Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Na profissão errada

Um médico que não atende seus pacientes para não sujar seu jaleco branco impecável; um professor de matemática que acerta tudo em um concurso público, menos a parte de matemática; um desenhista que não sabe rabiscar nada sem um molde. Deixando as analogias de lado, isso vem acontecendo – e muito – com o universo dos estudantes e até mesmo entre profissionais já graduados quando o assunto é a exigência do português em seleções de estágios e empregos.

Uma reportagem do Jornal Nacional relatou o fato de que estudantes universitários acabam não conseguindo uma vaga por não dominarem o básico da língua portuguesa. Entre os alunos de Jornalismo, pelo menos 70% é reprovado por não conseguir elaborar uma redação ou por cometer erros graves de ortografia. Na boa, se um estudante de Jornalismo não sabe português, está fazendo o que nesse curso? Aliás, uma ressalva: toda profissão que se preze deve ter o conhecimento básico do português, não importando o nível hierárquico. Um profissional que não conhece a própria língua do país é um profissional que será mais facilmente dominado pelos erros do mercado. É um profissional sem diálogo. Vai conseguir um emprego como, cara pálida?

A culpa é de quem?

Ainda na reportagem, uma estudante do 5º período disse estar assustada com a seleção de uma vaga de estágio, pois não esperava que o português fosse o diferencial para conquistar o emprego, já que ela possuía uma “língua extra”, o inglês. Querida, língua extra é finlandês, mandarim ou russo. Inglês é língua básica. Espanhol é língua básica. Uma estudante de Jornalismo que reside no Brasil e sabe inglês mas escorrega no português está no país errado.

Como diria Marcelo D2, a culpa é de quem? A culpa é do Estado por estruturar escolas tão vagabundas que não oferecem o básico da língua. A culpa é daqueles que acham o diploma de jornalismo desnecessário, mesmo em um país de analfabetos. A culpa é das universidades por não exigirem um nível maior nos vestibulares, preocupando-se apenas com o número de alunos. A culpa é, principalmente, dos estudantes que não fazem questão de respeitar nem a profissão que escolheram. Todos necessitam do português, mas se um jornalista não tem esse domínio, está na profissão errada.

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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]