Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Muita informação para pouca formação

É notório que hoje o ser humano dispõe de acesso, em quantidade significativa, a vários tipos de conteúdos. A todo o tempo, notícias, informativos, áudios, fotografias, vídeos e outras notas chegam ao receptor, através dos mais diversos meios de comunicação. Por conta desta aceleração informativa, a tecnologia da comunicação tem se aperfeiçoado para atender as necessidades deste público moderno.

Dentre os meios de massa, já representados principalmente pelo rádio, televisão e jornal impresso, vale o destaque também para a internet (em computadores e celulares), que atua como uma grande integradora de mídias. Através dela, a produção de informação deu-se de maneira acelerada, diante da facilidade em criar portais veiculadores dos mais diversos conteúdos. E essa virtualização da comunicação é avaliada com positividade por Pierre Lévy (1996), que a vê como uma nova forma de interpretar o real, em um processo transformador.

A grande preocupação, porém, que permeia essa grande produção informativa, é saber de que maneira todos esses conteúdos têm atuado como auxiliadores na formação do indivíduo. Vale salientar que a formação de um ser pensante perpassa o estágio contido na sua orientação doméstica. A educação no ambiente escolar, grupos de trabalho, círculo de amigos e a mídia, em suas propagações massivas, também acabam desempenhando um papel na construção de um conceito.

É necessário, portanto, entender até que ponto esta formação individual acompanha as informações emitidas e o que é de fato observado e absorvido. Uma parte dos conteúdos já será desprezada, naturalmente, partindo do pressuposto da relação de interesse do receptor com a mensagem. A pessoa precisará buscar na sua vida momentos que estejam relacionados de alguma forma com aquilo que ela está recebendo e, consequentemente, lhe despertar alguma espécie de interesse e compreensão.

Os interesses comerciais, políticos ou religiosos

Quem é o emissor e o que ele produz são aspectos muitas vezes colocados em pauta, ressaltando que há um público-alvo para cada assunto. Isso ocorre, pois a informação, antes de tudo, precisa dizer algo diretamente a quem está ouvindo, lendo ou assistindo. De acordo com o Merleau-Ponty (1999), tudo parte do olhar de quem observa as coisas. O sentido e a valorização, ou não, de algo será dado de acordo com a percepção de mundo individual. Cada pessoa vê e interpreta as manifestações que a cercam de acordo como vive.

As informações locais, que dizem muito sobre a origem do receptor, também exercem influência em seu interesse, pois sua forma de ver e fazer algo terá muitas referências da região em que habita. Esta identidade regional está pautada em determinada forma de reconhecer os valores que fazem parte do lugar, perante o espaço global.

Outro ponto, não menos importante, é a intencionalidade de quem emite a mensagem. O que é produzido, muitas vezes pela mídia, parte para o lado da comercialização da informação. No livro Consumidores e Cidadãos, Canclini questiona ao leitor até que ponto um produto pode ser considerado cultural ou comercial e se no ato de consumir essas produções midiáticas o indivíduo muda seu olhar sobre a sociedade e a cidadania.

Repetir discursos e compartilhar conteúdos sem ter o cuidado de questionar a sua veracidade, bem como não analisar outras fontes, tende a tornar o indivíduo meramente superficial. Ele pode até estar bem informado, porém será pouco formado. O mesmo vale para o não questionamento, diante das notícias, do porquê de ter sido veiculada de determinada maneira, com determinado recorte.

É necessário, ainda, pensar quais interesses comerciais, políticos, religiosos, ou de qualquer outro segmento, estão intrinsecamente relacionados ao conteúdo, independente do formato e do meio. Ser bem informado não quer dizer necessariamente ser bem formado. Porém, nem todos estão informados sobre isso.

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Luíse Beatriz Bispo é comunicóloga e radialista