Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nem tudo são más notícias

Talvez não chegue a ser um consolo para os estressados jornalistas do mundo rico, mas em muitos países emergentes a indústria jornalística vem crescendo. Segundo dados divulgados em junho pela Associação Mundial de Jornais – World Association of Newspapers (WAN), uma entidade com sede em Paris –, a venda de jornais no Brasil aumentou 12% no ano passado. Nos últimos cinco anos, a circulação cresceu mais de 22%. Na Índia, as vendas aumentaram 11%, ampliando o crescimento dos últimos cinco anos para 35%. No Paquistão, o crescimento do mercado jornalístico foi praticamente o mesmo. A mesma tendência pode ser observada em outros países da Ásia e da América Latina.

A busca por notícias tende a crescer na medida em que as pessoas entram para o mercado de trabalho, ganham mais dinheiro, investindo-o, e começam a sentir que têm mais direitos em sua sociedade. A alfabetização acompanha o aumento de riqueza. Para os recém-alfabetizados, folhear um jornal em público é um símbolo forte e gratificante de sucesso.

Investimento na educação

Na Índia, as campanhas de alfabetização – desenvolvidas pelo governo e por ONGs – são, em grande parte, responsáveis pelo aumento da venda de jornais, segundo Ashok Dasgupta, do Hindu, um grande jornal com sede em Chennai. ‘Criar empregos é um estímulo’, diz ele, ‘e novos jornais e revistas estão pipocando todo dia.’ Em sua maioria, publicações pequenas, mas o número de grandes jornais diários, de qualidade, passou de quatro, em 2006, para os atuais seis. E até o final do ano sairá um sétimo.

Na Índia, os diretores de jornais gozam de uma tradicional liberdade de expressão. Mas também nos países com governos mais intrometidos os jornais vêm, quase sempre, se dando bem. Isso é particularmente real no caso de pequenos jornais. Governos com poucos recursos raramente têm condições de controlar uma profusão de jornais locais e regionais. No Mali, por exemplo, os jornais estão pipocando ‘como cogumelos’, diz Souleymane Kanté, administrador local da World Education, uma ONG norte-americana que tem por objetivo erradicar o analfabetismo. O governo do Mali tem sob controle as grandes publicações nacionais, mas há lugar para jornais locais e regionais, diz Kanté.

O enorme esquema de supervisão da China mantém sob controle grandes e pequenos empreendimentos. Mas, também ali, os jornais vêm florescendo. Nos últimos cinco anos, as vendas cresceram mais de 20%, alcançando uma venda diária de 107 milhões. (Em termos comparação, as vendas diárias nos Estados Unidos são de cerca de 50 milhões.) A crescente riqueza da China ajuda a explicar o fato. Assim como um alto nível de alfabetização, devido, em parte, ao investimento feito pelo Partido Comunista na educação.

‘Toneladas de anúncios’

Shaun Rein, do China Market Research Group, em Xangai, diz que também existem outros fatores. Como todos os jornais chineses são de propriedade do Estado, é provável que continuem sendo baratos mesmo com o aumento das despesas e com os anunciantes procurando a internet. A luta de Beijing contra a corrupção também pode ser um fator. Algumas autoridades vêem as publicações locais como aliados no esforço para desmascarar políticos regionais e municipais corruptos e fazem vista grossa às restrições aos repórteres. Há também as que desaprovam, gerando boatos sobre um debate nos escalões superiores do partido – não divulgado pela mídia, chinesa, naturalmente.

Os jornais também vêm se dando bem em países de renda média, segundo a Associação Mundial de Jornais – WAN. Na Argentina, por exemplo, a circulação aumentou em mais de 7% no ano passado. Manuel Mora y Araújo, da agência de consultoria Ipsos, diz que os grandes grupos de comunicação dos Estados Unidos e de outros países ricos não vêm investindo em empresas jornalísticas na Argentina possivelmente devido a seus próprios problemas, por falta de recursos. Entretanto, diz ele, ‘a imprensa não está preocupada – há toneladas de anúncios’.