Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Informação genérica e sem apuração

Suzano é uma cidade localizada na região do Alto Tietê, próxima a São Paulo. Mesmo tendo cerca de 250 mil habitantes, o município possui apenas um jornal diário em circulação, o Diário de Suzano. Como todo jornal de regiões de média população, a publicação suzanense é recheada de notícias de agências nacionais e internacionais, mas é óbvio que o principal interesse dos leitores advém das reportagens locais.

Pois a capa da edição do dia 8 de janeiro de 2008 era o seguinte fato local: ‘Detentos do CDP de Suzano custam R$ 1,5 mi por mês ao governo do Estado’. A linha fina da matéria fazia uma afirmação polêmica: ‘Cada preso custa, em média, R$ 1,2 mil por mês. Maioria dos detentos passa o dia ‘sem fazer nada’. Fumam cigarro e maconha, falam no celular e jogam bola.’

Após ler uma chamada dessas, o que se espera é que o repórter tenha ido até o CDP (Centro de Detenção Provisória) para fazer tais afirmações. Engano. O jornalista, em posse dos dados, recorreu apenas a fontes oficias: um sociólogo e um especialista em segurança.

Interesse público

Mas como o repórter conseguiu obter as informações contidas na linha fina? A resposta está na própria matéria:

‘Informações dos sindicatos de agentes do Estado apontam que nos CDPs de São Paulo a maioria dos presos passa o dia `sem fazer nada´.’

Fica óbvio que não houve apuração por parte do órgão jornalístico. O repórter simplesmente enquadrou o CDP da cidade nas ‘informações de agentes do Estado’ que não têm um olhar específico para cada Centro de Detenção do Estado e possivelmente nem sabem como é o funcionamento do órgão em Suzano.

Como se não bastasse essa grave falha generalizante, o jornalista utiliza o último parágrafo da matéria para dizer o que poderia ser feito caso o dinheiro gasto com os 1.039 detentos de Suzano fosse aplicado em outras obras. Mesmo tendo esclarecido durante a matéria que o gasto é necessário, já que não há como deixar de fazê-lo – caso contrário os presos teriam que ser soltos –, o repórter faz uma declaração claramente sensacionalista como essa para que o leitor tenha a sensação de que o dinheiro está sendo mal empregado.

Sabemos que o jornalismo diário é difícil e trabalhoso, mas se não houver comprometimento do órgão com o bem mais importante dos jornais de municípios médios (as notícias locais), como fica o interesse público do cidadão que vê seu interesse representado por poucos veículos de comunicação?

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Estudante de Jornalismo da Unesp de Bauru, SP