Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Letícia Sander

Lula se irrita com pergunta sobre PT e Renan

‘A crise envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tirou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do sério ontem, horas antes de sua despedida da Noruega, última etapa do giro pelos países nórdicos. O presidente demonstrou irritação e se recusou a responder a uma pergunta sobre a participação do governo na absolvição de Renan no plenário do Senado, na última quarta-feira.

Lula passou dois dias sendo questionado sobre o tema. Na véspera, na Dinamarca, tergiversou sobre a decisão dos senadores, mas não respondeu à pergunta concreta que lhe foi dirigida, sobre o papel do PT no episódio. Ontem, evitou dar qualquer palavra sobre o caso.

Numa breve coletiva de imprensa ao lado do premier norueguês, Jens Stoltenberg, Lula foi questionado pela repórter do jornal ‘O Estado de S. Paulo’ se o governo orientou o PT a absolver o presidente do Senado e se irá pressionar para que Renan Calheiros, agora, se licencie do cargo.

Balançando a cabeça, com expressão irritada, o presidente respondeu: ‘Eu só lamento que na minha despedida eu tenha que falar do Brasil. Seria tão mais fácil um jornalista do ‘Estadão’ lá no Brasil ligar para o presidente do PT e receber todas as informações’, afirmou o presidente petista.

‘Eu estou terminando uma viagem de uma semana, estou tão cansado quanto vocês. E não é justo que esta viagem não tenha despertado nenhuma curiosidade ao ‘Estadão’, disse, dando o assunto por encerrado.

Estrangeiros

Tratamento diferente foi dispensado minutos depois a jornalistas noruegueses que também fugiram do tema da viagem de Lula. Uma estrangeira, por exemplo, o questionou sobre sua relação com os líderes de esquerda latino-americanos, entre eles o venezuelano Hugo Chávez.

Ao final da entrevista, os jornalistas brasileiros ainda tentaram insistir para que o presidente falasse sobre a atuação do governo na defesa do presidente do Senado, mas ele novamente se recusou. ‘Chega, chega, chega, chega’, disse Lula, deixando a sala onde ocorreu a coletiva.

A resposta quase ríspida de Lula gerou curiosidade entre os jornalistas noruegueses, que, ao término da entrevista, foram perguntar aos brasileiros mais detalhes do assunto sobre o qual Lula preferiu não comentar.

Foi o único momento do dia em que os jornalistas que acompanham a viagem tiveram contato direto com o presidente. Mais cedo, ele participou de um seminário com empresários e esteve em uma cerimônia de oferenda floral ao lado do rei Harald 5º, em homenagem a ‘noruegueses heróis’, que defenderam a pátria. Chovia, e Lula estava debaixo de um guarda-chuva. O rei, não. Ainda teve almoço privado com o premier, o rei e a rainha Sonja. Por volta das 16h, partiu para Madri, onde encerra sua viagem, na segunda-feira.

Antes de começar a coletiva, o presidente fez uma breve explanação aos jornalistas presentes, na qual manifestou sua ‘alegria’ e ‘surpresa’ com a pujança norueguesa, chamada por ele de ‘terra do bacalhau’.

‘Eu me despeço do premier com a sensação de que construí novas oportunidades para o Brasil. A sensação de que arrumei um novo amigo, por que não dizer um companheiro? Porque acredito que a política é feita na base da relação humana’, afirmou o presidente.’

MÍDIA & RELIGIÃO
Lilian Christofoletti e Leandro Beguoci

CGU pede que Renascer devolva R$ 1,9 mi

‘A CGU (Controladoria Geral da União) recomendou ao Ministério da Educação que exija a devolução de R$ 1,9 milhão entregue à Fundação Renascer, entre 2004 e 2005, para programas de alfabetização de jovens e adultos e de capacitação de voluntários para o ensino.

Fiscais da CGU informaram que, por três vezes, tentaram obter os relatórios que comprovariam a aplicação dos recursos, o que foi negado pela entidade. A fundação é a personalidade jurídica da igreja Renascer, fundada por Sonia e Estevam Hernandes, que estão presos nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro.

No mês passado, a CGU encaminhou o relatório ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão do Ministério da Educação responsável pela liberação dos recursos, e recomendou o resgate dos valores pagos à entidade por dois convênios do programa federal Brasil Alfabetizado.

Na semana passada, em mais uma tentativa para receber os documentos, o FNDE encaminhou novo pedido à fundação. O órgão quer os relatórios fiscais e as listas de alfabetizadores e de alunos para análise.

Números

À época dos repasses, a Renascer informou que, pelo primeiro convênio, de R$ 1,1 milhão e que vigorou de dezembro de 2003 a julho de 2004, contratou 300 alfabetizadores e ensinou 14.686 jovens. Disse que, no segundo convênio, de R$ 785 mil e que funcionou de outubro de 2004 a setembro de 2005, 251 professores educaram 8.016 jovens.

O informe ao Ministério da Educação foi apenas numérico.

Segundo o auditor-chefe do FNDE, Gil Loja, se a Fundação Renascer enviar as listas com os nomes de todos os voluntários e alfabetizados, será feita uma auditoria para saber se os dois convênios foram aplicados corretamente. Após uma seleção aleatória de nomes, fiscais do órgão entrarão em contato com as pessoas para saber se participaram do programa.

‘Nossa preocupação é aprimorar cada vez mais o programa e impedir as irregularidades’, afirmou Loja.

Segundo auditor-chefe, em 2005 foi feita uma auditoria parcial nos documentos da Renascer, em São Paulo. ‘Mas, como o programa de alfabetização ainda estava em vigor, não foi possível pedir todos os papéis.’ Loja disse que, à época, constatou-se que R$ 46 mil do convênio haviam sido gastos indevidamente.

A Fundação Renascer, que sofreu recentemente uma intervenção judicial que destituiu Sonia da presidência, tem até a próxima semana para encaminhar os relatórios.

Denúncia

Supostas irregularidades no cumprimento dos dois convênios do Brasil Alfabetizado já haviam sido relatadas por uma mulher que trabalhou durante anos no setor financeiro da Renascer. A identidade dela é mantida em sigilo pela Justiça.

Segundo a ex-funcionária, algumas igrejas realmente cumpriam o programa corretamente, mas a grande maioria não.

Ela conta que a lista de voluntários e de alunos foi fraudada com nomes de pessoas que nunca participaram do programa. Como responsável pela fraude, ela apontou o bispo José Romildo.

A denunciante disse ainda que o setor de Recursos Humanos gerou folhas de pagamento falsas e recibos de salários com assinaturas forjadas. A maior parte da verba dos convênios, afirmou, ficou nos caixas da igreja. A denúncia está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.’

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Igreja afirma que alfabetizou 15 mil pessoas

‘A Igreja Renascer em Cristo disse ontem que alfabetizou 15 mil jovens e adultos com os recursos repassados pelo Ministério da Educação.

A assessoria da entidade informou, por e-mail, que houve formaturas em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Salvador. Disse ainda qual foi o método usado para a obtenção dos resultados, o do educador Paulo Freire.

‘As cartilhas, baseadas em assuntos voltados ao interesse dos fiéis, da Bíblia, preparadas com esmero, trouxeram resultados que superaram outras técnicas. É a utilização, dentro dos valores cristãos, do Método Paulo Freire’, informou a igreja.

Segundo a assessoria, o projeto continua até hoje, mesmo sem verbas oficiais, e, tal como no passado, todos os templos da Renascer possuem salas de aulas. Também diz que os professores são voluntários da igreja.

Sobre as denúncias de irregularidade com verbas públicas, diz que o MEC auditou e aprovou as contas do convênio. Em relação à exigência feita pela CGU (Controladoria-Geral da União) à pasta da Educação, para que exija de volta o dinheiro entregue à Igreja Renascer, diz confiar que a instituição vai saber buscar as informações que asseguraram, no passado, a aprovação das contas. Por fim, ataca os críticos.

‘Não há sentido em que seja levantada qualquer dúvida sobre o trabalho realizado, por conta de denúncias desleais, acusações sem provas. (…) Não podemos permitir que essas vozes levantem calúnias contra os bispos que cuidam do Ministério do Ensino com tanto esmero e dedicação, como o bispo José Romildo. A perseguição religiosa deve ter limites.’’

MÍDIA & POLÍTICA / MÉXICO
Folha de S. Paulo

México restringe a propaganda eleitoral

‘A Câmara dos Deputados do México aprovou ontem, por 408 votos a 33, uma reforma da Lei Eleitoral do país. A nova legislação reduz os gastos partidários com as campanhas eleitorais e a duração das campanhas. Além disso, proíbe os partidos de comprarem espaço para publicidade no rádio e na TV -eles terão de dispor do espaço a que o Estado tem direito nos meios de comunicação, nos moldes do horário eleitoral gratuito brasileiro.

Tal espaço será administrado pelo Instituto Eleitoral Federal, o órgão fiscalizador das eleições. Esse próprio órgão terá sua constituição alterada pela nova lei: nove de seus principais membros, entre os quais seu presidente, Luis Carlos Ugalde, serão substituídos.

A lei aprovada ontem -que já havia passado pelo Senado- é uma reação ao que se passou no país durante as últimas eleições presidenciais, em julho de 2006. Seu resultado foi a vitória do conservador Felipe Calderón sobre o esquerdista López Obrador por uma diferença de 233 mil votos, traduzidos em 0,56 ponto percentual.

López Obrador alega até hoje que foi vítima de fraude e de uma campanha negativa do virtual monopólio da Televisa -que favorecia Calderón- e seus simpatizantes criticaram duramente Ugalde pela condução do processo eleitoral.

A Câmara Nacional da Indústria de Rádio e Televisão, sindicato patronal do setor de cominação, fez uma campanha contra a aprovação da lei, argumentado que ela fere o direito de expressão. Projeção realizada pela entidade com base na perda de receita em virtude das novas regras dá conta de que 950 difusoras de rádio do país correrão o risco de quebrar.

O texto da nova lei ainda terá de ser ratificado pela maioria das Assembléias Legislativas dos 33 Estados mexicanos antes de seguir para a sanção do presidente Calderón, pois implica mudança constitucional. Ele estabelece a redução em mais de 85% do financiamento privado que cada partido pode receber, a fim de evitar que ‘interesses ilegais e ilegítimos, por meio do dinheiro, possam afetar a vida dos partidos e o curso das campanhas eleitorais’.

Reforma fiscal

O Congresso mexicano também aprovou, ontem à noite, uma nova Lei Fiscal que tornará mais fortes ‘as finanças públicas e a vida institucional’ do México, segundo o presidente Felipe Calderón.

A nova legislação inclui a criação de um novo imposto de renda, de 16,5%, a ser pago pelas empresas. O objetivo é incrementar em 2,5% do PIB a arrecadação fiscal -a carga tributária mexicana é hoje de apenas 12% do PIB, ou um terço da brasileira. Também foi criado um imposto de 2% sobre depósitos em papel-moeda.

Para a Confederação Patronal da República Mexicana, as duas novas leis são ‘contra o interesse social e a transição democrática do México’.

O apoio de Calderón às duas reformas confirma seu distanciamento do conservadorismo de seu antecessor, Vicente Fox. Os dois são do mesmo partido de direita, o PAN (Partido da Ação Nacional).’

MEMÓRIA / LEON HIRSZMAN
José Geraldo Couto

Obra de Leon Hirszman é restaurada

‘A obra de um dos mais importantes autores do cinema brasileiro moderno, Leon Hirszman (1937-87), está sendo restaurada digitalmente e será lançada em DVD a partir de novembro próximo.

A primeira caixa a chegar às lojas e locadoras, com dois DVDs duplos, incluirá os longas ‘Eles Não Usam Black-Tie’ (1981) e ‘ABC da Greve’ (1979/ 90) e o documentário inédito ‘Deixa que Eu Falo’, sobre Hirszman, feito pelo cineasta e montador Eduardo Escorel, além do curta ‘Pedreira de São Diogo’, parte do longa coletivo ‘Cinco Vezes Favela’ (1962).

Eduardo Escorel, 62, e seu irmão Lauro, 57, coordenam o projeto de restauração, que tem patrocínio da Petrobras e apoio técnico da Cinemateca Brasileira, depositária das matrizes dos filmes de Hirszman. Os irmãos Escorel foram parceiros fundamentais de Leon. Eduardo fez a montagem e Lauro a direção de fotografia de marcos como ‘São Bernardo’ (1971) e ‘Eles Não Usam Black-Tie’. Ambos dizem ter aprendido muito com o cineasta, um dos líderes do cinema novo.

‘O convívio com Leon foi muito rico’, diz Lauro, que tinha 21 anos quando fez a fotografia de ‘São Bernardo’. ‘Sua maneira de conduzir o set de filmagem, sua forma de trabalhar com os atores e seu senso de composição certamente me marcaram muito.’

Segundo Lauro Escorel, ‘Leon era um ser político dotado de grande sensibilidade artística’. Para seu irmão Eduardo, ‘embora tenha sido muito amigo de Glauber [Rocha], Leon tinha uma faceta antiglauberiana. Era um temperamento conciliador, suave, nada agressivo. Era cineasta e político em tempo integral’.

Na primeira caixa de DVDs a ser lançada, foram reunidos, de acordo com Lauro Escorel, os filmes mais ‘políticos’ do diretor. Até 2010, deverão ser lançados outros títulos fundamentais da sua filmografia, como ‘São Bernardo’, ‘A Falecida’ (1965) e o monumental documentário ‘Imagens do Inconsciente’ (1983-85). No documentário ‘Deixa que Eu Falo’, entre outras preciosidades, há a última filmagem de Hirszman, uma entrevista com a psiquiatra Nise da Silveira, criadora do Museu do Inconsciente.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

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