Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Folha de S. Paulo

PROPAGANDA
Lilian Christofoletti

TSE restringe uso de internet na campanha

‘A restrição imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral ao uso da internet como instrumento de propaganda fechou as portas do mundo virtual para a divulgação de informação jornalística e de manifestações individuais sobre candidatos.

A limitação está prevista na Resolução nº 22.718, uma espécie de guia para as eleições municipais deste ano. O ponto mais polêmico é o fato de o TSE ter equiparado legalmente a internet ao rádio e à televisão, que são concessões públicas.

A legislação eleitoral proíbe a mídia eletrônica de difundir opinião favorável ou contrária a candidato e ainda de dar tratamento diferenciado aos postulantes. Já os jornais e revistas, que são empresas privadas, não sofrem restrições.

Na prática, a equiparação significa que as inúmeras ferramentas da internet -como blog, e-mail, web TV, web rádio e páginas de notícias, de bate-papo, de vídeos ou comunidades virtuais- não poderão ser usadas para divulgar imagens ou opiniões que configurem apoio ou crítica a candidatos.

A vedação cria situações inusitadas. Um texto desfavorável a uma candidatura, por exemplo, pode ser publicado num jornal impresso, mas não pode ser reproduzido em um blog.

Até mesmo o internauta poderá ser multado se criar sites, blogs ou comunidades pró ou contra candidatos. O tribunal entende que quem não pode praticar um ato por meio próprio também não pode praticar por meio de terceiros.

Consultas

Uma consulta e um mandado de segurança foram encaminhados ao TSE para tentar esclarecer as dúvidas sobre a internet na disputa de 2008.

A consulta, assinada pelo deputado federal José Fernando de Oliveira (PV-MG), questionava o uso do e-mail, do blog, do link patrocinado (anúncio em site de busca) e de comunidades virtuais como instrumentos de propaganda.

Os ministros do TSE não chegaram a um consenso.

Enquanto o presidente da corte, Carlos Ayres Britto, defendeu a internet como um espaço de liberdade de comunicação e, por isso, não sujeita a restrições legais, o colega Ari Pargendler apresentou cerca de 45 propostas de controle da rede mundial de computação.

O TSE optou pelo voto do ministro Joaquim Barbosa, que propôs postergar a discussão para casos concretos que ainda serão levados ao tribunal.

O mandado de segurança foi iniciado pelo Grupo Estado, que criticou a equiparação da internet às empresas de radiodifusão. Sem analisar o tema, o TSE rejeitou o recurso.

Reação

Advogados de empresas jornalísticas com portais na internet criticaram a resolução.

‘É uma situação absurda. Um site vinculado a um jornal ou a uma revista pertence a um grupo privado, não é uma concessão pública, não pode ser censurado’, disse o advogado do Grupo Estado Afranio Affonso Ferreira Neto.

Para ele, um internauta não tem uma postura passiva diante da notícia, ele precisa ‘navegar’ até encontrar o que busca.

O advogado Luís Francisco Carvalho Filho, da Folha, também criticou os limites impostos pela resolução. ‘Como cidadão, tenho o direito de expressar a minha opinião em um blog, de dizer em quem voto e de criticar candidatos.’ Para Carvalho Filho, a maioria das questões sobre o uso da internet na eleição serão certamente analisadas pela Justiça.

Luiz de Camargo Aranha Neto, advogado das Organizações Globo, defendeu o fim da regulamentação da internet, a exemplo do que já ocorre em outros países. ‘Mesmo porque uma fiscalização é impossível, você pode criar um site num provedor do exterior. Como a Justiça vai impedir?’

Para o especialista em direito eletrônico Renato Opice Blum, a tendência é, aos poucos, a legislação brasileira ser menos proibitiva com a internet. ‘Mais cedo ou mais tarde, nós também teremos uma regulamentação mais equilibrada.’

No mês passado, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio divulgou uma portaria permitindo o uso de blog, de site e de comunidade do Orkut na eleição. Vetou o uso do e-mail.’

 

 

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Promotoria quer punir ‘casos emblemáticos’

‘A Justiça Eleitoral terá de criar uma megaoperação se quiser punir o uso da internet na disputa eleitoral. Basta um passeio pela página do Orkut, que é um site de relacionamentos, ou do Youtube, onde qualquer pessoa pode postar um vídeo, para encontrar milhares de referências positivas ou negativas a pré-candidatos.

‘Isso pode dar a falsa impressão de que a Justiça não irá punir propaganda eleitoral fora do site oficial do candidato, o que não é verdade. Não será como enxugar gelo. Muita gente será identificada e multada’, afirmou o chefe da Procuradoria Regional Eleitoral do Estado de São Paulo, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.

Caberá ao Ministério Público, que tem cerca de 400 promotores eleitorais em São Paulo, oferecer representações judiciais por eventuais propagandas irregulares.

Na prática, no entanto, a fiscalização se dará em casos emblemáticos e que tenham sido denunciados por equipes de candidatos adversários.

‘No dia seguinte à divulgação de uma propaganda que possa ser ilegal, o Ministério Público já é acionado por algum candidato’, disse Gonçalves.

O procurador regional eleitoral de Minas Gerais, José Jairo Gomes, reconhece que a fiscalização é difícil.

‘As próprias pessoas levam os fatos ao conhecimento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público. E a Justiça Eleitoral tem poder de polícia’, disse.

Gomes citou um caso, ocorrido em Minas Gerais, em que não foi possível localizar a origem de uma comunidade do Orkut, que era atribuída a uma candidata a deputada.

O procurador afirma que é preciso ter cuidado pois muitas vezes é o próprio adversário de um candidato que tenta prejudicá-lo. ‘Imagine um candidato liderando as pesquisas e um adversário faz um bombardeio pela internet. Essa ausência de regras, esse vácuo legislativo deixa as pessoas sem saber o que fazer. Na Justiça Eleitoral, mesmo quando existem regras, há muita controvérsia.’’

 

 

Felipe Bächtold

Justiça impede a propaganda eleitoral no Orkut

‘Ações da Justiça Eleitoral pelo país vêm reprimindo comunidades no Orkut que promovem candidatos às eleições de outubro. A criação das páginas no site de relacionamentos é considerada propaganda antecipada.

Em Goiás e no Ceará, a Justiça mandou o Google, empresa que mantém o site de relacionamento, tirar do ar comunidades de pré-candidatos, após denúncias do Ministério Público.

Em Minas Gerais, um candidato a vereador foi condenado a pagar multa de R$ 21 mil por propaganda no site.

As regras da divulgação eleitoral na internet, contudo, ainda não estão esclarecidas. No Rio de Janeiro, portaria do Tribunal Regional Eleitoral permite a campanha no Orkut. O Tribunal Superior pretende julgar cada caso separadamente.

A maior parte das comunidades de cunho eleitoral não é criada pela direção das campanhas, mas por eleitores dos candidatos.

Na cidade goiana de Minaçu, uma usuária do Orkut foi processada por produzir uma comunidade chamada ‘Eu voto no Cícero Romão’, que era pré-candidato a prefeito. A Promotoria considerou que a comunidade dava a Romão vantagem ilegal em relação a seus adversários. Pediu o fechamento à Justiça, que acatou o pedido.

O promotor Augusto Bittencourt, responsável pela ação, diz que só são regulares as comunidades criadas no período oficial de propaganda -que começou neste mês- e registradas na Justiça. Segundo ele, quem criar uma comunidade irregular pode ser multado em até R$ 53 mil.’

 

 

ELEIÇÕES NOS EUA
Daniel Bergamasco

Lei americana libera cobertura das eleições

‘A legislação dos Estados Unidos não impõe limites para a cobertura de eleições pela imprensa, seja quanto a temas abordados, tempo de exposição ou espaço aos concorrentes.

Como a primeira emenda da Constituição americana garante liberdade de expressão e de imprensa, qualquer projeto de lei que proponha estabelecer restrições se tornará inconstitucional. Dessa forma, os Estados também não podem criar barreiras próprias, segundo a Comissão Eleitoral Federal.

‘Não há limite nenhum. Os jornais puderam falar do [candidato republicano à Presidência dos EUA] John McCain ou do [ex-pré-candidato republicano] Rudolph Giuliani quando e como quiseram. Lembre-se de que, no início das eleições primárias, Giuliani era mais importante que McCain e ganhava mais espaço do que ele. Depois que não teve muitos votos e perdeu importância no jogo, os jornais passaram naturalmente a dar mais espaço para o concorrente’, diz Rick Hasen, especialista em legislação eleitoral na Universidade Loyola, na Califórnia.

Para Hasen, o modelo adotado nos EUA é positivo para o país. ‘Aqui nos Estados Unidos a sociedade se acostumou à liberdade de expressão. Qualquer tentativa de tirar isso, mesmo que seja só um pouquinho, causaria certamente muitos protestos.’

Também não há restrições sobre debates organizados por veículos de imprensa, que têm como prática convidar os principais candidatos.

Em janeiro, o democrata Dennis Kucinich processou a rede de TV NBC por esta ter, segundo sua equipe, dito inicialmente que os quatro mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos para a prévia democrata participariam do debate, e depois ter reduzido o número para três, abrangendo John Edwards, Hillary Clinton e Barack Obama. Kucinich tentou barrar a transmissão, mas o pedido foi negado pela Justiça.’

 

 

GOVERNO
Folha de S. Paulo

Foguetório

‘Incontinência verbal e disparates marcam declarações de ministros do governo Lula sobre temas polêmicos

FOGOS de artifício não são fora de propósito nesta época do ano, mas o primeiro escalão do governo Lula tem-se caracterizado por excessos de estrépito e pirotecnia. Os resultados estão longe de se mostrarem deslumbrantes.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, abriu a fila no início da semana, declarando que ‘acabou a moleza dos usineiros do Nordeste’. O petardo retórico veio a propósito de uma elevada multa por crimes ambientais aplicada às usinas de cana-de-açúcar de Pernambuco.

Nada mais correto do que reprimir os danos causados ao pouco que resta da Mata Atlântica. Todavia, a mesma multa foi aplicada indiscriminadamente às 24 usinas do Estado, uma vez que o Ibama se diz impossibilitado de aferir as responsabilidades específicas de cada uma delas. Tudo indica, assim, que tende a ser fugaz o brilho da investida, face às contestações judiciais que previsivelmente deflagrará.

No mesmo dia em que Minc hasteava a bandeira contra os usineiros, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, dava novas mostras de que a coerência não predomina nos arraiais governistas.

A região amazônica, disse Jobim, ‘não pode ser uma coleção de árvores para o lazer de estrangeiros’. Acrescentou que, ‘se nós considerarmos a Amazônia como uma reserva ambiental absoluta, nós precisamos matar os 21 milhões de pessoas que moram lá’. O costumeiro procedimento de caricaturar o ambientalismo para melhor atacá-lo já contou com formulações menos esfarrapadas do que esta.

O disparate em torno do assunto elevou-se a novas altitudes, entretanto, com as últimas considerações do presidente Lula. Entoando o estribilho da ‘internacionalização da Amazônia’, Lula julgou apropriado levantar um bizarro contra-exemplo: ‘Ninguém quer internacionalizar a Nasa’. Fosse, ao menos, o Alasca… mas a vertiginosa parábola do raciocínio intimida qualquer esforço de interpretação.

Perdido no horizonte o enigmático balão de ensaio do Planalto, a atenção do observador pode passar ao âmbito mais terreno do gabinete do ministro da Justiça, Tarso Genro, onde não faltaram ocasionais despropósitos e estalos de salão. O tema foram as críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a vazamentos de informações, na sua opinião intimidatórios, feitos pela Polícia Federal.

Na Polícia Federal? ‘Lá não tem vazamento’, disse Tarso Genro. ‘Não é regra vazamento’, complementou. Na dúvida, os que acompanham o cotidiano do governo Lula farão bem se taparem os ouvidos.’

 

 

ZIMBÁBUE
Folha de S. Paulo

Vídeo mostra fraude; Mugabe recebe opositor

‘Sob mediação do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, seu aliado, o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, reuniu-se em Harare com representantes de facção dissidente do partido opositor MDC (Movimento pela Mudança Democrática).

Mbeki disse, ao fim do breve encontro, que as negociações ‘precisam avançar com velocidade’. Um porta-voz do MDC, Nelson Chamisa, disse que o partido se encontraria com Mugabe como chefe do partido governista (Zanu-PF), mas não como chefe de Estado, pois isso ‘o endossaria’.

A reunião ocorre em meio a críticas à reeleição do ditador -intensificadas após a divulgação, ontem, de um vídeo de fraude eleitoral. Nele, policiais obrigam subordinados a votarem em Mugabe, há 28 anos no poder, e membros do Zanu-PF intimidam eleitores nas urnas.

O filme, feito a pedido do jornal ‘The Guardian’, foi gravado com uma câmera escondida pelo agente penitenciário Shepherd Jouda, que já deixou o país, nos seis dias antes do segundo turno, em 27 de junho. O MDC vencera a primeira etapa, mas, ante a dura repressão à oposição, abandonou a disputa.

Com agências internacionais’

 

 

COTAS
Valdo Cruz

TV paga abre disputa entre grupos de mídia

‘Depois da guerra travada entre teles e TVs, agora é a vez da batalha envolvendo os grupos de comunicação na votação do projeto que irá definir o futuro da TV paga e da convergência digital no país.

De um lado, a Globo trabalha para derrubar o sistema de cotas de canais e de conteúdo nacional na TV paga tal como está proposto, sob o argumento de que ele vai tornar o serviço mais caro e afetar a qualidade da programação.

Do outro, grupos como Abril, Band e Record, apoiados pelos produtores independentes, defendem as cotas criadas pelo relator do projeto na Câmara, deputado Jorge Bittar (PT-RJ), pronto para ser votado na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação.

Esses grupos alegam que as cotas de canais e conteúdo nacional vão estimular a concorrência na TV paga brasileira, ao criar um mercado mínimo para produtoras que hoje têm dificuldades para conseguir espaço nesse setor.

Traduzindo: está em disputa o negócio de fornecimento de conteúdo nacional para a TV por assinatura, hoje dominado pela Globosat com seus canais esportivos e de notícias.

Concentração que se repete na distribuição do serviço no país: dois grupos controlam quase 80% desse mercado -Net (associação entre a Globo e o mexicano Carlos Slim) e Sky (controlada pelo grupo americano Liberty Media, com participação da Globo).

Com a entrada em peso das teles fixa no setor, a partir das mudanças na legislação atual, a estimativa é que o número de assinantes salte dos pouco mais de 5,3 milhões de hoje para 18 milhões em 2018.

Um mercado que, crescente, tende a atrair parte do bolo publicitário do setor de mídia, estimado hoje em R$ 8 bilhões anuais -90% vão para a TV aberta, concentrado na Globo.

Esse risco de perda de faturamento na TV aberta, por sinal, sempre foi um dos motivos para que as emissoras de televisão se colocassem contra a entrada das teles no mercado de TV por assinatura, algo hoje tido como inevitável.

As TVs costumam citar que o faturamento do setor no Brasil gira na casa dos R$ 10 bilhões anuais, enquanto as teles faturam cerca de R$ 140 bilhões e teriam, assim, um poder econômico muito maior para dominar o mercado no futuro.

Competição

Relator do projeto, o petista Bittar defende sua proposta ao dizer que ela vai ‘criar um ambiente de competição, estimulando a melhor utilização das redes e permitindo pacotes de TV por assinatura combinados com banda larga e serviços de voz a preços menores do que os atuais’.

Até aí, os pesos pesados do setor estão de acordo. A divergência surge nas propostas de Bittar para estimular a produção nacional por meio da criação do sistema de cotas, tanto de canais nacionais como de conteúdo brasileiro. Disputa que acabou gerando um impasse no Congresso, obstruindo a votação do projeto.

As Organizações Globo distribuíram um texto aos deputados da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação em que classificam como ‘negativo’ o capítulo 5º do relatório de Bittar, que ‘impõe aos distribuidores diversas formas de cotas -de canais, de origens de conteúdo e tipos de programas, entre outras-, afetando a liberdade de oferta de conteúdo, a qualidade da programação, a livre concorrência e aumentando o custo para os assinantes’.

Diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro diz que não é contra cotas, mas ao formato proposto pelo relator. ‘Algum nível de cota faz sentido. Só que no relatório há um exagero de cotas’, afirma, acrescentando que algumas têm ‘endereço certo, que é reduzir o espaço da Globosat’.

Uma crítica indireta ao modelo de programador brasileiro incentivado previsto pelo deputado Jorge Bittar na definição de cotas, que se encaixa no perfil dos grupos Abril, Band e Record. Pelo projeto do relator, esses programadores teriam, por exemplo, uma garantia de espaço de um terço nos canais nacionais. Esses grupos desejam até aumentar esse espaço.

A Record não concorda com a crítica. ‘Apoiamos a manutenção do capítulo 5º [da criação das cotas], não queremos sua supressão. Se sua aprovação depender de ajustes na redação, pode haver’, afirma Higes Andres Manara, consultora jurídica da empresa.

Na opinião da Record, a Globo não quer a aprovação do projeto por causa da entrada das teles no mercado de TV paga. ‘A Globo é contra esse projeto. Eles não querem que as teles entrem no mercado, e nós não nos importamos’, diz Higes Manara.

Pecegueiro, da Globosat, diz que seu grupo não se opõe à entrada das empresas de telefonia fixa no mercado. ‘É inevitável que elas entrem, o que precisamos é que haja uma legislação regulando esse mercado, é isso que defendemos.’

Espaço

O relator defende seu texto das críticas. ‘A Globo é um ‘player’ importante nesse mercado, sabemos disso, mas ela precisa abrir espaço para outros’, defende o relator do texto, cuja votação deve ficar para este semestre.

Segundo os concorrentes da Globo e da Net, essa demora só beneficia as duas empresas, sugerindo que elas apostam no impasse para crescer ainda mais no setor até que a legislação seja, de fato, alterada.

Dentro do Congresso, o tema divide os parlamentares entre aqueles mais alinhados à Globo e os que são ligados aos outros grupos de comunicação, além dos que defendem mais as teles. Ninguém arrisca uma previsão sobre a votação.’

 

 

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Publicidade também causa divergência

‘Além das cotas, outro tema divide os grupos de comunicação sobre o projeto que trata da TV paga: o percentual de publicidade nesse segmento.

A última versão do relatório do deputado Jorge Bittar prevê que a publicidade na TV por assinatura ficará restrita a 10% do total da programação e 15% de cada hora. As empresas do setor, com apoio da Globosat, defendem os percentuais anteriores, de 25% e 30% respectivamente, o que aumenta a capacidade de faturamento.

Record, Band News e SBT são contra o aumento dos percentuais, chegaram até a defender a proibição, mas apóiam a última versão de Bittar, receosos de perder dinheiro das publicidades veiculadas nas TVs abertas.

Existe também uma outra polêmica no relatório de Bittar. A adoção do sistema de cotas na internet, no caso de programas que se assemelhem ao serviço de TV por assinatura.

‘A internet tem de ser livre, não tem sentido submetê-la a essas regras, as quais acredito que nem deveriam existir’, afirma o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC), cujo projeto inicial sobre o assunto previa apenas a liberação da TV a cabo para as teles fixa.

Bittar defende a sua proposta. ‘Isso é apenas para evitar problemas futuros. A tecnologia atual não permite uma boa qualidade para transmitir TV por assinatura na internet, mas no futuro pode ser viabilizado’, diz o deputado, acrescentando que os serviços de TVs oferecidos hoje pelo UOL e pelo Terra, por exemplo, não estão incluídos na regra.’

 

 

TELES
Valdo Cruz

Entrada das teles no mercado de TV a cabo é vista como inevitável

‘Principal disputa no início da tramitação do projeto de convergência digital no país, em janeiro de 2007, a entrada das empresas de telefonia fixa no mercado de TV a cabo é vista hoje como inevitável no mercado e no Congresso, apesar de ainda sofrer resistências entre sindicalistas.

A mudança ocorreu depois que as emissoras de TV e as teles praticamente selaram um acordo de ‘limites recíprocos’ de atuação no mercado de produção, programação e distribuição de audiovisual.

Assim, o texto do projeto a ser votado no Congresso libera a atuação das companhias de telefonia fixa na TV a cabo, extinguindo a proibição atual prevista na Lei do Cabo. Permite ainda que teles fixas de capital estrangeiro operem no setor, uma reivindicação da espanhola Telefônica.

Por outro lado, as teles não poderão deter mais do que 30% das empresas de produção e de programação audiovisual, seguindo o mesmo modelo previsto na Constituição para a presença de capital estrangeiro na radiodifusão. Ou seja, não podem ser donas da fase de produção e de programação de conteúdo.

As teles têm pressa para votar o projeto. Já a Globo, nem tanto. Quando ele for aprovado, especialistas avaliam que haverá uma consolidação do mercado da TV a cabo na seguinte configuração:

1) Na área de distribuição, haverá um predomínio das operadoras Telefônica (principalmente em São Paulo), Embratel (Net, a mais forte hoje) e Oi/Brasil Telecom; 2) na de fornecimento de conteúdo, uma disputa da Globosat com Record, Abril e Band, com vantagem atual para a empresa das Organizações Globo.

A Globosat sai na frente porque domina o segmento: sua programação já está disponível na Net, na Sky e até na TV por satélite da Telefônica, com o forte apelo dos canais de esporte e de notícias.

Entre as teles, a Embratel, do mexicano Carlos Slim, está em vantagem, pois já participa da Net. Aprovado o projeto de Bittar, deve ser formalizada uma operação prevista no mercado. Uma troca de posições na Net.

Slim hoje tem 49% do controle da TV a cabo. A Globo, 51%. Haveria uma inversão, com o mexicano passando a ser o sócio controlador e majoritário de uma empresa que está numa política agressiva para aumentar seu número de assinantes antes que as novas regras entrem em vigor e a competição aumente no setor.

Afinal, as teles fixas ficarão livres para atuar na TV a cabo e terão condições de oferecer, nessa modalidade, o serviço ‘triple play’ (banda larga, TV por assinatura e telefone num mesmo pacote por cabo), hoje quase uma exclusividade da empresa de Slim e Globo.

Pacotes populares

Antes que a competição aumente, a Net está oferecendo pacotes mais populares de ‘triple play’ a R$ 39,90 -num serviço que disponibiliza ao assinante só os canais abertos, não oferecendo os da TV paga.

A aprovação do projeto de Bittar será também a senha para a Telefônica concretizar uma operação vista como certa no mercado: assumir o controle acionário do setor de TV a cabo do Grupo Abril em São Paulo, no qual detém menos de 20% do controle, como manda a lei. Atualmente, a empresa espanhola já controla TVs por assinatura por satélite e microondas, ofertando por meio dessas tecnologias pacotes que incluem também banda larga e telefone fixo.

A Oi opera em Belo Horizonte uma empresa de TV a cabo, a Way TV. Ganhou uma autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para operar o sistema porque, na época em que a empresa foi colocada à venda na capital mineira, só ela se apresentou como interessada no negócio. Uma medida que foi questionada pelos concorrentes, por causa da proibição de teles fixas atuarem no sistema prevista na Lei do Cabo.’

 

 

Julio Wiziack

Teles pressionam para adiar nova regra

‘No que depender das operadoras de telefonia, a portabilidade numérica, serviço que permitirá mudar de prestadora mantendo o número do telefone (fixo ou móvel), deverá ser adiada.

Há três anos, um movimento parecido conseguiu postergá-la. A mudança começa aos poucos, a partir de 1º de setembro, mas encontra resistência, principalmente entre as teles fixas.

No final de maio, a ABRT (Associação Brasileira de Recursos em Telecomunicações) -que gerencia a portabilidade entre as operadoras- enviou uma carta à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) em que comunicou a preocupação das companhias com o cumprimento de prazos.

‘À medida que avançamos no projeto, foram observados alguns riscos para o cumprimento dos prazos e nos sentimos obrigados a dividir essa visão junto à Anatel com o objetivo de mitigar riscos eventuais’, afirmava a ABRT em um trecho da carta.

Na resposta, enviada em 3 de junho, a Anatel teria cobrado explicações porque, segundo as operadoras, os relatórios dos testes indicaram o cumprimento dos prazos.

Procurados pela Folha na sexta-feira, nem a Anatel nem a ABRT se pronunciaram. Na semana anterior, Luiz Antônio Vale Moura, coordenador-geral do GIP (Grupo de Implantação da Portabilidade), negou problemas com as teles. Foi ele quem assinou a carta à ABRT em nome da Anatel.

Segundo empresas de tecnologia envolvidas nesse projeto, os investimentos das operadoras chegam a R$ 400 milhões.

Esses valores referem-se à compra de equipamentos para a montagem de um banco de dados por onde trafegarão as informações dos clientes que saírem ou chegarem.

Cada sistema desse nas operadoras ‘conversará’ entre si por meio do banco de dados da ABRT, que centralizará todos os cadastros portados.

Segundo as empresas contratadas para integrar os sistemas, Telefônica, Embratel, Claro e TIM estariam enfrentando dificuldades devido à complexidade de suas redes de telecomunicações. A Folha consultou as principais delas e todas reafirmaram o cumprimento dos prazos. Boa parte negou problemas na rede.

Em duas semanas, elas serão obrigadas a implementar a fase final de testes, quando trocarão não só dados cadastrais com o banco de dados da ABRT como terão de efetivar as chamadas após a portabilidade.

A Anatel acredita que o assinante terá de pagar cerca de R$ 10 à operadora de destino e não será preciso informar a empresa de saída. Ainda não está definido se ele terá de pagar toda vez que optar pela portabilidade. Uma vez solicitada a mudança, a operadora terá até cinco dias úteis para concretizá-la, com duas horas de tolerância após o horário informado ao cliente para a conversão.

Competição só na móvel

Apesar dos empecilhos técnicos, o que mais preocupa as operadoras são as perdas de clientes. Uma pesquisa feita pelo Yankee Group revelou que, na telefonia fixa, 46% dos assinantes trocariam de operadora se pudessem levar o número do telefone. Telefônica e Oi seriam as concessionárias com maior perda de clientes. Na rede móvel, esse índice seria de 48%. No início deste ano, um levantamento do Morgan Stanley indicou que, na telefonia móvel, esse índice seria de 20%. BrT e TIM seriam as mais afetadas.

Embora sirvam de termômetro, é preciso cuidado na hora de analisar esses indicadores porque traduzem apenas um desejo do cliente. ‘Daí a dizer que eles de fato migrarão vai uma longa distância’, diz Julio Püschel, do Yankee Group.

Um novo relatório do instituto revela ainda que as grandes empresas serão as maiores candidatas à portabilidade. Entre elas, 56% trocariam de prestadoras de call center (0300 e 0800), 46% mudariam a operadora móvel, e 42%, a fixa. Essas empresas serão as maiores beneficiadas com a portabilidade.

Isso porque, em geral, elas estão concentradas em áreas das cidades, especialmente nos grandes centros urbanos, onde existe mais de uma operadora. Segundo a própria Anatel, a portabilidade na rede fixa será uma possibilidade para poucos, e os clientes residenciais estão bem longe das vantagens. Apenas 260 municípios, de um total de 5.564 no país, dispõem de duas operadoras fixas.

Essa situação também ocorre porque, diferentemente da maioria dos países, no Brasil a portabilidade será implantada antes da desagregação das redes fixas, chamada de ‘unbundling’. Segundo ela, as concessionárias devem alugar parte de sua rede para qualquer outra operadora interessada em competir na sua área de atuação. A Anatel decidiu regulamentá-la mais tarde, até porque a farta oferta de celulares resolveu, em boa parte, a questão do acesso à telefonia.

‘Infelizmente, tudo isso comprometeu a competição na fixa’, diz Luiz Moura, do GIP. Segundo ele, será na telefonia móvel que a portabilidade surtirá efeito rápido no bolso do consumidor, com ofertas agressivas em planos e promoções que, na prática, serão convertidos em redução da tarifa.’

 

 

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Telefônica deve ser a operadora mais afetada

‘A Telefônica deverá registrar as maiores perdas com a portabilidade. Segundo pesquisa do Yankee Group, 69% dos entrevistados em São Paulo -área de concessão da operadora- deixariam a Telefônica se pudessem permanecer com o número em outra companhia. Embratel e Net seriam os destinos preferidos.

Nos países em que a Telefónica implantou a portabilidade, as perdas giraram em torno de 10%. Um dos principais executivos da empresa crê que não será diferente no Brasil.

Na Europa, esperava-se uma reviravolta no mercado, e a portabilidade não afetou nem 5% da base dos clientes na Espanha, na França e em Portugal.

‘Uma pesquisa como essa reflete mais a insatisfação do cliente do que sua intenção de mudança’, diz Petrônio Nogueira, líder de mídia e telecomunicações da Accenture, que presta serviços de portabilidade no país e no mundo.

Analistas estimam que mudanças acima de 30% na base de clientes da Telefônica no Brasil afetariam a economia espanhola -a operação brasileira representa 13% do faturamento da matriz, responsável por 5% do PIB da Espanha.’

 

 

APAGÃO
Folha de S. Paulo

SP ainda sente efeitos da pane da internet

‘Os problemas gerados pelo apagão no sistema de transmissão de dados e internet da Telefônica ainda persistiam ontem no Estado de São Paulo.

Segundo a Caixa Econômica Federal, 240 casas lotéricas, das 2.000 existentes no Estado, estão tendo os sistemas de informática reconfigurados manualmente como conseqüência da pane. As equipes de técnicos da Caixa tiveram de ser reforçadas com funcionários da prestadora de serviços Viacom.

Segundo a Caixa, os técnicos trabalharam ontem e vão prosseguir hoje, a fim de assegurar a normalidade das operações das lotéricas a partir de amanhã.

De acordo com o banco, a maior parte das lotéricas do Estado não foi afetada pela pane porque possui configuração com sinal via satélite. As 240 que tiveram as operações interrompidas possuem sistema com sinal via modem e necessitam de reconfiguração manual.

Internautas também reclamaram ontem dos problemas de conexão à internet pela rede da Telefônica. Apesar de a empresa afirmar que o serviço foi totalmente restabelecido, usuários e provedores reclamam da indisponibilidade ou da qualidade da conexão.

‘Desde quarta até hoje [sábado], estou navegando com extrema lentidão, em velocidade média muito menor que a contratada’, diz Ricardo Petrone, da capital. ‘O apagão continua. Estou tentando entrar em contato com a empresa e não consigo’, relatou à Folha Online o internauta Marcelo Mendes, de São Bernardo do Campo.

Provedores que usam a rede de Telefônica também dizem que o sistema não está funcionando com plena capacidade e que os problemas de conexão persistem. ‘Ainda estamos com dificuldades, e o sistema não retornou em 100% a normalidade’, diz Lucas Miranda, gerente de TI do provedor MonteiroNet. Segundo ele, o problema é a velocidade de conexão, que é baixa e oscila muito.

Já a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) informou, por meio da assessoria de comunicação do governo paulista, que os sistemas de serviços públicos, que atendem, por exemplo, o Poupatempo, operaram normalmente ontem.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Telefônica nega que os problemas tenham relação com a pane. Afirma que são questões pontuais, consideradas normais em serviços como o Speedy. Para a operadora, o problema na rede, gerado em equipamentos de roteamento (distribuição de dados), foi completamente solucionado.

A recomendação é que os internautas que tiverem problemas de acesso comuniquem a empresa pelo telefone 103-15 e obtenham um protocolo para que a falha seja resolvida.

Ontem, a organização de defesa do consumidor Pro Teste pediu que o Congresso crie uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para analisar a qualidade do serviço prestado por provedores de acesso à internet. Para a instituição, a pane foi ‘só a gota d’água’.

O objetivo da CPI seria ‘identificar os motivos pelos quais o serviço é tão ruim’, afirma o órgão, em comunicado.

A Telefônica ofereceu às entidades de defesa do consumidor e ao Ministério Público abater da próxima fatura de seus clientes, em dobro, o tempo que o assinante de internet ficou sem o serviço. As entidades rejeitaram a proposta.’

 

 

TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo monta plano contra ‘ataque aéreo’ em São Paulo

‘O ‘ataque’ do ‘Pânico na TV’, na semana retrasada, deixou a Globo em alerta.

Os humoristas da Rede TV! fizeram subir balões carregando uma faixa em que diziam ‘Parabéns, Chico!!!’, numa alusão ao aniversário do jornalista Chico Pinheiro. A ação ocorreu por volta do meio-dia, quando estava no ar a primeira edição do ‘SP TV’, diretamente de um estúdio de vidro no alto de um prédio no Brooklin (zona sul).

Executivos da Globo temem que vire moda o uso de balões para protestos e anúncios.

Um ‘plano de defesa do espaço aéreo’ foi montado. Os telejornais apresentados no estúdio de vidro agora contam com cinco enquadramentos de câmeras. Se, por acaso, um balão aparecer numa extremidade do estúdio, o enquadramento mudará para a outra ponta.

A Globo também reforçou o monitoramento da vizinhança através de câmeras instaladas no topo do prédio. Assim, seus seguranças avisarão os técnicos do estúdio de vidro e, mudando enquadramentos, poderão evitar ‘ataques’ em seus telejornais. Sem abater ‘inimigos’.

A cúpula da emissora também está preocupada com a iluminação do estúdio. Nesta época do ano, falta luz no ‘Bom Dia, SP’ e no ‘SP TV’ noturno, e sobra luz no ‘SP TV’ das 12h.

A falta de luz externa não pode ser compensada com iluminação interna porque isso aumenta os reflexos. Os apresentadores foram proibidos de usar roupas claras, porque elas refletem mais nos vidros.

Uma reforma deverá ser feita em breve. As paredes de vidro ganharão uma pequena inclinação, o que reduzirá reflexos.

ELA ESTÁ PODENDO

A paranaense Katiuscia Canoro (foto), 29, a Lady Kate do ‘Zorra Total’, está na boca do povo. O bordão de sua personagem, ‘Tô pagando’, ganhou eco nas ruas. O quadro da pobretona tosca que ficou milionária após ter um caso com um político é hoje a maior audiência do humorístico da Globo. Lady Kate é o primeiro trabalho na TV da atriz, dona de uma respeitável carreira no teatro. A personagem, inspirada na ex-prostituta Bruna Surfistinha, sobreviveu a várias peças de Katiuscia até chamar a atenção de um redator do ‘Zorra’, que a levou ao diretor Mauricio Sherman. ‘Todo mundo me adora’, admite, sem modéstia.

SOCO TAILANDÊS

Com algumas campanhas publicitárias no currículo, Daniela Récco vai estrear na próxima novela das sete da Globo, ‘Três Irmãs’. A paulista de 26 anos tem sorte: foi vista pelo diretor Dennis Carvalho logo em suas primeiras aulas na oficina de atores da Globo. Daniela será Duda, herdeira milionária que vive fugindo de seu padrasto. Ela conta com a ajuda de Giovanna Antonelli, o que a leva a trafegar no núcleo central. Para viver a personagem, Daniela está tendo aulas de boxe tailandês.

MUDANÇA FORÇADA

A partir de hoje, a Record exibirá o ‘Show do Tom’ às 23h, e não mais às 17h. A emissora diz que a mudança é por causa das férias de julho. Não é bem assim. Considerado inadequado para menores de dez anos, o programa está na mira do Ministério Público Federal.

MARIA DO CRÉU

A pergunta que não quer calar nos bastidores da Globo: onde e com quem Deborah Secco aprendeu aquele sotaque caipira que está usando em ‘A Favorita’? Alguns maldosos têm a resposta: foi com Pedro Bismarck, o Nérso da Capitinga, de licença do ‘Zorra Total’.

‘SOLETRANDO’ DO BEM

Luciano Huck bolou uma forma diferente de promover o projeto social Criança Esperança. Neste ano, seu ‘Caldeirão’ realizará uma edição especial do ‘Soletrando’ só com atletas brasileiros que já ganharam medalhas em jogos olímpicos. Cada um dos nove medalhistas defenderá uma instituição beneficiada pelos recursos arrecadados pela Globo -e, de tabela, reforçará o ibope do programa de Huck. O ‘Soletrando Olímpico’ vai ao ar em agosto.

Pergunta indiscreta

FOLHA – Por que você entrevistou o publicitário Roberto Justus justamente um dia depois de o programa dele, na Record, ganhar do seu no Ibope?

JÔ SOARES (apresentador da Globo) – Você acha que eu penso nisso? Não tenho nem a mais remota idéia do que você está falando. Nos preocupamos com coisas mais importantes.’

 

 

Laura Mattos

Cafajeste e ‘sirene’ dão destaque a jovens atores

‘Cauã Reymond, 28, é também conhecido como ex-Alinne Moraes, e atual Grazi Massafera, queridinho de revistas de fofoca.

À Folha, o ator fala em tom pausado, sério sobre seu personagem de ‘A Favorita’ (Globo), que ainda patina no Ibope. Como o cafajeste Halley, tem protagonizado cenas que flertam com o pastelão, até agora as melhores da novela das oito -sem contar as de humor involuntário vividas por Murilo Benício e Deborah Secco…

Até a semana passada, Halley se passava por um milionário gay a fim de se aproveitar do dinheiro de Orlandinho (Iran Malfitano). Alícia, a artista plástica patricinha vivida por Taís Araújo, se envolve na confusão. Além da química entre o trio, o que ajuda são os diálogos de João Emanuel Carneiro. Cauã, aliás, teve outro papel cômico, o do lutador Thor Sardinha, em ‘Da Cor do Pecado’ (2004), estréia do autor.

O ator responde prontamente sobre suas inspirações. A erudita: ‘Jean-Paul Belmondo, em ‘O Acossado’ do [cineasta Jean-Luc] Godard, e ‘O Magnífico’, que fez com a Jacqueline Bisset, o malandro leve’. A pop: ‘A cultura hip hop tem a ver com a vaidade do Halley, de falar ‘eu, eu, eu’. Me inspiro no [rapper norte-americano] Tupac [Shakur]’. Bebe em outra fonte, essa sigilosa. ‘São figuras que estão na mídia, mas não falo porque corro o risco de ser processado, como Eduardo Moscovis e Letícia Spiller quando disseram ter se inspirado no casal Garotinho [para o político e a mulher corruptos de ‘Senhora do Destino’].’

Carioca, filho de astróloga e psicólogo, Cauã estreou na TV em 1995, em ‘Malhação’. Seu papel anterior a Halley foi como o também cafajeste Mateus, em ‘Belíssima’ (2005/ 06). Foi quando deu a sorte de protagonizar a cena que encerrou a novela e se tornou um clássico da teledramaturgia: só de cueca vermelha, com taça de champanhe na mão, beijava a vilã Bia Falcão, interpretada por Fernanda Montenegro. ‘Fiquei muito orgulhoso de o Silvio [de Abreu, autor] ter me dado esse presente’, comenta.

Unha azul

Bem mais novata que o ator, Ísis Valverde, 21, também revelou dom para a comédia como Rakelli, a destrambelhada manicure que sonha ser famosa, a melhor personagem de ‘Beleza Pura’, cuja audiência deixa a desejar. A novela das sete é seu terceiro trabalho. Estreou na nova versão de ‘Sinhá Moça’ (2006), como Ana do Véu, e fez uma participação como uma garota de programa trapaceira em ‘Paraíso Tropical’ (2007).

Rakelli vive de minissaia colorida, sapato de salto plataforma com meia curta, bijuteria e unhas pintadas de azul. O clímax da personagem, sucesso principalmente com crianças, é seu choro estridente, chamado no texto de ‘sirene’. Ela fecha os olhos, faz biquinho e berra.

Nesse caso, além da graça da atriz, ajuda também o texto de Andréa Maltarolli, em sua primeira novela.

Na entrevista à Folha, com voz rouca graças ao grito ‘sirene’, Ísis não usa o tom grave de Cauã e demonstra guardar alguma semelhança com Rakelli. Simpática, fala, fala, fala, ri de tudo. Conta ter nascido em Aiuruoca, cidade de pouco mais de 6.000 habitantes localizada no sul de Minas Gerais. ‘É o sétimo chacra do mundo. Você tem noção da energia desse lugar?’, diz.

Aos 18, foi tentar a sorte no Rio, onde acabou descoberta pela Globo no teatro Tablado. ‘Era uma vontade de fazer tudo, sem saber o quê. Minha mãe dizia que eu devia ser atriz. Porque o ator é tudo e depois é ele. Tudo aconteceu muito rápido na minha vida.’

Para viver Rakelli, pediu conselhos a ‘monstros do humor’, como Osmar Prado e Zezé Polessa, e se inspirou ‘naquele cara… como é mesmo o nome dele… ah, Johnny Depp’. Também se mirou na mãe, Rosalba Nable, atriz de teatro, cujo trabalho Ísis define assim: ‘Sabe aquelas peças cabeças, aquele pessoal que gosta de crítica e não gosta de fazer TV?’.’

 

 

Leandro Fortino

Record escala mais heróis contra Globo

‘Mais uma vez a Record vai enfrentar a Globo com heróis. Mas, diferentemente dos mutantes superpoderosos, a aposta será em gente real, os bombeiros do Rio. E é nesse universo de ação que gira a trama de ‘Chamas da Vida’, novela das 22h que estréia nesta terça.

Mas, segundo a sua autora, Cristianne Fridman, o fato de ser uma mulher escrevendo um roteiro de ação traz mais romance, em especial o do casal Leonardo Brício e Juliana Silveira. Ele é o bombeiro Pedro, que mora em Tinguá, na Baixada Fluminense; ela é a produtora de vídeo Carolina, garota rica do bairro da Urca.

‘Em nosso grande incêndio na fábrica de sorvetes, no capítulo de estréia, há toda uma seqüência de Pedro resgatando Carolina. Então, ao mesmo tempo, tem ação e romantismo. Todos nós e todas nós precisamos de heróis’, diz Fridman.

Apesar de o tema ter virado moda na emissora, a autora garante que não houve nenhuma orientação para seguir nessa linha. ‘Tive total liberdade, não me pediram nada de herói. Quando dizem que as pessoas se identificam mais com os vilões é porque, mesmo sendo maus, você vê neles uma humanidade. Os bombeiros também cometem erros, então Pedro tem um lado não-heróico, ele não é perfeito. Já a vilã Vilma [Lucinha Lins] não é só má, ela faz coisas engraçadas.’

Em ‘Chamas da Vida’, Fridman pretende tocar em temas delicados. Um personagem contrai o HIV; outros consomem ecstasy. ‘Não gosto quando o tema se impõe aos personagens. Fica falso. Há personagens que organizam raves, tem a ver consumir ecstasy. Essa é uma questão séria, quero falar sobre isso’, diz.

Já com a idéia de criar um personagem heterossexual e mulherengo contaminado pelo HIV, ela quer mostrar que o portador do vírus da Aids não vive uma sentença de morte.

‘Vamos lidar com isso da forma mais natural. O Guilherme [Roger Gobeth] é saudável, bonito. Quero mostrar que o HIV não tem rosto’, explica.

A autora, que já trabalhou na dramaturgia da Globo, espera que ‘Chamas da Vida’ dê ‘o maior ibope que a Record jamais teve’. ‘Ninguém joga na Mega-Sena para ganhar a quadra; o Fluminense não queria o segundo lugar na Libertadores; não vou entrar em campo para dar pouco ibope’, garante.

Fridman diz preferir trabalhar sem pensar na concorrência. ‘Não tenho assistido às novelas da Globo e vi um pouco de ‘Mutantes’ [da Record]. Acho uma idéia inovadora, mas bem diferente do meu estilo.’’

 

 

Bia Abramo

‘Casseta’ chega a impasse histórico

‘O QUE será que aconteceu ao ‘Casseta e Planeta, Urgente!’? Basicamente, o programa anda se arrastando, com piadas velhas, audiência em declínio, falta geral de vigor e de idéias. É possível levantar algumas hipóteses para tentar decifrar o porquê desse ar de decadência, mas um certo esgotamento histórico parece responder, de uma tacada só, várias delas.

O ‘Casseta’ surgiu do ‘TV Pirata’, que, por sua vez, é a aventura televisiva do ‘Planeta Diário’, semanário que mudou os parâmetros de humor nos anos 80. De alguma maneira, todas as produções dessa linhagem inverteram a equação do humor a partir do final dos anos 70. Retomando, de certa forma, a esculhambação do ‘Pasquim’, o ‘Planeta Diário’ revolve o humor político em sentido quase que oposto ao da imprensa de resistência e, de quebra, revela um sentido de comicidade das contradições do cotidiano brasileiro, de forma menos edulcorada, mais ‘da rua’ que seus antecessores.

Se a expressão ‘antipoliticamente correto’ não estivesse tão eivada de usos e interpretações tão equivocadas hoje em dia, seria o caso de usá-la para explicar a novidade trazida pela turma de Bussunda.

Acontece que, àquela época no Brasil, nem havia como ser politicamente correto, uma vez que estávamos saindo de um período em que nem mesmo os direitos básicos de democracia estavam garantidos, portanto, a correção política à americana era como que um luxo distante dos países desenvolvidos.

O que esse grupo talentosíssimo de comediantes fazia era sim expor o nervo das fraturas sociais brasileiras -o machismo, o racismo, o sexismo, a profunda divisão e hostilidade entre as classes- e, ao mesmo tempo, não aderir a nenhum dos projetos conciliatórios, despejando o mesmo sarcasmo às soluções da esquerda e da direita.

A fonte era tão caudalosa que sobreviveu por mais de 20 anos. Só que agora isso parece ter, de alguma forma, começado a girar em falso. A ironia com o poder cede lugar à exploração pesada e, muitas vezes, vulgar dos cacoetes dos governantes; aquele frescor crítico que não poupava nada se transformou na exploração dos preconceitos naquilo que eles têm de mais óbvio.

Há que considerar, é claro, a perda de Bussunda pouco menos de dois anos atrás. Ele era uma espécie de gênio desse humor ‘cassetiano’ e encarnava, como poucos, as suas contradições: fino de inteligência, esculhambado como só ele, capaz de tornar qualquer grosseria engraçada. Não se trata de mitificá-lo, mas com certeza sua morte prematura precipitou as coisas.’

 

 

Cristina Fibe

‘Camp Rock’, filme musical com os Jonas Brothers, estréia hoje na TV

‘Não bastasse repetir a fórmula bem-sucedida do filme musical adolescente para TV -que começou com ‘High School Musical’-, a Disney uniu a isso uma das bandas infanto-juvenis que mais deixam as garotas histéricas.

O resultado é ‘Camp Rock’, novo filme do Disney Channel em que os Jonas Brothers, trio de irmãos americanos que se dedica à música pop, são a grande atração de um acampamento de férias no qual o principal objetivo dos freqüentadores é ‘encontrar seu estilo musical’.

O filme estreou nos EUA em 20 de junho e chega hoje ao Brasil, às 20h, pelo canal Disney -lá, a audiência de sua primeira exibição superou à da es do primeiro ‘High School’, em 2006, e alcançou média de 8,9 milhões de espectadores, o que fez com que a Disney anunciasse ‘Camp Rock 2’. Os irmãos estrelam ainda, a partir de setembro, a série ‘J.O.N.A.S!’, que mistura ficção à rotina da banda.

‘Cinderela’ cantora

Em ‘Camp Rock’, adolescentes desconhecidos disputam a chance de gravar um dueto com um dos irmãos Jonas, e para isso passam o tempo dançando e cantando com profissionalismo e sem esforço. Enquanto isso, a filha da cozinheira do acampamento, a deslocada Mitchie Torres (Demi Lovato), conquista o vocalista Joe com sua voz aveludada e as canções que compõe.

Por trás das lições de música, o canal procura ensinar que ‘qualquer um’ pode virar estrela. Como na série ‘Hannah Montana’, sobre a garota comum cuja identidade secreta é uma pop star -e cujo filme deve ficar pronto em 2009-, os participantes do previsível ‘Camp Rock’ fazem tudo parecer fácil e possível.

CAMP ROCK

Quando: estréia hoje, às 20h

Onde: no Disney Channel’

 

 

CINEMA
Marco Aurélio Canônico

Jogo do terror

‘Em entrevista à Folha em dezembro passado, Jack Nicholson resumiu o que achava de Heath Ledger assumir, em ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’, um de seus papéis mais célebres, o do Coringa: ‘Não temo ninguém que faça um personagem depois de mim’.

Bom, Jack, más notícias para você; ótimas para o público: é bem possível que, com sua atuação, Ledger passe à história como o Coringa definitivo (e um dos maiores vilões do cinema), deixando em segundo plano o palhaço brincalhão do filme de Tim Burton.

No segundo longa do homem-morcego dirigido por Christopher Nolan (após ‘Batman Begins’, 2005), que estréia no próximo dia 18, o Coringa de Ledger é o primeiro a aparecer (numa cena de assalto a banco que remete aos clássicos do gênero) e, daí por diante, concentra as atenções.

‘Ele é o arquivilão definitivo, é tão icônico quanto Batman, e Heath criou algo completamente original, espantoso, cativante. Vai nocautear o público’, disse Nolan numa mesa com diversos jornalistas, dentre eles o da Folha. Mais jovem, com visual mais moderno (de influência punk) e completamente psicótico, incontrolável e sadomasoquista, o vilão é quem dá o tom do filme: um tom sombrio de fazer jus às ‘trevas’ do título, no episódio mais sinistro de todos os sete filmes do morcego.

O público ainda deve ter em mente que estará diante do último filme que Ledger completou antes de morrer de overdose acidental de medicamentos, em 22 de janeiro, aos 28 anos (sob a direção de Terry Gilliam, ele começou a filmar ‘The Imaginarium of Doctor Parnassus’, mas não o completou).

A comoção com a morte do jovem ator e a empolgação com sua atuação em ‘O Cavaleiro das Trevas’ fortaleceram (entre a imprensa norte-americana e a equipe do filme) a campanha por sua premiação com um Oscar póstumo.

Sem medo

Na equipe do longa, todos pareciam ter combinado o adjetivo para definir Ledger: ‘destemido’. Segundo o diretor, além do ‘talento extraordinário’ do australiano (indicado ao Oscar por ‘O Segredo de Brokeback Mountain’, 2005), o destemor com que ele imergia em seus papéis foi o que o levou a convidá-lo para fazer o Coringa. ‘Ele tinha uma ousadia criativa que era essencial para assumir um papel tão simbólico, que requer muita confiança.’

É claro que a composição do personagem já começa no roteiro, assinado por Nolan e por seu irmão Jonathan, repetindo a parceria de ‘Amnésia’ (2000) e ‘O Grande Truque’ (2006).

O Coringa criado por eles é uma mistura do protagonista de ‘Laranja Mecânica’ com os pioneiros do movimento punk, e tem traços do Batman retratado nas HQs ‘Asilo Arkham’ e ‘A Piada Mortal’.

‘A noção punk de anarquia, de que a juventude poderia destruir a velha sociedade, era o que Heath e eu queríamos que o Coringa representasse no filme, alguém absolutamente dedicado ao caos, que é uma das coisas mais assustadoras que podem existir’, disse o diretor.

Reviravoltas

‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’ reúne tantas surpresas em suas 2h30 de duração que é melhor não contar a trama em detalhes, para preservar o prazer do espectador.

Em linhas gerais, o filme mostra a escalada do Coringa ao topo da criminalidade de Gotham, ao mesmo tempo que o promotor Harvey Dent ascende ao posto de herói da cidade, sendo inclusive visto por Batman como seu substituto, um herói sem máscara. A saga de Dent tem bastante destaque no filme e envolve ainda Rachel Dawes, cujo amor ele disputa com Bruce Wayne.

O elenco de ‘Batman Begins’ está quase todo de volta -as cartas estão ao lado. Os novos membros são Aaron Eckhart como Dent e Maggie Gyllenhaal como Rachel. Nolan vai costurando a trama no formato de triângulos: amoroso (Bruce Wayne, Rachel Dawes, Harvey Dent), justiceiro (Batman, Dent, Gordon), de aberrações (Coringa, Duas Caras, Batman) e de confidentes (Alfred, Wayne, Lucius Fox). Mas o embate central, é claro, se dá entre os dois personalidades complementares, Batman e o Coringa.

Como diz o louco, numa de suas várias boas tiradas, o filme mostra ‘o que acontece quando uma força incontrolável encontra um objeto irremovível’.

O repórter MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner Bros.’

 

 

***

Supermáquinas e tecnologia garantem ação

‘Batman, como se sabe, não tem superpoderes -ele se garante com seu treinamento, sua inteligência e, principalmente, suas máquinas incríveis.

Em ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’, elas estão de volta, e melhoradas -a começar pelo traje que, agora, além de permitir ao herói planar, ainda deixa seu intérprete respirar.

‘Esse novo traje do Batman é muito melhor, não apenas em termos do que faz no filme, mas também para vesti-lo nas filmagens’, disse Christian Bale, que envergou a roupa preta. ‘Dava para me mover, respirar, era muito mais confortável.’

O Batmóvel também retorna, e a Folha o viu fora da tela, estacionado no hotel onde se realizavam as entrevistas com a equipe do filme.

É um veículo impressionante, cascudo, uma espécie de minitanque todo preto, com seis pneus gigantes, várias camadas de proteção e a parte dianteira rebaixada, lembrando a cara de um morcego.

O carro pesa mais de duas toneladas, mas isso não o impede de dar saltos de vários metros de altura -em uma das cenas do filme, parece um goleiro defendendo uma bola chutada ao gol (essa manobra, infelizmente, não foi vista ao vivo).

Bat-Pod

A grande novidade em relação ao carro de Batman é que ele está ‘grávido’: dentro dele está a novíssima moto que foi nomeada Bat-Pod.

‘Moto’ é modo de falar (apenas porque o troço tem duas rodas): o Bat-Pod é uma máquina de guerra ambulante, equipado com canhões e metralhadoras, ‘muito exótico e visualmente muito poderoso’, como define o diretor, Christopher Nolan. Poderia ter acrescentado: ‘impossível de dirigir’.

‘Devo admitir, meio envergonhado, que não consegui dirigir o Bat-Pod. Só um homem conseguiu’, disse Bale, referindo-se ao dublê que pilota a moto em cena (e espere para ver o que ele faz na parede).

Além dos objetos de cena, a tecnologia também foi usada na própria filmagem: em seis seqüências, Nolan utilizou as gigantescas câmeras Imax.

Elas usam um filme maior do que o convencional, que permite tomadas muito mais amplas e detalhadas. Infelizmente, o resultado só pode ser visto nas gigantescas telas Imax, que ainda não existem no Brasil.’

 

 

LITERATURA
Eduardo Simões

‘Escritor é personagem em extinção’

‘Um dos representantes da literatura propriamente dita numa Flip marcada pela presença de uma cineasta (a argentina Lucrecia Martel), uma psicanalista (a francesa Elisabeth Roudinesco) e um quadrinista (o inglês Neil Gaiman), o escritor italiano Alessando Baricco diz que uma das coisas interessantes da festa de Paraty é justamente o fato de que os livros não são vistos como um totem.

‘Aqui trata-se, antes, do contar uma história, de se expressar e das técnica de narrar para diferentes meios. Isso é absolutamente bom’, disse Baricco, um dos principais escritores contemporâneos de seu país.

‘Quando comecei eu queria, é claro, escrever livros. Mas também para outros meios. E fiz teatro, cinema etc.’, contou Baricco, que teve o monólogo ‘Novecentos’ adaptado para o cinema por Giuseppe Tornatore, e que acaba de escrever e dirigir um filme, ‘Lezione 21’, estrelado por John Hurt.

‘Acho que, no futuro, escrever será assim. O escritor que faz livros apenas é um personagem em extinção’.

Pela terceira vez no Brasil, Baricco lança no país ‘Sem Sangue’ (Companhia das Letras). Seus livros ‘Esta História’ e ‘Seda’ também já saíram aqui. O escritor, que completou 50 anos em janeiro, conta que muitas coisas mudaram na Itália e na literatura do país desde que ele começou a publicar livros, no início da década de 90.

‘Minha geração foi a primeira a crescer com televisão, com muita ficção sendo feita para a TV, mas ainda sem computadores. Agora, há uma nova geração, que cresceu com novas tecnologias, com a internet, e ela vem dando passos cada vez mais distantes da chamada tradicional literatura italiana. Não sei exatamente para onde. Mas há muitos escritores talentosos, um bom mercado livreiro. Fala-se que não se lê muito na Itália, mas não é verdade.’

Mudanças

Baricco não se considera de uma ‘velha escola’ de literatura italiana. Mas que se encontra no meio do processo. ‘O que tenho escrito tem a ver com o meu tempo agora. Talvez mude em 20 ou 25 anos. Ainda estou procurando diferentes panoramas para a minha literatura.’

De Paraty, Baricco diz que vai levar para a Roma, onde vive, as memórias da cidade, que acha muito bela e curiosa. O espírito da Flip, diz, é semelhante ao de pequenos festivais que acontecem ao redor do mundo. ‘E eu talvez prefira assim do que grandes feiras de livros.’

O escritor vem tomando notas do que observa no Brasil, especialmente as diferenças entre o comportamento dos brasileiros e de europeus. ‘Tenho muitas pequenas idéias anotadas destas viagens à América do Sul. Na minha última ida a São Paulo, sobretudo as pessoas me interessaram. Os brasileiros são tão diferentes de nós. Vocês jogam um outro jogo. Os movimentos são semelhantes, mas o tabuleiro é diferente.’’

 

 

 

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