. Passou a ser assessor de imprensa de Maluf. E, nessa função, faz o contrário do que fazia quando estava na Folha: manda cartas negando todas as acusações e críticas a seu chefe. É do jogo.


Essa rotina reapareceu, em parte, na edição de ontem desta Folha, em carta na qual Adilson diz que fui injusto ao comparar a farra dos ‘fuscas’ com dinheiro público de Maluf com a farra dos cartões lulopetistas (e tucanos).


Mas há, na carta, um dado relevante: nos 23 anos decorridos até chegar ao poder, o PT fazia questão de vociferar que todos os demais partidos eram farinha do mesmo saco e que só ele era impoluto como a Virgem Maria.


Agora que a suposta virgem virou ‘organização criminosa’, no dizer do procurador-geral da República, referendado em princípio pelo STF, é Maluf, a antiga Geni da política tupiniquim, quem fica injuriado ao ser posto no mesmo saco do lulopetismo.


Já os lulopetistas nem mandam cartas para fingir que são inocentes. Apenas esmolam para que os jornalistas digamos que os outros também não são.


Pedido, aliás, que apenas revela a cara-de-pau e má-fé da ‘quadrilha’ e de sua matilha de hidrófobos-debilóides, posto que TODOS os escândalos dos anteriores governos, TODOS, foram expostos exatamente pela mídia hoje dita ‘golpista’, da Ferrovia Norte-Sul, no governo Sarney, à privataria, passando pela compra de votos para a reeleição, no governo FHC, para nem mencionar todos os trambiques do governo Collor, aliás hoje aliado de Lula. Como Maluf. Como Sarney.’


 


CARTÕES CORPORATIVOS
Eliane Cantanhêde


Gente fina é outra coisa


‘BRASÍLIA – Como capital, como qualquer centro de poder, Brasília atrai lobistas de todos os tipos, em seus carrões com motorista e casas e apartamentos milionariamente decorados, circulando por restaurantes de luxo e festinhas regadas a ouro. O que não se sabia até agora é que o reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, um professor, vivesse como lobista -e à custa do dinheiro público.


Como revelou a Folha, a UnB gastou R$ 3,4 milhões com cartões corporativos do governo entre 2004 e 2007, o que representa 31% das despesas com cartões de todo o Ministério da Educação e de seus órgãos no mesmo período. Em quê? Em contas de até R$ 1.000,00 em restaurantes, confeitarias, casas do gênero. O tal reitor Mulholland é gente fina, de bom gosto.


Depois soube-se que garfou R$ 470 mil (ou ‘só’ R$ 350 mil, segundo sua assessoria) de uma fundação de apoio a projetos científicos e tecnológicos para empregar em algo nada científico nem tecnológico: a decoração de seu já belo apartamento de cobertura. Foram R$ 2.738 para três lixeiras, R$ 36.603 para TV e som, R$ 21.600 para ‘telas artísticas’ e, não poderiam faltar, umas plantinhas pela bagatela de R$ 7.264. Chiquérrimo.


Com a mídia e a opinião pública sempre focadas nas falcatruas dos legislativos, primeiro, e dos executivos, depois, a academia vive sua vidinha longe dos holofotes, das demandas do mundo real e de qualquer tipo de fiscalização. A própria reportagem da Folha já indicava outras universidades federais gastadoras. Se a campeã UnB consumiu R$ 1,35 milhão com cartões em 2007, por exemplo, a do Piauí gastou R$ 402,8 mil, e a Unifesp (SP), R$ 291,2 mil. Do Piauí?!


Mulholland não é só Mulholland. Provavelmente é o fio da meada, um entre sabe-se lá quantos reitores e burocratas de universidades que gastam à vontade o meu, o seu, o nosso rico dinheirinho.’


 


Barbara Gancia


Alvo de CPI deveria ser outro


‘O NOBRE LEITOR poderá contar nos dedos da mão (esquerda, se preferir) as vezes em que defendi o governo nesta coluna.


Pois é, não concordo com quase nada do ideário da ‘esquerda’ (entre aspas) instalada aí e sou da turma que acha que o mensalão existiu, sim, senhor, e que, sendo assim, a cúpula do governo não tinha como não saber o que estava acontecendo.


Creio também que os assassinatos de Celso Daniel e do prefeito Toninho de Campinas foram muito bem abafados. E julgo criminoso o inchaço da máquina estatal promovido pelo governo Lula.


Dito isto, gostaria de voltar o meu porrete à oposição, no que tange o novo ‘escândalo’ (de novo, as aspas) em torno dos cartões corporativos usados pelo governo. Marcelo Coelho disse quase tudo o que precisava ser dito sobre a questão em sua coluna de ontem na Ilustrada.


A grita de parlamentares do PSDB, do DEM e afins contra o uso dos cartões não passa de show pirotécnico. Trata-se de demagogice destinada exclusivamente a desgastar o governo em ano eleitoral. E a CPI que advirá dessa histeria só servirá para, mais uma vez, paralisar os trabalhos em andamento.


Existem cartões demais nas mãos de funcionários públicos? A resposta é sim. Se há coisa de 22 mil cartões de crédito circulando, deveriam ser, no máximo, 2.000. Com Lula, as despesas da Presidência aumentaram? É evidente que sim, o presidente e sua família deitaram e rolaram e continuam a aumentar seus gastos. O controle do uso dos cartões é precário? Mais uma vez, ninguém duvida de que isso seja uma verdade tão inegável quanto o fato de a ministra Matilde ter recebido um chute no traseiro por motivo mais que justo.


Mas, vem cá: sair no ‘Jornal Nacional’, como grande notícia do dia, que a Marinha gastou cem merréis em bombons na Kopenhagen ou que torrou dinheiro público em flores é uma aberração. Por acaso, nas visitas dos dignatários que recebe, a Marinha deveria deixar de seguir o protocolo? E como é que os seguranças de Lula vão se manter em forma se não tiverem aparelhos de ginástica para se exercitar? Segundo os guardiões da moralidade, o reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland (parece nome de presidente da Irlanda), deveria morar aonde, numa kitchenette?


O dileto leitor, por acaso, acha que os salários do presidente, de governadores e prefeitos sejam suficientes? Note que eu não estou falando de congressistas ou de certos juízes. Mas, se contasse apenas com o que ganha, Lula conseguiria nos representar dignamente? A não ser que a gente queira vê-lo andar por aí de camisa pólo puída e sapatos curtidos, feito o Evo da Bolívia, vamos ter de continuar a aceitar que se gaste a mais até com a primeira-filha, Lurian, que não vive em Brasília.


Mas o ponto crucial da história é um só: a oposição esperneia com os R$ 150 milhões, R$ 170 milhões ou quiçá R$ 200 milhões gastos pela Presidência, mas ninguém nunca diz um ‘ai’ sobre as obras públicas. Perto do que vai para campanhas e bolsos dos que encomendam as obras, a gastança dos cartões é dinheiro de pinga.


Despesas de governo devem ser escrutinadas continuamente e é justo que exista pressão para que isso aconteça. Mas, para moralizar de vez a administração pública, deveríamos começar por investigar a fundo as concorrências públicas.’


 


Carlos Heitor Cony


Cartões de hoje e de ontem


‘NÃO VOU comentar o mais recente escândalo que estourou por aí, comprometendo o atual governo e, de quebra, recolocando na fogueira o governo anterior. O uso e o abuso dos cartões corporativos tinham de dar naquilo que antigamente os jornais não publicavam: ‘mierda’. (Vai em espanhol mesmo, para não ferir ouvidos mais sensíveis.)


Prefiro contar um episódio antigo, para mostrar como eram as coisas num tempo em que deputados e senadores iam de bonde para a Câmara e o Senado. E o presidente da República, depois do almoço, ia a pé do Palácio Guanabara para o palácio do Catete, acompanhado de um único secretário, que lhe levava a pasta dos despachos.


Era prefeito do Distrito Federal o engenheiro Hildebrando de Góis, um técnico baiano que havia saneado o grande pântano que era a Baixada Fluminense. Ele tinha por costume, uma vez por semana, visitar as obras que estava realizando, e os jornalistas credenciados na sala de imprensa da prefeitura o acompanhavam em excursão.


Com menos de 20 anos, eu substituía o pai que era o decano daquele grupo de profissionais (uns 15, incluindo alguns radialistas). Fomos dar com os costados num lugar onde nunca tinha posto os pés, Engenho da Rainha; uma estrada ali estava sendo asfaltada. O programa incluía um almoço na sede de uma associação de moradores locais, almoços geralmente vastos e rematados por sobremesas caseiras e discursos de circunstância.


Acontece que, durante a noite, morrera a mulher de um dos diretores da entidade. Mal informado, ele promoveu o velório na própria sede onde o almoço estava marcado. Foi um corre-corre danado, mas, ao saber que estavam providenciando a mudança do velório para uma funerária distante, o prefeito agradeceu o almoço, mas disse que iria almoçar com a sua comitiva no primeiro restaurante que encontrasse à beira da estrada.


Por sorte, havia uma churrascaria dando sopa, oferecendo, além das viandas tradicionais, um variado cardápio que incluía de jacaré a animais dos quais nunca tinha ouvido falar. Colocamos os paletós em cima das cadeiras; o prefeito era o único que usava colete, um homem elegante acima de tudo. Comemos vastamente, a fome era muita. Na hora de pagar, o secretário da Fazenda, que estava presente, fez o rateio entre os participantes, dividindo a despesa entre todos, menos um repórter da ‘Gazeta de Notícias’ que estava fazendo anos naquele dia e que mereceu um ‘parabéns pra você’ puxado pelo próprio prefeito.


Naquele tempo não havia ainda cartão de crédito, muito menos cartão corporativo. Despesas de emergência como aquela tinham um rito próprio para serem processadas. A autoridade ou o funcionário, em exercício de um cargo público, recebiam um adiantamento proporcional à despesa, se houvesse previsão de algum custo adicional à missão. Levava os comprovantes para a repartição que lhe adiantara o dinheiro. Em caso de emergência mesmo, como a do almoço no Engenho da Rainha, cada qual levava o seu comprovante e em dois ou três dias acertava suas contas com o Estado ou com a prefeitura.


Afinal, a regra não valia apenas para os órgãos do governo. As empresas usavam o mesmo processo, pagando diárias a seus funcionários que se deslocavam em serviço e teriam de enfrentar despesas extras e emergenciais. Ou reembolsando-os, mas sempre de acordo com os comprovantes. Evidente que havia uma ou outra vigarice, gente que gastava 30 cruzeiros num deslocamento de táxi, mas apresentava um recibo de 50. Era um problema de consciência funcional.


O escândalo dos cartões corporativos, que agora estourou, tornou-se possível pelo número exagerado de usuários e pelo conceito elástico de ‘emergência’ que cada qual adotou por conta própria. De qualquer forma, uma despesa de R$ 4,20 não podia ser prevista e dificilmente constituiria uma emergência funcional.


Por essas e outras, acho que a CPI sobre o escândalo, se realmente for instalada, terá um trabalho gigantesco para apurar todos os casos. Normalmente, uma comissão de inquérito derruba todos os prazos estipulados para seu funcionamento. Para determinar quem abusou (e não importam se as quantias foram grandes ou pequenas), a CPI levará todo o ano de 2008 e dificilmente chegará a qualquer conclusão.’


 


Folha de S. Paulo


Franklin afirma que vai devolver valor de diárias


‘O ministro Franklin Martins (Comunicação) recebeu indevidamente R$ 163,22 em 2007 por duas ‘meia-diárias militares’ por acompanhar o presidente Lula em viagens no Brasil: ministros só têm direito a diárias em viagens internacionais.


Martins diz que tomou conhecimento dos dois depósitos irregulares após ser procurado pela reportagem, e afirmou que irá devolver o dinheiro.


De acordo com ele, foram feitos por ‘falha administrativa’ do organizador de viagens do Planalto, que desconsiderou o novo status ministerial da Secretaria de Comunicação do governo.


Também informado, o ministro da Previdência, Luiz Marinho, informou que irá devolver R$ 60 pagos a mais no auxílio-moradia. A falha foi na divisão pró-rata na transição entre os dois ministérios.’


 


BLOGS POLÍTICOS
Nelson Motta


Sai da lama, jacaré!


‘RIO DE JANEIRO – Preciso me livrar do vício de ler blogs políticos. Começou por curiosidade, virou hábito e, depois, necessidade, várias vezes ao dia, em busca de emoções cada vez mais fortes, maiores escândalos e baixarias. São blogs perigosos, criam dependência, deveriam ter tarjas de advertência, como os cigarros, os remédios e as bebidas. E deveriam ser proibidos para menores, porque podem provocar graves danos em mentes jovens e sugestionáveis.


Quero abandonar esse duvidoso prazer de rir com os vitupérios dos militantes digitais, já não consigo me divertir com o fanatismo otário de tucanos e petistas com seus slogans, bordões e estatísticas, com as suas disputas entre quem fez pior ou quem fez primeiro. Quanto mais diferentes querem ser, mais parecidos se tornam em sua intolerância, ignorância e má-fé. As acusações são respondidas com acusações aos acusadores e assim sucessivamente: nem opinião, nem debate, nem informação, pura perda de tempo e de espaço.


Um enigma na blogosfera: sempre li muitos tucanos, demos e petistas que até se orgulham de sua condição, mas jamais vi, nos melhores ou piores blogs, alguém se dizendo peemedebista roxo -o maior partido do país parece que não tem partidários, pelo menos não on-line. Ninguém defende as suas causas, programa e ideologia, parece que o mundo da política e da luta pelo poder está dividido entre petistas e tucanos. Mas como falar de causa, programa e ideologia do partido mais poderoso do Brasil sem rir? Ou chorar.


Nada explica o vício tolo de ler o que se detesta só para se indignar, ficar furioso, xingar a tela. Mas talvez funcione como um descarrego: ao canalizar a sua agressividade para o mundo lamacento da política, você se sente melhor, só por não ser como eles.’


 


TURISMO
Luis Favre


Barbara Gancia quer me calar


‘BARBARA GANCIA quer me calar.


Ela usa seu espaço neste jornal para me ameaçar de um processo e tentar colocar uma mordaça nos que recusam sua prepotência e seus insultos.


Ela está descontrolada porque, em resposta a um artigo cheio de prepotência, arrogância e insultos, ousei escrever no meu blog, no artigo ‘Latem, Sancho, sinal que cavalgamos’ (http://blogdofavre.ig.com.br) o que ela não quer ouvir e que vou repetir: ‘2007 foi o melhor ano da história do turismo no Brasil. Apesar de todos os problemas, particularmente o da valorização do real, mas também a quebra da Varig e os atrasos nos aeroportos, o fluxo do dinheiro em divisas deixado pelos turistas no Brasil bateu todos os recordes. Imagino como seria se alguns dos articulistas antipetistas, esses de ‘rabo preso’ com o tucanato e alérgicos a operário metalúrgico presidente, fossem ministros do Turismo e falassem, aqui e lá fora, as sandices que aqui escrevem’.


Ela, que tanto esbraveja, não gostou do ‘rabo preso’. Ela tampouco gostou de que eu acrescentasse: ‘Se ela ministra fosse (mas por enquanto esse risco o Brasil não corre), ela iria dizer nos foros internacionais o que ela e uma parte da mídia repetem incansavelmente, mas que, como mostram as pesquisas, o povo não compra. A saber: que o país vive um apagão aéreo, dobrado de um apagão elétrico. Que sofremos uma epidemia de febre amarela, mas que não adianta vir vacinado pois os turistas vão enfrentar taxas de homicídios de outro planeta. Que, salvo a cidade de São Paulo, cidade limpa, como todos sabem, onde a taxa de homicídios (particularmente nos Jardins, Pinheiros e a rua de Barbara Gancia) é a mesma de Paris, melhor se abster de circular no resto de nosso paraíso tropical.’


Ao contrário dessa torcida do contra, a ministra do Turismo calmamente explicou em Madri que não há epidemia de febre amarela e que somente as pessoas que forem para regiões de risco devem ser vacinadas. Disse também que os problemas encontrados com o tráfego aéreo estão em vias de solução, mas que não são piores que os enfrentados pelos aeroportos de Londres ou pelo JFK em Nova York. Afirmou também que, se é verdade que a violência existe, pelo menos no Brasil não há terrorismo, nem ameaças desse tipo, como ocorre na França, na Inglaterra e na Espanha, por exemplo. Que aqui não há terremotos nem tsunamis. Resumindo, defendeu o Brasil e mostrou que vale a pena visitá-lo e conhecê-lo.


Nada diferente do que disse, por exemplo, o ‘Valor Econômico’: ‘Os espanhóis têm procurado mais a costa brasileira por dois fatores: o primeiro deles, segundo fontes do setor, é a saturação do turismo no litoral sul da Espanha. Outro fator é que o atentado terrorista do 11 de Setembro nos Estados Unidos e o tsunami na Tailândia acabaram tornando a costa brasileira mais atrativa e segura para turistas estrangeiros, sobretudo o europeu’. (1º/2/2008).


Tampouco muito diferente do que, sobre a ‘epidemia’de febre amarela, afirmou o próprio ombudsman da Folha: ‘Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada’. (27/1/2008).


Mas quando falta a razão, sobram os impropérios. A irritação e a contrariedade de alguns se entende, pois mesmo com suas penas servindo os que procuram desmoralizar o governo e promover o ódio e a rejeição de suas figuras mais populares, a avaliação majoritária da população é que o Brasil está no caminho certo.


Por isso, Barbara Gancia quer me calar com um processo e assim cercear meu direito à liberdade de expressão e de opinião. Ela, que se serve do poder de fogo da grande mídia para tentar destruir reputações, colar etiquetas e adjetivos pejorativos contra uns, obsequiosos para outros, não tolera ser contestada com a mesma arma que ela invoca para realizar sua tarefa política: minha liberdade de opinião e de expressão.


Solicitei à Folha de S.Paulo o direito de responder no mesmo espaço onde fui atacado e ameaçado, permitindo que o despropósito da jornalista seja respondido. A Folha aceitou meu pedido e está de parabéns.


LUIS FAVRE, 58, é publicitário especializado em marketing eleitoral. É casado com a ministra do Turismo, Marta Suplicy.’


 


TV BRASIL
Folha de S. Paulo


Relator altera texto da MP que cria a TV pública


‘O parecer da MP que cria a TV Brasil, elaborado por Walter Pinheiro (PT-BA), foi lido ontem na Câmara e trouxe uma modificação: a exigência de que a TV privada que fechar contrato de exclusividade para um evento esportivo, e não o transmitir, terá de ceder a transmissão à TV pública caso haja ‘equipes, times, seleções e atletas brasileiros’. A oposição promete derrubar o texto.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Tupi e a Halliburton


‘Logo cedo, no Terra Magazine, ‘Furtadas informações confidenciais da Petrobras’. Eram ‘os dados de pesquisas que levaram às megadescobertas’. Foi durante transporte a cargo da gigante americana Halliburton. Daí para outras manchetes on-line, da Reuters Brasil ao site de ‘O Estado de S. Paulo’, em enunciados como ‘Furto de dados envolve Halliburton’ na Folha Online. A empresa avisou depois que ‘não vai se pronunciar agora, não tem o que pronunciar’.


O G1, da Globo, não acreditou muito, ‘Petrobras se queixa de furto de dados’. O iG, de outro lado, ‘Petrobras anuncia furto de dados’. Ecoou pelo mundo, em despachos da Associated Press, ‘Roubam informação da Petrobras’, da Efe, ‘Roubam informação valiosa sobre as recentes descobertas da Petrobras’ etc.


GRANDE ACHADO


A Unidade de Inteligência da ‘Economist’ postou seu novo relatório ‘Uma grande descoberta de petróleo’. Diz que o papel do Brasil como produtor deve ‘crescer dramaticamente’, ele que ‘já é relativamente importante’, e que a Petrobras vai ‘se beneficiar enormemente’ de Tupi ‘e seus irmãos’, tipo Júpiter.


CRÉDITO, CPMF


A unidade da ‘Economist’ vem divulgando semana a semana relatórios sobre o país. Os anteriores foram sobre o ‘boom de crédito’, intitulado ‘Dê crédito a eles’, e sobre a queda da CPMF. Neste, diz que, se cortar e vencer os apuros, o Brasil vai ‘estimular a confiança dos investidores’.


GIGANTE ETC.


A longa reportagem do ‘Los Angeles Times’ sobre a Petrobras em sua ‘busca global por poder’ vem sendo reproduzida em outras partes dos EUA -como ontem, no ‘Houston Chronicle’, do Texas. No enunciado, ‘espírito de risco põe Petrobras na liga das grandes’, ela que seria ‘bela exceção’ na América Latina.


GP VS. PETROBRAS


E o ‘Clarín’ deu ontem que o grupo argentino Eurnekian se juntou ao grupo brasileiro GP para fazer uma proposta de compra à Exxon latino-americana. Concorre contra Petrobras e outras. O executivo do Eurnekian posou com Cristina Kirchner na Casa Rosada, no anúncio da proposta.


‘YES, YOU CAN, BUT…’


A nova ‘Economist’ se pergunta, sobre a ‘esperança’ por Obama, ‘Mas ele pode entregar?’. Diz que ‘é hora de avaliar o potencial presidente e não o fenômeno’. Ironizando que, ‘Sim, você pode, mas não imediatamente’, afirma que traria unidade, mas também ‘esperanças elevadas demais’


OBAMA, O RASCUNHO


No esforço geral de decifrar o ‘rascunho do rascunho da diplomacia’ de Barack Obama, Paulo Moreira Leite, do iG, relatou evento em que ele prometeu fazer da América Latina mais do que ‘parceira júnior’. O blogueiro, aliás, notou semelhanças entre o ‘Yes, We Can’ e o ‘Lula-lá’.


De seu lado, Luiz Carlos Azenha, agora em site próprio, tratou do ‘mais influente assessor de Obama, Zbgniew Brzezinki’, que em livro recente prega ‘fortalecimento de um sistema de cooperação’ e ‘o combate à desigualdade’.


O PROTECIONISTA


John Zogby, do instituto de pesquisa, postou na BBC que não, o jogo não acabou. Aqui e ali, outros dizem o mesmo.


Por via das dúvidas, Obama fez campanha em Winsconsin com discurso protecionista, ‘pesado no comércio’ até com a América Latina, como notaram ‘Nation’ e outros.


A INCENDIÁRIA


Já Hillary Clinton prepara ‘passos incendiários’, diz o ‘New York Times’. Vai agir ‘mais agressivamente, com novos comerciais de TV’, diz o ‘WP’. Mas ainda foi pouco além de cobrar mais debate.


E já se espalham análises sobre o responsável por sua eventual derrota -o marido.


DIMENSÃO GLOBAL


O chanceler Celso Amorim encontrou ‘presidentes’ e ‘reis’ no Oriente Médio, sob intensa cobertura, inclusive entrevista ao ‘El País’ sobre ‘a dimensão global’ do país. Ontem, os enunciados foram de acordos com Israel, no ‘Jerusalem Post’, e Palestina, na agência Brasil-Árabe.’


 


EUA
Folha de S. Paulo


Expert digital é novo editor do ‘LA Times’


‘REUTERS – Russ Stanton, 49, foi nomeado ontem o novo editor-chefe do ‘Los Angeles Times’, em meio a uma crise no jornal, o quarto maior dos Estados Unidos.


Segundo o publisher David Hiller, Stanton, que dirigia a versão digital do jornal e projetos de integração com a internet, é o mais bem preparado para fazer ‘mudanças na redação’ e ‘salvar o futuro’ do jornal. Anteontem, o ‘LA Times’ anunciou entre cem e 150 demissões.


Em janeiro, James O’Shea deixou o cargo de editor-chefe por discordar de cortes de verba e pessoal.’


 


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‘New York Times’ fará cem cortes na Redação


‘O ‘New York Times’ eliminará cem postos da Redação neste ano. Os cortes serão feitos ‘não preenchendo vagas que ficarem disponíveis, por meio de plano de demissões voluntárias e, se necessário, com dispensas’, disse Bill Keller, diretor-executivo.


Segundo o jornal, ele tem 1.332 jornalistas -número recorde. Diz ainda que teriam ocorrido cortes na Redação nos últimos anos, mas que houve expansão devido ao avanço do setor de internet.’


 


CUBA
Folha de S. Paulo


Escritor fala em ajustes na ilha diante de Raúl


‘FRANCE PRESSE – Na abertura da Feira Internacional do Livro em Cuba, e diante de Raúl Castro, o dramaturgo Antón Arrufat disse que a ilha passa ‘por dias cruciais’, em que um desejo de ‘melhorar nossas vidas vibra em todos’, e convocou o país a ‘inaugurar caminhos, consertar o torcido’.


Arrufat é um homenageado da feira. Raúl, no poder desde a doença de Fidel Castro, em 2006, diz apoiar um debate ‘valente’ sobre os problemas da ilha. Recentemente, vídeo com críticas de estudantes circulou em Havana e na mídia internacional.’


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Yahoo! justifica recusa a oferta da Microsoft


‘O Yahoo! divulgou a carta que enviou aos seus acionistas na segunda-feira, quando recusou a proposta de US$ 44,6 bilhões feita pela Microsoft. Nela, o seu CEO, Jerry Yang, reitera que a oferta da rival ‘desvaloriza substancialmente’ o Yahoo!.


‘Eu quero que saibam que o conselho avalia continuamente todas as opções estratégicas do Yahoo! e que continuamos comprometidos em buscar iniciativas que aumentem o valor [das ações].’’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo vive clima de mudanças na cúpula


‘É grande a expectativa no Projac, a central de estúdios da Globo no Rio. Diretores, atores e apresentadores aguardam para breve o anúncio da ‘aposentadoria’ do diretor-geral artístico, Mário Lúcio Vaz, que passaria a atuar como consultor. Vaz seria substituído por Manoel Martins, diretor da Central Globo de Produção.


A Globo nega a informação. Diretor-geral da emissora, único acima de Vaz no organograma, Octavio Florisbal admite que o principal nome da área artística da Globo nesta década irá, sim, virar consultor, mas não diz quando isso ocorrerá.


A aposentadoria de Mário Lúcio Vaz é tema de rumores na Globo há três anos. Ganhou força neste início de ano por causa da sensível queda de audiência sofrida pela emissora no horário nobre e pelo fato de Florisbal ter anunciado, no final de 2007, que ficará ‘mais perto da área artística’. O executivo, que se divide entre São Paulo e Rio, agora despacha dois dias por semana no Projac.


Vaz voltou de férias nesta semana e trabalhou normalmente. Ele vem se reunindo com os diretores de núcleo para saber do andamento de projetos, a fim de fechar toda a programação de novelas, seriados e demais programas em 2008.


Na emissora, porém, corre a versão de que Manoel Martins já teria até apresentado um plano de trabalho como diretor-geral artístico, prevendo a formação de equipes de criação.


ATO FALHO Apresentador de ‘BBB’, Pedro Bial chamou de ‘favela’ a família do ‘big brother’ Felipe, que é negro, ao mostrá-la no paredão da última terça. No lugar da palavra ‘família’, falou duas vezes ‘favela’.


VALEU, BISPO O vencedor do próximo ‘O Aprendiz’ vai receber R$ 2 milhões da Record. Desse dinheiro, terá que colocar R$ 1 milhão na Brainers, produtora de Roberto Justus. Ou seja, a Record vai selecionar um sócio e capitalizar uma empresa que produzirá para suas concorrentes, entre elas a Band.


ATALHO Sofríveis como atores, os cantores Tony Garrido, Preta Gil e Fafá de Belém vão deixar ‘Caminhos do Coração’. Nem uma mutação os salvaria.


COMEÇOU Aconteceu ontem na Globo a primeira reunião de criação (que envolve vários setores, como figurino e produção) da minissérie ‘Maysa’, prevista para ir ao ar em dez capítulos em janeiro de 2009. Dirigida por Jayme Monjardim, filho da cantora Maysa, retratada na obra, a minissérie entra em produção em julho.


CALENDÁRIO O afastamento de Fábio Assunção não teve nada a ver com o adiamento da estréia da próxima novela das oito da Globo, de 19 de maio para 2 de junho. É que, se estreasse em 19 de maio, a novela enfrentaria um feriado prolongado (Corpus Christi) logo na primeira semana. Poderia ser adiada em apenas uma semana, mas aí o mesmo feriado prejudicaria os últimos capítulos de ‘Duas Caras’.’


 


Folha de S. Paulo


Atração mostra cemitérios de automóveis


‘O que acontece com um veículo quando ele chega ao fim de sua vida útil? O que é feito de suas peças metálicas? Para aonde vai sua carcaça? O episódio ‘Automóveis’, que abre a série ‘Cemitério de Máquinas’, amanhã, às 22h, no History Channel, tenta responder a essas perguntas.


O programa mostra que o surgimento de uma indústria de reaproveitamento de componentes automobilísticos remonta à Segunda Guerra Mundial, quando eles eram requisitados na construção de tanques e caminhões.


A partir daí, pelo menos nos EUA (universo a que se atêm os dados listados na atração), a própria evolução da frota de veículos se encarregou de dar o ‘empurrão’ de que o negócio da reciclagem precisava. Hoje, há 245 milhões de bólidos registrados no país -um contingente que cresce numa proporção de 12 milhões/ano. A receita gerada é de estimados US$ 16 bilhões (R$ 28 bi) anuais.


O primeiro cemitério de automóveis surgiu em Santa Fe, na Califórnia. Atualmente, são desmontados ali cerca de 10 mil carros por mês. Várias etapas compõem o processo: retirada dos fluidos, compra de partes avulsas (como portas) por ‘mecânicos de fim de semana’, compressão e trituração. Depois disso, é possível distinguir e recuperar materiais como cobre, alumínio e ferro.


CEMITÉRIO DE MÁQUINAS


Quando: amanhã, às 22h


Onde: History Channel’


 


JUVENTUDE & MÍDIA
Thiago Ney


Geração Juno


‘UMA CRÍTICA pontual dirigida a ‘Juno’, filme já em pré-estréia em São Paulo, aponta uma certa falta de veracidade da personagem principal, uma garota de 16 anos. Nenhuma adolescente seria tão esperta, sarcástica, decidida, inteligente e madura como Juno.


Há pouco tempo, em uma entrevista por telefone da qual participei, a canadense Ellen Page, que interpreta Juno, falou a respeito: ‘Não concordo com isso. Estamos tão acostumados à visão única com que os adolescentes são retratados pela mídia que quando aparece um personagem que é multifacetado, cool, engraçado, esperto, articulado, as pessoas acham que é alguém que não existe. Mas esse tipo de adolescente existe, sim. Li outro dia que muitas meninas assistem a ‘Juno’ três, quatro vezes porque elas estavam desesperadas para encontrar alguém como elas no cinema. Juno é como a maioria dos adolescentes que eu conheci no colégio’.


Juno é como a maioria das novas cantoras da geração 1980 do pop pós-Lily Allen: Kate Nash, Amy MacDonald, Emmy the Great, Duffy. Como Mallu Magalhães, que contou ao Folhateen desta semana que levava bronca na escola porque lia Marx e contestava a professora. Ou como Adele (data de nascimento: 1988) e Laura Marling (1990).


Estrelas no MySpace, no YouTube e em blogs, Laura Marling (www.myspace.com/lauramarling) e Adele (www.myspace.com/adelelondon) viraram pauta de jornais e revistas antes mesmo de lançar disco de estréia.


Por mais que Andy Gill (‘Independent’) e Sasha Frere-Jones (‘New Yorker’) reclamem que essas cantoras não têm chance de amadurecer antes de se tornarem (bem) conhecidas, não tem jeito.


Essas adolescentes estão crescendo com música, com laptops, com softwares de produção musical, aprendem a tocar cedo e começam a compor mais cedo ainda. Em ‘Alas I Cannot Swim’, seu primeiro disco, Marling canta: ‘Há um garoto do outro lado do rio, mas, oh, eu não sei nadar/ Eu nunca colocarei meus braços em volta dele’. Com Adele, temos dificuldade em classificá-la: suas músicas podem aparecer como soul, folk, pop, rap… ‘Daydreamer’ e ‘Cold Shoulder’ mostram uma cantora madura, esperta, decidida e complexa.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


INTERNET
Washington Novaes


Haverá limite para a internet?


‘Durante milênios convivemos com a convicção de que não haveria limites para a atividade humana, seja quanto ao uso de recursos e serviços naturais, seja de energia, de praticamente tudo. O tempo encarregou-se de mostrar o contrário – com os limites na área dos recursos hídricos acentuados pelo crescimento da população; com o uso de combustíveis fósseis detonando a questão das mudanças do clima; com a insustentabilidade dos atuais padrões de produção e consumo, além da capacidade de reposição do planeta. Agora, mais alguns limites se esboçam no horizonte para a fabricação e uso de computadores, por causa do consumo de energia; da emissão de gases em razão do seu uso; da sobrecarga em vários tipos de utilização, que ameaça até com um ‘apagão planetário’; e da geração de lixo tecnológico.


Estudo recente do pesquisador Jonathan Kooney, do Lawrence Berkeley National Laboratory, na Califórnia, mostrou que o consumo de energia pelos computadores no mundo todo mais do que dobrou entre 2000 e 2005; passou de 29 bilhões de kilowatts-hora (kWh) para 61 bilhões de kWh; nos EUA, subiu de 12,5 bilhões de kWh para 24 bilhões de kWh. Outro estudo, do Global Action Plan, situa as emissões de gases poluentes geradas pelas tecnologias de informação e comunicação no mesmo nível das emissões feitas pelo transporte aéreo no mundo, 2% do total.


São números que começam a preocupar a própria indústria de produção de equipamentos nessas áreas. Uma semana depois da divulgação do último relatório, as principais produtoras desses equipamentos no mundo criaram um sistema conjunto para aumentar a eficiência de hardwares e softwares. Pensam em novas formas de suprimento de energia, talvez a solar, em substituição do tipo de corrente nos centros armazenadores de informações e em disseminar informações que advirtam sobre os problemas de estocagem ilimitada de informações, imagens ou som. A IBM, uma das maiores interessadas na questão, está investindo US$ 1 bilhão no projeto Big Green, segundo a revista New Scientist, para dobrar a capacidade de processamento de data centers sem aumentar o consumo de energia.


Há outros ângulos do problema que chegam a atingir o campo da política, como nos EUA, porque, como informou este jornal (6/2), os procedimentos antiéticos preocupam. Já na eleição presidencial de 2002, mensagens provocadoras ou portadoras de falsas informações abarrotaram os computadores de eleitores do Partido Democrata. Em 2006, na Califórnia, os eleitores latinos receberam mensagens dizendo que seu voto era ilegal e que poderiam ser deportados se exercessem esse direito. O candidato republicano John McCain descobriu que haviam aberto um site em seu nome, no qual anunciava ser ele a favor de reivindicações de homossexuais – o que poderia levá-lo a perder votos de eleitores contrários a esse posicionamento.


Nem é preciso falar no problema dos spams, que entopem as caixas de recepção de mensagens no mundo, todos os dias, muitos deles portadores de vírus extremamente problemáticos. E ainda não é tudo. Em vários pontos do mundo, especialistas começam a perguntar se também haverá um limite de utilização para a internet, se poderá haver um ‘apagão’ geral no mundo por causa da sobrecarga. Os efeitos desastrosos dessa possibilidade foram parcialmente sentidos há poucos dias, quando se romperam cabos submarinos que ligavam o Egito ao Oriente Médio, à Índia e a outras partes da Ásia. Mais de 70% do sistema foi interrompido no Egito; 60%, na Índia; um pouco menos, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos e no Kuwait. O ministro egípcio das telecomunicações chegou a pedir aos internautas que deixassem de fazer downloads de filmes e arquivos, para que se pudesse dar prioridade ao uso da rede para negócios – prioridade que não foi aceita sem protestos.


E ainda há o problema do lixo tecnológico (peças e pedaços de computadores, pilhas, baterias), já tão grave que a própria ONU criou para ele um programa denominado Solving the E-waste Program (SEP), com diretrizes mundiais que apontam caminhos para ampliar a vida dos componentes e promover a reciclagem. No Brasil, para pilhas e baterias já existe uma resolução (nº 257) do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que determina a entrega de pilhas e baterias que contenham cádmio, chumbo, mercúrio e seus compostos, bem como produtos eletroeletrônicos que as incluam, aos estabelecimentos que os comercializem ou à rede de assistência técnica das respectivas indústrias, para que repassem aos fabricantes ou importadores, que deverão reutilizá-los, reciclá-los ou lhes dar destinação final adequada.


Mas o cumprimento ainda é escasso, mesmo com o crescimento acelerado da produção de lixo tecnológico. E este é fruto da utilização cada vez maior de computadores. Nos EUA, por exemplo, em 2006 se venderam mais computadores que aparelhos de TV. No Brasil, segundo a associação das indústrias do setor, no ano passado as vendas cresceram 23%, com 10,1 milhões de computadores (PCs) e 2,1 milhões de notebooks (211% mais que no ano anterior). Hoje, 19% dos domicílios já têm 40 milhões de computadores (a média mundial é de 17%; nos EUA, de 80%) e se prevêem que serão 60 milhões em 2010. No mundo, este ano vai chegar a 1 bilhão.


Um dos exemplos mais claros da gravidade do problema do lixo tecnológico está em sua exportação para países pobres. Lagos, a capital da Nigéria, recebe a cada mês 500 contêineres carregados com 500 mil monitores de computadores ou 175 mil aparelhos de TV (Envolverde, 30/1), dos quais 75% são considerados lixo eletrônico, embora exportados sob pretexto de reutilização.


Como diz o poeta Manoel de Barros, ‘louvo a ciência por seus benefícios à humanidade; mas não concordo que a ciência não se aplique em produzir encantamentos’.


Washington Novaes é jornalista.’


 


O Estado de S. Paulo


Yahoo afirma não precisar do dinheiro da Microsoft


‘O presidente e co-fundador do Yahoo, Jerry Yang, enviou ontem uma carta a seus acionistas explicando porque a empresa decidiu rejeitar a proposta de compra da Microsoft, inicialmente avaliada em US$ 44,6 bilhões. A empresa de internet considerou baixa a oferta.


‘O Yahoo tem a flexibilidade financeira para executar seus planos, graças à nossa situação saudável de caixa, que ultrapassava US$ 2 bilhões em 31 de dezembro de 2007, e ao nosso substancial fluxo de caixa operacional, que esperamos que tenha dois dígitos de crescimento em 2009’, escreveu Yang, ao enumerar os motivos.


Ele também argumentou que a empresa tem uma grande oportunidade de mercado e que está preparada para aproveitá-la. ‘O mercado global de publicidade online deve crescer de US$ 45 bilhões em 2007 para US$ 75 bilhões em 2010’, apontou o presidente do Yahoo. ‘E estamos nos movendo rapidamente para tirar vantagem do que vemos como uma janela única de oportunidade no crescimento – e evolução – desse mercado, para ampliar a participação de mercado e criar valor para os acionistas.’


Ele disse ainda que o Yahoo tem uma marca forte, mais de 500 milhões de usuários no mundo e a liderança na venda de banners publicitários. A empresa possui participações acionárias no Yahoo Japan, líder do mercado japonês, e no site chinês Alibaba.


Acionistas da Microsoft, por sua vez, estão insatisfeitos com os planos de compra do Yahoo. ‘Quero que a Microsoft diga ?sayonara Yahoo? (adeus Yahoo) e vá embora’, disse o administrador Robert Olstein, cujos fundos possuem cerca de 1 milhão de ações da Microsoft. Para ele, a gigante do software não deve aumentar sua oferta em nenhuma circunstância.


Desde que a proposta foi apresentada, as ações da Microsoft caíram 11%, reduzindo seu valor de mercado em cerca de US$ 34 bilhões. Vários investidores acham que os esforços para comprar o Yahoo podem distrair a administração num momento em que a companhia começa a usufruir do sucesso do Windows Vista e da lucratividade do videogame Xbox.


Analistas também estão céticos em relação às conversas do Yahoo com a News Corp., do magnata australiano Rupert Murdoch, como alternativa à Microsoft. ‘É difícil imaginar que Murdoch esteja a fim de colocar dinheiro suficiente no negócio para torná-lo interessante aos acionistas do Yahoo’, disse Jordan Rohan, da RBC Capital.


AGÊNCIAS INTERNACIONAIS’


 


Na internet, protesto contra atropelador


‘O acidente que deixou gravemente ferido um frentista em Ribeirão Preto provocou uma onda de revolta entre internautas no Orkut. A comunidade Caio Meneghetti precisa pagar já tinha mais de 230 membros no final da tarde de ontem. Caio Meneghetti Fleury Lombardi, de 19 anos, atropelou o frentista Carlos Alaetes Pereira Silva, de 37 anos, ao invadir, provavelmente embriagado, um posto de combustíveis. A Justiça ainda não se pronunciou sobre o pedido de prisão preventiva do estudante.’


 


Jonathan Watts


Fotos picantes causam polêmica online na China


‘The Guardian, HONG KONG – Um grupo inusitado que reúne ídolos pop, censores comunistas, a polícia de Hong Kong e um bispo católico está trabalhando para abafar o maior escândalo sexual envolvendo celebridades da história da internet chinesa. O objetivo é impedir a propagação de milhares de fotos digitais picantes que mostram Edison Chen, um dos mais famosos atores de Hong Kong, na cama com algumas das principais atrizes e cantoras da região.


As imagens foram copiadas ilegalmente do laptop do astro, supostamente por técnicos que fizeram uma vistoria no aparelho. O frenesi provocado por sua divulgação sobrecarregou os servidores de Hong Kong e chegou à China continental, onde uma discussão online promovida pelo boletim eletrônico Tianya teve 25 milhões de visitas e recebeu 140 mil comentários.


Desde que as primeiras imagens apareceram, há mais de duas semanas, todos os dias um desconhecido tem descarregado dezenas de fotos novas, implicando um número cada vez maior de celebridades. O Emperor Entertainment Group, empresa que gerencia os negócios de Chen, inicialmente alegou que as imagens eram montagem. Pouco depois, Chen desculpou-se publicamente.


‘Vidas de inocentes foram afetadas por essa conduta perversa e criminosa’, disse o astro, que além de cantar rap atua numa série de filmes chamada Negócios do Inferno. ‘Eu peço que aqueles que têm essas fotos as destruam para não piorar as coisas.’ Um apelo semelhante foi feito por John Tong, o bispo católico de Hong Kong: ‘A Bíblia ensina que não devemos falar maldades nem ver maldades.’


A cantora pop Gillian Chung, que aparece nas imagens, foi acusada de hipocrisia porque costumava fazer discursos contra o sexo antes do casamento e teve de se explicar. ‘Admito que fui ingênua e tola, mas agora cresci’, disse numa entrevista.


A polícia de Hong Kong prendeu oito suspeitos de terem roubado as fotos e avisou que quem compartilhá-las será processado. Ativistas pró-liberdade de expressão protestaram dizendo que a repressão passou dos limites. Algumas mensagens nos chats retratam o episódio como uma prova de que o sistema chinês é melhor que as democracias de Hong Kong e do Ocidente do ponto de vista moral. ‘A Grã-Bretanha é uma democracia, mas os jornais mais populares são tablóides que falam da família real’, diz uma delas. Outros chineses discordam: ‘Não vejo significados no caso, exceto que é preciso cuidado com os hackers’, disse uma fonte da mídia chinesa.’


 


CARTÕES CORPORATIVOS
João Mellão Neto


Também quero um!


‘Os cartões de crédito corporativos, a princípio, são uma boa idéia. Antes do surgimento deles, as pequenas ou emergenciais despesas do governo eram pagas em dinheiro vivo, causando transtornos desnecessários no caixa, ou então eram quitadas pelo próprio agente administrativo, que, para recuperar o que gastou, tinha de apresentar um longo e circunstanciado relatório justificando o porquê daquele dispêndio. Prática adotada em quase todos os países adiantados, eles surgiram por aqui na gestão de FHC. Entre outras vantagens, o cartão de crédito apresenta, em seus extratos, o que, quanto, onde e quando se realizaram as despesas. Mas no Brasil, onde há quem guarde dólares na cueca e existe gente disposta a falsificar cédulas de R$ 2, algum tipo de fraude ainda haveria de ser inventada tendo por base o vulnerável e flexível ‘dinheiro de plástico’.


No início, apenas autoridades de primeiro escalão e sua assessoria direta tinham direito de portar o cartão. Logo, como seria de prever, autoridades de menor expressão fizeram uma irresistível pressão para que o benefício fosse estendido a elas. Quando o volume de cartões passou da casa do milhar, não havia mais auditoria, por mais eficiente que fosse, capaz de analisar e controlar um a um. O problema agravou-se com o Partido dos Trabalhadores (PT) no poder. Ser portador de um cartão dava status. Além de demonstrar o prestígio de seu detentor, ele representava uma espécie de ‘licença para gastar’. O volume de cartões se multiplicou, a ponto de tornar impossível a sua checagem e análise.


Além disso, virou praxe o saque em dinheiro, nos caixas eletrônicos, o que tornava impraticável checar o destino do dinheiro. Nos dias de hoje, qualquer barnabé bem relacionado obtém com facilidade o seu cartão corporativo e sai por aí, a gastar impunemente. Apesar de já existirem vários milhares de cartões, não se tem notícia de um único servidor público que tenha sido punido pelo seu uso impróprio. O partido que se diz do povo se vale do dinheiro do próprio povo para custear as suas mordomias. E ninguém tem o direito de reclamar, visto serem seus membros legítimos delegados do próprio povo. Ficam criados, assim, além dos gastos de consumo supérfluo da odiosa burguesia, os dispêndios indispensáveis para o trabalho dos agentes do povo – não importando, no caso, que os tipos de despesas sejam idênticos. Vá lá que era o próprio PT, quando estava na oposição, o campeão inconteste dos requerimentos de CPIs. Mas agora, meia década passada, o partido amadureceu. E todos ali concordam com a tese de que tais comissões só servem para fazer barulho. Pode existir iniciativa tão impatriótica?


Provavelmente, não. E é por isso que os bravos parlamentares do PT lutam, no limite de suas forças, para impedir que tal comissão seja instalada. Se isso não for conseguido, a alternativa será o caos. Haverá inúmeras acusações levianas e sem fundamento por parte da ala oportunista da oposição; todos terçarão armas com todos para que, no final, pouca coisa seja comprovada. E assim vai mais um ano legislativo, o qual o presidente Lula pretendia que fosse utilizado para as imprescindíveis reformas de base, tão necessárias ao País.


Quais seriam as tais reformas? Ora, o governo já acenou que pretende criar um grupo de estudos para analisar quais reformas mereceriam prioridade. Como estes trabalhos demandam tempo, o presidente espera contar com as inestimáveis contribuições de seu secretário para ações a longo prazo, o qual, até lá, já teria concluído o ciclo básico de seu curso de Português. Pelo que se sabe, ele já aprendeu a manejar, com maestria, a máquina eletrônica em que opera o seu cartão corporativo.


Ao invés de promover inúteis CPIs, os congressistas poderiam, por exemplo, editar um livro com todos os discursos proferidos, até hoje, nos microfones das duas Casas, nesta legislatura. Os jovens ficariam sabendo, em detalhes, como o idioma português foi sendo barbaramente torturado e esquartejado pelos oradores das tribunas.


E quanto ao Lula? Este poderia governar em paz. Enquanto o texto das reformas de base não fica pronto (como já se passaram cinco anos, muita gente maldosa insinua que o presidente não pretende realizar reforma nenhuma…), Lula poderia dedicar-se com maior afinco àquela que é a sua obra maior, o Programa Bolsa-Família.


Ele – quem diria – nasceu quase por acidente. O presidente Lula, em seu primeiro dia de trabalho, anunciou à Nação, com toda a pompa possível, que iria erradicar o fantasma da fome no Brasil. Imediatamente deu posse ao ministro encarregado da façanha, o economista José Graziano. Os publicitários foram rápidos na elaboração do nome do programa, que passou a ser conhecido como Fome Zero – aberto às contribuições voluntárias dos cidadãos comuns.


Mas, se o marketing foi rápido, as ações efetivas teimavam em não sair do papel. Quem salvou a cara do governo Lula foi algum tecnocrata gaiato que alertou o presidente de que o cadastro de nomes já existia desde o governo FHC. O então presidente criara um programa social, com a devida lista de nomes, em que constavam todas as mães do País com filhos em idade escolar. A idéia era conceder benefícios a essas genitoras, desde que seus filhos fossem assíduos nas escolas.


Havia dois preciosos cadastros mais: o Bolsa-Escola e o Vale-Gás. Lula unificou os três cadastros, deu a esse somatório o nome de Bolsa-Família e, a partir daí, ampliou o programa até atingir 11 milhões de famílias.


Do jeito que os cartões corporativos estão se multiplicando, que ninguém duvide que o governo ainda acabe criando o ‘Vale-Cartão’. Afinal o programa do PT prega que sejamos todos iguais, não é mesmo?


João Mellão Neto, jornalista, deputado estadual, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado’


 


Dora Kramer


Descontrole interno


‘O caso dos cartões corporativos ainda está longe de esfriar, o governo reconheceu que falhou na fiscalização, anunciou medidas para restringir abusos e já ficamos sabendo de mais dois episódios típicos de descontrole com gastos oficiais.


Dois altos funcionários, o ministro dos Portos, Pedro Brito, e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Machado, trocaram de cargos, receberam auxílio para pagar as respectivas mudanças para seus Estados de origem, continuaram trabalhando em Brasília, embolsaram o dinheiro e, com o aval da administração pública, acham tudo muito natural.


Cumpre registrar a título de parênteses: ambos os remanejamentos ocorreram não por conta de aperfeiçoamentos administrativos, mas para abrir espaço à acomodação fisiológica de 2007 apelidada de reforma ministerial.


Brito cedeu o lugar na Integração Nacional ao PMDB e assumiu a indispensável pasta dos Portos, criada para atender à cota do PSB. Machado saiu da Previdência para abrir vaga ao presidente da CUT, Luiz Marinho, cuja realização mais vistosa até agora é conferir a invasores de terra o direito de contar tempo de aposentadoria.


Prossigamos. Nelson Machado cumpriu um interregno de 20 dias entre um cargo e outro passando, como ele diz, as ‘férias’ em São Paulo. Recebeu por isso R$ 18 mil, porque a lei que lhe dá o direito a uma verba para as despesas de mudança para o Estado de origem.


Ele não mudou, mas ganhou o dinheiro, e se considera ‘convicto’ da correção do ato. E ainda ensina: ‘É preciso esclarecer bem o conceito de mudança. A legislação diz que existe direito a ajuda de custo para mudança, transporte, viagens e etc. Isso eu fiz, fui embora daqui (de Brasília)’.


Realmente, foi, mas o que ele chama de ‘mudança, transporte, viagens’ resume-se ao pagamento de duas passagens de avião. Uma de ida, outra de volta. Coisa de R$ 1.000, na mais dispendiosa das hipóteses. E os outros R$ 17 mil? Embolsou.


É pouco? Pode até ser, mas a questão não é o quanto se gasta do dinheiro público, mas o uso que se faz dele e os métodos que caracterizam o abuso. É como a tapioca de R$ 8,30 paga pelo ministro dos Esportes com cartão corporativo: não é o valor, mas o sentido de apropriação privada de um bem público.


Passemos a Pedro Brito. Em março de 2007, deixou a Integração Nacional, voltou para Fortaleza e dois meses depois estava em Brasília de novo para assumir os Portos. Pediu R$ 8.300 de auxílio para cada mudança e não mudou. Como tem um flat em Brasília e a família mora no Ceará, limitou-se a transportar a si mesmo, gastando, no máximo, os mesmos R$ 1.000 do colega Machado. E os outros R$ 15.600? Gastou no táxi? Ou aplicou no sistema Matilde de locação de veículos?


O destino não importa. O problema está na origem e na facilidade com que sai dinheiro dos cofres oficiais sem a menor preocupação com controle.


Desse jeito, não há medida restritiva que dê jeito. Não se sabe se por falta de estrutura ou omissão proposital de orientação para que atuem com rigor, fato é que os instrumentos de fiscalização não funcionam.


O controle externo é exercido pela imprensa, mas o interno simplesmente não se dá a conhecer. Nesses e em outros tantos casos como, por exemplo, o de liberações irregulares de emendas parlamentares e frouxidão perniciosa na execução de convênios.


Casos assim ocorrem cotidianamente sem haja sinal de inquietação, a não ser enquanto estão sendo alvo do noticiário.


O governo fala de fechar portas arrombadas, mas não se mexe para mantê-las trancadas.


Melhor de três


De um ano para cá, o tucanato já patrocinou três acordos sobre os quais teve de se explicar. O primeiro, em janeiro de 2007, elegeu Arlindo Chinaglia presidente da Câmara. Deu certo.


O segundo, nos últimos meses do ano passado, quase resultou na aprovação da CPMF. Deu errado.


O terceiro, para a criação da CPI dos Cartões excluindo das investigações Lula e Fernando Henrique, desandou, desempatando o placar saia-justa para 2 tentativas e 1 gol contra.


Casa de lobby


O reitor Timothy Mulholland deixou a cobertura montada pela UnB. Pode devolver o dinheiro gasto, como exige o Ministério Público. Pode até continuar no cargo por conta da apatia de um movimento estudantil pelego como nunca se viu.


Mas o apartamento onde até lixo é de luxo continuará lá, servindo para ‘atividades de representação’ da universidade, inaugurando, assim, o instituto da casa de lobby acadêmica.


A prática, outrora muito comum em Brasília, foi aos poucos sendo abandonada pelas grandes empresas. Ressuscitou com a República de Ribeirão Preto, derrubou um ministro, e agora eterniza-se como um monumento ao desperdício das verbas que deveriam ser destinadas à educação.’


 


TELES
Irany Tereza


Opportunity pode atrasar acerto para a compra da BrT pela Oi


‘O banco Opportunity, que negocia de maneira separada dos demais sócios a reestruturação da Oi (antiga Telemar), apresenta hoje nova proposta de acordo, o que deve empurrar para a semana que vem a assinatura do memorando de entendimentos para a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi. Será mais um adiamento indesejado do negócio, que os acionistas tentam acelerar para aproveitar o momento de aparente sincronização de interesses.


Segundo fontes, na semana passada o Opportunity, de Daniel Dantas, confirmara o interesse em vender sua participação pelo preço proposto pelos sócios. O banco deve deixar a sociedade embolsando em torno de R$ 2 bilhões, somando as fatias que detém na Oi, Brasil Telecom e Telemig. Porém, insistia em manter a integralidade das ações judiciais travadas com os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef (respectivamente patrocinados pelo Banco do Brasil, Petrobrás e Caixa Econômica Federal). Essa briga representa o maior imbróglio empresarial da história no País e reúne mais de 50 ações.


Na nova proposta, o banco deve concordar com a retirada das ações de parte a parte. Mas, segundo fontes que acompanham o processo, vai impor a manutenção da disputa judicial com o Citigroup, que também venderá sua participação nas operadoras. O Opportunity, no início da sociedade, formada durante a privatização do Sistema Telebrás, representava tanto os fundos de pensão quanto os investidores do Citi. Foi destituído pelos fundos em 2003 e, dois anos depois, pelo Citi, com quem briga judicialmente na Corte de Nova York.


Fora do bloco de controle da Oi e afastado da gestão da BrT, o Opportunity não chega a representar um entrave para uma futura gestão, mas pode se tornar uma pedra no sapato dos acionistas da nova empresa.


Se não houver acordo quanto à retirada das ações judiciais, o novo grupo controlador da Oi, formado por Andrade Gutierrez, La Fonte (Carlos Jereissati) e Fundação Atlântico (fundo de pensão da Oi), poderá até comprar a BrT, assim que os esforços do governo para mudar a legislação estiverem concluídos. Mas, herdarão uma pendenga indesejável, que pode atrapalhar o andamento da nova supertele, que pretende investir pesadamente para disputar mercado com as rivais Telefónica (espanhóis) e América Móvil (mexicanos).


A idéia dos acionistas é promover uma limpeza na Oi e na BrT para que a nova operadora não inicie a jornada com qualquer penduricalho. As questões econômicas do acordo, segundo fontes, já foram fechadas em consenso.


O BNDES venderá, por cerca de R$ 800 milhões, parte de sua fatia na Oi para Petros e Funcef. A participação do banco estatal cai de 25% para 16,5% e a dos dois fundos sobe para cerca de 10% cada um. A Previ, que já detém cerca de 12%, permaneceria assim. Simultaneamente, o banco financia a dupla Andrade-Jereissati com R$ 1,8 bilhão para a compra das participações do Citi, Opportunity e GP Investimentos, que também já teria manifestado interesse de deixar a sociedade.


Depois da reestruturação societária na Oi, os controladores da operadora fariam a oferta pela BrT, de até R$ 5,4 bilhões, mas sem financiamento do BNDES. Segundo fontes, o governo prefere se manter à parte da aquisição, para evitar desgaste político. Os sócios buscariam outros meios de financiamento, além de recursos próprios.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Fragilidade da existência em questão


‘Madonna chegou bela e sexy para a coletiva de quarta-feira, mas também humilde como convém a uma diretora estreante, sem a arrogância da superstar que é. Quando ela disse que se projeta nos três personagens principais de seu filme, um rapaz e duas garotas que chafurdam na imundície em busca de atingir a sabedoria, todo mundo quis saber se Madonna havia feito strip-tease, no começo de sua carreira, como uma das jovens. Ela respondeu que strip-tease não, ‘mas fiz outras coisas’ e encerrou o assunto.


Todo mundo faz sempre outras coisas, e coisas de que às vezes se arrepende. É muito provável que o prêmio de melhor atriz vá para a inglesa Sally Hawkins, do filme de Mike Leigh, Happy-Go-Lucky, mas a melhor interpretação feminina deste festival é a de Kristin Scott-Thomas no filme francês Il y a Longtemps Que Je t’Aime, de Philippe Claudel. Kristin faz uma mãe que matou o próprio filho. No início, ela é apenas uma mulher de comportamento meio estranho, vinda não se sabe de onde para a casa da irmã, casada e mãe de duas crianças adotadas.


Aos poucos, por meio de uma informação aqui, outra ali, o espectador descobre que Kristin saiu da prisão, onde cumpriu pena de 15 anos. Um dos homens a quem ela vai pedir emprego, enviada por uma assistente social, observa que, para ter ficado tanto tempo na cadeia, ela deve ter matado alguém. Quem? ‘Meu filho’, ela responde e só mais tarde o espectador fica sabendo o motivo do crime hediondo. Enquanto isso, Kristin realiza seu luto e se aproxima da irmã. É bom pegar Il y a Longtemps Que Je t’Aime como exemplo porque existem muitos filmes sobre morte, e luto, aqui em Berlim, inclusive alguns dos melhores que participam da competição.


A alemã Doris Dorrie é conhecida no Brasil principalmente por meio de comédias um tanto pesadas, por seu humor teutônico, pelo qual os críticos em geral não têm muito apreço. Alguma coisa se passou, porque Doris mudou o tom e fez, com Cherry Blossoms – Hanami, seu filme mais emotivo. E não deixa de ser um filme sobre o luto de um homem que perdeu a mulher e resolve homenageá-la, indo ao Japão para participar de uma festa tradicional, pela qual ela foi sempre atraída. Este homem nunca conheceu sua mulher de fato. Aprende a conhecê-la agora depois de morta e a conclusão – pessimista ou realista? – de Doris é que as pessoas nunca chegam a se conhecer totalmente. Somos mistérios, uns para os outros, talvez por causa da duplicidade a que se refere Madonna em Filth and Wisdom, seu filme que passa aqui fora de concurso, no Panorama Especial. Doris vai além. Não é só o marido que não conhece a mulher, ou só a conhece tardiamente. Os filhos também não sabem os pais que têm.


Nanni Moretti, o viúvo de Caos Calmo, de Antonio Luigi Grimaldi, amarga um outro tipo de problema. Ele se recrimina por não haver estado ao lado da mulher, quando ela morreu e, agora, se dedica, com obstinada determinação, à filha do casal, uma menina de 10 anos. Todo dia ele pára o carro na porta do colégio e não faz outra coisa senão esperar pela garota. A imundície e sabedoria que, no filme de Madonna, são o material que compõe o barro humano, são substituídos por esse caos calmo que é a expressão da vida interior do protagonista de Antonio Luigi Grimaldi.


Em O Quarto do Filho, que ele próprio dirigiu, e recebeu a Palma de Ouro em Cannes, Moretti, como ator e diretor, falou de um pai que realiza o luto pela morte do filho. Aqui, o calmo desespero de Pietro – é o nome do personagem – desperta a simpatia das pessoas ao redor, que querem consolá-lo, mas, na verdade, terminam dividindo com ele suas angústias e dores. É um bom, não necessariamente grande, filme, também interpretado por Isabella Ferrari e Valeria Golino. Na Itália, fez sensação pelas cenas de sexo, que não são explícitas, mas bastaram para colocar o Vaticano em guarda contra o filme, como se fosse obsceno.


A morte tem-se feito presente em outros filmes da competição. Em Lady Jane, de Robert Guédiguian – o título é uma referência à canção dos Rolling Stones, Ariane Ascaride convoca os amigos do submundo de Marseille (Jean-Pierre Darroussin e Gerard Meylan) para investigar – e vingar – a morte de seu filho, que foi seqüestrado e executado diante de seus olhos. Em Elegy, que Isabel Coixet adaptou de Philip Roth, o professor interpretado por Ben Kingsley perde tudo, o amigo como a amante, para que a diretora possa falar da beleza e de sua perda, tecendo uma espécie de véu para refletir sobre a fragilidade da existência. Esta mesma fragilidade transparece na cerimônia das flores de Cherry Blossoms. Duplo, frágil, o humano tem oferecido um espetáculo aqui em Berlim que poderia ser mais complexo se tantos filmes não fossem apenas medianos.’


 


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


Festa com conteúdo


‘Não é com festa, mas com uma exposição, que a Globo comemora a estréia de Queridos Amigos. O primeiro capítulo da minissérie de Maria Adelaide Amaral vai ao ar na segunda-feira. No domingo, a autora, o elenco e a diretora Denise Saraceni recebem convidados no Memorial da América Latina para o coquetel de abertura da exposição que leva o nome da minissérie.


Boa sacada, a mostra reúne obras de artistas das décadas de 70 e 80, uma homenagem à geração retratada na minissérie. Sob a curadoria de Denise Mattar, estarão expostas 45 obras de 20 artistas, como Sérgio Sister, Elifas Andreato, Ângela Rocha, Claudio Tozzi e Ana Durães, entre outros. Denise Mattar também foi consultora da minissérie, que terá diversas obras de arte expostas em cena, a pedido de Maria Adelaide.


Com Dan Stulbach como protagonista, Queridos Amigos conta a história de um grupo que se desintegra no início da década de 80, mas se reencontra em 1989.


A exposição ficará no foyer do auditório do Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, tel (11) 3823-4600) do dia 18 ao dia 25.’


 


 


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