Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Martha Mendonça

‘A novelista Glória Perez já escreveu sobre barriga de aluguel, transplante e crianças desaparecidas. Há três anos, em O Clone, misturou clonagem humana, drogas e Islã. Em América, que estréia nesta segunda-feira 14 na TV Globo, bate o próprio recorde: a nova trama das 8 vai mostrar a imigração ilegal de brasileiros para os Estados Unidos, o mundo dos rodeios, a vida dos deficientes visuais, a cleptomania e a experiência de quase-morte, que já tem até sigla: EQM. Há pitadas de homossexualismo e a relação entre um cinqüentão e uma adolescente. ‘É a novela mais difícil já feita até hoje’, declara o diretor-geral, Jayme Monjardim. O diretor se refere à diversidade de universos que serão mostrados, o que resulta na maior metragem cenográfica de novelas da Globo. Os mais de 60 personagens se dividem em núcleos de Miami pobre e rica, zona sul e subúrbio do Rio de Janeiro e uma cidade fictícia no interior de São Paulo.

Para Marcos Schetman, também diretor de América, Glória faz um exercício de antropologia cultural. ‘Ela mostra como você pode se enxergar a partir do outro’, explica. Para levar ao ar temas tão diversos e inéditos na dramaturgia nacional, a produção cercou-se de pesquisadores. Os atores partiram para o chamado laboratório. Protagonista de uma novela das 8 pela primeira vez, Deborah Secco trabalhou numa lanchonete do McDonald’s de Nova York. ‘Não me trataram nada bem’, dispara. A atriz será Sol, esteticista de origem humilde que tem obsessão pelos Estados Unidos. Apaixona-se pelo campeão de rodeios Tião (Murilo Benício), mas não troca seu sonho de ir para a América por ninguém. Sem visto, vai sofrer o pão que o diabo amassou na travessia pela fronteira do México, para imigrar ilegalmente.

Christiane Torloni será Haydée, mulher de classe média alta que convive com o problema da cleptomania. Sofre em silêncio e não consegue controlar sua compulsão por pequenos furtos. A homossexualidade, que já vinha sendo abordada nas duas últimas novelas das 8, será mostrada através do jovem Júnior, personagem de Bruno Gagliasso. Filho de uma fazendeira dominadora, ele sufoca sua preferência sexual. Entre os atores estreantes, a novidade é o texano Lucas Babin. O modelo, que chamou a atenção de Glória Perez ao participar do último Fashion Rio, será o peão Nick, apaixonado pelos rodeios e pelas mulheres. Aos 25 anos, comemora a experiência: ‘Sou o primeiro americano com papel importante em novela brasileira’, diz Babin, no caminho inverso dos brasileiros que sonham com a América.

Viagem na vida alheia

ÉPOCA – Como são escolhidos os temas de suas novelas?

Glória Perez – Eles sempre vêm a mim. Escolho fatos interessantes sobre o cotidiano, expectativas e sonhos das pessoas.

ÉPOCA – A senhora faz muitas pesquisas para escrever?

Glória – Sim, em todas as minhas novelas. Convivi com imigrantes ilegais, cegos, peões, conheci suas casas, suas vidas. Fui ver de perto. Só assim, sentindo a pulsação de cada universo, é que dá para escrever sobre eles. Espero que todos se reconheçam na novela.

ÉPOCA – Como fazer com que o telespectador não se perca em tantos assuntos?

Glória – Essa é a arte do roteiro. Contar histórias, mesmo que muitas e diferentes, de forma organizada, clara, construindo a emoção em quem as assiste. É muito fascinante essa viagem pela vida alheia. Esse meter-se nas peles de outros, esse mergulho nas histórias de vidas que você não viveu.’



Carol Knoploch

‘Labrador Quartz integra elenco de ‘América’’, copyright O Estado de S. Paulo, 10/03/05

‘Quartz, um labrador canadense, marrom bem claro, cor semelhante ao de pudim de leite, fará parte do elenco de América, a nova novela das 9 da Rede Globo. Na trama, terá o mesmo nome e será o cão-guia de Jatobá, de Marcos Frota. Ao lado de Bruna Marquezine (Maria Flor), o ator defenderá a causa dos deficientes visuais, um dos merchandising sociais da autora Glória Perez. Na trama, Jatobá perderá a visão depois de adulto e Maria Flor nascerá cega.

‘Estou apaixonado pelo Quartz e agora ele mora comigo. De manhã, vai ao meu quarto me acordar para passearmos na praia’, comenta Frota, que faz do lazer uma clínica para o personagem. Jatobá vai se preparar para a pára-olímpíada e treinará na praia com o cachorro. Há um mês, Quartz mudou-se para a casa dele. Frota tem um sheep dog e os dois não se estranharam. Com arreio, Quartz sabe que vai trabalhar. Sem o arreio, é um cachorro igual aos outros.

Na festa de lançamento de América, domingo passado, Quartz não compareceu. Mas, dois de seus irmãos, a Gypsy e o Zircon, guias de Marinalva Pires de Lima e de Silvo Gois de Alcântara, estiveram no Villa Country, em São Paulo, e fizeram o maior sucesso.

Quartz e seus irmãos foram treinados em Brasília, no Integra, Instituto de Integração Social e Promoção da Cidadania, único centro de treinamento de cães-guia da América Latina – Gypsy, Zircon e Quartz têm 3 anos e ‘entendem’ francês. Quartz foi cedido para a novela da Globo e fará este tipo de trabalho pela primeira vez. Passará por acompanhamento técnico periódico como os outros cães-guia do Integra. Atualmente, o instituto beneficia 10 deficientes visuais, que não pagam nada – até a ração é doada – para obter o cão.

Frota conta que ficou viajando entre Brasília e o Rio, onde mora, por cerca de três meses, para conhecer melhor Quartz – Boris, outro labrador, não foi receptivo e Quartz ganhou o papel. Antes, porém, em julho do ano passado, o ator fez um curso para poder se guiar com um cachorro.

SORTEIA-SE UM CÃO

Durante as gravações, Quartz é comportado e entende as instruções. Não ganha biscoito para fazer as cenas. Recebe apenas elogios do usuário como forma de agradecimento. Essa é a regra para os cães-guia. ‘Já somos amigos. Converso muito com ele e ele presta atenção…’, declara Frota que, ao final da novela, pensa em promover um concurso no Domingão do Faustão para doá-lo a um deficiente visual.

Marcos Frota, que está com 50 anos, sendo 25 de profissão, acredita que Jatobá é uma missão. ‘Um ótimo desafio. Profissionalmente, não quero fazê-lo angustiado e sim alegre, como a grande maioria dos deficientes que conheci. E, pessoalmente, ganho em crescimento, em riqueza. Sei também que poderemos ajudar muitas pessoas que esperavam por esta oportunidade, de ver o assunto em destaque.’’



Etienne Jacintho

‘A seguir, cenas da próxima polêmica’, copyright O Estado de S. Paulo, 11/03/05

‘A substituta de Senhora do Destino, América, estréia na segunda-feira já com uma polêmica -, na verdade, crime, como prefere definir Glória Perez. Antes da apresentação da nova trama das 9, na semana passada, no Rio, a autora leu um comunicado sobre o ataque que sofreu na internet. O incidente foi possivelmente provocado por fãs de Guilherme de Pádua – assassino de Daniella Perez, filha da autora -, que se diziam militantes de ONGs de proteção aos animais, assunto que será abordado em América. ‘Foi uma legião de psicopatas que respondeu à convocação para participar da novela com ataque violento à memória de minha filha Daniella.’

Os internautas invadiram a página de Glória Perez no site Orkut e enviaram ameaças – cerca de 8 mil mensagens – à autora, muitas delas com imagens de Daniella morta. ‘O material está lá, para quem quiser ver, e para servir de provas e providências legais que já foram tomadas’, falou a autora. ‘Não quero a novela movida por isso nem quero mais falar sobre isso. Minha função agora é escrever capítulos.’

A militância em prol da proteção aos animais seria defendida pelos personagens de Gabriela Duarte (a veterinária Simone), de Caco Ciocler (o intelectual Ed) e de Raul Gazolla (o advogado Helinho). Agora, Glória decidiu cortar a participação de militantes do enredo de América. ‘Não vamos penalizar os animais’, explica a autora, que manterá o tema na novela e a trajetória desses três personagens, sem diminuir seus papéis, mas sem a militância. ‘Não quero generalizar’, afirmou. ‘Deve existir gente séria atuando nessa causa nobre.’

RELIGIÃO

Glória Perez ainda fez questão de desfazer outra polêmica que começou a surgir. A personagem de Juliana Paes (Creusa) será uma beata e ponto. A autora disse que ela não será evangélica nem crente nem católica e será desmascarada na trama por fiéis.’