Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mídia insensível a reflexões urgentes

No sábado morreram três pessoas no show do grupo mexicano RDB em São Paulo. A imprensa cobriu friamente, escutou os parentes das vítimas, uma menina, uma adolescente e uma mulher; o Hipermercado Extra, o Grupo Pão de Açúcar e a gravadora EMI tiraram seus corpos fora, declarando que os acidentes ocorreram devido à exaltação dos fãs; o grupo lamenta as mortes, e a emissora de TV (SBT) que trouxe seu sucesso ao Brasil por meio de uma novela faz ‘bacana’: cancela a presença do RDB num programa. O Ministério Público vai apurar, a polícia fará sua parte, a mídia faz o jogo de sempre: fica em cima dos fatos, nada mais, pois alimenta-se deles, vende bem com tragédias, não abrirá a chaga que revelaria o tumor social.

Fica faltando o debate em cima de questões emergentes, a responsabilidade de todos se dilui entre os responsáveis diante dos prejuízos, depois dos prejuízos. Os megaeventos continuarão, pais e mães não conseguem ou nem tentam evitar que seus filhos, talvez eles mesmos, busquem caminhos outros que não os da mão única que dirige todos ao consumismo ‘cultural’. Não basta que andem com roupas de nome específico, que assistam a programas bestializantes, precisam também investir em megaeventos, escutar o que a maioria escuta, assistir ao que a maioria assiste, enfim, dar o dízimo à concentração de renda.

Investindo na boiada

A sociedade vaquinha de presépio não é abordada pela mídia. O que está por trás de megaeventos é um cancro social doloridíssimo, o ser humano se portando como boiada, sem sentir nem pensar, fazendo cada vez menos pela própria dignidade, voltado em massa para o culto às celebridades, enchendo os bolsos dos empresários e das gravadoras.

Como funciona a coisa toda, um texto imparcial sim, didático por excelência, diminuiria esse investimento na concentração de renda na área da cultura. Mas isso não interessa à mídia. Algumas mortes e 40 feridos entre 10 mil pessoas não são considerados prejuízos de fato. Agora a mídia fará seu papel; dará uma mãozinha para que os organizadores do evento sejam levemente punidos, apaziguando as famílias dos mortos com alguma pensão, e continuará investindo na ignorância da boiada.

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Jornalista, Osório, RS