Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalista alemão detido por ‘entrevista ilegal’

Autoridades chinesas prenderam Georg Blume, repórter do jornal alemão Die Zeit, e o mantiveram em custódia por cinco horas alegando que ele havia conduzido ‘entrevistas ilegais’ com moradores sobre o projeto de uma represa no sul da província de Yunnan.


O jornalista foi detido por duas patrulhas policiais na vila de Xiao Shaba depois que entrevistou fazendeiros perto do rio Nu. Ele foi levado a uma delegacia, onde autoridades o intimaram a entregar suas anotações e filme fotográfico. Blume recusou-se a entregar os documentos e assinou uma declaração na qual afirmou que não realizaria mais entrevistas e que deixaria a região imediatamente. Ele foi liberado somente depois de rasgar parte de seus documentos, segundo informou o Die Zeit, que falou com o repórter através do telefone celular. ‘Um funcionário do escritório de propaganda afirmou que eu estava preso para minha própria proteção’, disse Blume ao jornal. O repórter constatou que os moradores não rejeitaram a realocação e preferem ter melhores condições de habitação porque têm problemas de acesso a água potável onde moram.


Represa criticada


Como parte da construção de uma usina hidrelétrica, os 400 habitantes de Xiao Shaba devem se mudar para um alojamento, atualmente em construção. As obras não foram concluídas pelo governo de Pequim em virtude de possíveis protestos do Ministério do Meio Ambiente.


O Nu é um dos últimos rios não tocados pelo homem na China e foi designado como Herança Mundial pela Organização Educacional, Científica e Cultural da ONU. Em outubro de 2004, a Unesco pediu ao governo chinês para permitir que o rio permanecesse intocado em sua área natural.


Mais censura


A atitude de represália ao jornalista acontece no momento em que a China reforça a censura à mídia. Um projeto de lei prevê multar as organizações de comunicação que publicarem notícias sobre emergências sem permissão do governo. A lei, ainda em preparação, prevê multas de até US$ 12.500 para relatórios não autorizados sobre assuntos de doenças, acidentes naturais, distúrbios sociais ou outros incidentes que o governo determine falso ou prejudiciais à ordem social.


Wang Yongqing, vice-ministro do Escritório de Assuntos Legislativos do Conselho de Estado da China, afirmou a repórteres que o projeto deve se aplicar também às empresas de comunicação estrangeiras, que normalmente operam sob regras diferentes das empresas chinesas. ‘Se um repórter chinês for à França ou ao Reino Unido, ele também terá que seguir as leis locais’, comparou. Antes, imaginava-se que a lei se aplicaria apenas à mídia local.


Críticos do projeto temem que ele aumente a censura à imprensa, pois a definição de emergências de caráter público é ampla. ‘Acreditamos que o espírito de jornalismo investigativo deve ser mantido na lei, mas na verdade o projeto de lei do jeito que está faz exatamente o oposto e representa um retrocesso’, opinou Chang Ping, colunista do Southern Metropolis Daily. Com informações de Patrick Donahue [Bloomberg, 6/7/06] e de Joseph Kann [The New York Times, 4/7/06].