Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra

No último domingo (14/03), a cidade de São Paulo tornou-se o primeiro pedaço do Brasil a receber uma corrida da Fórmula Indy. Trata-se de uma das mais importantes categorias do automobilismo internacional, já produziu lendas do esporte e conta com uma boa representação de brasileiros, tanto hoje quanto historicamente. A realização do evento na maior metrópole do país, por mais atabalhoada que tenha sido, certamente merecia cobertura atenciosa da imprensa especializada.

Não foi o que pensou a Globo. A empresa ignorou solenemente o evento em sua pauta televisiva e as informações a respeito no site não apareciam em destaque. A divulgação do resultado da prova foi tímida. A maioria das manchetes que se apresentavam no portal continha um viés negativo, dando grande destaque para críticas contundentes de pilotos à pista e para o que houve de equivocado na organização.

A Globo não tinha os direitos de transmissão da Indy.

Por outro lado, a Band tratou de preencher sua programação com tudo que poderia ser dito ou mostrado sobre a corrida e tudo que a envolve. A emissora paulista encheu a bola do evento até demais, por vezes fazendo vista grossa às evidentes deficiências apresentadas pelos responsáveis pela prova. O narrador Luciano do Valle chegou a afirmar que foi ‘tudo perfeito’, quando qualquer telespectador mais atento pôde perceber que esteve longe disso.

A Band tinha os direitos de transmissão da Indy.

Duas faces de uma mesma notícia

As emissoras de televisão aberta brasileiras têm o péssimo hábito de tratar os eventos esportivos que transmitem (ou não) como se fossem propriedade de suas grades de programação. É assim com todas as modalidades e competições, desde torneios amistosos de vôlei de praia até o campeonato brasileiro de futebol. Quando a cobertura do evento em questão é exclusividade de um canal, o quadro se agrava. Coloca duas grandes emissoras em posições diametralmente opostas da cobertura jornalística – ambas erradas.

A Globo não tem o direito de tratar um acontecimento de tal importância como se ele não existisse. Não tem o direito de encolher a dimensão da presença da Fórmula Indy no Brasil só porque não o transmitirá. Do mesmo modo, a Band (especialista em coberturas esportivas auto-laudatórias, diga-se de passagem) não tem o direito de esconder as falhas daquilo que está mostrando, como se fosse um produto seu. Não tem o direito de privar o telespectador da informação que só ela, Band, está ali para colher in loco e ao vivo.

O jornalismo esportivo tem muitas características particulares. Uma delas é que os vários veículos podem se envolver com mais ou menos proximidade de cada acontecimento. Coberturas exclusivas e envolvimento da mídia na organização dos eventos são partes integrantes da dualidade entretenimento-informação que envolve as competições desportivas profissionais. Uma imprensa responsável, independentemente de especialização, precisa seguir o fato jornalístico. Isso significa reconhecer que essa dualidade não está representada por meio de uma balança – onde um fator desestabilizaria o outro –, mas sim, como duas faces de uma mesma notícia.

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Estudante, Brasília, DF