Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Geraldine Fabrikant


‘Na cidadezinha balneário de Naples, Flórida, o quinto andar de um inexpressivo prédio de escritórios aloja o quartel-general da Private Capital Management, até recentemente uma firma de administração financeira pouco conhecida, que discretamente cuida dos investimentos de famílias abastadas. Mas, com uma única carta pondo a venda a Knight Ridder, Bruce S. Sherman, de 57 anos, o co-fundador da Private Capital, que não gosta de aparecer na imprensa, catapultou a si mesmo para as páginas de negócios de virtualmente todos americanos.


Num momento em que Wall Street encara os jornais como uma indústria cambaleante, Sherman apostou US$ 4 bilhões de que os jornais sobreviverão à violenta investida da internet. Os clientes de Sherman possuem grandes nacos de nove empresas jornalísticas, entre eles, 19% da Knight Ridder, 15% da The New York Times Co. e 17% da Gannett, entre outros. Quando as manifestações de interesse pela Knight Ridder vierem, Sherman poderá sentir melhor se seu enorme investimento foi uma aposta certa ou um ato de obstinação.


Múltiplas ofertas pela Knight Ridder – que, com 32 diários é a segunda maior cadeia de jornais dos EUA, perdendo apenas para a Gannett – irão ressaltar o valor dos jornais. Mas a falta de interesse despertará a preocupação do investidor num momento em que seu desempenho é fraco.


Os antecedentes de Sherman são espetaculares. A Private Capital, que agora possui US$ 31 bilhões em ativos, produziu um ganho anualizado de 20,7% no decorrer dos dez anos completados em 30 de setembro, impelida pelas apostas hábeis em empresas que vão desde a Apple Computer até a International Gaming Technology e a Qualcomm. Quatro das empresas nas quais a Private Capital tem grandes participações acionárias, incluindo a International Dairy Queen, foram vendidas para a Berkshire Hathaway, a empresa de investimentos de propriedade de Warren Buffett.


Mas o desempenho da Private Capital estava em baixa de 0,06% no fim de setembro, desalentado em parte pelas empresas jornalísticas, pois todas as nove apresentaram declínio. As ações de seis dessas empresas caíram ao menos 14% este ano. Seus investidores podem ter um refresco. Desde 1º de novembro, quando a carta de Sherman colocou a Knight Ridder em jogo, suas ações subiram 14%, de US$ 53,38 por ação para US$ 60,82 na última quarta-feira.


Para investidores como Sherman, há um fundamento lógico para pôr dinheiro num negócio que é monopólio – freqüentemente, os jornais locais são os únicos no seu mercado. Evidentemente, ele acredita que as ações podem continuar gerando dinheiro vivo, que pode ser usado para comprar de volta ações e elevar os lucros. Sherman se recusou a fazer comentários para este artigo.


Os investidores também argumentam que os jornais têm espaço para reduzir custos. E, embora a internet tenha roubado receitas com circulação e propaganda dos jornais, os investidores dizem, ainda, que as empresas jornalísticas acabarão podendo fazer muito dinheiro com a internet. Por exemplo, a CareerBuilder.com, um site para pessoas que procuram emprego, é de propriedade conjunta da Knight Ridder , da Tribune Co. e da Gannett, e poderá valer US$ 1 bilhão para a Knight Ridder.


‘Eles precisam ser agressivos no desenvolvimento de suas posições na internet’, disse Henry R. Berghoef, diretor da Harris Capital, que possui 8% da Knight Ridder e está insistindo com a venda da empresa. ‘Eles têm tido sucesso e acho que terão ainda mais’, disse. ‘E os jornais não vão desaparecer.’


Esta não é a primeira vez que Sherman aposta pesadamente num único conjunto de ações ou setor. Atualmente, possui 14,8% do fundo da Computer Associates e cerca de 17% do setor de serviços financeiros – mais do que sua participação acionária de 13% em jornais. Mas alguns investidores preocupam-se que o tamanho da Private Capital possa se transformar numa desvantagem.


‘O tamanho nos preocupa porque as opções de investimento são mais limitadas’, disse Peter J. Tanous, um consultor de investimentos cujos clientes têm dinheiro aplicado na Private Capital. ‘Bruce está apostando que gerará valor para seus acionistas. Mas, se estiver errado, ele perde porque está encalhado com elas. E levaria anos para sair dessas posições.’ Mesmo assim, acrescentou Tanous, ‘se eu fosse apostar em alguém, seria em Bruce Sherman que poria meu dinheiro’.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Os pobres do mundo ‘, copyright Folha de S. Paulo, 9/12/05


‘A pressão por um acordo comercial global foi parar no ‘New York Times’, num violento editorial, ‘Protegendo o fazendeiro francês’:


– É patético ver como esse acordo, lançado quando os ricos estavam falando em adicionar mais partes do mundo à escalada de prosperidade econômica mundial, foi paralisado pela intransigência da União Européia, que se fez refém da recusa da França em tirar seus fazendeiros da esmola do governo.


E tome ataques ao ‘US$ 1 bilhão por dia em subsídios aos fazendeiros no mundo desenvolvido’, até encerrar:


– Passou da hora de arrumar o sistema quebrado e criar regras comerciais que funcionem para os pobres do mundo.


O ‘NYT’ saudou, como saída para a perspectiva de ‘fracasso’, a idéia de Lula -que negocia com George W. Bush reunir em janeiro ‘os líderes mundiais’, a começar do francês.


Também a ‘Economist’ vai ao ataque contra a França. Em dois longos textos, pergunta ‘por que os franceses são tão apaixonados por fazendeiros?’:


– A resposta mistura nostalgia e política gaullista.


Gaullistas como o presidente Jacques Chirac, o primeiro-ministro Dominique de Villepin e o ministro Nicolas Sarkozy seriam presos à antiga visão de uma França ‘auto-suficiente em comida’ (fotos abaixo).


Mas não é pelos fazendeiros pequenos, diz a revista e ecoa o ‘Financial Times’, que os governantes se batem:


– Mais da metade das esmolas [aos agricultores] na França vai para os 10% de fazendeiros maiores, enquanto os 76% menores recebem 20%


Entre os 10% mais ricos e mais subsidiados, o príncipe Albert.


Curiosamente, não é francês, mas inglês, Peter Mandelson, aliás com ligações até pessoais com o Brasil, quem comanda a resistência européia.


Ontem, lá estava o representante da UE nas agências negando, em reação às pressões, uma nova proposta de corte nos subsídios. A não ser que ‘Índia e Brasil façam ofertas de abertura de mercado aos serviços e produtos industriais’ europeus.


A perspectiva de colapso, ecoada por Mandelson, levou uma acadêmica de Princeton e colunista do ‘Herald Tribune’ a propor que Brasil e aliados não cedam em nada.


– Só forçando o fracasso é que se vai quebrar o impasse… Esconder diferenças para evitar manchetes de colapso permitiria aos líderes na França pensar que podem mimar fazendeiros e ainda assim fingir que se importam com [os pobres].


Ela quer ‘fracasso dramático’.


Quem quiser seguir o ‘drama’ de Hong Kong, semana que vem, tem o blog de Sérgio Léo, que foi às ‘implosões’ de Seattle e Cancún e promete mais:


– Como o japonês da piada, que apertou a descarga na hora em que caiu a bomba atômica, tenho certeza absoluta de que será um desastre esta reunião, agora que me deram a passagem para Hong Kong.


CHÁVEZ E OS AVIÕES


Do ‘Jornal Nacional’ à agência espanhola EFE, as atenções se voltavam ontem para a eventual entrada da Venezuela e de Hugo Chávez no Mercosul.


Nos argentinos ‘La Nación’ e ‘Clarín’, o ex-presidente Eduardo Duhalde questionava a filiação venezuelana ao bloco como ‘mais política que real’. Na mesma linha, o ‘NYT’, com novo correspondente, e a ‘Economist’ diziam que a economia venezuelana é pouco compatível com o Mercosul. No enunciado irônico da revista, ‘um bloco comercial vira um clube de energia’.


Mais importante, ‘Venezuela pode fortalecer Argentina na rivalidade com Brasil’. Por coincidência, ontem a Folha Online e agências noticiavam a venda de 25 aviões de combate do Brasil para a Colômbia.


Um e outro


De um lado, o blog de Ricardo Noblat divulgava, ontem no fim da tarde, noticiário do deputado ACM Neto na CPI dos Correios (‘remessa para o exterior de parte dos milhões perdidos nos fundos de pensão’).


De outro, o site Vermelho, do PC do B, divulgava ter recebido uma ordem da Justiça para não mais repetir crítica do deputado Jamil Murad, também da CPI, de que o relatório de ACM Neto estaria ‘comprometido’ por desconsiderar dados.


Butique


Foi a primeira manchete de ontem do ‘Jornal Nacional’ à Folha Online. Na voz de Ana Paula Padrão, apresentadora do ‘SBT Brasil’, na escalada:


– Os donos da loja Daslu são denunciados por formação de quadrilha. A pena pode chegar a 21 anos de prisão.


E na voz de Fátima Bernardes, apresentadora do ‘JN’:


– A Daslu é a butique mais cara do Brasil.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘Dinheiro do PT’, copyright Folha de S. Paulo, 09/12/05


‘‘No artigo ‘A lógica da politicagem’ (Opinião, pág. A2, 7/12), o jornalista Rogério Gentile emite opiniões desrespeitosas a meu respeito, me julga, me condena e erra ao informar de maneira injusta e mentirosa os seus leitores. Os erros. 1) Os R$ 50 mil disponibilizados a meu pedido pela Tesouraria do PT, e sacados por minha mulher na agência do Banco Rural, em Brasília, me foram entregues em 4/9/03. O processo licitatório para a contratação de agência de publicidade para atender a Câmara iniciou-se em maio de 2003. O contrato foi assinado em 31/12 do mesmo ano. Essas são as datas e prazos que constam do processo. 2) Os recursos que recebi não eram ‘propina’, como afirma o jornalista, incorrendo em calúnia. Tenho quase 30 anos de vida pública e jamais esse termo foi usado em referência a mim e/ou a minha atuação na política. O único jornalista que usou esse termo foi ele. Os recursos tinham origem, o PT, e tinham destino, as pesquisas eleitorais. 3) Nunca afirmei que minha mulher teria ido pagar uma fatura de televisão a cabo no Banco Rural. Esse equívoco foi objeto de uma carta minha ao ‘Painel do Leitor’ e de um ‘Erramos’, publicados no último dia 3/12. Percebo, portanto, que o jornalista Rogério Gentile nem sequer lê o jornal para o qual escreve. As opiniões. 1) O jornalista afirma que, entre todos os parlamentares que se encontram na constrangedora e desconfortável situação de serem submetidos a julgamento no Conselho de Ética, eu seria ‘o que tem mais chances de sobreviver’. Não sei como ele pode inferir isso, mas estou certo de que o plenário da Casa julgará todos os processos com base em fatos e provas, sem cometer injustiças. 2) O jornalista me brinda com adjetivações como ‘corrupto’ e ‘boa praça’. Repudio com veemência a primeira afirmativa, covarde e injuriosa. Não sou nem uma coisa nem outra. Procurei exercer a presidência da Câmara dos Deputados de maneira equilibrada e democrática e tenho convicção da minha honestidade. E tento ser um homem justo. 3) Não foi um desplante mandar minha mulher efetuar o saque no banco. O fiz porque estava seguro de que o dinheiro era proveniente da Tesouraria do meu partido. O jornalista chama de ‘higiênica’ a temporada de cassações que acizenta o Congresso. Não é disso que se trata, mas, sim, de fazer justiça.’ João Paulo Cunha, deputado federal pelo PT-SP (Brasília, DF)


‘Mensalão’


‘Em razão da veiculação dos nomes dos signatários na reportagem ‘Fundos perderam R$ 780 mi, aponta CPI’ (Brasil, 7/12), que procuram vincular nossos nomes à realização de operações no mercado financeiro e de capitais, vimos esclarecer o que se segue: 1. Jamais realizamos operações no mercado financeiro e de capitais cujos resultados pudessem corresponder aos valores mencionados naquelas reportagens. Todas as operações que normalmente realizamos na gestão de nosso patrimônio pessoal estão em conformidade com as regras e padrões de mercado, além de constarem das nossas declarações no Imposto de Renda; 2. Não somos nem nunca fomos ‘beneficiários’ de fundos de pensão a qualquer título; 3. Não são do nosso conhecimento as operações que fundos de pensão realizam no mercado financeiro e de capitais; 4. Desconhecemos, por completo, como nos foram atribuídos resultados tão elevados e que nunca ocorreram, sendo certo que toda a documentação relativa às nossas operações constitui prova irrefutável dos erros cometidos; 5. Não é admissível que um erro tão absurdo e grosseiro possa ser amplamente divulgado na imprensa sem que se tenha procedido às indispensáveis verificações; 6. Tão logo tenhamos conhecimento do relatório mencionado nas reportagens, e que supostamente fundamentou as afirmações inverídicas acima rebatidas, adotaremos as medidas cíveis e criminais cabíveis. Como se pode depreender, as inverdades veiculadas são graves e precisam ser reparadas com a urgência que o caso requer para que a grave lesão já praticada à minha moral e imagem não continue a se perpetuar, agravando ainda mais os irreparáveis prejuízos daí advindos.’ Cristiano Costa Beber e Christian Almeida Rego (Rio de Janeiro, RJ)


Resposta dos jornalistas Leonardo Souza e Fernando Rodrigues – Os nomes de Cristiano Costa Beber e de Christian Almeida Rego constam no relatório parcial da CPI dos Correios sobre fundos de pensão. A Folha não afirmou que ambos cometeram irregularidades, apenas relatou os resultados da apuração divulgada pela CPI, de responsabilidade do deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).’