Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Muda-se o método; mantém-se a prática

Se existe um escritor brasileiro que soube mostrar como é a política nacional, sobretudo no que diz respeito ao interior, este foi Mário Palmério. Em Chapadão do Bugre e em Vila dos Confins o autor nos mostra, de forma romantizada, como são as nuances deste meio. Embora suas obras façam referência a um período já passado, muitos aspectos ilustrados com maestria pelo autor nos são comuns em Mato Grosso do Sul. Em particular, as sessões de cassação da Câmara de Dourados nos remetem aos tempos da Captura, quando por interesses políticos, diferenças eram resolvidas à picaretadas e tiros de mosquetão.

É claro que, nos dias atuais, a civilidade não permite o uso da força de forma tão abusiva para solucionar desavenças políticas. Mesmo assim, embora tenha mudado o método, a prática continua a mesma. Ao invés de picaretas e mosquetões, relatórios. Ao invés das Volantes, Comissões Processantes. Em comum, os métodos de diferentes contextos históricos têm o objetivo: eliminar o que não interessa. Não julgo aqui o mérito da questão. Até porque, se cabia a alguém condenar ou inocentar, não era à imprensa. A nós, diz respeito apenas repassar à sociedade o que vimos e ouvimos.

Hoje, depois das cinco cassações e quatro renúncias, assistimos à formação de um novo Legislativo no município. Novos rostos. Diferentes personalidades? Só o tempo dirá. Como de praxe, seguiremos de olho bem aberto, dispostos a mostrar o que acontece, sem interferências.

Continuam vivos e atuantes

De tudo o que aconteceu nessas últimas semanas em Dourados podemos tirar a lição de que, se existe alguém que deve estar atento, esse alguém é o povo. Porque quando fiscalizadores são pegos em atos ilícitos e comungando desta ilicitude com aquele que deveriam fiscalizar, não nos resta mais nada senão a ação organizada do povo. Foi o que aconteceu, de fato.

Contudo, embora o afastamento dos nove parlamentares tenha sido motivado, segundo a própria Justiça, por clamor popular, verificou-se que a troca destes pelos suplentes teve um considerável apelo político.

Como mostrou Mário Palmério em Chapadão do Bugre, ao contar a história de José de Arimatéia, Americão Barbosa e companhia, as picaretas e mosquetões, bem como as Volantes, continuam vivos e atuantes. Só mudaram o método, a prática ainda é a mesma.

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Estudante de Jornalismo e blogueiro