Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nove anos depois, caso Pimenta Neves segue sem fim


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 24 de agosto de 2009 


 


PIMENTA NEVES


Rogério Gentile


Nove anos depois


‘SÃO PAULO – No dia 20 de agosto de 2000, o jornalista Pimenta Neves matou a namorada Sandra Gomide em um haras em Ibiúna com um tiro pelas costas e outro na cabeça. O caso, nove anos depois, é um dos principais símbolos do fracasso e da desmoralização do Judiciário brasileiro. E do próprio país. Até hoje, por incrível que pareça, o processo não chegou ao fim.


Réu confesso, Pimenta foi condenado em 2006 por um júri popular, mas recebeu o benefício de permanecer em liberdade até que todos os recursos fossem julgados. Direito que pode ser questionado, claro, mas é previsto em lei.


O problema é que, até hoje, os recursos simplesmente não foram analisados. Não foram lidos.. A Justiça travou no escaninho, perdeu-se no tempo e abdicou do seu papel.


Um país de verdade não é aquele que condena alguém por pressão popular, que o joga num presídio sem que sua defesa seja levada em conta, sem que seus argumentos sejam apreciados por um juiz.


Mas um país de verdade não pode ter uma Justiça tão morosa, uma Justiça que não julga e que, pior, reage segundo o prestígio do acusado ou do seu advogado.


Ao mesmo tempo em que o jornalista aguarda em liberdade o desfecho do seu processo, há nas cadeias brasileiras cerca de 130,7 mil pessoas trancafiadas sem julgamento -uma a cada três.


No Espírito Santo, por exemplo, um lavrador acusado de assassinato ficou quase 11 anos largado numa prisão nessa situação. Esse tempo representa um terço da pena máxima que pode ser aplicada (30 anos).


A boa notícia é que o Conselho Nacional de Justiça está debruçado sobre os casos dos desassistidos, dos que foram punidos sem poder se defender. Em um ano, libertou 4.781 pessoas presas indevidamente (17% do analisado).


Resta saber se irá olhar também para a outra ponta do mesmo problema. A dos que conseguem permanecer impunes porque a Justiça não os julga nunca.’


 


 


HISTÓRIA


Marcos Strecker


Recados de Getúlio


‘Cinquenta e cinco anos depois da sua morte, lembrada hoje, Getúlio Vargas volta a surpreender. Foram descobertos os bilhetes que redigiu ao seu chefe da Casa Civil entre 1951 e 1954, Lourival Fontes. Desde o achado dos diários de Vargas, nos anos 90, é a mais importante documentação do pai do Estado Novo a ser recuperada.


A existência dos documentos de Lourival Fontes era conhecida desde os anos 60, mas sua extensão e seu paradeiro eram ignorados. Estavam com a família de outro político sergipano -Lourival Baptista. Seu filho, que mora em Florianópolis, mostrou à Folha os primeiros 454 manuscritos de 1951, encontrados neste ano.


Pesquisadores classificam o achado como surpreendente. Confirmam a autenticidade das notas, que podem esclarecer episódios importantes, mas alertam que terão poder limitado de mudar a interpretação do período. ‘Estou emocionada’, disse Celina Vargas do Amaral Peixoto, neta de Getúlio.’


 


 


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Bilhetes retratam era turbulenta


‘O segundo governo Vargas (1951-54) foi um período turbulento na vida política brasileira, lançou as bases para o desenvolvimentismo que virou marca registrada de JK e culminou com o suicídio dramático do pai do getulismo.


A fundação da Petrobras (em 53), a luta pela criação da Eletrobrás, a crise com a imprensa e a pressão dos EUA para o envio de tropas brasileiras à Guerra da Coreia ocuparam o cotidiano de Getúlio Vargas e podem ser acompanhadas pelos bilhetes que escrevia diariamente ao chefe da Casa Civil, o polêmico Lourival Fontes, ex-chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda.


É esse rico manancial que agora começa a ser revelado, com a descoberta dos manuscritos de Getúlio escritos entre 1951 e 1954. A existência desses documentos era conhecida desde 1966, quando o jornalista Glauco Carneiro, da extinta ‘O Cruzeiro’, fez uma longa entrevista com Fontes -então em busca da reabilitação de sua imagem. A revista publicou o conteúdo de vários deles.


Mas a verdadeira dimensão desse acervo, que teve destino incógnito com a morte de Fontes, em 1967, ainda é desconhecida. Hoje, Carneiro, 70, lembra que o ex-chefe da Casa Civil mostrou vários bilhetes para ilustrar os depoimentos. ‘Ele morava sozinho em Copacabana. Havia uma pilha de pastas. Nunca levei um documento para a Redação ou para casa, o fotógrafo registrava os que eu selecionava para a reportagem.’


Sigilo por 40 anos


Os documentos foram agora achados pelo psiquiatra Francisco Baptista Neto, 64, ex-oficial de gabinete da Casa Civil do governo Castelo Branco, que mora em Florianópolis. Estavam em Brasília com seu pai, o ex-governador sergipano Lourival Baptista. Seu xará Lourival Fontes havia pedido que os guardasse por 40 anos -para preservar a imagem de Getúlio, acredita Baptista Neto.


A primeira caixa do acervo tem 494 bilhetes, que são de 1951. São despachos administrativos, pedidos de providências junto a autoridades e ministérios, há um pedido de auxílio a um apadrinhado, ordens de demissão. As orientações e um esboço de discurso citam em vários momentos imagens getulistas conhecidas, como seu papel de protetor do trabalhador e promotor do desenvolvimento. Também há preocupação com o custo de vida.


Lourival Baptista, 94, vive em Brasília e está com a saúde debilitada. Entre seus pertences foi encontrada recentemente outra caixa. Pode conter documentos que avançam até 1954. Segundo a reportagem de ‘O Cruzeiro’, os bilhetes vão até as vésperas do suicídio de Vargas -o último trataria de despachos corriqueiros.


O pesquisador Francisco Reynaldo Barros, especialista no período getulista, diz que ‘não se sabia que havia essa quantidade de bilhetes’. ‘Estamos muito curiosos’, afirmou.


O jornalista José Augusto Ribeiro, que colaborou na matéria de 66, diz que a visão de Getúlio na época era ‘perturbada pela paixão’ e que os bilhetes mostram a ‘natureza administrativa’ da era Vargas. Também ressalta que os manuscritos, em alguma medida, antecipam os famosos bilhetes de Janio Quadros. Ainda que Getúlio não tivesse pensado seus bilhetes como instrumento de propaganda. Eram reservados.


O historiador Marco Antonio Villa, professor de história na Universidade Federal de São Carlos (SP), diz que os documentos são muito importantes e refletem um momento chave, que antecipou o governo JK e marcou uma transformação importante no país, como a criação da Petrobras.


O historiador Boris Fausto, autor de ‘A Revolução de 30’, alerta que os documentos podem não modificar a compreensão da era Vargas. ‘Havia muita expectativa quando os diários de Getúlio foram descobertos, nos anos 90, mas não trouxeram grandes novidades.’


Regina da Luz Moreira, pesquisadora do CPDOC-FGV, trabalhou nos diários e também pede cautela. Diz que os bilhetes podem ‘levantar lebres ou consolidar versões, ajudar a confrontar eventos, mas não trazer informações novas’.


A diretora de difusão artística da Fundação Catarinense de Cultura, Mary Elizabeth Benedet Garcia, e o jornalista Toninho Vaz ajudaram Baptista Neto a avaliar os documentos e planejam a edição de um livro que contará a história dos bilhetes.’


 


 


INTERNET


Álvaro Pereira Júnior


Cuidado com o que você manda no Twitter


‘Pela quantidade de políticos e de jornalistas presentes no Twitter, boa coisa esse negócio não deve ser.


Se você voltou agora de Ursa Menor, explico: Twitter é um microblog no qual, em 140 toques, a pessoa conta o que está acontecendo com ela naquele momento exato.


Assim que o serviço foi lançado, em 2006, eu trabalhava com internet e conhecia um pessoal que já usava. Há uns dois anos, começou a bombar. Do político brasileiro mais careta à nova bandinha indie do Brooklyn, todos estão na parada.


Bem, todos mais ou menos. Ao contrário de tantas febres de internet (blogs, MySpace, Facebook etc.), não se vê garotada na linha de frente do Twitter. Gente mais madura, e não a molecadinha urbana de shoppings e de colégios, foi quem fez o serviço crescer.


Quando e-mail era novidade, nos anos 90, a revista ‘New Yorker’ destrinchou os perigos dessa forma de comunicação. Dizia que o e-mail era um intermediário entre a conversa cara a cara e uma carta. Num e-mail, você se sentia livre para dizer coisas que jamais mandaria na lata de alguém. E que provavelmente não botaria numa carta porque, até se dignar a escrever, a cabeça já estaria mais fria, as emoções mais sedimentadas.


É claro que isso hoje mudou. Os e-mails estão muito mais formais (viraram coisa de tiozinho). Esse caráter imediatista vive ainda no mundo das mensagens instantâneas, nos SMS de celular. E no Twitter.


E aí vem um problemaço. Se você escreve asneiras no Messenger ou numa mensagem txt, só você e o destinatário vão saber (a não ser que um dos envolvidos sacaneie e espalhe).


Já o Twitter é encrenca. Você solta uma bravata, paga de gostosão, o mundo vê. Mesmo que apague depois, um monte de gente já copiou, e sua casinha caiu.’


 


 


Mercadante volta ao Twitter e diz que errou


‘Depois de voltar atrás em sua decisão de deixar a liderança do PT no Senado, anunciada quinta no Twitter, Aloizio Mercadante postou: ‘Errei ao dizer que anunciaria uma renúncia irrevogável’. Ele pediu aos internautas que busquem entender suas razões e indicou a leitura de seu pronunciamento e da carta de Lula.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Pré-sal, depois férias


‘A coluna ‘Painel’ fechou a semana avisando que vem aí uma ‘redoma para Dilma’, que não vai mais responder diretamente aos ataques, ‘como a pecha de ‘mentirosa’ que a oposição procura carimbar’. No Twitter, Mônica Bergamo postou no sábado que, ‘exausta’ e ‘abatida’, ela sai de cena por um tempo e ‘só não tira férias maiores por causa do pré-sal, que será lançado dia 31’, segunda que vem.


E o jornal ‘O Estado de S. Paulo’, na manchete de papel, ontem, anunciou que a ministra ‘sai de férias por no mínimo uma semana, em setembro, após o anúncio do marco regulatório’.


A FEBRE


A Associated Press produziu reportagem especial sobre como o Brasil, ‘potência de energia alternativa, descobriu Big Oil’. Vê ‘febre de combustível fóssil’, depois que a ‘Petrobras achou o massivo Tupi’. Diz que ‘o entusiasmo vem da devoção à Petrobras’, igual ao futebol, e ironiza: ‘Tente encontrar americanos que apoiem assim a Exxon’. Por outro lado, Sérgio Leitão, do Greenpeace, compara Tupi ao fracasso da borracha na Amazônia, um século atrás


INFLEXÃO NA VALE


Em submanchete na Folha Online, ontem, Kennedy Alencar postou que, ‘após o pré-sal, a Vale é alvo de ação de Lula’, que prepara uma ‘inflexão no papel do Estado brasileiro: o governo passará a ter maior ação na economia’. O Bradesco comanda a Vale ‘por meio de um acordo de acionistas’ e indicou seu atual presidente, Roger Agnelli, mas a União tem mais capital com direito a voto.


E NA BRASKEM


O portal da ‘Exame’, que havia registrado a ‘inflexão’ estatal também em relação à Telebrás, como parte do programa eleitoral de Dilma, passou o fim de semana com manchete para negociações que podem levar a Petrobras ‘a dividir com a Odebrechet o controle da Braskem’. Esta, se as conversas derem certo, ‘consolida sua liderança no setor petroquímico na região’ e parte para o mundo.


NOVA VELHA INTERNET


A conta de Aloizio Mercadante no Twitter foi manchete do ‘Jornal Nacional’ por dois dias, com a renúncia e com o recuo. O número de políticos que vem apelando ao site já faz surgir ferramentas para seguir melhor suas páginas. E correspondentes, repórteres, assessores correm ao Twitter, eles também, às dezenas.


Por outro lado, o blog de Fernando Rodrigues informa que os senadores, de volta à ativa, devem votar na quarta ‘o monstrengo que saiu da Câmara para limitar o uso da internet’. Twitter inclusive.


EMATOMA


Na noite de quinta, a publicitária Marisa Toma, coordenadora de mídia social da Agência Click, postou em seu Twitter que estava ‘tomando decisões bastante definitivas’. Uma hora depois, ‘bai pipou! Foi bom brincar com vocês? bjo bjo’. Foi encontrada morta na manhã seguinte. O relato foi feito por Blue Bus, Tiago Dória e sites como Info Online. Este com o registro de que ‘a hipótese de suicídio é levantada por alguns usuários do Twitter e outros blogueiros’.


Seu blog, Objetos de Desejo, trazia como bio ‘I am what I am. Someone has to be’.


O MUNDO EM QUE VIVEMOS


Autor de romances como ‘A Guerra do Fim do Mundo’, sobre Canudos, o peruano Mario Vargas Llosa escreveu ontem longamente no espanhol ‘El País’ sobre a notícia de que um político e apresentador de televisão brasileiro, na Amazônia, encomendava assassinatos para cobrir com exclusividade e ganhar audiência.


Sob o título ‘O mundo em que vivemos’, avalia que a cultura predominante do século 21 ‘pulverizou todos os valores, de modo que ‘divertir’ ou ‘entreter’ passou a ser o valor supremo, a prioridade das prioridades’.


MURDOCH CORTA


A News, do ‘Wall Street Journal’, anunciou que vai fechar um jornal gratuito em Londres (esq.) e colocou a venda o índice Dow Jones, da Bolsa’


 


 


TELEVISÃO


Daniel Castro


Globo coloca ‘série-cabeça’ para disputar com ‘Fazenda’


‘Depois de preparar às pressas edições de ‘Jogo Duro’ e ‘No Limite’ para concorrer com a primeira ‘A Fazenda’, a Globo decidiu arriscar. Quem disputará o ibope com ‘A Fazenda 2’, que a Record promete estrear em novembro, será a comediante Denise Fraga.


A Globo até cogitou produzir um novo reality e ressuscitar ‘A Diarista’. Na semana passada, no entanto, programou o seriado ‘Norma’ para a faixa das 23h dos domingos, de 4 de outubro a 20 de dezembro.


‘Norma’ tem elementos de ‘seriado-cabeça’. Vai experimentar a fusão de internet com TV. Denise Fraga será uma pesquisadora recém-separada que vive sob dúvidas como ‘Devo dormir com um pretendente no primeiro encontro?’ e ‘Pra ser chefe, tem que ter barba, testosterona e voz grossa?’.


O público será convidado a ‘debater’ esses dilemas da protagonista. O programa já tem um blog. Seus roteiristas discutem os temas dos episódios em chats abertos, semanais.


O cenário, um escritório, será fixo e terá auditório. Durante as gravações, as 90 pessoas da plateia e internautas pré-selecionados poderão opinar sobre as dúvidas de Norma.


‘Não é um novo ‘Você Decide’, em que a história vai por aqui ou por ali. É uma discussão, um debate. A gente chega junto com o público à decisão’, diz Luiz Villaça, marido de Denise e diretor de ‘Norma’.


A gravação do primeiro episódio será nesta sexta.


A julgar pelo blog, ‘Norma’ deverá ser presa fácil para ‘A Fazenda 2’. O ‘post’ de maior sucesso tinha somente 64 comentários até sexta-feira.


40 ANOS


Além de cenário novo e livro, o ‘Jornal Nacional’ irá comemorar 40 anos, em setembro, com uma série de reportagens sobre seis brasileiros. Os personagens também fazem 40 anos em 2009 e têm suas vidas marcadas ou ligadas a fatos que foram notícia no ‘JN’.


GLOBO TUR


A Globo vai levar dois telespectadores para passar um dia com os participantes de ‘No Limite 4’, no Ceará.


PROMOÇÃO


A banda vencedora do ‘Olha a Minha Banda’, quadro do ‘Caldeirão do Huck’, vai se apresentar no Gas Festival, que une rock e skate, no próximo sábado, em São Paulo. Trechos serão exibidos pelo programa.


ESGOTAMENTO


A produção do ‘Programa do Gugu’ trabalha com a perspectiva de não ter nenhum participante de ‘A Fazenda’ na estreia da atração. Avalia que a Record irá explorar tanto os finalistas ao longo desta semana que não sobrará nada para contar no domingo que vem.


IBOPE ALTO


Virou piada nos bastidores das concorrentes da Record o ‘Desafio da Passarela’ (uma ponte estreita suspensa por guindastes), que participantes de ‘A Fazenda’ tiveram de encarar no ‘Hoje em Dia’ e ‘Geraldo Brasil’. Brincava-se na sexta-feira que a emissora, nesta semana, irá colocar todos os ‘roceiros’, ao mesmo tempo, sobre a tal passarela e balançá-la até eles caírem.’


 


 


Rodrigo Russo


Hit na BBC, série sobre carros sai em DVD


‘Transmitida para mais de cem países e dona da segunda maior audiência da BBC, a série ‘Top Gear’ finalmente chega ao Brasil, com o lançamento de dois DVDs, ‘Detonando’ e ‘Pisando Fundo’.


Com eles, os fãs de automobilismo poderão suprir uma carência: um programa que realmente teste os seus carros dos sonhos, como os fabricados por Aston Martin, Bugatti, Ferrari, Lamborghini e Porsche.


Além disso, ‘Top Gear’ é divertido. Os apresentadores Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May são submetidos a provas inusitadas, como uma corrida entre as cidades de Alba e Londres, disputada por um Bugatti Veyron (avaliado em mais de R$ 4 milhões) e um pequeno avião, o Cessna 182.


Há algumas diferenças entre os DVDs. ‘Detonando’ traz episódios completos do programa -que neste mês encerrou sua 13ª temporada- e mostra um bom desafio: qual apresentador compra o supercarro italiano em melhor estado gastando apenas R$ 30 mil.


O resultado mostra como até grandes máquinas não estão alheias à passagem do tempo. Quem imaginaria que Ferrari, Lamborghini e Maserati um dia sofressem de bateria fraca e vazamentos de óleo? Já ‘Pisando Fundo’ é mais interessante, por trazer uma coleção de melhores momentos de diversas temporadas de ‘Top Gear’. Para quem acha que carros esportivos são objeto de desejo apenas para homens, o DVD mostra senhoras de 80 anos se arriscando em acrobacias com um carro.


Apesar da diversão, falta ritmo aos DVDs. ‘Detonando’ parece lento, enquanto ‘Pisando Fundo’ é rápido demais. Talvez velocidade média seja um problema para quem dirige essas máquinas.


TOP GEAR – DETONANDO E TOP GEAR – PISANDO FUNDO


Distribuidora: Log-On


Quanto: R$ 30 cada, em média


Classificação indicativa: livre’


 


 


COMPORTAMENTO


Brad Stone, NYT


Tecnologias passam a governar rotina matinal


‘Karl e Dorsey Gude, de East Lansing, Michigan, nos EUA, se lembram de manhãs mais simples no século passado. Eles se sentavam juntos e conversavam durante o café da manhã. Liam o jornal e competiam só com a TV pela atenção de seus dois filhos adolescentes.


Hoje, Karl acorda por volta de 6h para checar seu e-mail do trabalho e suas contas de Facebook e Twitter. Os dois meninos, Cole e Erik, começam cada manhã com mensagens de texto, videogames e o Facebook.


A nova rotina rapidamente se tornou uma fonte de conflito na família, com Dorsey se queixando de que a tecnologia estava corroendo o tempo familiar. Mas ela própria acabou sucumbindo parcialmente, abrindo seu laptop depois do café.


‘Coisas que eu achava inaceitáveis há poucos anos agora são um lugar-comum na minha casa, como nós quatro começando o dia sobre quatro computadores em quatro cômodos separados’, disse ela.


A tecnologia chacoalhou muitas rotinas da vida, e para muita gente ela alterou completamente rituais outrora previsíveis no começo de cada dia.


Assim é a manhã nos EUA na era da internet: após 6 a 8 horas de privação da rede —período também conhecido como sono—, as pessoas estão cada vez mais levantando e avançando para os celulares e laptops, às vezes antes mesmo de resolverem atividades biologicamente mais urgentes.


‘Costumava ser assim: você se levantava, ia ao banheiro, talvez escovava os dentes e apanhava o jornal’, disse Naomi Baron, professora de linguística da Universidade Americana, em Washington, que escreveu sobre o avanço da tecnologia no cotidiano. ‘Mas o que priorizamos agora mudou dramaticamente. Serei a primeira a admitir: a primeira coisa que eu faço é checar meu e-mail.’


Os filhos do casal Gude dormem com seus celulares ao lado das camas, de modo a substituir o despertador por mensagens de texto enviadas pelo pai. ‘Usamos a mensagem de texto como um interfone doméstico’, disse ele. ‘Eu poderia simplesmente subir as escadas, mas eles quase sempre respondem as mensagens..’


As manhãs durante a semana tradicionalmente são momentos frenéticos, confusos. Agora, famílias que costumavam brigar pelo chuveiro ou pelo jornal disputam o acesso ao único computador da casa. As empresas de internet, antes habituadas a verificar um aumento no tráfego digital só quando as pessoas punham os pés no trabalho, agora veem esse despontar muito mais cedo.


A Arbor Networks, empresa de Boston que analisa o uso da internet, diz que o tráfego da web nos EUA declina gradualmente entre 0h e cerca de 6h na Costa Leste, e então recebe uma violenta injeção matinal de cafeína. ‘É um foguete que decola às 7h’, disse Craig Labovitz, cientista-chefe da Arbor.


Tanto adultos quanto crianças têm boas razões para se levantar e se conectar. Papai e mamãe podem precisar apanhar e-mails de colegas em diferentes fusos horários. As crianças checam mensagens de texto e posts do Facebook de amigos.


Algumas famílias tentam impor limites. James Steyer, fundador da Common Sense Media, entidade não lucrativa que trata das relações entre crianças e entretenimento, se levanta toda manhã às 6h e passa a hora seguinte no seu BlackBerry, administrando e-mails de contatos em diferentes partes do mundo.


Mas, quando encontra sua esposa, Liz, e seus quatro filhos, de 5 a 16 anos, na mesa do café da manhã, nenhum laptop é permitido. ‘É preciso resistir ao impulso e passar do modo trabalho para o modo paternidade’, disse Steyer. ‘Mas é duro seguir o meu próprio padrão.’’


 


 


NEGÓCIOS


David Jolly, NYT


Futuro parece sombrio para o fotojornalismo


‘PARIS — Quando os fotojornalistas e seus admiradores se reunirem no sul da França, no final deste mês, na mostra Visa pour l’Image, comemoração anual de seu ofício, muitos profissionais poderão estar se perguntando quanto tempo ainda conseguirão aguentar.


Jornais e revistas têm cortado os orçamentos de fotografia ou fechado suas portas, e as redes de TV reduziram a cobertura noticiosa em favor de material menos caro. Imagens e vídeos amadores tirados com celulares são publicados em sites da web minutos depois dos fatos. Os fotógrafos que tentam ganhar a vida retratando as notícias dizem que há uma crise.


O último sinal de problemas foi o da empresa dona da agência de fotos Gamma, que pediu concordata em 28 de julho após sofrer prejuízo de US$ 4,2 milhões no primeiro semestre, quando suas vendas caíram quase 33%.


A Gamma foi fundada em 1966, pelos fotógrafos Raymond Depardon e Gilles Caron. Juntamente com as agências Sygma, Sipa e a mais antiga Magnum, ela ajudou a fazer de Paris a capital mundial do fotojornalismo.


Um tribunal de Paris deu à dona da Gamma, a agência Eyedea Presse, seis meses para se reorganizar. ‘Aguentamos até onde pudemos, mas este modelo empresarial não é mais viável’, disse Stéphane Ledoux, executivo-chefe da empresa.


Olivia Riant, porta-voz da Eyedea Pesse, disse que haverá cortes de empregos. ‘O problema é que a fotografia jornalística está acabada’, ela disse. ‘Vamos parar de cobrir fatos diários para cobrir temas com maior profundidade..’


A Gamma foi adquirida em 1999 pela Hachette Filipacchi Médias, uma unidade da Lagardère, que a combinou com outras operações para fornecer fotos para suas revistas. Mas o negócio não prosperou, e ela foi vendida em 2007 para o fundo de investimentos Green Recovery. As concorrentes da Gamma não se saíram muito melhor: a Sygma foi adquirida pela Corbis em 1999, e a Sipa, pela Sud Communication em 2001.


O fotojornalismo viveu uma era dourada desde antes da Segunda Guerra Mundial até a década de 70. Revistas como ‘Time’, ‘Life’ e ‘Paris Match’ —e virtualmente todos os grandes jornais do mundo— tinham orçamentos para empregar legiões de fotógrafos.


Mas, hoje, em uma época de menor receita publicitária e demissões, editores de fotografia de diversas publicações têm de pensar bem antes de mandar um fotógrafo em campo ao custo de US$ 250 por dia, mais despesas.


As grandes agências de notícias —Associated Press, Agence France Presse e Reuters, junto com locomotivas regionais como Kyodo, no Japão, e Xinhua, na China— dominam a fotografia jornalística. Mas o negócio de comercializar e vender fotos digitalizadas é comandado por duas empresas globais: a Getty Images, fundada em 1995, e a Corbis, fundada em 1989 pelo presidente da Microsoft, Bill Gates.


As empresas de fotos de arquivo ganharam destaque ao comprar centenas de arquivos de imagens e disponibilizá-los para venda on-line. Enquanto continuam patrocinando o fotojornalismo, as companhias são na verdade serviços de gerenciamento de direitos autorais de propriedade digital.


Na Getty, 70% das receitas vêm da venda de imagens de arquivo. ‘Fotojornalismo significa que os fotógrafos podem contar a história em imagens, e havia lugares onde eles podiam publicar essas fotos’, disse o principal executivo da Getty, Jonathan Klein. ‘No mundo da imprensa, a maioria desses lugares desapareceu desde então.’


Mas, ele acrescenta, há motivos para otimismo, porque ‘graças à web hoje há bilhões de páginas para os fotógrafos mostrarem seu trabalho’.


Jean-François Leroy, organizador do festival de fotojornalismo Visa pour l’Image, que começa neste sábado, na França, apontou como outro problema a menor ênfase a temas sérios na mídia. ‘Os fotógrafos estão produzindo coisas ótimas, mas hoje a mídia só parece se interessar por celebridades’, disse.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 24 de agosto de 2009 


 


POLÍTICA NA REDE


Elizabeth Lopes e Carolina Freitas


PSDB se arma para ‘guerra cibernética’


‘Antes do início da batalha nas urnas, a eleição presidencial de 2010 já movimenta um verdadeiro exército de militantes petistas e tucanos, que decidiram trocar a panfletagem nas ruas pela internet. A disseminação das redes sociais e o crescimento do número de internautas no País, hoje em torno dos 65 milhões, tornam a grande rede uma ferramenta essencial na elaboração das estratégias de campanha para as eleições. Para não perder terreno nessa batalha, o PSDB lança hoje um megaportal (www.tucano.org.br), com conteúdo em texto, áudio e vídeo, espaço para chats e links para a página do partido em redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook.


‘Precisamos reunir o nosso exército para enfrentar este novo momento virtual e o tucano.org.br será a porta de entrada dos nossos militantes’, afirma César Gontijo, secretário-geral da Executiva Estadual do PSDB de São Paulo e um dos idealizadores do novo portal. Na avaliação do Gontijo, o PT saiu na frente no que ele classifica de ‘guerra cibernética contra os tucanos’. Ele cita, por exemplo, que se for feita uma busca no YouTube com os nomes de Dilma Rousseff (PT) e de José Serra (PSDB), pré-candidatos ao Palácio do Planalto, os primeiros resultados dos vídeos da petista são altamente positivos e favoráveis. E com Serra ocorre o inverso, com vídeos desfavoráveis e negativos. ‘Nossa ação não será de ataque ou revide, mas sim propositiva’, informa o secretário-geral..


Gontijo diz que o novo portal não foi criado apenas com o foco nas eleições 2010. ‘Estamos acompanhando uma tendência natural de interatividade e queremos também melhorar um dos grandes desafios do partido, que é a comunicação.’ Ele reconhece, porém, a força que essa ferramenta terá na próxima eleição, ao propiciar aos militantes e simpatizantes um instrumento para a troca de ideias, e ao partido, um canal para a disseminação de sua plataforma.


O novo portal trará também a ‘tucanopédia’, que funcionará da mesma forma que a enciclopédia virtual Wikipédia e exibirá o perfil dos filiados – são cerca de 150 mil no Estado – e a TV Tucana, que estreia no dia 31 com pronunciamentos do presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, e do presidente paulista, Mendes Thame.


O portal é iniciativa do PSDB paulista, mas a ideia é que seja criada uma rede nacional, com a interação dos outros diretórios da sigla. O partido não informou o custo com o portal.’


 


 


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‘Nenhum candidato poderá prescindir da internet em 2010’


‘São duas horas da madrugada. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), deixa de lado os jornais, liga o aparelho de som e espera o sono vir com os Beatles ao fundo. A cena da intimidade de um dos possíveis candidatos à Presidência da República em 2010 foi registrada por ele mesmo em seu microblog na rede Twitter. ‘Vim dormir. Ia ler o clipping da imprensa da semana, mas desisti. Preferi ouvir o Abbey Road inteiro dos Beatles e zapear na TV sem som’, escreveu na noite de 13 de julho.


Serra é hoje o mais popular político do Twitter, com 71 mil seguidores, que acompanham em tempo real os passos do tucano. Aos 67 anos, o governador paulista entrou para a turma dos internautas depois dos 60 anos e para a dos ‘twitteiros’ há pouco mais de três meses. Em entrevista exclusiva ao Estado, ele fala do potencial da internet na eleição de 2010 e de sua experiência no mundo virtual.


Qual será o papel da internet nas eleições presidenciais de 2010?


Nas eleições de 2010, no Brasil, nenhum candidato poderá prescindir da internet na campanha, é evidente, mas a influência será muito menor do que nos Estados Unidos, porque somos muito menos conectados, nossa legislação eleitoral é mais restritiva, nossa campanha é muito mais curta do que a deles, que dura quase dois anos, contando com as primárias para a indicação do candidato do partido. Aqui, legalmente a campanha só começa na segunda metade de julho, e a eleição é em outubro.


Qual será o grande desafio das campanhas na web?


O grande desafio de campanhas na internet, que a de Barack Obama venceu com louvor, é transportar o ativismo e a militância do mundo virtual para o mundo real, para ações de visibilidade, para as ruas.. Tenho dúvidas de que conseguiremos fazer já em 2010 essa passagem.


Como foi seu primeiro contato com a internet?


Aprendi na marra a usar a internet em 2003, quando passei uma temporada nos Estados Unidos, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, depois de perder as eleições presidenciais em 2002. Fui obrigado a me conectar para conversar com a família, com os amigos, para me manter em dia com as notícias do Brasil e do mundo, para não ficar isolado. Primeiro, aprendi a receber e a mandar e-mail; em seguida, a navegar pelo noticiário. Agora, sou o governador twitteiro e já ganhei até diploma de ‘especialização em relações twitteiras’, do programa CQC, da TV Bandeirantes.


Para quais atividades o senhor utiliza a internet?


Até 2002, no Ministério da Saúde, costumava mandar bilhetinhos escritos à mão para a equipe, perguntando sobre esse ou aquele programa de governo, tirando dúvidas, cobrando essa ou aquela providência. Escrevia à noite e, de manhã, minhas secretárias recebiam uma caixa de papéis para distribuir. Hoje, envio e-mail para os secretários e assessores. Muito mais rápido e eficiente. Também leio notícias nos principais portais e em alguns blogs, escrevo artigos, discursos. Nunca consegui datilografar artigos. Fazia sempre à mão. Troco e-mails com meus filhos, com os amigos e uso para lazer, navego no YouTube para ver clipes de músicas, procurar trechos de filmes. Resisti muito a entrar, porque sabia que iria me viciar. Fraquejei, entrei e me viciei.


O sr. é o político mais popular do Twitter, com mais de 71 mil seguidores. O que tem achado dessa experiência?


Fui para o Twitter meio por acaso e por curiosidade. Uso muito a internet. Comecei a ver reportagens sobre o fenômeno do Twitter e as pessoas mais próximas me diziam que eu devia entrar lá. Nem sabia direito o que era, como funcionava, para que servia, quando abri a minha conta. Esta, aliás, foi a primeira dificuldade: descobri que meu nome e quase todas as variações possíveis já estavam registrados no Twitter, com a minha foto e tudo. Eram muitos perfis falsos. Entrei sem fazer alarde, sem contar para ninguém a não ser para o pessoal mais próximo do gabinete. Habituado a escrever artigos e textos mais longos, no início achei que não conseguiria dizer nada em 140 caracteres, que é o limite do Twitter. Aos poucos, estou aprendendo a ser sintético.


Como o Twitter tem ajudado o seu trabalho como governador?


Eles (internautas) me dão dicas, fazem sugestões, apoiam medidas do governo, elogiam, mas também criticam, cobram, reclamam de coisas que não estão funcionando direito. Repasso para todas as áreas do governo, cobro dos secretários, tiro dúvidas com eles, vejo se as reclamações procedem. Os mais acionados pelos meus seguidores e por mim são o Barradas (secretário da Saúde), o Paulo Renato (secretário da Educação), as áreas de segurança e de transportes. É aí que a internet é fantástica. Poupa tempo, aumenta a eficácia, abre um canal direto entre o governo e o cidadão, para o governante ouvi-lo, prestar contas em tempo real e até para corrigir medidas. Isso para um governante não tem preço.


O sr. também faz comentários pessoais…


Há o lado lúdico também. Quando disse lá no Twitter que gosto de cinema e de trabalhar ouvindo música, muitos seguidores passaram a me mandar dicas e links de canções, cantores, bandas, trechos de filmes. Também fazem muitas perguntas sobre a minha vida, o governo, o que eu acho disso e daquilo. Claro que não consigo responder tudo e fico até aflito, às vezes, mas sempre dá para conversar um pouco. De que outro jeito isso seria possível? Só no Twitter mesmo.C.F. e E.L.’


 


 


CUBA


O Estado de S. Paulo


Jornal publica foto de Fidel com boa saúde


‘O jornal cubano Juventude Rebelde publicou ontem uma imagem do ex-presidente Fidel Castro, de 83 anos, aparentando boa saúde, em um encontro com o líder equatoriano Rafael Correa, que está em visita particular ao país. Essa é a primeira foto de Fidel publicada dentro de Cuba pela mídia estatal desde fevereiro. A saúde do ditador melhorou visivelmente nos últimos meses.’


 


 


PUBLICIDADE


Marili Ribeiro


Propaganda no alvo do consumidor


‘Quando o Procon de São Paulo autuou as cervejarias Schincariol e Petrópolis por conta de propaganda enganosa – com o argumento de que campanhas publicitárias das duas empresas induziriam o consumidor a pensar que o selo de proteção usado nas latas de cerveja seria higiênico, fato contestado pelo órgão -, acendeu-se um sinal de alerta. Cada vez mais as discussões em torno do negócio de fazer publicidade não se limitam ao Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), o órgão privado de setor que sempre dominou esse debate.


Há cinco anos, segundo os registros do Procon-SP, foram multadas 40 empresas por prática de propaganda enganosa. Este ano, esse número já foi atingido apenas no primeiro semestre. ‘Os consumidores estão mais críticos em relação aos seus direitos’, acredita Paulo Arthur Góes, diretor de fiscalização do Procon-SP.


Para ele, a própria instituição mudou a forma de lidar com o que chama de ‘artifícios criados pela propaganda que geram expectativas que os produtos e serviços não conseguem entregar’. Góes não pode comentar casos em andamento, mas gosta de citar o que considera exemplos clássicos do tipo de manobra que a publicidade inventa para atrair.


‘A questão do frete de automóveis foi um deles e resultou em mais de 100 autos de infração aplicados tanto em concessionárias como em montadoras’, diz. Para estimular os compradores, as peças publicitárias escancaravam um valor para o carro sem computar o custo do frete. O produto ficava mais barato, mas aquele preço não existia. ‘Como o comprador iria retirar o carro na fábrica?’, diz.


Hoje, uma das demandas que mais provoca queixas e questionamentos é a publicidade de serviços de telecomunicações e de televisão paga, ao anunciar pacotes com valores válidos apenas para os dois ou três meses iniciais. O preço real fica bem escondido para não assustar o consumidor. ‘Investigar essas práticas é ação de governo. Os órgão privados não vão correr atrás disso. Por isso mesmo vários países controlam a propaganda. Há muitos interesses que requerem discussão mais ampla que entidades empresarias não vão bancar’, diz Góes.


Procurado para comentar o aumento das queixas fora do âmbito do Conar, a assessoria de imprensa da instituição se limitou a informar que 80 reclamações – a projeção para este ano – é um número pequeno no universo de milhares de peças publicitárias produzidas anualmente no País. Fora isso, lembrou que, no ano passado, foram julgados 448 processos na instituição, sendo que cerca de 27%, ou 123, foram encaminhados por consumidores. Os outros são processos iniciados por empresas concorrentes, ou outras instituições.


No site do Conar encontra-se também um gráfico que classifica a origem dos processos. Nele, somente 30% dos casos são denominados como de ‘apresentação verdadeira’. Ou seja, nesse item estariam as peças com mensagens duvidosas. A maioria das demandas julgadas pelos conselheiros da entidade refere-se a cuidados com a publicidade infantil, com questões de responsabilidade social, com a propaganda comparativa e com a adequação às leis.


O aumento das queixas contra a propaganda enganosa não é um fenômeno brasileiro, mas cresce também na Europa. Na semana passada, por exemplo, estava em discussão no Reino Unido a proibição do recurso promocional usado há décadas de convocar o consumidor com a frase: ‘Compre um e leve dois.’ A intenção do governo ao abolir o mecanismo é tentar combater o que considera altos índices de desperdício.


O código de defesa do consumidor no Brasil tem 16 anos. Ainda é um instrumento novo, tanto para a sociedade como para as políticas de governo. Mas têm sido crescentes as ações de incentivo à sua aplicação. Com isso, cresce a participação dos 27 Procons estaduais, como também a do Ministério Público e das entidades organizadas pela sociedade civil.’


 


 


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‘Liberdade de expressão’ une associações


‘Agências e anunciantes resolveram esquecer a eterna disputa por preços para se unir em torno de uma estratégia comum. Com uma campanha, a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) e a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) vão estimular a percepção da relevância da propaganda. As entidades saem em defesa da ‘liberdade de expressão comercial’ e querem, com isso, conter investidas contra as ações de marketing. ‘Não tememos a discussão em foro que permite a apresentação de argumentos técnicos que provam a importância das ferramentas de marketing. Afinal, temos a nosso favor pesquisas que mostram que os brasileiros gostam de propaganda’, diz o executivo da Unilever e membro do conselho da ABA, Luiz Carlos Dutra. O publicitário Dalton Pastore, do conselho da Abap, acrescenta ainda que o temor tem sido maior com a atuação das agências reguladoras que tomam para si a punição sem dar oportunidade de debate.’


 


 


CONTEÚDO ONLINE


Isabel Hülsen


A nova batalha de Murdoch


‘Rupert Murdoch não sabe usar computadores. Aos 78 anos, o bilionário australo-americano do ramo da mídia é avesso ao e-mail, evita acessar a internet e enfrenta dificuldades até mesmo para usar o telefone celular. Ele não parece se enquadrar nas características que definem um messias da rede.


Mas, nas últimas semanas, Murdoch provocou alvoroço no mundo editorial quando proferiu algumas frases tão simples quanto revolucionárias, tais como: ‘O jornalismo de qualidade não é barato.’ Isso levou à sua decisão de começar a cobrar, nos próximos meses, pelo acesso online aos seus muitos jornais espalhados pelo mundo. Se Murdoch conseguir o que quer, os dias da cultura gratuita da internet estarão contados.


Após os comentários de Murdoch, diretor executivo da News Corp. e proprietário de centenas de jornais e emissoras de televisão, não demorou para que as respostas começassem a chegar: editores de todo o mundo concordam com ele. Se alguém ainda duvidava do poder de Murdoch enquanto maior dos magnatas da mídia, essa foi a prova definitiva.


E justamente Murdoch, quem diria – o homem que, de acordo com as queixas do biógrafo Michael Wollf, nem mesmo sabe ‘o que é a internet’.. Wollf acrescentou que esse homem experiente pode estar prestes a promover importantes mudanças na internet, mas apenas ‘se for capaz de encontrá-la’.


É verdade que o empresário conhece pouco a respeito da internet, e ninguém sabe até que ponto ele fala sério a respeito de sua ideia. Mas uma coisa é certa: um homem como Murdoch não vai ficar impassível enquanto perde dinheiro. Suas palavras parecem ter novamente ecoado na indústria.


Todos sonham em ganhar dinheiro com a internet, desde o Sunday Times até o Nordkurier, um jornal regional do norte da Alemanha. Até o momento, os editores têm adotado a prática de disponibilizar gratuitamente o conteúdo de suas publicações na internet, esperando ganhar dinheiro com a receita proveniente da publicidade. Eles perceberam que cobrar pelo acesso ao conteúdo é ruim para os negócios, ao menos enquanto os leitores forem capazes de encontrar aquilo que procuram em outro lugar. O New York Times tentou instituir um sistema de cobrança e, como muitos outros, desistiu da iniciativa.


Mas agora a receita proveniente da publicidade vive um agudo declínio – verificado igualmente na rede -, e com ela cai também um modelo de negócios, ou ao menos a esperança da criação de um tal modelo. Até o momento, esse conceito só foi bem-sucedido para poucos provedores de conteúdo.


A cultura gratuita da rede ‘reserva para o jornalismo um futuro tão promissor quanto aquele reservado por um penhasco íngreme para um bando de lemingues’, alerta Walter Isaacson, ex-diretor administrativo da Time. Mas qual seria a alternativa? Será que os leitores podem se acostumar novamente a pagar pelo acesso ao conteúdo? Ou será que cobrar pelo acesso é como cometer suicídio por causa do medo da morte? Parece que alguns executivos e editores estão preocupados com a questão de qual seria o tipo de conteúdo que eles poderiam oferecer aos leitores sem que esses pudessem encontrar o mesmo material disponível gratuitamente a apenas um clique de distância. A resposta para essa pergunta é: nenhum.


O conteúdo pago representa um teste para duas coisas: a avaliação que os leitores fazem do material que recebem e a confiança dos editores no conteúdo que publicam.


FINANCIAL TIMES


Para Lionel Barber, editor executivo do Financial Times, confiar no próprio conteúdo não é problema. O jornal está ganhando dinheiro com a internet há sete anos. Quem quer que leia mais de dois artigos do FT num determinado mês em seu computador pessoal recebe automaticamente uma solicitação de assinatura. Usuários que desejem ler mais de dez artigos precisam desembolsar US$ 257 por uma assinatura anual online. Os assinantes da versão impressa recebem um desconto.


No passado, o limiar a partir do qual a assinatura online passava a ser exigida era de 30 artigos. Quando Barber reduziu este limiar para dez artigos, a circulação da edição impressa aumentou para 117 mil exemplares. Atualmente, 21% da renda do FT provêm da internet.


O modelo garante que todo o conteúdo do site do FT possa inicialmente ser acessado de forma gratuita, o que nos leva a proporção de cliques, conhecida como CTR (click-through ratio). Os editores concluíram que uma pessoa que valoriza o jornal a ponto de lê-lo com maior frequência estaria mais propensa a pagar por ele. A aposta rendeu frutos. E apesar de o FT não ter passado incólume pela crise, o preço do espaço vendido à publicidade não foi afetado, porque o FT pode agora oferecer aos seus anunciantes não leitores que encontraram a página do jornal por um acaso do sistema de buscas, mas que o leem por convicção.


No caso da News Corp., a empresa foi transformada em um laboratório, onde foi estabelecida uma equipe para investigar conceitos de cobrança e pagamento para todos os jornais do grupo. ‘Conteúdo pago não significa erguer uma cerca alta ao redor de cada página da rede e cobrar pela entrada’, diz Gordon McLeod, presidente da rede digital do Wall Street Journal, que faz parte do domínio de Murdoch há dois anos.


O jornal evitou o maior erro da internet. Desde 1997, a página do Wall Street Journal na rede tem cobrado por algumas coisas, em especial pelo conteúdo que diferencia o jornal: reportagens sobre finanças e tecnologia. Os assinantes têm acesso a todo o conteúdo pago. Os assinantes da versão online do jornal, que chegam a 1 milhão, são hoje responsáveis por uma renda anual de aproximadamente US$ 100 milhões.


Após 2007, Murdoch revelou que pensava em disponibilizar todo o conteúdo do Wall Street Journal na rede de forma gratuita. Mas ele foi esperto o bastante para abandonar a ideia. Em vez disso, o jornal também pretende em breve começar a cobrar pequenas taxas por artigo.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


O VMB da crise


‘Sempre abarrotado de anunciantes, o VMB, premiação de videoclipes da MTV Brasil, enfrenta, este ano, uma ressaca da crise econômica mundial. Para a edição da vez, em outubro, a emissora já vendeu seis das sete cotas de patrocínio, ao preço (de tabela) de R$ 5,3 milhões cada uma.


‘Esperávamos mais comercialmente, porque entramos nas parabólicas e aumentamos nossa cobertura’, fala o diretor Comercial da MTV, Cláudio Prado. ‘Em outros anos, já havia cotas do VMB vendidas em janeiro. Desta vez, ficou tudo para última hora. Nossos anunciantes têm raízes internacionais, estavam no olho do furacão’, continua.. ‘Mesmo assim, creio em um faturamento de R$ 13 milhões só em cotas.’


Mas Prado não espera o mesmo sucesso comercial que em anos anteriores. ‘Poderemos vender até 80% da cotas de participação do VMB. Teve anos que chegamos a ter 98% vendido’, conta ele. ‘No VMB somos líderes em ibope, por alguns momentos, entre o público AB, com idades entre 15 e 29 anos.’ Para o diretor, o evento terá um crescimento de faturamento de 8% em relação ao VMB de 2008.’


 


 


 


 


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