Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Lula, FHC, as pesquisas e a Ilíada



‘A aprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu seu próprio recorde de avaliação positiva. Segundo a pesquisa do instituto Datafolha, divulgada nesta sexta-feira, 12/09, 64% dos brasileiros consideram o governo como ótimo ou bom.


A aprovação de Lula, que já era a melhor entre todos os presidentes eleitos desde a redemocratização, a partir de 1990 com a eleição de Fernando Collor de Mello, subiu 9 pontos percentuais em relação aos 55% registrados na pesquisa anterior do Datafolha, de março desse ano.’ (Jornal de Debates)


Raramente a imprensa lembra que a ambição tem sido um atributo tipicamente humano. E que a ambição dos governantes nunca teve limites ou modéstia.


Antes da invenção do papel, os reis, faraós e imperadores mandavam gravar seus feitos na pedra. Muitos quiseram imortalizar seus nomes ou transformar suas escorregadas em façanhas memoráveis. E tudo que conseguiram foi auto-iludir-se. Seus monumentos se transformaram em ruínas, as descrições de seus feitos foram apagadas pelas intempéries ou a línguas em que as mensagens foram escritas acabaram esquecidas.


Quantas gerações de homens viram os hieróglifos egípcios sem ter a menor idéia do que diziam? Quantas mais acreditaram que Nínive ou Tróia eram miragens discursivas criadas pelos escritores antigos?


Uso e abuso da TV


A invenção do papiro possibilitou a reprodução ilimitada das mensagens dos candidatos à imortalidade. E muitos morreram justamente porque ousaram embelezar suas próprias histórias. Julio César escreveu Bellun galica e Bellun civile para dignificar seus feitos militares e consolidar sua liderança, mas acabou apunhalado nas escadarias do Senado romano.


Com a invenção do papel, outros césares cometeram o mesmo erro. Napoleão foi um deles, mas ditou suas memórias numa ilha enquanto era envenenado. O único que escapou dele (D. João VI), morreu naturalmente em Portugal e também não foi esquecido, apesar de não ter feito grande coisa lá e cá.


Na era da rotativa e do rádio, Hitler, Mussolini e Stalin usaram a propaganda para cultuar a própria personalidade. Os dois primeiros acabaram bem mal, o terceiro sobreviveu aos inimigos. Mas destruiu o sonho da primeira geração de revolucionários, além de alguns milhões de vidas (é claro).


George W. Bush, o imoderado, usa e abusa da TV como se fosse um Slobodan Milosevic. E pode não demorar muito para ter o mesmo destino que o amigo porque já são muitos os americanos que pretendem fazer Bush responder pelos erros que tem cometido no Iraque.


Alguém se lembrará no futuro?


Lula segue imbatível nas pesquisas. Alguns políticos dizem que ele é o melhor presidente que o Brasil já teve. Outros, também políticos, dizem que Lula é o que existe de melhor em matéria ruindade. As palavras dos amigos podem ser vendidas ou compradas, as dos inimigos quase sempre nascem de uma dor de cotovelo insuportável.


Com Lula e sem a oposição, milhões de brasileiros seguem apenas trabalhando para melhorar suas vidas. E melhorando o país, em razão de sua dedicação pouco reconhecida e mal iluminada pela mídia.


‘É o nome dos reis fica gravado na pedra’ – diz Agamêmnon a Aquiles no filme Tróia.


Ainda não li a Ilíada, mas creio que a cena é bem sugestiva. Os petistas deveriam meditar um pouco mais sobre a mesma antes de dizer que Lula é o melhor presidente que o Brasil já teve. De fato, o Brasil ainda terá muitos presidentes e os partidários deles certamente dirão que eles é que foram os melhores governantes brasileiros. Nós, que somos os soldados que edificam o país para que o nome de outros seja lembrado, continuaremos rindo dos petistas e de seus adversários. No futuro, alguém se lembrará de Lula ou de FHC como lembram de Aquiles ou de Agamêmnon?

******

Advogado, Osasco, SP