Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mídia dá pouco destaque a atentado sofrido por jornalista

Achei que houve pouquíssimo alarde sobre o atentado sofrido pelo jornalista da Rede Globo, Edson Antonio Ferraz, 25, da TV Diário de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo), afiliada da Rede Globo. Ferraz sofreu um atentado na noite do dia 15 ao retornar de São Paulo, onde foi apurar informações sobre três casos de lavagem de dinheiro, corrupção e roubo envolvendo policiais civis. Ele recebeu dois tiros em uma emboscada. O caso está sendo investigado pela Corregedoria de Polícia Civil. Ele não se feriu. Será por isso que a mídia deu tão pouco destaque ao caso? Será que é preciso haver sangue para um caso ganhar o destaque que assunto de tal gravidade merece? A Rede Globo, emissora que perdeu tragicamente um Tim Lopes, (e que emitiu nota oficial, afirmando que o atentado ‘foi um ato de violência sórdida contra a liberdade de imprensa’) deveria estar fazendo mais barulho, tratando do caso sem dar trégua, até que os culpados fossem apresentados à sociedade. (Nídia Martins, jornalista, Brasília, DF)

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Caros colegas, com minha pouca experiência, percebo um acinte à liberdade de expressão em um município do interior de Sergipe, Itaporanga. Tudo começou com uma gravação feita de forma clandestina sobre a linha editorial de um programa de rádio, em que é sugestionada a participação popular para cobrar do poder público as providências para problemas, o que é considerado prestação de serviços. Todavia, esta gravação chegou à posse da alcaide municipal, editada, muito mal, por sinal. Os partidos aliados da governante municipal passaram a entrar com representações eleitorais, alegando perseguição e propaganda eleitoral para o grupo de oposição, proibindo o organismo de citar a prefeitura municipal, mediante várias representações. Questiono se no caso há ferimento da lei de imprensa por parte da prefeitura, que, sendo representante do poder público, não pode questionar conduta de meios de comunicação desta forma. Portanto, isto caracteriza censura, no casos da chuva de representações eleitorais? Grato pela atenção, Márcio Rocha. (Márcio Rocha, jornalista, Aracaju, SE)

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A imprensa brasileira é uma boa imprensa. Até bem pouco tempo atrás, muitos dos jornalistas eram formados nas redações. Carecemos ainda de uma qualidade. No entanto, sinto que a imprensa, chamada por muitos de o ‘quarto poder’, tem ânsia de resolver os assuntos pertinentes a outras esferas. Talvez devido à morosidade do sistema, das leis e tribunais, em oposição ao clamor popular por soluções mais rápidas (veja o caso Isabela), a imprensa acaba por fazer juízos, tomar partido. (Eugenio Pacelli Ribeiro, fotógrafo, Uberlândia, MG)

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Bom dia, quero apenas elogiar e confessar meu alívio em saber que existem repórteres que se preocupam com o que está sendo feito em relação a isso que chamamos mídia no Brasil. Parabéns pela lucidez, coragem e persistência. Não acredito nesta mídia há muitos anos e o slogan de vocês vai direto ao que pratico ao ler jornais ,ouvir rádios e ver TV: ‘você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito’ (eu já não vejo do mesmo jeito há muito tempo, cheguei a desacreditar cronicamente). Acompanho vocês há um tempo, mas só agora me ocorreu de dar este depoimento. Por favor não parem, nós, sociedade de forma geral, PRECISAMOS dessa lucidez!!!! Bravo! (Adriana Dornellas, psicóloga, Brasília, DF)

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Quem não se aborreceu ainda com a super-exploração da morte da pequena Isabella deve ter visto domingo passado uma matéria que mostrava o comércio no local onde a tragédia aconteceu. Marcado estrategicamente para o domingo pela manhã, o horário da reconstituição do crime possibilitou à mídia badalar a tragédia o dia inteiro e editar farto material para passar à noite. Passaram-se semanas e o crime bárbaro segue transformado em ‘shownotícia’. Um verdadeiro espetáculo macabro proporcionado pelo encontro da fome com a vontade de comer. Leia-se: autoridades querendo aparecer, mídia em busca da audiência e de grandes anunciantes… A menina vítima de maus tratos e o debate sobre a violência contra as crianças passam bem longe. O tratamento da mídia à tragédia me fez lembrar do filme A Montanha dos Sete Abutres, do diretor Billy Wilder, ganhador do Oscar em 1952. No filme, Kirk Douglas interpreta um repórter que encontra um homem preso numa mina. Ele vislumbra a possibilidade de se tornar famoso prolongando a permanência do mineiro gravemente ferido dentro dos escombros. O repórter passa a filtrar as informações, criando uma realidade na intensidade de seus interesses, nos dos jornais contratantes e do prefeito da cidade. Os outros repórteres passam a comer na sua mão. Ele cria, através de seus textos, uma comoção nacional. ‘Sucesso total!’ (Paulo Otávio Pinho, jornalista, Pelotas, RS)

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Email enviado ao Ministério Público Federal. Meu nome é Elaine Rodrigues Vieira e gostaria de saber como e para quem devo denunciar o jornal Agora por fotos de mulheres nuas sem nenhum tipo de proteção, isto é, o jornal é acessível a todos, o que gera inúmeras situações constrangedoras com crianças e adolescentes. A situação chegou a um patamar absurdo, como é o caso da foto do dia 29/4. Passei o ano de 2007 na Austrália e quando cheguei, em janeiro desse ano, tive alguns choques, como violência e corrupção, mas o que mais me chamou a atenção foi a intensidade da erotização no país. A mulher, que muitas vezes também contribui com a situação por permitir/colaborar, está sendo completamente desrespeitada. Alusão ao papel da ‘mulher-objeto’ e mulheres nuas ou semi-nuas em todos os lugares: programas de TV como o Zorra Total, campanhas publicitárias em todos os meios de comunicação (cerveja principalmente: ‘por que sou loira, bonita, gostosa e todo mundo gosta de mim’), cenas de beijos e ‘amassos’ ardentes em novelas e seriados, enfim, a mulher está sendo banalizada em todos os sentidos. Com todo esse cenário, me pergunto: como lutar contra o turismo sexual, prostituição infantil e os inúmeros e não divulgados casos de abuso sexual, inclusive contra crianças e, pior, cometidos por familiares? Sugiro que os órgãos competentes dêem atenção especial para esse assunto. (Elaine Vieira, publicitária, São Paulo, SP)

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Gostaria de saber do OI qual é o nome certo a ser dado ao país do sudeste asiático que sofreu um recente ciclone, Mianmar ou Birmânia? Até hoje, a oposição democrática considera o nome do país como Birmânia, porém a junta militar foi quem o modificou para Mianmar sem consultar a sociedade. Portanto, quando a imprensa chama aquele país de Mianmar, não é uma forma de respaldar a atitude dos militares que mandam no país desde 1962? (Daniel Martínez Cavenaghi, estudante, Manaus, AM)

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Senhores do Observatório, gostaria que vocês comentassem a reação de jornais e revistas sobre o inquérito, que está no fim, da queda do avião em Congonhas naquele fatídico dia. Toda a imprensa escrita e falada ‘caiu matando’ em cima do governo e não percebeu a ganância das empresas aéreas – com a saída da VARIG ‘sobrou’ 30 do mercado e salve-se quem puder, colocaram lugares que não tinham, aviões a mais e, principalmente, esquema de manutenção ‘furadíssimo’ (no meu conceito de manutenção de aeronaves!). Isso tudo resultou em acúmulo de gente em aeroportos, filas homéricas (mais incompreensível é aquela multidão querer voar. Qualquer um em sã consciência deixaria de lado, há algo de podre.). Bem, meu intuito é cobrar dos orgãos de comunicação o mesmo espaço para desculpas sobre tudo que falaram do piso do aeroporto, dos controladores, das pessoas que cuidavam de toda essa burocracia. Eles deviam, sim, observar e ficar de olho nas empresas aéres. Obrigado. (Jair de Andrade Pimentel Filho, analista de sistemas, São Paulo, SP)

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Após pouco mais de 50 anos da chegada da primeira televisão no Brasil, trazida por Assis Chateaubriand, criador também do primeiro canal de televisão brasileiro, marco inicial em uma revolução da malha de informações e de conteúdo. Sem duvida a tecnologia evoluiu e a televisão passou de uma grande caixote envernizado de madeira para um elemento com tecnologia tão aprimorada que entre outras funções, figura a capacidade de transmissão de imagens. Acreditem, hoje a TV faz tudo inclusive as funções de TV. O paraibano Chatô estaria dando cambalhotas que observasse no que se transformou sua idéia, de simples eletrodoméstico, como categorizado pelos críticos de época a principal elemento fomentador de cultura popular moderna brasileira. O que talvez ele não imaginasse é que a idéia da TV era excelente, mas o conteúdo… Este sim, passou de construtivo a destrutivo. Existem programas de todos os gêneros e formatos, desenvolvidos estrategicamente para alcançar a todos os públicos e saciar a massa com os mais diversos conteúdos. Democraticamente, temos nossas opções reduzidas a algumas teclas de um componente que é simples por natureza, desenvolvido para que não tenhamos muita dificuldade em pensar. Sim, me refiro a este desnaturado ‘controle remoto’, que se visto por um ângulo mais humanista poderia ter algumas teclas de fomento à aproximação humana das famílias brasileiras como ‘DCF’ (Dialogar com a Família) , ‘BCF’ (Brincar com seu Filho). O crescimento do acesso a informação televisiva é realmente impressionante, vejamos estes dados, segundo a Veja (edição nº 1944, de 22/02/06), 93% das residências brasileiras têm pelo menos um televisor em casa, enquanto apenas 87,4% tem geladeira – ou seja, é melhor tomar cerveja quente que perder o jogo. A televisão é para muitos o que os livros significaram no passado, relativamente de baixo custo e com uma economia a todo vapor e crediários cada vez mais facilitados, ter um televisor em casa é uma questão tão banal quanto a violência amplamente difundida por ela, tão banal quanto os escândalos, propagandas, sexo e tudo mais. Na realidade, o brasileiro é um especialista em banalizar as coisas, achar que é natural, se a separação do casal é inevitável… Isto é natural, se o filho se entorpece no quarto, é natural, acontece toda hora na TV. O que o brasileiro esquece é que a grade da programação é a mesma que aprisiona o senso crítico e acorrenta a capacidade de sermos nós mesmos, reais e falhos, não como personagens. (Rafael Henrique Reckelberg de Goes, Teólogo)

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A NOTÍCIA COMO NEGÓCIO

Trabalha embaixo dos fatos

Em perspectiva, projeta

Trabalha tanto que uma idéia

Faz-se de fato

Trabalha embaixo dos fatos

Passíveis de se realizarem

Alimentando a opinião pública

E por ela sendo alimentada

Depois que o fato é criado

Criação de certo coletiva

Seu destino a mais ninguém cabe

Depende do seu ibope

Às vezes o fato até existe

Mas precisa ser dramatizado

Que a gente dele depende

Para exorcizar os fantasmas

Assim vão-se enchendo o tempo

De anúncio e fato relacionados

Plantados por uma cabeça

Ou por uma sociedade

Com fome de consumo

(Alexandre Antonio Olimpio, professor de História da rede pública de educação do estado de São Paulo)