Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘Jornalista tem que saber ler’

O jornalista Paulo Patarra não tem mais os ralos cabelos e a barba que o acompanharam na maior parte dos seus mais de meio século de jornalismo. Mas a inteligência, o perfil de líder, o bom humor, o olhar crítico e a língua afiada estão ainda mais aguçados no velho Patarra, hoje com 73 anos.

No início do segundo semestre do ano passado, ele descobriu um câncer na garganta, provocado pelos 61 anos de tabagismo. ‘Fumei perto de 1 milhão de cigarros. Fiz as contas’, escreveu, esboçando um sorriso. ‘Escreveu’ porque Patarra não fala mais – e foi escrevendo que concedeu esta entrevista ao ABI Online. Seu último cigarro, há nove meses, foi fumado no hospital, horas antes de ser submetido a uma laringectomia – procedimento cirúrgico para retirada da laringe e das cordas vocais. Mesmo assim, ele não demonstrou desânimo e avisou aos amigos: ‘Não é um ‘pobre’ câncer que vai me derrubar. Só pode me matar.’

Patarra começou a fumar aos 12 anos, idade em que, depois de estudar em um colégio de padres, se tornou ateu convicto. A convicção, aliás, foi motivo de muitas discussões entre ele, o criador e Diretor da revista Realidade, e o repórter Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto:

– Bettinho (só eu o chamo assim) e eu ‘brigamos’ muito; coisa de religioso versus ateu.

Frei Betto, cuja amizade com o diretor ultrapassou as barreiras da Redação, comenta:

– Paulo é comunista, ateu convicto, e sempre me disse ter inveja da minha fé. Curioso. Ao ouvir isso, eu tinha a impressão de que ele se queixava não a mim, mas a Deus, por não lhe ter concedido o dom da fé. Nunca, entretanto, ele deixou de respeitar minha postura cristã, e temos em comum o patrimônio, hoje olvidado, das idéias de esquerda. 

Patarra militou no PCB, entre 1957 e 1960, tendo sido preso no governo JK ao ser flagrado pichando a frase ‘Anistia para Prestes’. Em 1968, pouco antes de estourar o AI-5, assinou a entrevista com Luís Carlos Prestes que foi capa da Realidade. Apesar de ter sido uma das mais importantes de sua vida de repórter, a matéria trouxe a decepção com o Partidão:

– O PCB me enganou, disse que o Prestes tinha feito plástica. Não vi o rosto dele e a foto é quase de costas. Com a revista nas bancas, cara desenhada na capa, com a chamada ‘Este rosto não existe mais’, estourou o Ato 5. Fugi durante seis, sete meses. Fiquei no Hotel Delfim, em Guarujá, por conta da Editora Abril. Tinha medo de que os militares me pegassem e torturassem para saber onde estava o velho.

A reportagem, seu último trabalho na Realidade, rendeu um Prêmio Esso de Jornalismo, que Patarra se esquivou de receber:

– Tive que pedir que esquecessem. Se não, de novo, os milicos iam ficar p…

Por leitura labial, era fácil perceber alguns palavrões, não só quando o assunto era ditadura, mas também jornalismo, jornalistas e veículos de comunicação na atualidade – ‘jornalista precisa é saber ler’, escreveu com furor.

A entrevista foi interrompida três vezes: quando uma enfermeira se aproximou para verificar a pressão arterial e a temperatura do paciente, quando outra pessoa lhe trouxe um copo de vitamina – ele fez careta no primeiro gole – e quando se escutou o único gol da seleção brasileira contra a equipe de Gana, naquela tarde de 27 de março – Patarra correu para perto da pequena TV da enfermaria no Centro de Hematologia. 

Ao final, depois de quatro horas, escreveu nas anotações do repórter: ‘Falamos, não? Imagina só se eu não estivesse mudo!’ As respostas que se seguem foram entregues em um segundo encontro com Patarra, que um dia tentou ser poliglota, mas nunca concluiu os cursos de inglês, francês e italiano.

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Qual a sua análise sobre a imprensa brasileira na área política?

Paulo Patarra – É tempo de ‘fitagem’: quem ganha (ou compra) gravação – de som e/ou imagem – tem manchete. E cadê a reportagem? No mais, tomem-se frescuras, cerco às celebridades, exaltações aos imbecis, dedo no gatilho até pra esquerdóides.

Como ser jornalista em tempos de computador, internet e globalização?

P.P. – Todos podem mentir. Máquina é que nem gente. E globalização é coisa velha. Só se cai nela por interesse de uns poucos. Aqui e mundo afora. Uma coisa acho certa: o jornal vai ser impresso na casa dos leitores. Não é óbvio? Mas quando dei aula na Universidade S. Marcos proibi ‘pesquisa’ na internet.

Como se ‘fabrica’ jornalista? No dia-a-dia ou nas faculdades de Comunicação?

P.P. – Tanto faz. Jornalista precisa é saber ler. Muito. De tudo. Se fizer qualquer faculdade, talvez ajude.

Você é a favor do diploma para exercer o jornalismo?

P.P. – Não. Comecei pela Cásper Líbero, que se apresentava como ‘escola de jornalismo’. Era tão ruim que acabei expulso, de tanto reclamar. Dizem que a ECA (da USP) é a tal. Pelo que vi, não vi.

Qual é a sua análise sobre as revistas semanais da chamada grande imprensa?

P.P.Carta Capital corre só, pela meia-esquerda. Época – com o canhão da Globo abrindo caminho – já deixou IstoÉ a comer poeira, muita poeira. Quanto à Veja, quanto dinheiro jogado fora numa redação pedante; é só boba ironia e triste reacionarismo. Está à direita dos ACMs. Em direitismo, bate Época e IstoÉ, uma tarefa difícil…

Quatro Rodas foi um ensaio para a Realidade?

P.P. – Foi. Tanto Mino Carta (que foi para o Grupo Estado) como eu – e os outros – estávamos lá de passagem, à espera do lançamento de uma revista de interesse geral. Quando assumi a Direção de Quatro Rodas, trocamos turismo por índios: ‘O povo deve morrer’. Carlos Azevedo (repórter que assinou a matéria) ficou com o fotógrafo (maravilhoso) Luigi Mamprin quatro meses no mato, às escondidas da cúpula. Também compramos carteiras de motoristas para uma outra reportagem. Levei para Realidade quase todos os que tinha enfiado na Quatro Rodas e em outras revistas da Abril: o ‘maluco beleza’ do Narciso Kalili veio de Intervalo, Eduardo Barreto estava escondido em Claudia e Hamilton Almeida Filho, um gênio diabólico, como outros, veio da rua.

Faltam hoje grandes repórteres ou espaço para eles?

P.P. – Faltam é repórteres. Todos os bons viraram colunistas, o que é mais barato para os patrões. Reportagem é coisa cara, mas os melhores jornais deste planeta continuam a fazê-los. Já por aqui…

Como foi seu trabalho com Roberto Civita e Roberto Marinho?

P.P. – Com o Robert (naquele tempo ele não tinha o ‘o’) Civita foi ótimo. Afinal, fui eu que o indiquei para comandar a revista, quando o primeiro Diretor, o publicitário e escritor Hernani Donato, caiu por incompetência, comprovada no número zero, em novembro de 1965. ‘Nomear’ Robert foi o pulo-do-gato: nunca faltou dinheiro na revista. Para nós e para qualquer doida matéria que nascesse das reuniões de pauta, que jamais acabavam antes de se começar a edição seguinte.

Quanto ao Dr. Marinho, só estive com ele uma vez. Quem mandava na Rio Gráfica – futura Editora Globo – era o atual Presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu. Foi com ele que tratei da minha ida para o Rio e foi dele que recebi carta branca. Na então Guanabara, em 1972, descobri que a empresa tinha um tripé manco de duas pernas. Da redação, impressão e distribuição, só funcionava a primeira. Falei com o Roberto Irineu e fui – pela primeira vez – encontrar com o Doutor. Expus a situação ao homem, ele ficou de pensar. No dia seguinte, a resposta simples, em um bilhete: ‘Demita um terço da redação.’ Fiz a maleta e fui para a praia, deixando meu nome no papel de demissão. O mais notável: depois disso, trabalhei mais sete vezes nas Organizações Globo – quase 20 anos na TV, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Você se considera um ‘jornalista maldito’?

P.P. – De jeito nenhum. Veja o meu currículo. Sou um transgressor bendito.

Como um ateu foi educado numa escola de padres? Ou sua descrença surgiu depois do colégio?

P.P. – Fiz o então ginásio em Taubaté, no Vale do Paraíba, de 1941 a 45. Quatro anos como interno, dos melhores tempos de minha vida. Fiquei ateu na então 2ª série ginasial, aos 12 anos. De tanto ver como os padres eram falsos, injustos, pedófilos de alma. E de ler a Bíblia todo santo dia, durante a chatíssima santa missa. Amém!

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Formação e fama

Nascido em São José dos Campos, no interior paulista, no dia 21 de outubro de 1933, órfão do pai Manoel, vítima da tuberculose, em 1937, Paulo de Carvalho Patarra estudou no Seminário de Cinema do Masp, aos 20 anos, ao mesmo tempo em que cursava o Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva (CPOR) do Exército. Também fez curso de Operador de Raio X e nunca concluiu Ciências Sociais, na USP, muito menos Jornalismo, na Cásper Líbero, de onde foi expulso em 1956, por agitar e encabeçar um movimento de reivindicação e greve. Mas não é daí que vem a fama de ‘jornalista maldito’. O termo atingiu toda a equipe da revista Realidade, liderada por Patarra, por conta do jornalismo de contracultura praticado pela equipe, que fugia dos ‘bons modos’ do jornalismo da época. E é com orgulho que seu filho Ivo Patarra, 48 anos e também jornalista, admite: ‘Meu pai sempre foi meio maldito.’

Se foge do rótulo e prefere se intitular um transgressor, Patarra, ou P.Pat – ‘minha rubrica-assinatura pode ser reconhecida no 1º Cartório, na Rua das Palmeiras, em Santa Cecília (bairro de São Paulo)’, diz ele – no entanto, não foge da fama de bom bebedor que envolve a maioria dos jornalistas brasileiros:

– No tempo de Realidade, o primeiro gole era uísque Old Eight, triplo. Até ter uma pancreatite. Quase fui. Fiquei anos sem tocar em álcool até descobrir o vinho. Agora, nunca bebi antes ou na hora do trabalho. Nunca! Mas depois…

Avesso a computador, celular e outros avanços tecnológicos – ‘sou o que nas velhas redações chamavam de dinossauro’ –, Patarra condenava até o uso de telefone para entrevistas na década de 60, quando era repórter da Quatro Rodas, revista em que foi repórter, fotógrafo, motorista – quebrou e capotou mais de uma dezena de carros em reportagens –, secretário de Redação e redator-chefe:

– Nesse tempo, como repórter, se eu tinha que entrevistar alguém nem que fosse para uma só pergunta, ‘carioca ou mineiro?’, pegava a Rural Willys da Redação e ia pro Rio ou pra BH. Um pouco por malandragem, confesso. 

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Histórias de P.Pat

‘Uma figura rara no jornalismo dos nossos dias. Talvez, inexistente’, na opinião de Sérgio de Souza, editor da revista Caros Amigos. ‘Um ícone da nossa imprensa’, segundo George Duque Estrada, diretor de Arte da Carta Capital. Elogios não faltam quando se fala de Paulo Patarra. Muito menos boas histórias. 

Greve estudantil

O repórter José Hamilton Ribeiro foi enviado ao Vietnã, em 68, pelo então editor de Realidade, Paulo Patarra, seu amigo desde 1955, quando se conheceram na Escola de Jornalismo Cásper Líbero. Ali, o futuro correspondente de guerra era vice-presidente do Centro Acadêmico, que comandou uma greve dos estudantes. No segundo dia da mobilização, o Presidente renunciou e deixou o ‘abacaxi’ com Zé Hamilton.

Depois de duas semanas, as aulas retornaram. A direção da escola chamou Zé Hamilton e mais três estudantes que encabeçaram o movimento – dois deles eram Paulo e sua futura esposa, Judite. A decisão foi não expulsar o quarteto, mas, no ano seguinte, a Cásper Líbero não aceitou a matrícula de nenhum deles. ‘Este foi nosso primeiro contato. Patarra sempre foi um grande líder’, diz Zé Hamilton, que foi para o Globo Rural a convite do amigo.

A importância de Patarra para a imprensa, Zé Hamilton registrou no oferecimento que fez para ele em seu último livro, O repórter do século, em que publicou as grandes reportagens de sua carreira, sete das quais premiadas com o Esso: ‘Dessas oito reportagens, seis foram feitas com a sua criatividade. Nas outras duas aproveitei coisas que aprendi com você’, escreveu.

Quase prisão

Frei Betto conheceu Paulo Patarra em 1966, na Realidade. Em seu primeiro contato com uma redação, o religioso foi incumbido das matérias internacionais, como a visita do Papa Paulo VI à Colômbia, em 1968. ‘Ao retornar, prestei-lhe contas dos gastos. Levei uma senhora bronca, pois a verba de representação da Abril não exigia prestação de contas. Patarra ficou furioso porque, ao devolver o excedente, eu punha em risco a possibilidade de outros jornalistas gastarem em viagem com noitadas e uísque’, lembra ele.

Mais tarde, Frei Betto foi trabalhar na Folha da Tarde, publicação de esquerda que se contrapunha ao Jornal da Tarde, de direita. Lá, ao saber que uma equipe do Deops ia prender ‘um tal de Paulo Patarra’, foi de táxi a Higienópolis, onde o amigo morava, e fez com que ele saísse de casa. Pouco depois, policiais invadiram o local. O relato está no livro Batismo de sangue e no filme homônimo, que tem roteiro da filha de P.Pat, Dani.

Sobre o amigo, Frei Betto diz: ‘Tenho por ele profundo afeto e, embora a saúde precária o impeça, hoje, de falar, a vida e o talento de Paulo Patarra são gritantes na história do jornalismo brasileiro. A revista Realidade, paradigma da imprensa nacional, não seria o que foi sem as qualidades de Patarra e de Sérgio de Souza, editor de texto.’ 

Carro e romance

O caso aconteceu com Sérgio de Souza, editor da Caros Amigos que conheceu Patarra em 1964, na Quatro Rodas. Quando era editor de texto na Realidade, Sérgio se apaixonou pela secretária de Patarra, Switlana Nowikow, a Lana. Ambos eram casados e o romance causou burburinho na redação.

Veio a Copa de 66 e ele foi escalado para cobrir a seleção brasileira na Inglaterra. Patarra decidiu apoiar o amigo e propôs que Lana fosse ao encontro do repórter em Londres. Nada muito anormal, até que Sérgio descobriu: ‘Paulo estava tão empenhado em contribuir para o sucesso do meu romance que, para custear a passagem aérea e despesas de viagem, pôs à venda o seu Gordini. No entanto, toda a equipe foi contra, como me conta a Lana, que, aliás, até hoje é minha companheira – entre outras razões, por causa do Paulo Patarra’, conta o jornalista. 

Manchete inusitada

Em 1960, Carlos Alberto Azevedo era estagiário do Estadão e foi aluno de Patarra em um cursinho preparatório para o vestibular. ‘A primeira imagem daquele homem magrinho era de dinamismo’, lembra Azevedo, hoje com 67 anos. Quando trabalhava em O Cruzeiro, em 1964, ele foi convidado pelo ex-professor para a Quatro Rodas, onde escreveria a seção de corrida ‘Alta rotação’.

A verdadeira idéia de Patarra, porém, era fazer da publicação o embrião da Realidade. Azevedo, então, foi escalado para fazer uma matéria sobre a mortandade dos índios brasileiros. ‘Mas fazer isso num guia turístico?’, indagou o repórter ao editor. Patarra não pensou duas vezes, entregou-lhe uma pilha de dinheiro e o enviou para as aldeias. ‘Vá e não vamos contar para os Civita’, advertiu.

Meses depois, a reportagem foi capa: ‘Paz para o índio vencido’, com título interno ‘O povo deve morrer’. ‘O episódio mostra a visão de Patarra. Era o cara do convencimento, não havia distância entre ele e os subordinados. Sempre foi o nervo estratégico, o ser pensante do jornalismo, o fazedor de grandes projetos, o organizador de equipes’, diz Azevedo.

Outra reportagem que ele não esquece envolveu a campanha ‘O petróleo é nosso’. Como não se podia falar abertamente da campanha nas publicações dos Civita, Patarra teve uma idéia: enviou Azevedo para a extração em Sergipe e, diante de uma bela foto de um operário todo sujo de petróleo ao descobrir um poço, jogou a manchete: ‘Esse petróleo é meu’. ‘Patarra marcou o jornalismo brasileiro nos últimos 50 anos. Sempre foi um Telê Santana, reunindo os melhores em campo’, afirma Azevedo, fazendo alusão ao inesquecível técnico de futebol. 

Texto e caráter

O alagoano Bernardo Severiano da Silva, semi-analfabeto e militante do PCB, estava preso em 1964 enquanto seu filho Mylton (anos depois, Myltainho) trabalhava na Folha de S.Paulo à noite e estudava Direito pela manhã. Três meses após o golpe militar, o funcionário da Folha foi chamado para a Quatro Rodas, depois de ter sido apresentado a Patarra pelo amigo Otoniel Santos Pereira. O salário era tentador: cinco vezes mais do que ganhava no jornal. ‘O lema de Patarra era ‘só vem para o nosso grupo bom texto e bom caráter’, o que necessariamente não significa ser do Partido Comunista’, conta Myltainho, orgulhoso.

Quando a equipe de Realidade começou a ser montada, Myltainho foi peça importante do projeto. As pautas da revista eram discutidas, principalmente, em mesas de bar como o Sand Churra, localizado na Galeria Metrópole, no Centro de São Paulo. ‘Patarra dormiu muito no mezanino de lá depois de uns pileques’, lembra o jornalista, sorrindo.

Depois da Realidade, veio o jornal Ex, bancado posteriormente por P.Pat. A primeira capa trazia um sósia de Hitler tomando banho pelado na praia; outra, o presidente norte-americano Richard Nixon vestido de presidiário… Isso até começar a pressão dos militares. ‘Muitas vezes o jornal era feito na máquina elétrica, diretamente no papel. O fotolito era feito a partir do couchê. Não podia errar. Patarra colocou uma grana preta na publicação, o dinheiro de um apartamento. A tiragem foi crescendo, até que a edição que vincularia o melhor do Ex foi apreendida na gráfica. Isto foi determinante para o fechamento do jornal. Suspeitamos até que houve deduragem’, revela Myltainho. ‘Na invasão, todos tremeram com a chegada dos agentes da Polícia Federal, em especial um negro, alto, cujo dedos pareciam cinco cassetetes. O cara não precisava nem de arma.’

Sob censura, Patarra fechou um jornal e criou outro, o Mais Um, com seus últimos tostões. Um pequeno selo no alto da página trazia a palavra ‘Ex’ na nova publicação, rodada na gráfica de Raduan Nassar, em Pinheiros. Generoso, o autor de Lavoura arcaica não cobrou um débito que a equipe tinha na empresa, fruto das últimas edições do Ex. ‘Quando lançamos o primeiro número com uma matéria sobre o Esquadrão da Morte, eu e o Half (Hamilton Almeida Filho) fomos chamados pelo coronel Barreto, que, parecendo que ia rasgar o jornal com os dentes, gritou: ‘O que é isso?’ Um dos dois respondeu: ‘Coronel, é um outro jornal’ A réplica do militar foi imediata: ‘Ou vocês param com isso ou não respondo mais pela integridade física de vocês.’ Todos pararam e a turma, liderada por Patarra, se tornou ‘maldita’.’

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